N/A: Crepúsculo não me pertence.

Olá! Essa fic faz parte do Projeto One-shot Oculta 4 em 1, onde autoras do fandom de Crepúsculo transformaram 4 imagens em uma One-shot. Confira as regras e todas as participantes na página bit (ponto) ly (barra) POSOffnet

Você também encontra o link diretamente no meu perfil, na aba de Favorite Authors.

As imagens que usei de inspiração estão aqui: bit (ponto) ly (barra) POSO4em1

Muito obrigada, Ana, por betar essa fic! Sua ajuda foi fundamental.


Memória

Os olhos de Edward estavam pesados e seu corpo relaxava sem que tivesse qualquer controle. A imensa claridade do farol do carro à frente era brevemente substituída pela escuridão e, em um pulo, só faltava o cegar.

Isabella estranhou o movimento brusco ao lado e observou o homem com preocupação.

— Você dormiu?

— Meus olhos fecharam rápido, sem querer. Talvez seja melhor aumentar o volume do rádio.

— Minha cabeça vai explodir se ficar mais alto do que está — comunicou enquanto massageava as têmporas. — Que horas são?

— 22:17. Conseguimos chegar em mais umas 3 horas, acredito. Se não tivesse o maldito acidente na estrada, já estaríamos próximos de Chicago.

— Você está em condições de dirigir por mais esse tempo todo? Porque com enxaqueca do jeito que estou, não vou conseguir pegar no volante.

— Não sei — admitiu.

— Acho que prefiro parar na próxima saída, melhor não arriscar. Vamos procurar um hotel. Estamos a menos de duas milhas de... Beathan — observou uma placa. — Seja lá que lugar for esse.

— Eu topo. Estou morto, acordei antes do dia clarear. Saímos amanhã cedo, pode ser?

Isabella abriu o aplicativo que costumava usar em viagens e encontrou com rapidez o número de dois hotéis e uma pousada. A claridade do celular fazia com que sua vista ardesse e tocou no número da primeira opção oferecida, recostando a cabeça no assento.

Clee Shay Hotel, boa noite.

— Boa noite. Eu gostaria de saber se vocês têm dois quartos disponíveis para hoje.

Um momento, por favor.

— Ok — respondeu, respirando fundo. Seus olhos estavam fechados e torcia para que os de Edward permanecessem bem abertos. Quando o observou, notou que ele parecia de fato exausto.

Temos a disponibilidade de apenas um quarto com cama de casal. A senhora estaria interessada?

Isabella não precisava pensar. Jamais aceitaria a realidade de dividir a mesma cama com ele. Não era apenas pelo fato de Edward ser seu funcionário. Era... bom, era tudo.

Senhora?

— Muito obrigada. Tentarei entrar em contato com outro hotel da região.

Tente a pousada Gioia.

— Obrigada, boa noite.

— Não tinham vaga? — Edward questionou.

— Não.

— Quer tentar na próxima cidade?

— Sugeriram a pousada. — Ligou para o número seguinte no aplicativo e aguardou ser atendida.

Pousada Gioia, você fala com Jane. Como posso lhe ajudar?

— Boa noite, Jane. Vocês teriam dois quartos disponíveis?

Quantos adultos?

— Dois.

Olha, temos apenas um quarto com um beliche. Amanhã tem uma prova de triatlo na cidade aqui perto, todos os hotéis estão cheios lá e muita gente veio para cá. Acho que vai ser difícil encontrar outro lugar.

Um beliche, ela pensou. Murphy não brincava em serviço. Olhou para o lado e Edward estava quase pegando no sono. Melhor dividir o quarto do que o velório.

— Vou querer. Já estamos na cidade, chegamos dentro de alguns minutos.

O nome da senhora?

— Isabella Swan.

Estou a aguardando.

Isabella despediu-se da mulher e alterou o endereço de destino no GPS. Edward se movia inquieto no banco, não sabia quanto tempo mais conseguiria lutar contra o sono.

— A pousada só tinha um quarto com beliche. Espero que não tenha problema em dividir — falou e Edward pareceu surpreso, mas se recompôs.

— Sem problema. Vamos passar somente a noite, acho que é tranquilo.

A morena se recostou melhor no assento e olhou através da janela. Não sabia, mas seus pensamentos iam de encontro aos de Edward.

Chegaram na rua da pousada em poucos minutos, estacionando em uma vaga que parecia aguardar por eles. Edward pegou uma mochila que estava no banco traseiro do carro e caminharam por uma ruela encantados com o local.

A pousada era iluminada do lado de fora por pequenas luzes que mais pareciam vagalumes. Na entrada, diversas plantas davam um ar familiar e acolhedor. Algumas bicicletas estavam encostadas na parede e Isabella logo as associou aos hóspedes que participariam do evento de triatlo.

— Que lugar fofo — ela falou.

— Estou torcendo para a cama ser tão aconchegante quanto a entrada — Edward respondeu empurrando a enorme porta azul.

— Boa noite — ofereceu a loira que estava na recepção.

— Boa noite. Jane? Liguei tem alguns minutos.

— Srta. Isabella Swan?

— Sim.

— Poderia me apresentar sua identidade e cartão?

— Eu posso pagar — Edward disse.

— Deixa comigo. Vou pegar o reembolso no trabalho, de qualquer forma.

— Ok — concordou. — Jane, tem alguma farmácia aqui por perto?

— Tem uma CVS a três quadras daqui. Vocês podem comprar o que precisam, mas ela fecha em... — olhou para o relógio — seis minutos.

— Eu vou lá. Quer algo?

— Excedrin e qualquer coisa que eu possa vestir para dormir. Obrigada, Edward.

O rapaz correu tanto, que quem o visse acharia que era um dos competidores da prova que ocorreria em breve. Chegou na farmácia faltando um minuto para o horário de encerramento e sentiu que um dos funcionários o fitou com mau-humor, mas talvez fosse apenas impressão.

