N/A: Oláaaaaa! Depois de milênios olha quem voltou!? Pois é, eu mesma!
FELIZ ANO NOVO (no final do mês rs)!
Pois muito que bem, cá estou eu, com o 2º capítulo dessa short-fic! MTF é meu bebêzinho e escrever esse capítulo foi muito bom! Então espero que vocês gostem tanto quanto eu!
Muito obrigada a quem comentou! Todo o meu amor a vocês!
E também agradeço às melhores betas do mundo: Madu e Karol, vocês são TUDO pra mim!
Então bora lá e boa leitura!
"I belong with you, you belong with me
You're my sweetheart
I belong with you, you belong with me
You're my sweet..."
Ho Hey - The Lumineers
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22 de Dezembro de 2017 - Part I
3 dias para o Natal, 2 dias para a Véspera de Natal.
POV Bella Swan
Fechei os olhos jogando-me em minha velha cama de solteiro, que agora era pequena demais para a pessoa espaçosa que havia me tornado, e relembrei os recentes acontecimentos do jantar, rindo comigo mesma das reações de minha família sobre o que seria um dos assuntos mais comentados do Natal: minha solteirice e meu par de chifres.
Por mais trágica que fosse a situação, após toda a cena do aeroporto, eu não conseguia sentir absolutamente nada. Nem tristeza, nem alegria, nem arrependimento. Absolutamente nada. Era como se estivesse anestesiada e não pudesse sentir dor, ou qualquer outra coisa. Um ciclo de minha vida havia sido quebrado e eu não conseguia sentir nada, isso era frustrante.
Minha família ficou preocupada com isso, temendo que algo me induzisse a fazer alguma besteira. Mas eu não era uma tola, afinal, nem mesmo amava James. O que tínhamos durou? Sim, mas não foi tão significativo que me fizesse querer deitar em minha cama e chorar até o nascer do dia – como foi quando Sabina e eu terminamos, ou quando Edward e eu nos despedimos antes dele embarcar para Londres.
Não era a mesma coisa e jamais seria, porque mesmo namorando James há 2 anos, ele não havia marcado a minha vida. É curioso isso, porque existem pessoas que marcam a nossa vida e outras, no entanto, apenas passam por ela, e quando partem, não deixam resquício algum de saudade... é como se elas nunca houvessem existido.
Abri os olhos, fitando o teto com uma porção de estrelas que brilhavam no escuro – obra de meu eu adolescente – e me deixei levar pelo saudosismo de rever todos aqueles que amava. Eu havia sentido falta de casa. Apesar de amar New York e morar lá há 5 anos, mesmo depois da faculdade, quando decidi fincar raízes na cidade que nunca dorme, não havia nada como voltar às minhas origens. Quando me mudei – com Rosalie a tiracolo para cursar Química –, era apenas uma caloura em Columbia. Jovem, cheia de sonhos e ambições, completamente apaixonada pela idealização de ser universitária. Pena. Cedo demais minhas idealizações caíram por terra e eu descobri que a universidade tem duas funções primordiais: desgraçar a sua cabeça e te fazer passar ódio, tanto ódio que você seria capaz de cometer um assassinato.
Durante os 4 anos de curso, Rose e eu dividimos um apartamento grande o bastante para nós duas e que ficava a poucos minutos de Columbia e do transporte público. Isso durou até nosso penúltimo ano de universidade, quando Emmett, pediu sua mão em casamento. Dois meses depois, eu era arrastada para um casamento maluco em Las Vegas, do qual Alice, Jasper e Edward participaram via Skype.
Mas o ponto é: eu adorava a atmosfera nova-iorquina. Mesmo com o tráfego infernal que existia absolutamente em QUALQUER dia da semana, ou os nova-iorquinos mal-educados, que tinham um ego maior que minha conta bancária. Eu amava morar nesta cidade que muitos acham intimidadora, amava seus mistérios e sua magia; principalmente por ser uma garota que, até os 19 anos, vivia em uma cidade pequena – limitando-me a ir às cidades vizinhas de Forks - então, acredito que estou no direito de fanficar sobre as virtudes e prazeres de morar em NYC.
