Sasuke havia acabado de cruzar a entrada de sua casa, retirou as sandálias depositando-as na sapateira do pequeno hall, calçou seus chinelos confortáveis e colocou as chaves numa mesinha. Ele rumou pelo corredor ouvindo o burburinho seguido de risadas femininas, ao chegar à batente da porta da cozinha encontrou Sakura e Sarada, sentadas a mesa, preparando alguns bolinhos de arroz recheados, o cheiro gostoso de comida caseira reacendia pelo cômodo e perfumava o restante da casa.
-Seja bem vindo anata. –Sakura o fitou e sorriu amavelmente.
-Estou de volta. - Ele acenou devolvendo o cumprimento.
-Papa! –Sarada saltou da cadeira, limpou as mãos na camiseta e correu em direção ao Uchiha, ela o abraçou fortemente e o olhou com seus grandes olhos negros. –Seja bem vindo!
Sasuke não estava acostumado a ser tão intimo da filha, mas vê-la tomando a iniciativa o deixou emocionado, ele a abraçou desajeitadamente com seu único braço e agradeceu aos céus por estar finalmente de volta.
Seu lar era a melhor parte do dia.
Ao longe Sakura observava a cena acometida pela alegria de ver sua família reunida, ela conteve o ímpeto de se juntar a eles e abraçá-los, temendo que pudesse interferir naquele momento tão único.
-Como foi no treino com o Hokage-sama? –Sua filha o questionou, curiosa.
-Normal. –Ele retorquiu. –O que estão fazendo?
-A janta e o meu obentô. Amanhã tenho uma missão rank C.
Sasuke comprimiu os olhos sendo abatido pela preocupação, sua menina estava crescida e já realizava missões. Estava ficando de fato velho.
-Tome cuidado.
-Hai. –Ela acenou, afastando-se.
Sarada virou-se para a mãe que gesticulou em meio a um sorriso, a mocinha virou-se novamente para o pai, e em meio ao embaraço tomou alguns fios por entre os dedos e os enrolou.
-Papa... Você poderia me ensinar alguns jutsus qualquer dias desses?
Sasuke sorriu, estendeu o único braço e tocou com a ponta dos dedos na testa da filha.
-Assim que você voltar Sarada.
As bochechas da menina ficaram levemente coradas, sabia o quão especial aquele gesto significava.
-Já estou ansiosa!
-Eu vou tomar um banho e volto para ajudá-las. –Sasuke disse retirando-se da cozinha, voltou rapidamente espiando dentro do cômodo. –Se Naruto aparecer diga que eu estou dormindo.
Sakura revirou os olhos.
-Você sabe que essa desculpa já não adianta mais com ele, certo?
-Invente outra então.
Sasuke subiu as escadas e rumou até o quarto do casal, estava sujo e precisava de um banho relaxante. Ele entrou no box e abriu o registro sentindo a água quente deslizar pelo seu corpo, estava prestes a relaxar quando sentiu o chakra de Naruto.
-Tsk. –Ele estalou a língua não acreditando que o loiro realmente tivera ido a sua casa.
O Uchiha saiu do banho, colocou uma roupa leve e desceu as escadas, a gargalhada de Naruto se sobrepunho entre as outras, ele foi até a cozinha encontrando Naruto, Shikamaru e Kakashi.
-O que está havendo aqui?
-Eu te falei hoje teme. –Naruto apontou o dedo para o amigo. –Hoje é dia de reunião dos homens ttebayo.
Sasuke soergueu a sobrancelha, estava prestes a soltar um palavrão quando se lembrou da presença de sua filha.
-Eu não vou.
Sakura suspirou exausta, havia tido um dia difícil no hospital e planejava ter uma noite de descanso.
-Anata, vai ser divertido, saia com os meninos. –Ela lhe enviou um olhar no qual Sasuke ficou alerta.
-Você está me expulsando de casa?
-Não você. –Sakura apontou discretamente para o loiro. –Vá, por favor!
Sasuke estava inconformado, Naruto tinha um braço apoiando em seu pescoço e berrava.
-Você nem está bêbado, cale a boca! – O Uchiha bradou.
-Eu estou feliz, meus amigos estão reunidos.
-Ainda falta gente. –Shikamaru deu de ombros.
-É, não da pra tudo ser perfeito ttebayo.
Kakashi enfiou as mãos dentro dos bolsos e suspirou.
-Eu estou velho pra essas coisas.
-Nem pense em tentar fugir Kakashi-sensei!
A verdade era que Naruto sempre tentava fazer alguma reunião toda santa semana, uma vez ao mês já era mais que o bastante para Sasuke.
-Você não tem família?
-Olha eu preciso relaxar, sabe o que é ter uma nação nas costas?
-Eu tentei te avisar. –Kakashi riu.
O bar estava apinhado de shinobis e civis, o grupo de amigos era reconhecidos e cumprimentados por todos. Acharam uma mesa vaga e esperaram um garçom, enquanto isso Sasuke bolava uma desculpa para ir logo para casa.
Uma atendente muito bonita chegou à mesa, sorriu para todos os homens, mas especialmente para Sasuke e perguntou com a voz aveludada qual seria o pedido deles.
-Sakê! –Naruto disse empolgado.