A primeira coisa que pegou foi o remédio de Isabella e, na sessão ao lado, duas escovas de dentes. Em seguida, escolheu um conjunto simples de roupas para que os dois pudessem passar a noite e foi para o caixa, pegando um pacote de Chips Ahoy no meio do caminho.

Quando retornou para a pousada, foi direcionado por Jane para o quarto de número 2.

— Eu já avisei a Srta. Swan que a recepção fecha às 23h, mas qualquer urgência pode ligar para o número 1 no telefone que está na mesinha. Boa noite.

— Obrigado. Boa noite.

Edward entrou no quarto e ouviu o barulho do chuveiro. Viu que a morena já havia se apossado da cama debaixo e colocado a mochila dele na que ficava em cima. O quarto era rústico, assim como o beliche, mas o edredom parecia ser macio. Na mesa, que ficava no canto do cômodo, apenas um telefone e um toca-fitas.

— Edward? — escutou do outro lado da porta.

— Sim. Voltei.

— É... Pode me entregar a roupa e o remédio? — pediu e abriu apenas uma fresta da porta para que pudesse passar o braço.

— Aqui. — Colocou a sacola na mão dela.

— Muito obrigada.

A morena saiu 5 minutos depois com o cabelo castanho preso em um coque e vestindo uma calça xadrez preta e cinza com uma blusa preta escrita BEATHAN em seu centro.

— Tomou o remédio? — Edward perguntou.

— Sim, muito obrigada. Não precisei da escova de dentes, eu comprei duas na recepção para nós, já deixei na bancada.

— Ah, obrigado. Vou deixar essas na mochila então, para qualquer emergência — respondeu, de repente tomado pela timidez.

Ela estava com as bochechas rosadas e alguns fios de cabelo caíam sobre sua face. Mesmo com os olhos borrados de preto por conta da maquiagem destruída pelo banho, Edward ainda conseguia afirmar que Isabella era uma das mulheres mais bonitas que já teve a sorte de ver.

— Você vai tomar banho?

— Sim. Sim. É... A toalha está no banheiro?

— Embaixo da pia.

— Ok. Eu vou... — pegou a sacola que estava em cima da cama. — Já retorno.

Assim que a porta do banheiro se fechou, Isabella olhou para o beliche desacreditada. Agora que estavam dividindo o mesmo quarto, não conseguia parar de pensar que escolha péssima havia feito. Esperava que Edward não comentasse sobre o ocorrido com ninguém do trabalho e, mais do que tudo, torceu para que o remédio fizesse efeito rápido e fosse capaz de pegar no sono antes que ele retornasse.

Apagou as luzes do quarto e entrou debaixo das cobertas, feliz com a maciez da roupa de cama e do colchão. Fechou os olhos e permaneceu quieta, mas alguns minutos depois, quando a porta do banheiro abriu, ela teve que dar uma espiada.

Edward era esbelto e tinha os braços definidos. Usava uma calça de moletom cinza e uma blusa preta. Quando se aproximou da cama, Isabella desejou que o quarto oferecesse um pouco mais de iluminação... Merda, pensou e fechou os olhos.

— Merda — Edward disse em voz alta após deixar um pacote cair.

Acendeu a luz do celular e pegou o que havia caído no chão. Colocou todos os pertences em cima da única cadeira que tinha no quarto e tentou subir com delicadeza — que não possuía — na cama de cima.

Debaixo das cobertas, parecia que o sono que o atormentava enquanto estava dirigindo havia partido. Tentou se acomodar, mas nada adiantava, pois a maior inquietude vinha de sua mente.

— Bella? — chamou.

O coração da morena bateu tão rápido com o som da voz dele, que agradeceu por estar de bruços e poder esconder o rosto no travesseiro.

If you gave me a chance I would take it…¹ — ele cantarolou e parou logo em seguida.

Isabella sabia ao que ele se referia. Esperou que falasse mais alguma coisa, mas nada veio. Levou um tempo para que finalmente conseguisse dormir e, por mais que não quisesse pensar no inevitável, seu inconsciente fez questão de não a deixar esquecer.

Acordou desnorteada, sem saber o que era real ou sonho. Tateou a cama em busca do celular e viu que o relógio indicava que o dia já havia amanhecido.

Levantou com cuidado, querendo evitar a todo custo que Edward despertasse. Caminhou na ponta dos pés até o banheiro e respirou com alívio quando chegou no sanitário, desesperada para fazer xixi.

— Está tudo sobre controle. Nada aconteceu. Ninguém vai achar estranho. Infelizmente só tinha um quarto e dormimos em camas diferentes. Aliás, não precisam saber disso, foda-se o reembolso — disse para si mesma enquanto olhava seu reflexo no espelho.

Abriu a porta do banheiro devagar e tentou não fazer barulho, mas no meio do caminho tropeçou no assoalho e não aguentou a dor, teve que xingar.

— Puta que pariu, meu dedinho!

Edward acordou em um pulo e agradeceu por ser um cômodo com pé direito alto, caso contrário teria batido a cabeça. Olhou ao redor confuso, a baixa iluminação no quarto não ajudava seu caso.

— Bella?

— Meu dedinho, cacete foi logo o mindinho — gemeu de dor.

— O que você fez? Acende a luz.

— Eu tropecei. — O quarto clareou. — O taco levantou enquanto eu estava voltando para a cama.

— Tá tudo bem? Movimenta o dedo para ver se não quebrou — instruiu. Desceu as escadas para observar de perto o que tinha acontecido.

— Está sangrando um pouco porque arrancou a pele, mas acho que não quebrou — falou e Edward agachou-se para olhar. A proximidade dele deixava Isabella nervosa.

— Acho que tenho band-aid na mochila. Não parece que foi algo grave — observou o local machucado.

— É, mas doeu. É muito ruim quando a gente bate o mindinho, né?

— Sim. Aqui — ofereceu o curativo.