Porém, como em toda mudança - principalmente para um lugar novo e distante - tive dificuldades para me adaptar a uma rotina sem meus pais e amigos. Não era a mesma coisa. Eu sentia falta de cada mínimo detalhe, até mesmo das brincadeiras irritantes de Emmett e Jasper. A distância me castigava e os primeiros meses foram os piores. Perdi as contas de quantas vezes ligava para casa, apenas para ficar horas a fio chorando de saudades nos ouvidos de minha mãe, ou ouvindo as palavras de consolo e encorajamento de meu pai.
Apesar de ter Rosalie ao meu lado e encontrarmos conforto uma na outra – estreitando ainda mais o nosso laço de amizade -, mesmo com tantos amigos e pessoas ao meu redor, me sentia constantemente sozinha em meio aos "tubarões" da vida adulta. O medo e a insegurança, me assolavam e nesses momentos, tudo o que eu mais queria era largar tudo e voltar para a minha pequena cidade chuvosa, para me esconder debaixo da saia de Renée. Às vezes, quando tudo era demais, me enrolava em meu antigo edredom da Barbie, agarrava Lu – o ursinho de pelúcia que ganhei de meu melhor amigo muitos anos atrás – e deitava no sofá, para uma longa maratona de filmes da Disney.
Eu sabia que, mesmo que essa "transição" fosse dura, ela era necessária. Precisava seguir meus sonhos, deixar meus pais, cortar o cordão umbilical e bater asas para encontrar meu lugar no mundo. É engraçado isso, porque quando a gente cresce, sempre quer voltar pro início... A verdade, se você quer saber, é que a gente nunca sabe muito bem o que quer...
Então, mesmo com as aventuras e desventuras da vida adulta, bati asas pra longe do frio e verde de minha cidade natal; para ser mais exata, meus irmãos e eu voamos para longe quase ao mesmo tempo, se não fosse por Emm e Jasper serem mais velhos e terem se formado 2 anos antes do resto de nós, partindo cada um para suas novas vidas – Emmett em Seattle, cursando Psicologia, e Jasper em Massachusetts, para seu tão sonhado curso de Ciências da Computação.
A partida dos dois abalou bastante o nosso grupo - "Os 6 mosqueteiros", como Emm nos apelidara - principalmente Rosalie e Alice, que sentiam saudades dos parceiros. Edward e eu tentávamos ajudá-las, mas nem sempre era o bastante. Foram muitos momentos melancólicos até que, finalmente, o fim do High School se aproximava e logo mudaríamos nossos status de "estudantes" para "desempregados". Tínhamos escolhas a fazer e o tempo nos apertava cada dia mais.
De nós 4, Alice era a única com destino certo – o que não era uma grande surpresa, afinal ela sempre fora a mais decidida do grupo - iria para o MIT e moraria junto com Jasper. Rosalie estava dividida entre ir para Seattle ficar com Emm, ou mudar-se para NY e estudar na mesma universidade que sua mãe – que era seu sonho de infância.
O grande problema da equação estava entre Edward e eu. Queríamos honrar uma promessa feita há muitos anos atrás, na sala de estar de minha casa, em meio a flores e chocolates. Não queríamos nos separar. Tínhamos um impasse. Não queria me distanciar dele e vice-versa. Éramos companheiros, confidentes e parceiros para todas as horas. Como eu iria sobreviver sem o meu Edward?
Eu simplesmente não podia abrir mão de tê-lo comigo, nós éramos almas gêmeas. Sim, almas gêmeas. Mas não essas de filmes com um viés romântico. Não. Embora não pudesse mentir e dizer que nunca enxerguei Edward com outros olhos, ou mesmo me imaginei ao seu lado para toda a vida, mas eu simplesmente não poderia estragar o que tínhamos por algo tão inseguro e instável. Eu não podia perdê-lo. Não iria trocar o certo pelo duvidoso. Não dava.
Então, seguíamos nossa própria filosofia de almas gêmeas: "Existe o amor da nossa vida e nossa alma gêmea". Edward definitivamente era a minha e, por isso criamos que não poderíamos jamais nos separar – ledo e doce engano.
Sentei em minha cama, voltando por um momento à realidade, e apanhei a moldura amarela que estava em meu criado mudo, adornando uma foto nossa. Tínhamos tanto tempo naquela época... ou melhor, isso era o que pensávamos, até o dia em que fomos agraciados – ou amaldiçoados, dependendo do ponto de vista – com nossas primeiras cartas de admissões.
[...]