-E traga uma porção de petiscos, por favor. – Kakashi virou-se para Naruto –Pelo amor de Deus, eu não tenho mais idade pra sair carregando marmanjo por ai.
O sorriso de Naruto alargou-se e ele bateu com a mão contra o tampão da mesa.
-Teme, eu te desafio!
-Nada feito.
-Já não basta você ter perdido pra mim no vale, quer perder hoje também ttebayo?
Sasuke rangeu os dentes.
-Vê se não vomita dessa vez.
-Que Deus me ajude. –Kakashi murmurou olhando para o teto.
-Eu não vou carregar ninguém pra casa. –Shikamaru os alertou. –Da última vez que cheguei tarde em casa a Temari quase me arrancou as bolas.
-Eu tenho sorte de ter uma esposa tão maravilhosa igual à Hinata-chan, ela é tão doce.
Sasuke revirou os olhos, podia estar jantando com a sua família e estreitando os laços com a filha, ao invés de estar perdendo tempo. Faria Naruto ficar bêbado o quanto antes e fugiria para casa.
Bem, inicialmente esse era o plano.
Quatro garrafas de sakê depois, Sasuke já se sentia tonto o bastante para esbarrar em tudo que estivesse na frente no caminho para o banheiro. Estranhamente ficou muito difícil tentar abrir o zíper da calça e por o pinto pra fora, ele encostou a cabeça no ladrilho e tentou mirar dentro do mictório, acertando no lugar que deveria.
-Eu sou muito bom nisso. –Ele riu igual a um idiota.
Voltou para a mesa encontrando mais garrafas de sakê, Kakashi disse algo no qual ele ignorou, tentou por o líquido dentro do copo, mas acabou derrubando metade.
Sasuke encarou a bagunça e riu.
Por que estava rindo mesmo?
-Vamos pedir a conta. –Kakashi que estava mais sóbrio que os outros sugeriu, enquanto erguia a mão e chamava pela atendente.
A mocinha veio prontamente, jogando olhares charmosos para o Uchiha.
-Deseja mais alguma coisa? –Ela perguntou fitando diretamente Sasuke.
O Uchiha a olhou demoradamente antes de soltar um sonoro arroto, a atendente torceu o nariz e tentou disfarçar o desagrado com um riso sem graça. Sasuke ergueu o dedo indicador e tentou apontar para umas das atendentes a sua frente.
Desde quando havia três? Ele se questionou.
-A conta.
Naruto estava debruçado sobre a mesa e repentinamente levantou-se, assustando a garçonete.
-Que conta?
-Nós vamos embora. –Shikamaru afirmou seriamente. –Agora.
-Nãao. –Naruto choramingou. –Ainda é cedo.
-Já passa da uma da manhã, eu preciso dormir. –Shikamaru o fitou com ódio. –AGORA.
Kakashi pagou a conta e arrastou Naruto para fora do estabelecimento.
-Vo...cê não tem vergonha? –Sasuke o questionou com a voz embargada
-Vergonha? –Naruto riu.
Sasuke soluçou antes de dar continuidade. –De andar...Bê...Bêbado por ai.
-Eu sou...Sou... um seguidor do Hashidama...Hasharama...Hashi–Naruto articulou embolado.
-Hashimara. –Kakashi o corrigiu.
-Esse cara ai!
Sasuke caiu no chão e Kakashi assustou-se com o som do corpo do Uchiha contra o chão, Naruto olhou para a cena e começou a gargalhar.
-O que... –Shikamaru estava irritado. –Deus do céu, eu estou indo.
-Você não vai me ajudar? –Kakashi indagou desesperado.
-Eles são seus alunos Kakashi-san.
O Hatake se viu sozinho, com o Uzumaki sendo carregado por ele e Sasuke caído no chão.
-Merda. –Sasuke resmungou, estava com o braço ralado, ele tentou se levantar, mas o corpo parecia mais pesado do que o usual.
-Ai que idiota. –Naruto caçoou. –OLHA SÓ KAKASHI-SENSEI, ELE NÃO CONSEGUE NEM LEVANTAR!
-Cala a boca dobe.
Kakashi largou Naruto, que se desequilibrou e caiu por cima do amigo.
-Minhas costas. –O Hatake resmungou, dando tapinhas nos ombros.
-Kakashi-sensei. –Naruto lamuriou-se.
-Sai de cima de mim. –O Uchiha falou mole e tentou empurrar o loiro, mas não tinha forças nem pra isso.
-Eu não criei vocês pra isso.
A luz entrava pela porta aberta da sacada e janelas do quarto, o dia estava fresco e o cheiro de café da manhã permeava a casa. Sasuke remexeu-se por entre as cobertas e sentiu uma leve pontada na cabeça que se esparramava por todo o crânio.
-Merda. –Ele resmungou, abrindo os olhos desiguais e os fechando rapidamente quando a luz do sol se tornou muito incomoda. Virou-se de bruços e se escondeu embaixo do travesseiro, o cheiro de álcool fazia seu estomago embrulhar. –Mas que merda.
Aos poucos tentou levantar-se, seu corpo doía e percebeu alguns hematomas pelo peitoral desnudo, retirou a coberta se descobrindo totalmente nu.
-O que houve ontem à noite? –Ele se perguntou, temendo pela resposta.