— Obrigada.

Edward pegou o taco que estava virado no chão para encaixar no local de onde havia saído, mas assim que olhou o buraco, percebeu algo estranho.

— Isso já estava aqui? — questionou, tirando uma fita k7 de dentro.

— O que é isso?

— Uma fita. Estava dentro do buraco do taco.

— Deixa eu ver com a mão — pediu e Edward entregou a ela o objeto.

Inizio — tentou pronunciar. — Tem o número 1 na frente. O que é isso, Edward?

— Não faço ideia.

Os dois olharam para a fita e, em uma sincronia que não teria sido tão perfeita se fosse combinada, olharam para o toca-fitas que ficava em cima da mesa do quarto.

— Vamos ouvir? — ela perguntou.

— E se for algo bizarro?

— É uma fita que a gente acabou de tirar debaixo do taco, Edward. Eu espero que seja algo bizarro, se forem apenas músicas eu vou ficar bem decepcionada.

— Me dá aqui, vou colocar.

— Você sabe mexer nisso? Quando você nasceu nem se usava mais.

— Você adora me chamar de novinho, né? Eu acho que no fundo é inveja que eu tenho cinco anos a menos. E pode ficar tranquila que sei muito bem como fazer — respondeu.

— Tem que colocar para tocar primeiro o lado A.

— Eu sei, minha avó colecionava fitas — murmurou e, logo em seguida, apertou o play.

— Acho que não tem nada gravado — a morena comentou após alguns minutos de silêncio.

"Ciao. Espero que isso esteja gravando. Aqui quem fala é Gianna Bertoletto. Bom, se você está ouvindo isso significa que encontrou a minha fita de número 1. Este pequeno objeto é a minha memória. Não sei quantas fitas serão gravadas. Minha ideia é conseguir fazer 7, mas vamos ver, aviso quando for a última.

Pelo meu sotaque acho que dá para perceber que não sou americana [risos]. Nasci na Itália e quero contar a história da minha vida para você que me escuta. No final de cada relato irei deixar uma dica para que encontre a próxima fita pela linda cidade de Beathan. Eu sempre gostei da ideia de caça tesouros. Hoje estou criando o meu."

Edward apertou o botão de pause e olhou para Isabella que estava embasbacada na cama, o dedo machucado já esquecido.

— Por que você pausou?

— Ela falou 7 fitas. A gente vai levar quanto tempo para achar?

— Não sei, mas eu quero saber a história dela.

— Se a gente começar a ouvir, vamos ter que procurar todas. Eu não vou conseguir viver com a curiosidade — Edward disse.

— Até o fim do dia a gente deve conseguir, ainda não deu 8h. Dá play, Edward.

"Nasci no dia 28 de novembro de 1924, no Sul da Itália, em Nápoles. Minha mãe Letizia teve três filhas. Isabella era 4 anos mais velha que eu e Angela apenas 1 ano e 4 meses mais nova. Por complicações no parto de Ange, mamma foi impossibilitada de ter mais crianças. Meu pai se chamava Francesco e no pouco tempo que ficava em casa, sempre brincava comigo e minhas irmãs. Nosso passatempo de infância favorito era brincar de casamento de mentirinha e o papà fazia o papel de noivo.

A diversão na primeira década da minha vida foi um prefácio do que estava por vir e do tema que parecia ser universal entre nós meninas.

Vivíamos em uma Itália fascista e eu pouco entendia sobre o que acontecia no país, mas na escola nos ensinavam sobre nossos trabalhos domésticos e mamma sempre falava da importância de ser obediente aos pedidos do papà. Acho que ela tinha ressentimento por ter apenas filhas mulheres, visto que na época não se falava em outra coisa além da virilidade dos homens e de que as mulheres iriam dar à luz aos próximos militares. 'A maternidade está para a mulher, como a guerra está para o homem', ouvíamos por todos os cantos, inclusive na escola.

Mamma sempre deixou claro para nós a importância do casamento, nos aterrorizando com a história de minha tia-avó Ludovica que manchou o nome da família por ter se deitado com um homem antes do matrimônio. O peso da ação dela recaiu principalmente em cima de meu bisavô, pois naquele tempo tal comportamento indicava a inabilidade do homem de controlar uma mulher que habitava seu lar. A nonna dizia sentir vergonha da irmã, que tinha sorte de ser a filha mais velha e já estar casada na época em que tudo aconteceu, caso contrário teria sua honra questionada.

Aquele pensamento me assustava. Minhas irmãs eram tudo para mim, tinha pavor de causar tamanha decepção a elas. Naquele período, onde a infância se transforma em adolescência, eu temia o casamento.

Minha irmã Isabella se apaixonou por um de nossos vizinhos, mas sabia que não tinha chances, pois a mamma sempre falava que ele era um filho ilegítimo. Um bastardo. De qualquer maneira, isso não impedia a mente criativa de Isa de formular cenários e histórias que pareciam existir apenas para nos entreter no fim de um dia de colégio. Deitávamos juntas em uma cama e ela falava com tanta segurança que às vezes me perguntava se ela não estava de fato se escondendo por aí, trocando beijos com seu adorado Leonardo.

Nosso conto de fadas favorito teve fim nem um ano depois, quando Isa foi pedida em casamento pelo filho de um amigo de papà. Nunca vou me esquecer daquele dia. 22 de fevereiro de 1939. Isa chorou tanto no quarto por entender que não viveria uma história de amor como sempre sonhou. Acho que naquele dia ela percebeu que estava fadada a seguir os passos de nossa mãe e o que nos era ensinado: a mulher deve, acima de tudo, respeitar a hierarquia de gênero na família, o que dentro de minha casa significava que papà aceitaria ou não com quem ela casaria e, após esse momento, as vontades de seu marido sempre viriam em primeiro plano. Chorei muito. Aos 14 anos aprendi o que era impotência.