13 de Abril de 2012
Forks, WA
Havia acabado de chegar da escola e estava definitivamente puta. Tinha acabado de brigar com Sabina, porque ela simplesmente não conseguia entender o quanto seu comportamento estava me magoando, principalmente com relação ao meu melhor amigo. Revirei os olhos, lembrando-me de suas paranoias infundadas e me joguei no sofá, largando a mochila no chão e fechando os olhos, desejando que todos os meus problemas simplesmente desaparecessem.
Fiquei em silêncio por alguns minutos, apenas refletindo sobre os acontecimentos recentes. Até ouvir Charlie, meu pai, chegando à sala de estar com seu caminhar arrastado e desajeitado, como se estivesse andando com uma pistola na cintura. Espere! Ele realmente tem uma. Te peguei.
— Oh! Hey Bells! Nem vi que tinha chegado. – comentou em algum lugar próximo a mim. Abri meus olhos e sentei-me, tirando os pés do estofado e fitando-o sentado à sua poltrona habitual.
— Oi, pai. – respondi, ainda desanimada, sorrindo minimamente
— Oh, oh... – repreendeu meu desânimo carinhosamente. – O que está pegando? É assim que vocês jovens falam? – perguntou abocanhando um sanduíche enorme, fazendo-me automaticamente sorrir com sinceridade.
— Não é nada demais... Só alguns problemas com Biologia. – dei de ombros, optando por omitir a verdade, e não era uma mentira, afinal... Eu realmente estava com problemas em Biologia.
— Bem, acredito que tenho algo que vá te animar. – comentou balançando as sobrancelhas sugestivamente, me fazendo rir com vontade quando seu bigode proeminente se remexeu no processo.
— O que é?! – perguntei ansiosa, infelizmente eu era um bichinho da curiosidade que não podia ser refreado.
— Chegaram umas cartas... – comentou distraidamente, como se não fosse nada importante.
Franzi o cenho por um momento, apenas para arregalar os olhos em seguida e começar a gritar histericamente pela casa.
— EU NÃO ACREDITO! – berrei ainda descrente, mas quicando em meu lugar, pronta para correr até a correspondência. – ONDE ESTÁ?
— Em cima da bancada na cozi... Vá com calma garota! – repreendeu-me, depois que sai correndo no meio de sua frase.
— PORRA! – gritei de dor ao bater o dedinho na quina da porta, em minha falha tentativa de chegar à cozinha.
— DINHEIRO NO POTE! – ouvi a voz de Renée gritar de algum lugar na casa, fazendo-me revirar os olhos e continuar minha saga.
Cheguei à cozinha ofegante, tropeçando em meus próprios pés, e apanhei os quatro envelopes que havia em cima da bancada de mármore, passei por todas as cartas até que o logo de Stanford em uma delas me chamou a atenção. Sem mais delongas, saí pela porta dos fundos com pressa - tanta que quase atropelei minha gata no processo -, e corri até rumo a residência dos Cullen, como se minha vida dependesse disso.
— EDWARD! EDWARD! – gritei no momento que meus pés tocaram seu gramado.
Voei em direção à entrada de sua casa, mas antes que pudesse bater, a porta se abriu num rompante, fazendo-me cair em cima de um corpo masculino que, felizmente, conseguiu me segurar, evitando que ambos viessem ao chão. Levantei minha cabeça, vendo que o corpo era de Edward e que ele havia me segurado. Corei violentamente em seus braços fortes. "Quando foi que ele ganhou esses músculos?", perguntei-me, apalpando sutilmente seu braço e mordendo meu lábio inferior.
Balancei a cabeça, "Que diabos?", em que eu estava pensando? Soltei-me de seu aperto, sentindo a intensidade de seu olhar sobre mim e finalmente encarei seu rosto, assustando-me um pouco com o brilho estranho que havia em seus olhos. Inspirei profundamente, buscando o ar que me faltava, e lhe ofereci um sorriso sincero que imediatamente foi correspondido com o mais belo sorriso torto de todo o mundo. Ele sabia como deixar uma mulher de pernas bambas, mas eu não era qualquer mulher. Eu era a sua Bella.
— Oi! – cumprimentei rindo minimamente. – Desculpe, ia bater na porta, mas você saiu tão rápido que...
— Sim! Porque eu precisava muito te contar uma coisa.
