O movimento por toda a casa podia ser ouvido, não que fosse muito complicado de qualquer coisa ser ouvida ali sendo que não havia sequer uma parede para que pudesse separar todos os cômodos, somente as cortinas. Mas o barulho estava começando a irritar Rachel, as luzes acessas as vozes começando a tomar conta do lugar mesmo em sussurros e alguns estrondos vez ou outra.

- Berry, levanta! – Falou Santana simplesmente entrando no local e começando a movê-la para tirá-la de seu sono. – Caramba, hobbit! Eu preciso que você levante, eu preciso... – Ela realmente estava implorando por algo?

- Espero que tenha um ótimo motivo, meu despertador ainda não soou e eu não dormi oito horas. Hoje à noite eu tenho ensaio e...

- Cala a boca! Nós precisamos sair, agora. Aconteceu um acidente, vamos para o hospital.

A mente de Rachel não precisou de muito mais para começar a realmente trabalhar, sem mais perguntas a morena levantou e começou a se vestir sem prestar atenção em mais nada. Os murmúrios continuavam fora de seu espaço, então ela decidiu começar a juntar algumas coisas que poderia precisar, mesmo sem saber para onde realmente estava indo nas próximas horas. Era o básico, carregador, fone de ouvido, um livro simples, algum dinheiro, seus documentos, barrinhas energéticas e mais uma ou outra coisa que ela achou que gostaria. Levantou e foi até o banheiro, para ai então comer algo e já estaria pronta, para quem quer que tivesse tido um acidente.

Quando Rachel apareceu na cozinha notou que Santana estava tomando um café e tinha o celular em mãos, fazia muito tempo que não via a latina daquela forma e para complementar ela balançava a perna, incapaz de ficar parada. Kurt estava com o rosto enfiado nas mãos e os braços apoiados na mesa, Blaine afagava suas costas, mas não parecia tão bem assim. Rapidamente Rachel caminhou e foi fazer suas tarefas matinais, comer algo, ainda perdida no que estava acontecendo ali, mas com receio de perguntar.

- Acabei de receber uma mensagem, Britt encontra a gente lá, vai pegar uma conexão direta, Sam e Mercedes nos encontram na estação e Artie não conseguiu se livrar da filmagem, então se precisarmos dele, estará lá amanhã.

- E sobre Puck? – Perguntou rapidamente Blaine para Santana que suspirou.

- Nenhuma noticia ainda. – Bufou e coçou a testa, assim que Rachel tinha terminado todos os amigos já estavam na porta, honestamente? Ela estava se sentindo cansada de estar por fora, mas não tinha muito que ela pudesse fazer no momento.

Rapidamente todos estavam no taxi e Rachel começou a notar que a tensão só crescia, Kurt estava um pouco melhor agora e tinha as mãos entrelaçadas com Blaine, mas Santana estava tremendo no banco da frente, sua respiração estava longe de estar controlada e ela estava com o olhar vago, como se sua cabeça estivesse em outro lugar.

"Mas que porra de acidente foi esse e onde estamos indo?" – Rachel alisou a saia e tratou de olhar para fora enquanto cruzava as pernas. Sabia que a primeira parada seria a estação, ai descobriria o que aconteceu, nem que precisasse fazer um escândalo para isso.

Não demorou muito para que chegassem, mas Rachel estranhou notando que chegaram na estação rodoviária, mas era a grand central e ai ela notou que sairiam da cidade. Suas mãos fecharam-se na sua bolsa e somente seguiu os amigos, viu que Mercedes estava enrolada em Sam e suspirou notando que era claro que eles sabiam o que estava acontecendo. Todo mundo, menos ela.

- Hey... Nós compramos passagem para todos, saímos em 10 minutos, chegaram bem a tempo. – Comentou Sam e deu um sorriso torto, algo que não combinava com ele, para então Santana agradecer.

- Como aconteceu? – Perguntou Mercedes e foi ouvido um suspiro coletivo, Rachel estava perto de dar um soco no nariz de alguém. – Eu digo... Achei que...

- Olha, eu explico isso no trem, é bem melhor. – Comentou Santana e ganhou um aceno de afirmação dos amigos.

Caminharam silenciosamente e Rachel se aborreceu porque não conseguiu ver para onde estavam indo nos bilhetes e nem no trem, porque Sam entregou-os todos em conjunto. Rachel caminhou em silêncio e sentou onde foi mandada, Kurt e Blaine sentaram-se com ela enquanto os outros tomavam o espaço logo na frente deles. Aqueles assentos não eram para mais de duas pessoas, mas pelo jeito o assunto era realmente sério.