Meses depois, Isa casou e deixou nossa casa. Mamma brigou comigo e com Angela, disse que deveríamos estar felizes por nossa irmã, mas naquele quarto ao invés de felicidade só havia desolação.

Era o fim da década de 30 e eu sabia que seria a próxima. Rezei todos os dias para que algo acontecesse e me livrasse de meu destino. Não queria casar, nem tinha interesse em nenhum rapaz. Como uma doentia resposta às minhas aclamações, no transformar da década, algo realmente aconteceu. [silêncio]

Acho que vou seguir meu plano de contar tudo através das décadas como separei, para não me perder. Então para saber o que os anos 40 reservaram para essa que vos fala, peço que assim que terminar de escutar essa fita, remova com cuidado e guarde exatamente onde a tirou. Não gravei nada do lado B, não se preocupe em escutar. Peço também que não comente com ninguém sobre a minha história e sobre as fitas. Gosto da ideia de que o destino decidirá quem deverá escutá-las.

Estamos de acordo?

Bom, aqui vai a pista da próxima: guarda milhões de histórias e, embora essa aqui não seja Macbeth ou Otelo, você também a encontra lá.

In bocca al lupo!²"

Edward e Isabella se entreolharam, mas permaneceram em silêncio. O rapaz apertou o botão de rebobinar e, após a conclusão, pressionou eject no aparelho, guardando a fita na caixinha. Com muito cuidado, a colocou de volta no buraco aberto no chão e o tampou com o taco solto. Se sentou ali mesmo no assoalho e olhou para a mulher que estava a sua frente.

— Olha, eu não estava esperando isso.

— A gente precisa encontrar as outras fitas — ela afirmou. — Tínhamos que ter anotado a pista antes de guardar.

— Eu me lembro.

Argh, você e essa memória perfeita — rolou os olhos. — A gente toma um café e vai atrás, pode ser? Não consigo pensar sem tomar meu café.

— Novidade — murmurou. — E tenho 99% de certeza que ela estava se referindo a uma biblioteca. Lá é o lugar onde tem milhares de histórias, inclusive as de Shakespeare que ela citou.

— Faz sentido.

— A gente vai fazer isso mesmo? — questionou incrédulo. Jamais imaginou que passaria o sábado procurando fitas k7 em uma cidadezinha interiorana com Isabella.

— Como vou voltar para Chicago sem desvendar isso? Você não quer?

— Eu quero — respondeu imediatamente e a olhou nos olhos. Isabella desviou o olhar e levantou-se.

— Vou trocar de roupa.

No banheiro, se perguntou que loucura estava fazendo. Uma coisa era o ambiente de trabalho, onde conseguia evitar toda a tensão que pairava vez ou outra quando estava ao redor de Edward, mas agora era diferente. Não tinham que falar sobre nada relacionado a contratos e finanças, muito pelo contrário, estavam se juntando para passar o dia em uma aventura.

Vestiu a saia lápis do dia anterior e a blusa branca. Queria pelo menos ter outra calcinha, talvez fosse melhor fazer outra parada na CVS.

— Preciso passar na farmácia. Tenho que comprar umas coisas — informou ao sair do banheiro. Edward já tinha trocado de roupa e usava a mesma calça e blusa social.

— Idem. Não quero ficar andando por aí com essa roupa de ontem. Vamos tomar o café e, em seguida, voltamos aqui para pegar as coisas. Combinado?

Isabella se serviu com uma xícara de café preto e um prato com ovos. Edward, por outro lado, parecia que estava se abastecendo para o dia. No seu lugar da mesa tinha um prato com ovos e bacon, uma banana, um copo de leite, cookies e uma tigela em que ele servia o cereal.

— Só você para colocar o leite antes do cereal — Isabella observou.

— Só assim se tem ideia da proporção correta. Já te falei isso uma vez — ele disse e a morena fingiu não escutar, mexendo no aparelho celular que estava em suas mãos. — Acho que todo mundo já foi embora por causa da prova. Bom que posso comer sem peso na consciência.

— Tem apenas uma biblioteca na cidade — mostrou o celular para ele. — Biblioteca Pública de Beathan. Abre às 9h.

— Sabe o que estou pensando? Como a gente vai escutar as fitas? Vamos ter que voltar para a pousada toda vez que encontrarmos uma? Porque precisamos ouvir a pista para saber onde está a próxima.

— Ah, merda! Não tinha pensado nisso. E não é como se fossemos até a CVS e tivesse um walkman dando mole.

— Pois é — disse desanimado ao molhar um cookie em um copo de leite.

— Posso pegar um? — ela perguntou e Edward entregou o biscoito para ela. — Obrigada.

Estavam tentando achar uma solução prática para a situação, mas nada parecia funcionar. Quando Jane entrou na sala onde era servido o café para questionar se tudo estava de bem, os dois se entreolharam, como se estivessem pedindo permissão para fazer a pergunta que queriam. Edward foi o primeiro a falar.

— Jane, vimos que no nosso quarto tem um toca-fitas e queríamos saber quais as chances de você ter um walkman?

— Todas — ela sorriu. — Vocês precisam por agora?

— Sim, só vamos escovar os dentes e faremos o checkout.

— Ah, não vão ficar o fim de semana? — indagou intrigada.

— Não.

— Mas vocês querem o walkman?

— Sim — Edward respondeu confuso.

— As pessoas que me pedem walkman necessitam ficar o dia inteiro — confidenciou.

Necessitam? — Dessa vez foi Isabella quem parecia perdida.

— Sim. Fora que já teve gente que precisou do walkman por mais de um dia.

— Ok. Vamos conversar aqui e já falamos com você na recepção, ok? — a morena perguntou.

— Fiquem à vontade.

— Será que ela está querendo armar para que fiquemos mais um dia? — Isabella conspirou.

— Duvido muito. Acho que está falando a verdade. E ela sabe das fitas.