— Eu também! – exclamei sem esconder minha excitação.
— As cartas chegaram! – sussurrou empolgado agarrando minhas mãos nas suas, como quem conta um segredo querendo gritá-lo ao mundo.
— AS CARTAS CHEGARAM! – gritei em resposta, me lançando em seus braços para que ele me pegasse em seu colo, e ele assim o fez.
— AS CARTAS CHEGARAM, PORRAAAA! – gritou de volta, correndo comigo em seu colo até a entrada de casa e nos girando.
— EDWAAAAARD! – protestei e ri ao mesmo tempo, enquanto gritávamos como dois malucos, tamanha felicidade que sentíamos. Eu podia sentir seu coração acelerado batendo contra meu peito, sua felicidade irradiava e me contagiava, fazendo com que eu tivesse vontade de berrar ao mundo tudo o que estava sentindo, mesmo que eu ainda não soubesse bem o que sentir.
Aproveitei o momento e inclinei minha cabeça, deitando-a no vão de seu pescoço quando ele parou de girar. Sentia-me tonta e um pouco enjoada, mas feliz... imensamente feliz.
— Acho que vou vomitar meu almoço. – pude ouvi-lo reclamar, mas estava distraída demais para conseguir prestar atenção em outra coisa que não seu cheiro inebriante. Seu perfume amadeirado invadiu minhas narinas, e era simplesmente delicioso, me sentia levemente "embriagada de Edward" por um momento.
— Desde quando você cheira tão bem assim? – perguntei fungando em seu pescoço, ainda tonta.
— O que? – perguntou rindo, depois de uma pausa. – De que diabos você está falando?
— Nada não. – murmurei, cheirando-o mais uma vez e me afastando para olhá-lo nos olhos, onde encontrei um misto de confusão e esperança, que me fez franzir o cenho em confusão. – E não vamos abrir as cartas? De onde é a sua?
— O que? Oh! Sim. Cartas. Vamos abri-las! A minha é de Stanford. – disse, se embaralhando todo nas próprias palavras.
— CARALHO A MINHA TAMBÉM!
— Vem, vamos pro meu quarto AGORA! - disse empolgado, pronto para me carregar casa a dentro.
— Oh, Edward! O que sua mãe vai pensar de mim indo para o seu quarto assim? – perguntei zombeteira, descendo de seu colo.
— Bem, você já passou muitas noites nele, acho que ela já está acostumada. – zombou, cutucando minha costela e fazendo-me cócegas. – Anda logo! Quero saber se Stanford vai receber essa sua bunda branca.
— Ei! – protestei cruzando os braços e semicerrando os olhos em sua direção.
— Arraste sua bela bunda branca pra cá, Swan! Temos algumas cartas para abrir. – disse estendendo a mão para mim e eu a peguei, sentindo o calor de sua palma na minha.
— Minha bunda é bela, mas não é TÃO branca assim. – resmunguei enquanto subíamos seu quarto, adentrando-o rapidamente.
— Era branca da última vez que checamos. – respondeu sorrindo maliciosamente, fazendo-me revirar os olhos e bufar. – Estou brincando, bobinha. – disse apertando meu nariz e mexendo-o minimamente com carinho.
— Patético. – resmunguei lambendo uma parte de sua mão.
— Eca! – reclamou, afastando a mão e olhando-me incrédulo. – Guarde sua língua pra você, vai saber por onde você anda passando ela...
— Nos mesmos lugares que você. – respondi com um dar de ombros e um sorriso sapeca, fazendo Edward rir alto.
— Você não vale um dólar.
— E você me ama mesmo assim. – respondi petulante, me jogando em sua cama gigante de casal. Edward teve a mesma ideia, mas jogou-se por cima de mim, fazendo nossas pernas se embolarem umas nas outras.
— Pior que amo mesmo... – respondeu com um lindo sorriso, estendendo a mão para acariciar minha bochecha.
Eu estava em meu lugar favorito no mundo. Todas as preocupações e anseios estavam esquecidas por um momento, até mesmo as cartas que definiriam nosso futuro haviam sido esquecidas. Era sempre assim com Edward, ele tinha essa áurea, esse dom de conseguir colorir minha vida cinzenta. Eu o amava. Ele era meu melhor amigo. O meu Edward.
[...]