- Parece que não tem sorte mesmo, não é? – Comentou Kurt dando um sorriso triste e erguendo a cabeça, a voz dele parecia mais grossa. – Eu estava começando a realmente me apegar, nas últimas vezes em que...

- NINGUÉM MORREU, KURT! – Santana praticamente gritou, batendo com certa força na mesa que separava o grupo, Rachel tremeu e encolheu-se apoiando as mãos sobre a bolsa. – O acidente foi por cagada do outro cara, ele atravessou a toda o sinal vermelho e acertou com tudo o carro que foi jogado para longe e com o impacto...

- Santana... – Mercedes pegou a mão da latina quando Rachel arqueou a sobrancelha. Aquilo estava começando a ficar complicado e ela sabia ao menos que um acidente havia acontecido, mas ela estava com medo de quem podia ter sofrido.

O silêncio tomou conta do lugar por mais algum tempo, Rachel estava olhando para fora notando o caminho de forma tranquila, pensando sobre o que Santana havia dito sobre não ter nenhuma morte envolvida e seus pensamentos indo para Finn, a tatuagem em sua lateral foi tocada discretamente com a ponta dos dedos.

Querendo descobrir se algum dos seus amigos havia visto algo, ela correu os olhos pelo lugar, todos pareciam estar perdidos em seus próprios mundos, ninguém chorava ali, apesar de suas expressões preocupadas e principalmente ninguém mais falava uma palavra até aquele momento. Isso foi quebrado em seguida.

- Vamos direto do hospital da estação? Ai nos dividimos em dois grupos, para arrumar tudo da melhor forma. – Comentou Blaine que recebeu um acenar enfático de seu noivo em confirmação, Sam batia o pé no chão algumas vezes.

- Acho que seria melhor Santana e Mercedes irem ao hospital e nós irmos ao... – Rachel olhou o amigo e esperou que ele continuasse, mas o loiro somente fez um sinal com a mão e suspirou. – Brittany vai estar lá esperando, não é? – Voltou-se para Santana. A frustração estava consumindo Rachel e ela não estava falando nada ainda, era um recorde.

- Me mandou mensagem a pouco que já está nos esperando no hospital, mas que não é avisada de nada e que ninguém a deixa entrar no quarto. – Ela deu de ombros e todos murmuraram como aquilo era esperado em um momento como aquele.

O silencio voltou e a diva enfiou as unhas nas palmas das mãos, realmente inconformada que ela não sabia o que estava acontecendo quando todos sabiam, ela odiava ser deixada de fora de algo, mas mais ainda quando um amigo estava precisando. Ela sempre foi cem por cento pelo time, não foi? Bem, tinha suas razões por trás, mas mesmo assim ela nunca quis nenhum de seus amigos machucados e cada vez que isso acontecia, ela se via perdida. E culpada.

Os fones de ouvido não levaram um minuto para que tivessem seu nó desfeito e rapidamente a morena começou a ouvir sua música, tranquilamente ouvindo as músicas que ela cantaria em Funny Girl em algumas horas na voz da perfeita Barbra. Notou que os lábios de nenhum de seus amigos voltou a se mover e ficou agradecida quando isso aconteceu, ela não queria perder mais nada do que falavam. Já parecia estar perdendo tanto.

Uma mão tocou seu joelho e rapidamente ela tirou os fones encarando a latina com as sobrancelhas franzidas.

- Podemos dividir garotas no hospital e caras resolvendo as coisas? – Santana nunca pareceu tão amigável, nem mesmo quando elas fizeram as pazes cantando Be Okay no Glee club.

- Oh, claro Sant. – Sorriu amigável e notou que a outra murmurou um "obrigado". Aquilo era realmente algo sério e agora Rachel estava assustada. Já fazia mais de uma hora que estavam viajando e esperava que logo chegariam.

- É um apartamento ou é no campus? – Perguntou Kurt franzindo o cenho, Rachel queria gritar.

- Merda... – Comentou Mercedes e massageou as têmporas, mas logo o namorado pegou suas mãos para acalmá-la. – É um apartamento, mas eu não consigo lembrar onde ele fica.

- De toda forma, está no St. Raphael. – Santana soltou em seguida, dando de ombros. – É algumas quadras dali, porque eu lembro que é bem perto do campus. Não consigo me lembrar se é Park St. ou York St. – Reclamou tamborilando os dedos na perna.

Rachel estava tentando lembrar o que era St. Raphael e apertou a alça da bolsa em seus dedos, algo na sua cabeça realmente gritava, como se quisesse dar um aviso, como se alguma bomba praticamente estivesse caindo no seu colo, mas ela não conseguia juntar as peças.