— Ela trabalha aqui, claro que sabe.

— Você quer ficar até amanhã? Podemos sair na hora do almoço e chegamos em Chicago antes de escurecer.

— Ok — ela concordou. — Podemos ficar mais um dia.

Terminaram de tomar o café e sentiam-se ansiosos. Não sabiam dizer se era por estarem juntos fora do trabalho ou pela missão que tinham a cumprir. Com a certeza de que possuíam o resto do dia pela frente, fizeram tudo com calma. Compraram as peças de roupa que precisavam na farmácia e, quando o relógio indicava que a biblioteca da cidade estava aberta há quase uma hora, caminharam em direção ao local.

— Aqui é fofo. Tão diferente de Chicago — Isabella comentou.

— Está dizendo que nossa cidade é feia?

— Claro que não, mas é diferente. Chicago é enorme, barulhenta, gente por todos os lados. Aqui não. Aqui é o tipo de lugar que as pessoas deixam a porta de casa destrancada.

— Ainda estamos nos Estados Unidos e nosso presidente é o Trump, Bella. Beathan não fica no Canadá — implicou e a morena fez uma careta por conta da realidade. Ele adorava quando ela fazia essas caras. — É engraçado como você fica diferente com essas roupas.

— O quê? — o olhou de soslaio.

— Primeiro que está sem salto, então parece uns 10 cm mais baixa. E essa roupa de academia é muito diferente das mega sofisticadas que você usa para trabalhar.

— A gente vai passar o dia inteiro na rua, queria estar confortável. E é o melhor que consegui achar na CVS ou você esperava me ver usando tie dye? Pavor só de imaginar esse cenário.

— Só estou implicando contigo, você fica bem com qualquer coisa.

Ela sorriu, mas logo se recompôs, fingindo tirar um pelo inexistente de sua camiseta. Olhou para os arredores, mas não resistiu e teve que dar apenas uma espiada no homem ao seu lado. A mão começou a suar quando viu que ele também a observava. Que loucura foi topar ficar um dia inteiro com ele.

— O que a gente vai fazer? — ele questionou.

— Ahn? Como assim?

— Quando a gente chegar na biblioteca, qual o nosso plano?

— Ah... Acho que procuramos os livros de Shakespeare.

— Também pensei isso. Acredito que pode estar escondida entre Macbeth e Otelo.

Conversaram pouco no caminho, tímidos como se estivessem se vendo pela primeira vez. Não sabiam qual era o tópico neutro no qual podiam se segurar para acabar com o silêncio estranho que pairava entre eles. Comentavam vez ou outra sobre algum lugar interessante que viam, mas quando a enorme placa com Biblioteca Pública de Beathan apareceu na esquina, ambos respiraram aliviados.

— Será que teremos que fazer um cadastro ou é só entrar?

— Acho que a gente só cadastra se pegar algum livro, não?

— Bom dia, posso ajudá-los? — um jovem rapaz questionou.

— Sim. Estamos procurando a área de Shakespeare — Isabella informou e o menino na mesma hora sorriu.

— A sua direita, a oitava fileira. Boa sorte.

Os dois sabiam que não podiam correr pela biblioteca, mas apertaram o passo o máximo que conseguiam sem que fossem chamados a atenção. Olharam as etiquetas com nomes de autores e Isabella, não conseguindo se conter, deu um pulinho de empolgação ao ler "Shakespeare, William" em um papel branco colado na madeira.

— Agora só temos que encontrar Macbeth e Otelo — ela falou passando a mão pelos livros.

Edward encontrou Otelo e, ao contrário do que imaginava, nada estava nas proximidades do livro. Isabella tentou a sorte com Macbeth, mas também nenhuma fita parecia estar à vista.

— Eu achei que estávamos no caminho certo. O garoto até sorriu para mim quando falei da sessão de Shakespeare!

— Também. Será que deveríamos perguntar a ele?

— Vai ser meio que roubar, né? E algo me diz que ele não responderia.

— A gente tem que pensar. Por que ela falaria Otelo e Macbeth?

— Não sei, talvez esteja em algum outro lugar nessa estante?

Eles continuaram a busca, mas estava mais fácil encontrar poeira do que qualquer rastro deixado por Gianna.

— Talvez a gente devesse procurar alguma coisa dentro do livro? — Edward sugeriu. — Alguma frase que possa estar sublinhada.

— Um livro de biblioteca com frase sublinhada? Tá doido? Iam matar Gianna.

— Alguma sugestão?

— Eu acho que é algo que essas obras têm em comum.

— Ambas foram escritas por Shakespeare. Só sei isso, nunca li. Sei que Otelo tem todo o lance de ciúmes. Você leu?

— Sim, há anos — encostou na estante e tentou pensar.

— O que você acha que elas têm de igual?

— Milhões de coisas. Estou tentando pensar nas mais óbvias. São duas histórias com assassinato, acho que é a coisa mais ridícula que consigo associar. E ambos estavam no exército.

Quando ela deu a última informação, Edward olhou para frente e sua mente na mesma hora ligou os pontos. Tocou os ombros da morena e a virou, para que fitasse a mesma direção que ele. Isabella ficou tão chocada, que sua boca estampou sua surpresa ao ver a escultura de soldado que estava em cima de uma mesa no fundo do corredor.

Ele pegou a mão da morena e correram até o soldado. O coração de ambos batia rápido, um pouco pelo entusiasmo e muito pelo encostar de suas peles. Quando ficaram cara-a-cara com a escultura, soltaram as palmas e se entreolharam com um sorriso nervoso no rosto.

— Acho que sua mão vai encaixar melhor ali atrás. Só pode estar ali — Edward falou observando um pequeno vão entre o soldado e a parede.

Isabella esticou a mão e, quando sentiu um objeto retangular e duro na ponta de seus dedos, sorriu para Edward.

— Aqui! — disse com animação e leu a etiqueta na fita. — 2. Conflitto.