Infelizmente, Edward e eu não fomos para a mesma universidade.
O destino quis nos separar e tomamos rumos distintos. Ficamos cada vez mais distantes um do outro, principalmente com um oceano e vários quilômetros de distância entre nós. A internet até que nos ajudava nessa coisa toda, mas já não nos falávamos com tanta frequência. No entanto, éramos do tipo que mesmo depois de semanas sem uma mensagem, quando conversávamos era como se nada houvesse mudado. Nossa amizade continuava intacta a cada nova chamada de vídeo e isso me consolava. Nossos encontros se limitaram ao Natal e Ano Novo, mas tudo era sempre perfeito e por isso as festas de fim de ano tinham um significado especial.
Mas tudo começou a mudar no meio do 2° ano de universidade, quando Edward finalmente começou a namorar com uma caloura do curso de Direito, Irina Denali – uma modelo inglesa requintada e da alta sociedade. Não me leve a mal, eu não tinha absolutamente NADA contra ela. Muito pelo contrário, Irina era o modelo, o padrão, a mulher perfeita que qualquer homem desejaria ter ao seu lado e era exatamente esse o problema. Perfeita demais. Tão perfeita que seria impossível encontrar uma imperfeição por baixo de tantas camadas de doçura, sorrisos e gentileza. Isso era suspeito demais e pode me chamar de paranoica, mas quem plantou essa ideia em minha cabeça fora a própria irmã de Edward.
Alice Cullen é o que poderíamos chamar de "força incontrolável da natureza" e, não bastasse isso, tinha uma espécie de "sexto sentido sobrenatural" que raramente falhava. Então, quando suas suspeitas sobre sua nova cunhada começaram, Alice enlouqueceu Edward, fazendo com que as brigas entre os dois acontecessem com mais frequência que o habitual. Ela, no entanto, não desistiu de procurar o que tanto lhe incomodava sobre a Denali. Porém para a surpresa de todos, quem descobrira o monstrinho de Irina não fora minha amiga, mas sim eu.
Era um podre. Uma coisa feia escondida debaixo do tapete de sua vida milimetricamente moldada. Algo que nem em um milhão de anos nossas famílias aceitariam.
Preconceito.
Irina Denali era uma fodida preconceituosa do caralho.
Sim, era esse o defeito da namorada de meu amigo e bem, aparentemente seu problema era especificamente comigo por dois motivos:
O fato de que Edward e eu éramos extremamente conectados, sempre funcionando em sintonia e cumplicidade;
Minha orientação sexual.
Digamos que Irina tinha problemas para aceitar que seu noivo e a família dele, estivessem ligados a uma família em que houvesse "alguém como eu", principalmente porque Edward e eu éramos próximos demais, fazendo com que ela tivesse que conviver e ouvir sobre mim constantemente.
Foram palavras horríveis e insultos intermináveis, tudo por causa do ciúme desenfreado que ela tinha de nossa amizade, mas que escondia perfeitamente de Edward. Isso resultou em minha mão enfiada no meio de sua cara, uma "inocente" Irina fazendo-se de vítima e meu melhor amigo fodidamente puto comigo – tudo isso em plena festa de 50 anos de Esme.
Minha amizade com Edward, que já não era a mesma, foi ruindo aos poucos nos 3 meses que se seguiram ao ocorrido. Paramos de nos comunicar e os segredos que, outrora, eram compartilhados, ficaram guardados. Tudo piorou consideravelmente quando a própria Irina respondia as poucas mensagens que mandava a ele, dizendo que ele estava ocupado e mais tarde falava comigo, o que raramente acontecia. Era como se ele desaparecesse cada vez mais, distanciando-se de mim e de sua família, bem, de Alice e Rosalie pra ser específica, já que elas estavam completamente do meu lado.
Alice por um bom tempo defendeu a ideia de contarmos a ele tudo o que havia acontecido, no entanto, preferi não o fazer. Tinha medo de estragar sua felicidade, mesmo que isso significasse ter que guardar a mágoa e a saudade dentro de mim; mas mesmo assim, prometi a ela que, se acontecesse novamente, eu lhe contaria.
Não aconteceu.
Não contei.