Assim que o trem parou Rachel olhou em volta lendo a placa, mas quando conseguiu ler o final "Union State", ela não conseguiu identificar quaisquer outras palavras e já fora puxada por Santana e enfiada em um taxi. Ela só podia estar dormindo para estar tão desligada assim e não conseguir olhar nada e nem sequer saber onde estava, aquilo parecia ridículo até pra ela.

E ela realmente se xingou por todo o caminho, que durou mais ou menos sete minutos, porque não sabia onde estava e agora eram praticamente oito horas da manhã. Só que tudo isso foi perdido quando ela saiu do taxi e realmente viu o nome do hospital, seu rosto ficou realmente branco e as mãos começaram a tremer na mesma hora.

Rapidamente repassou o que Santana havia dito sobre o acidente, o sinal vermelho, a batida e que ninguém morrera, mas não sabia como estava... Odiou-se mentalmente por não conseguir trabalhar com aquela notícia e largou as amigas para trás correndo hospital a dentro, parou na recepção e suspirou.

- Eu estou aqui... Um acidente... Visitar... – Não juntou as palavras de forma apropriada e pela terceira vez ela se sentiu perdida, havia sido o terceiro acidente que podia ter tirado alguém dela e a diva não estava processando isso.

- Rachel! Que bom que vocês finalmente chegaram! – A voz de Brittany foi o que acordou a morena de seus pensamentos de perda no exato momento em que falou e jogou seus braços entorno dela. Só Brittany para conseguir acalmar qualquer um daquela forma.

De alguma forma todas as noticias ruins da vida de Rachel eram só o que se passava por sua mente, ela lembrava dos baques que a vida lhe dera, mas pensava nos dois que a deixavam mais abalada. O primeiro era o acidente de Quinn no dia de seu casamento, lembrava-se do medo que tivera e lembrava-se de quanto tempo passou com a loira no hospital até que ela voltasse para a escola. E o segundo... Rachel levou a mão a tatuagem de Finn e suas costelas e tentou segurar quaisquer lágrimas.

Lembrou-se do que fazia quando fora avisada, lembrou-se do mundo caindo ao seu entorno enquanto ela saía da mesa da cozinha e deslizava até seu quarto, lembrou-se que não conseguia falar, comer, ou fazer qualquer coisa direito além de realmente chorar e lamentar tudo que não tinham vivido e realmente desejando que ele pudesse estar de volta. Finn sempre seria um amor épico, ela sabia disso, mas ela também sabia que aquele homem de sorriso bobo queria vê-la feliz e era por isso que lutava todos os dias desde então.

- York, Santana, fica no centro. – Respondeu Brittany com um sorriso enquanto Santana repetia a ordem para os garotos. Rachel piscou algumas vezes e notou que ela estava na sala de espera com as outras amigas, realmente esperando que alguém pudesse dizer para elas como... Ela não conseguia nem pensar nisso.

- O que eles precisam fazer lá? – Rachel virou-se para a latina assim que notou que ela desligara o celular.

- Vão pegar roupas, precisam comunicar a faculdade e também verificar o acidente e pertences, Berry. – A baixinha acenou e fechou os olhos descansando na cadeira, ela estava com uma dor de cabeça realmente muito forte.

Assim que os olhos abriram a visão da médica parada na frente delas tomou conta e a morena precisou respirar fundo algumas vezes para poder se dar conta do que acontecia. O nome dela parecia muito pequeno para que ela pudesse ler, apesar de ser um nome comprido, então ela levantou e colocou as mãos envolvendo o corpo enquanto estava próxima a ela.

- Vocês é quem estão aguardando pela vitima do acidente de carro? – Perguntou a médica e rapidamente viu acenos das meninas. – Eu sou do departamento de neurologia do hospital, meu nome é Jennifer Block, eu geralmente fico em outro prédio, mas fui chamada especialmente para o caso.

- Poderia nos explicar o que aconteceu com ela? – A médica olhou para cada uma das garotas e acabou suspirando, ela odiava aquele tipo de notícia e Rachel notou quando ela começou a se preparar para dá-las.

- Eu preciso de alguém que tenha alguma relação com o paciente, qualquer tipo de relação para que eu possa falar esse tipo de coisa, ao mínimo familiar ou...

- Sou a namorada. Só, por favor, eu preciso saber de algo. – Improvisação sempre foi o que Rachel fez de melhor, e ela já tinha feito aquilo antes, usado aquelas falas várias vezes. – Não consigo mais ficar sem notícias, por favor. – Uma lágrima rolou de seus olhos enquanto várias outras esperavam para seguir o mesmo caminho.