— Eu não acredito! — respondeu tão empolgado que não conseguia parar de sorrir. — Quer ouvir aqui?

— Sim. Vamos ali no chão? Aqui parece mais privado do que nas mesas de leitura. — Apontou para o local onde estavam previamente.

Entre estantes, Edward inseriu a fita no walkman. Isabella ficou na dúvida de como iriam ouvir, mas o rapaz solucionou o problema de maneira rápida, colocando um fone no ouvido e o outro no da mulher ao seu lado.

"Ciao. Parabéns [palmas]! Vejo que encontrou a segunda fita e podemos dar sequência a minha história. O soldado tem relação com o que está pela frente.

Como contei anteriormente, a virada da década trouxe novidades. Em junho de 1940 a Itália entrou na Segunda Guerra. Pela primeira vez casamento não era o tópico mais discutido em meu lar.

Fora de casa, as pessoas estavam preocupadas com o confronto e as enormes consequências da guerra que já eram sentidas por todos os cantos, seja com a perda de seus queridos ou até mesmo a racionalização de alimentos que éramos obrigados a fazer.

O marido de Isa foi para o combate no fim daquele primeiro ano e lembro-me de tudo que ela nos confidenciou quando fez uma visita.

Ela pareceu aliviada com o distanciamento dele, mas temia por sua vida, pois não queria ser uma mulher viúva tão cedo. Disse que sua sogra era exigente e maléfica, a obrigando a refazer os serviços domésticos até que estivessem de seu agrado. Nos confessou que a primeira vez que se deitou com ele foi horrível e meu medo triplicou.

O mais perto que eu havia chegado de saber sobre sexo naquela época foi quando vi dois cachorros acasalando na rua, mas nossa mãe jamais ousou nos explicar qualquer coisa. Acho que ela temia que quanto mais soubéssemos, mais perigoso seria [riso seco]. Na verdade, pensando bem, me pergunto se ela estava tão perdida quanto nós e encarava o ato como apenas mais um afazer doméstico [pausa].

Em 1943 foi publicada uma lista com trabalhos que homens eram proibidos de exercer e, com 18 anos, vi a oportunidade de pedir a meus pais que me deixassem trabalhar.

Papà achou uma boa ideia, mas via que mamma preferia que eu ficasse sob seus cuidados. A vontade dela não foi feita e em maio daquele ano eu estava empregada como garçonete em um restaurante que ficava próximo de casa.

Não ganhava muito e meu serviço era cansativo, mas sou grata a esse emprego porque foi lá que conheci a pessoa que mudou minha vida. Ela se chamava Bianca e começou a trabalhar no restaurante em outubro de 1943. Nos demos bem desde o primeiro dia.

A princípio, sempre conversávamos sobre coisas relacionadas ao trabalho e cuidávamos uma da outra se um cliente tentava ser mais abusado e agir de maneira inapropriada. Entretanto, com o passar dos dias, nos tornamos confidentes e desabafávamos sobre os medos que tínhamos do futuro.

Bianca contou-me que sua mãe fazia parte da Resistência Italiana e que naquele momento nada a aterrorizava mais do que perder a única pessoa que tinha na vida, já que seu pai faleceu quando ainda era criança. Eu a contei sobre meu pavor de casar, ainda mais com alguém que não nutrisse sentimentos.

Não sei precisar quando aconteceu, mas se tivesse que dar um palpite, diria que foi no dia que saímos do trabalho e fomos caminhando para casa, como era habitual. Quando nos despedimos, ela pegou minha mão e suspirando disse: 'nos damos tão bem, é uma pena que não podemos nos casar, acho que seríamos felizes juntas'. Meu corpo virou gelatina. Naquela noite, não conseguia tirar seus olhos castanhos de meus sonhos [riso tímido].

Pensando aqui, vejo o quanto aquele dia alterou nossa dinâmica. Foi algo tão simples e que poderia não significar nada, mas ela expôs o que já rondava minha mente há certo tempo e não acreditava ser recíproco.

Eu rezei muito nessa época. Acho que foi o momento que mais me apeguei a Deus. Pedi para que conseguisse deixar de lado tudo o que sentia, mas ao invés disso acontecer, as coisas se intensificavam. Quando ela entrava pela porta do restaurante meu coração acelerava e nossa, como era boa a sensação de reconhecer o que brotava em mim. Foi um tempo ruim, mas também delicioso. É bom ser jovem [risos].

Resistimos até quando pudemos, mas no dia de meu aniversário de 20 anos, Bianca pediu que eu a acompanhasse até seu lar para que pudesse me dar um presente. Subi as escadas de sua casa dando palpites de qual mimo ela havia comprado para mim e, quando ela fechou a porta de seu quarto e uniu seus lábios aos meus, entendi que os melhores presentes sempre vêm do coração.

Foi um momento lindo. Era meu primeiro beijo e nem nervosa fiquei. Queria tanto, que quando aconteceu pareceu intuitivo. Nos entreolhamos depois e rimos tímidas, mas nos abraçamos e acho que naquele momento selamos um compromisso que se estenderia para vida.

Íamos com frequência a casa da outra, mas jamais contamos a nossa família o que sentíamos verdadeiramente. Era nosso segredo e só nos beijávamos quando tínhamos plena certeza que ninguém estava por perto. Ou ao menos, tentamos fazer assim.

O ano de 1945 parecia perfeito. Mussolini havia sido morto pela Resistência, o que trouxe certa paz para Bianca e, em setembro, a Segunda Guerra terminava. Mal eu sabia que a minha batalha estava apenas no começo.

Bianca se culpou muito por aquele dia, mas no fundo, eu sabia que estava fadado a acontecer. Mamma entrou no meu quarto e nos pegou embaixo dos lençóis trocando beijos e carícias inocentes. Expulsou Bianca com toda compostura que possuía no meio da noite e eu... [bufada]. Eu levei a surra da minha vida.