Irina havia conseguido o que queria, me afastar de Edward. Ainda nos falávamos ocasionalmente, não era a mesma coisa, mas era alguma coisa e eu não estava disposta a deixar aquela louca tomar isso de mim. Então, nos eventos familiares que se seguiram, eu apenas me distanciava e cumprimentava-os educadamente, evitando a todo custo estar próxima do casal ou ficar sozinha no mesmo cômodo que a loira. Alice me ajudava com isso, sempre livrando minha barra e me puxando para junto dela e Rose. Elas eram ótimas amigas, e mesmo sendo contra minhas escolhas, sabiam respeitar meus pedidos.
[...]
11 de Julho de 2013 - Aniversário de Esme
Forks, WA
— Olha, o feminismo que me desculpe, mas EU VOU FURAR ESSA FUDIDA! – Rosalie gritou a última parte, levantando-se furiosa e marchando até a porta do quarto de hóspedes que Esme havia me designado.
— Rosalie! – repreendi seu comportamento com um olhar, mas não foi suficiente. Ela era Rosalie Hale acima de tudo, o furacão e a fúria em pessoa. Se não fosse amiga de Rose, desejaria apenas nunca cruzar seu caminho. – Alice! Não a deixe sair!
— Ah, Bella... Eu mesma queria descer a mão na cara daquela vagabunda.
— Alice... – soltei um suspiro pesado antes de me jogar na cama e continuar. – Por favor, me escutem. – supliquei, principalmente para Rose, que me olhava com os olhos em chamas, pronta para assassinar seu alvo.
— Me dê um bom motivo para não descer a porrada nessa filha da puta preconceituosa, Isabella. – disse apertando o nariz entre os dedos.
— É aniversário de Esme. Edward acabou de chegar de surpresa. Devemos respeitar a data. O dia de hoje é tão importante, Esme ficaria arrasada com uma briga maior do que a que eu já causei. – respondi, colocando a mão em meu rosto corado de vergonha e molhado por lágrimas de raiva.
— Foda-se essa merda toda! Esme vai me dar razão quando souber o que sua "norinha" fez, até porque está mais do que na cara que ela não gosta dessa piranha, só a atura porque Edward é cego o bastante pra não enxergar a cobra que está em sua cama. – disse a loira com os olhos azuis em fendas, aquele olhar seria capaz de matar se possível.
— Isso é impossível. Esme gosta de todo mundo. – respondi revirando os olhos. Esme Cullen era a pessoa mais calma e amigável do mundo, era impossível existir alguém que ela odiasse, ouso dizer que essa palavra nem mesmo existe em seu vocabulário.
— Há controvérsias. – tossiu Alice, deixando-me boquiaberta.
— Mentira!? Quem?
— Aquela Pa...
— Bella, não mude o foco. – uma Rosalie impaciente interrompeu.
— Eu não quero mais confusões sobre esse assunto, por favor... - implorei.
— Bella, isso não está certo. – Alice respondeu entredentes.
— A minha vida inteira eu tive que passar por isso, Allie. Não que isso justifique o comportamento dela, ela é uma vaca preconceituosa, mas sabe... – dei de ombros. – Foda-se. Eu estou bem comigo mesma. Eu sei quem eu sou e amo quem eu sou. Não é mais um comentário preconceituoso que vai me derrubar. Já sofri tanto com isso no passado quando me assumi, que hoje isso é irrelevante pra mim. Então, foda-se! Eu sou uma mulher forte, ouça-me rugir!
— Disso eu sei, Bells... e temos muito orgulho de você! - começou Alice. - Mas vamos deixar o Edward se envolver com alguém assim? Logo ele que sempre lutou pela justiça e igualdade... – disse Alice bufando, completamente indignada, cruzando seus pequenos bracinhos sobre o peito.
— Eu não me sinto confortável para compartilhar isso com ele agora, será que vocês podem, POR FAVOR, respeitar isso? – perguntei, cansada de tantas voltas. Tudo o que eu queria era tomar uma longa ducha, deitar em meu travesseiro e dormir até o Sol nascer. - Não sei nem se ele vai querer olhar na minha cara...
— Bella... – Allie tentou insistir, mas algo em meu olhar a fizera desistir. Rose suspirou pesadamente e veio em minha direção, pousou seus lábios em minha testa, deixando um beijo suave ali.