Todas as meninas olharam para Rachel e Mercedes acompanhou a outra diva com a mentira sussurrando que tudo ficaria bem e abraçando-a pelo ombro, Santana e Brittany se apoiaram uma na outra e mantiveram o olhar na amiga como se tentassem passar algum conforto e a médica de cabelos castanhos e olhos claros suspirou novamente.

- O impacto foi realmente muito forte, o choque que houve no momento jogou o carro para o lado e ele chegou a tombar algumas vezes. A sorte é que havia acabado de arrancar com o carro e ele estava em baixa velocidade, vou falar em termos simples aqui... Quando o carro foi jogado, o cérebro acompanhou a mesma velocidade e quando o movimento parou, ele continuou se movendo. Houve uma concussão realmente grave. Nós estamos somente esperando os resultados dos exames para ver qual a extensão de cada um dos danos e nesse momento a medicação está sendo tirada, assim não demorará muito para que desperte.

- Nós vamos poder visitar? – Perguntou Rachel agora realmente preocupada, o lábio estava curvado em um pequeno bico e suas lágrimas agora eram reais, ela estava imensamente preocupada.

- Você, sim. Por ser a namorada e todo paciente precisar de um acompanhante por ordens gerais, suas amigas poderão esperar aqui. Eu conseguiria te fornecer um crachá e assim poderá circular pelo hospital. – Comentou a doutora Block e maneou a cabeça. – Eu vou somente precisar que me acompanhe para preencher alguns documentos.

Rachel afirmou e secou as lágrimas, tentando não chorar, as amigas deram sorrisos pequenos de agradecimento por ela estar tomando a frente daquela forma quando nenhuma delas podia, então a diva caminhou pelo hospital sendo guiada por uma enfermeira que a doutora Block chamara.

- Só precisa escrever essas pequenas informações, menina e ai tiramos uma foto para montar uma credencial pra ti. – Sorriu a mulher que era um pouco mais baixa que a morena, mas ela sorriu em agradecimento e começou a escrever suas informações, nome, sobrenome, telefones para contato, endereço de residência, grau de aproximação com o paciente e várias outras coisas simples. Então tirou uma foto e em seguida recebeu seu pequeno crachá.

Rachel voltou para perto de suas amigas e olhou para Santana que rapidamente levantou e afastaram-se um pouco das outras duas meninas, a mais baixa suspirou e então encostou-se na parede.

- Cadê Noah? E os meninos? – Perguntou tentando imaginar toda aquela situação e rapidamente notou que a latina não estava nada bem, seu nível de preocupação deveria estar alto.

- Não conseguimos contato com Puck, isso de aeronáutica é uma merda. – Reclamou e apoiou uma das mãos na parede ao lado da cabeça de Rachel. – Os meninos mandaram mensagem que estão organizando tudo que podem no apartamento e que já estão vendo as coisas com o carro.

- Continua tentando achar Noah, ele vai querer saber sobre isso. – Pensou em seu irmão judeu e coçou a testa para então desencostar-se da parede e firmar a bolsa em seu ombro. – Eu acho que é melhor que eu vá ver como está toda essa situação, no que eu descobrir mais, volto para falar com você e as meninas.

Santana afirmou com um aceno e deixou que a diva fosse, voltando para os braços de Brittany, Rachel havia recebido informações de onde era o quarto e foi a passos lentos para lá, passou toda manhã daquela forma mesmo, não tinha porque acelerar agora. Assim que achou a porta do quarto uma enfermeira estava pairando próxima e pediu a confirmação de credencial, assim que notou que estava tudo certo sorriu e permitiu sua entrada.

A porta abriu já esperando uma visão devastadora, mas a primeira coisa que ela notou foi o cheiro forte que estava no lugar, parecia que sangue fresco dominava. O bipe que controlava seu coração e alguns outros barulhos de outras máquinas enchia os ouvidos e quando colocou seus olhos na cama suas mãos tremeram.

A perna estava elevada e engessada, o corpo exposto tinham alguns roxos e os braços alguns ralados e cortes assim como as agulhas que ligavam ao sangue que recebia depois de tanta perda, fios cobriam seu tórax, mas sua maior surpresa foi ao olhar para sua face, estava com uma expressão tranquila e a testa estava com uma marca praticamente preta de tão escura, contrastando com a pele clara. Agora só precisava acordar e assim poderiam descobrir a extensão de seus danos cerebrais.

Rachel tremeu só de pensar quais poderiam ser.