Um tempo ruim. Não sabia se deveria me sentir aliviada ou não que ela nunca contou para o papà. Eu jamais me atrevi a confessar para minhas irmãs com receio de que sentissem vergonha de mim. Deveria ter contado tudo para elas. Anos depois, me arrependi de não ter sido honesta. Nosso laço era forte demais, mas precisei de tempo para entender. Não voltei para o trabalho e não tinha formas de me comunicar com Bianca. A dor que senti naqueles dias foi tremenda.

Mamma me envergonhou e persuadiu. Quatro meses após o ocorrido, já falava sobre o filho de uma amiga que tinha olhos apenas para mim e que, se me casasse com ele, talvez Deus me perdoaria por ter cometido atos tão pecaminosos. Podia ter me negado, podia ter fugido. Podia tantas coisas, mas aceitei. Não queria dívidas com meus pais e muito menos com Deus.

Em maio de 1946, casei-me com Marcus Bertoletto. Deixei minha casa, minha amada irmã Angela e meus sonhos para trás.

Sendo honesta, acho que, em minha infelicidade, pelo menos tive sorte. Marcus era uma boa pessoa, esperou meu tempo, ou melhor, o limite de sua tolerância. No dia que dormimos juntos pela primeira vez, quase um ano após nosso casamento, eu chorei a noite inteira. Ele ficou assustado e tentou me consolar, mas não se consola o inconsolável.

Achei que meu destino era aquele. Que meus dias seriam dessa maneira e que não havia outra saída. Aceitei proporcionar a ele noites de prazer, fazendo de tudo para que uma criança não fosse concebida, por mais que isso ferisse o que nos foi ensinado. O sexo era, assim como imaginei ser para muitas, mais uma obrigação e longe de ser uma atividade de satisfação mútua.

Mesmo com o passar dos anos, sonhava dia e noite com Bianca e imaginava um universo paralelo em que estávamos juntas.

Foi em um dia de frio severo, em janeiro de 1948, que vi mio amore novamente. Quando nossos olhares se cruzaram, não conseguia acreditar que era real, mas meu coração aqueceu. Ela se aproximou de mim e disse baixo 'Gioia? Por que seus olhos não brilham mais?'. Chorei entre frutas e fui consolada por um abraço. Ela estava linda como sempre, seus lábios pintados por um batom vermelho que marcou meu rosto e lamuriei ao limpar à noite.

Combinamos de nos encontrar naquela feira na semana seguinte. Ela levou uma carta e eu também.

Em casa, li tudo o que tinha lhe ocorrido ao longo daqueles anos. A mudança que havia feito para os Estados Unidos a pedido de um tio que imigrara nos anos 20 e a doença de sua mãe, provocando seu retorno um ano depois. Chorei de tristeza ao saber que ela havia perdido Elena há apenas dois meses e o quanto confessou se sentir solitária. Estava se preparando para retornar aos Estados Unidos, mas agora que havia me encontrado, achou que era um sinal para que permanecesse. Ela nunca havia me esquecido e me chamou de seu grande amor.

Foi a partir dali que começamos a nos encontrar escondidas. Não nos beijávamos, mas trocávamos carícias que eram aceitas pela sociedade. Um abraço longo demais, um beijo na bochecha, um afago no cabelo. A simplicidade me fazia feliz.

Pensei que assim viveríamos, mas a vida sempre surpreende e nos anos 50 tudo mudava mais uma vez.

Para a próxima fita, te dou essa dica: no Sul, assim como ela, dei fruto. Em braços firmes, me protegi.

Lembre-se de rebobinar a fita e guardar com cuidado onde a encontrou.

In bocca al lupo!"

Ao invés de apertar o botão para voltar a fita, Edward tocou a mão de Isabella, que parecia abatida pela história de Gianna. A morena observou o carinho que ele fazia e contou até cinco antes de se afastar.

— Tá tudo bem, me comovo com facilidade — respondeu limpando uma lágrima. — Nada parece ter sido justo com ela.

— Infelizmente, a vida é injusta com muitas pessoas.

— Eu sei... — suspirou. — O que você acha que vai acontecer na próxima?

— Acho que ela teve um filho. Ela disse que deu fruto, né?

— Meu Deus, na situação dela, que pesadelo.

— Está tudo bem mesmo? Quer fazer uma pausa?

— Não, temos que encontrar a próxima. Onde você acha que está?

— Não sei. A primeira coisa que passou na minha cabeça foi uma árvore.

— Ela falou que era no Sul.

A morena pegou o celular e jogou mais uma vez o nome da cidade que estavam no mapa.

— A gente já está no Sul — Edward observou.

— Tem milhões de árvores lá fora, não temos como ficar procurando de uma em uma.

Guardaram a fita onde a encontraram e saíram da biblioteca mais perdidos do que entraram. Isabella jogava milhões de combinações com árvore e sul no Google, mas nenhuma resposta parecia encaixar com o local que precisavam ir.

— Talvez a gente só tenha que seguir na direção sul?

— Não sei.

— Vamos tentar?

Andaram sem saber muito bem o que procuravam. Pararam em duas árvores no meio do caminho tentando encontrar alguma pista, mas nada.

— Não acho que ela ia colocar em uma árvore dessa forma. A chuva destruiria por completo.

— Vamos continuar seguindo. Mais 30 minutos, caso contrário, a gente volta para a biblioteca e pergunta para aquele garoto se ele tem alguma pista para dar a nós.

— Ok.

— Bella?

— Sim?

— A gente não tem que ficar esquisito assim, sabe? Não estamos no trabalho, mas ainda somos nós, certo?

— Eu não estou esquisita — falou na defensiva.

— Está sim. A gente... Vamos nos divertir, ok? E vamos conversar, fala sério, parece que estamos brincando do jogo do silêncio.

— Que jogo do silêncio?

— Não pode falar. Valendo!

— O quê?

— Perdeu!