— Tudo bem, Bells. Vamos respeitar sua decisão. – disse com um sorriso pequeno. – Mas isso não muda o fato de que eu quero furar essa fudida com a minha navalha. – disse sorrindo maliciosamente. Tentei manter-me séria, mas foi inevitável não cair na gargalhada, sendo seguida por Alice que ria escandalosamente.
— Vocês são loucas! – disse entre risos. – Não sei o que seria de mim sem vocês... obrigada.
— Não precisa agradecer, Bê. – disse Alice com um dar de ombros e pude ver Rose concordando com a cabeça. – That's what friends are suppose to do, oh yeah! - cantarolou, nos puxando para um abraço triplo.
[...]
Sai de meus devaneios com Queen tocando aos quatro ventos à uma da manhã e saltei da cama em busca de meu celular, que estava perdido em algum lugar da bagunça que havia feito após o jantar.
— Merda! - praguejei jogando algumas roupas longe, tentando encontrar minha bolsa, antes que Don't Stop Me Now acordasse toda a família. O encontrei depois de muitas peças atiradas pelo quarto, era Edward. Só podia ser ele, afinal.
— Merda, Cullen. Sua ligação quase custou o sono de Emily. - sussurrei sentando-me na cama.
— Por que você tá sussurrando? - perguntou e pude ouvir o tom de riso.
— Casa de madeira lembra? Eles escutam tudo. - revirei os olhos, sorrindo como uma perfeita idiota ao ouvir sua voz. Era sempre assim. Acho que sempre seria assim... Esse amor platônico e adolescente por meu melhor amigo.
Mas seria apenas isso. Amizade.
Qualquer coisa além disso era impossível... Nunca aconteceria. Edward era apenas meu melhor amigo e eu a dele. Éramos como irmãos e eu tinha certeza que ele jamais me viu ou me veria dessa maneira. Nos conhecemos desde sempre, crescemos juntos – comemos bolos de terra juntos e fomos para a emergência juntos e...
— BELLA?!
— O QUE? Digo, porra Edward! - resmunguei, depois de gritar com o susto de ter sido tirada de meus devaneios.
— Tá no mundo da Lua? Estou te perguntando um tempão e você não responde.
— Desculpe, dei uma viajada. O que você disse? - perguntei passando a mão por meus cabelos, hábito adquirido com o próprio Edward.
— Estou fazendo conexão em Virgínia agora, só mais algumas horas antes de nos encontrarmos. - declarou excitado com a constatação desse fato. - Queria saber se você não prefere mesmo que eu pegue Uber, ou um táxi até Forks. Não é perigoso você dirigir até Seattle essas horas da noite? - indagou preocupado.
— Claro que não! Eu nem estou com sono. - menti depois de coçar o olho. Eu estava cansada, mas não tanto.
— Bella...
— É sério! - assegurei. - Eu quero te pegar.
— Eu sempre soube que você queria meu corpo nu... - brincou, fazendo-me perceber o duplo sentido em minha frase.
— Não desse jeito, seu idiota. - respondi rindo, sentindo meu rosto esquentar. - Mas se você quiser, eu quero. - brinquei de volta, fingindo que não havia um fundo de verdade no que dizia.
— Vamos ajustar isso quando eu chegar. - respondeu rindo. Merda, seu riso era tão gostoso... - Bem, então vejo você no aeroporto daqui...
— Três horas. - respondi prontamente. Havia calculado cada minuto para encontrá-lo, não podia me conter de ansiedade. - Mal vejo a hora de te ver. - confessei com um suspiro pesado.
— Nem eu. Você não imagina o quanto. - respondeu com intensidade. - Já estão chamando meu voo. Vou ter que desligar, mas te mando mensagem. Não olhe enquanto dirige.
— Sim, senhor. - respondi revirando os olhos. - Vou me trocar e pegar o carro, nos vemos em algumas horas.
— Vou contar os minutos. Amo você, Bell.
— Também te amo, Edu.
Desligamos e deitei em minha cama por alguns segundos, sentindo um frio na barriga revirar meu jantar. Eu mal podia esperar para encontrá-lo, a saudade em meu peito era gigantesca, assim como a ansiedade de saber que nos veríamos em apenas algumas horas.
Podíamos ter seguido por caminhos diferentes, mas no final, sempre voltávamos para casa. Não importava se tivéssemos um oceano ou milhares de quilômetros entre nós. No final, sempre voltávamos ao começo de tudo.
Nosso começo, meio e fim. Forks.