— Eu não estava brincando! — empurrou o homem ao seu lado e ele começou a rir.

— Se eu falar que está me dando um pouco de fome, você vai me julgar?

— Você comeu o universo no café da manhã.

— Tem cookies na minha mochila.

— Você sempre tem cookies, Edward.

— É Chips Ahoy Chunky, cheio de pedaços de chocolate — falou e a morena fingiu não se importar.

— Come tanto que parece estar em fase de crescimento — ela murmurou.

— Bom, eu acho que... Esquece — disse e começou a rir.

— O quê?

— Nada, é uma piada inapropriada para qualquer um, ainda mais minha chefe — riu.

— Ué, não falou agora mesmo que não tinha que ser esquisito? Que não estamos no trabalho e blá blá blá.

— Eu não falei blá blá blá. Dá valor ao meu discurso, mulher.

— Para de me enrolar, o que você ia falar?

— Que eu acho que já estou grande o suficiente — respondeu a olhando bem nos olhos.

— Isso é totalmente inapropriado, Edward.

— Eu falei! — gargalhou. — Mas eu poderia estar falando da minha altura.

— A gente sabe que você não está falando.

— A gente? — ele perguntou com a sobrancelha arqueada e Isabella gelou.

— Vamos procurar a porcaria da árvore, para de besteira.

— Pega o cookie aqui dentro, por favor — pediu virando de costas para ela.

Isabella o ajudou e ele abriu o pacote só aguardando o momento que sabia que viria.

— Me dá um, aí — ela pediu e ele entregou um cookie com sorriso no rosto. Nunca falhava.

— Eu fico pensando quando será que Gianna veio para cá? Como ela descobriu essa cidade? Será que vamos saber de tudo?

— Se a gente levar esse tempo todo para encontrar as fitas, acho que não.

— Que pessimista, Bella. Eu acho que estamos no caminho certo e acabou de dar meio-dia. Você sempre elogia minha intuição no trabalho, fora de lá eu sou a mesma pessoa, tá?

— Ok, ok. Não está mais aqui quem falou.

— O que você estaria fazendo esse fim de semana se estivesse em casa? O que foi?

— Nada. Você sempre curioso com suas perguntas. Ao invés de ser advogado no meio financeiro, deveria trabalhar na área criminalista.

— Sim, e pelo jeito você não está querendo responder, visto que está me enrolando.

— Provavelmente ficaria em casa assistindo TV ou vendo coisas do trabalho. Talvez, se meu primo insistisse muito, poderia ir para algum bar perto da casa dele, mas acho que após nossa viagem ia me dar um sábado gostoso na cama assistindo televisão.

— Hmmm... Nenhum pretendente?

— Por um acaso estamos no Natal, você envelheceu 40 anos, virou mulher e atende pelo nome de Sue? Pois está soando igual a minha tia — respondeu e Edward gargalhou.

— Sei lá, normalmente é isso que as pessoas da nossa idade fazem no fim de semana.

— Nossa idade? As pessoas da sua idade estão enchendo a cara e indo trabalhar de ressaca, Edward. Tipo a Jessica que acha que ninguém nota que segunda-feira ela está só em presença física, mas a gente viu nos stories do Instagram todo o processo de abdução da alma — comentou e Edward teve que encostar em uma parede de tanto que estava rindo. Ela não aguentou e riu também.

— Estou imaginando você deitadinha na cama olhando story por story e julgando todos. Será que você faz isso com os meus? Sua presença está sempre lá que eu vejo.

— Claro — respondeu firme, mas por dentro só faltou gritar. — Você é meu funcionário, tenho que ficar de olho em você.

— Já sei quem não devo colocar na lista de melhores amigos.

— O que você estaria fazendo? — perguntou, querendo fazê-lo esquecer todo o lance que ela stalkeava o Instagram dele.

— Não sei, mas agora acho que deveria ligar para Jessica e aprender como curtir o fim de semana da maneira correta — respondeu e a morena riu. — Acho que ia correr de manhã pelo Lakefront Trail. Tem vezes que saio com uns amigos no sábado, outras fico em casa fazendo o que todo mundo faz: assistindo Netflix. Não tinha nenhum compromisso marcado para esse fim de semana, então, a não ser que algum convite surgisse, meu destino seria o mesmo que o seu.

— Ainda bem que encontramos essa fita. Que entediante seria esse fim de semana. Se bem que até agora... Ei, espera!

— O quê?

— Olha ali. Ao lado da marcenaria. O gazebo.

— Será?

— Sei lá, já estamos andando sem rumo há tanto tempo. Tem árvores desenhadas e parece um lugar seguro. Eu esconderia uma fita ali.

Entraram no local duvidosos, sem qualquer sinal que ali estaria a próxima fita. Procuraram algum buraco no chão em que o objeto pudesse estar escondido, mas foi quando a luz bateu diferente e Edward olhou no ângulo certo, que viu uma caixa grudada na madeira um pouco acima da cabeça de Isabella.

— Não sai, está colada — Edward disse.

— Tira a fita, a gente só precisa dela — instruiu e ele seguiu. — O que está escrito?

— 3. Nascita. Vamos ouvir aqui? — questionou e a morena assentiu.

Sentados no chão do gazebo, ouviram a voz de Gianna.

"Ciao. Aqui seguimos minha história. Os anos 50 foram marcados por mais mudanças e descobertas em minha vida.

Como você pode imaginar, pela dica e pelo nome na fita, em março de 1950 descobri estar grávida. Marcus ficou extasiado e eu desesperada.

Enquanto minha barriga crescia, me via cada vez mais presa a uma vida que estava longe do que sonhei. Todos os dias pensava que deveria ter me separado de Marcus antes que isso acontecesse, mas no fim de nada me adiantava lamentar. Para meu alívio, durante os nove meses de gravidez ele não me tocou e por isso fui grata.

Nessa época, Isa já tinha dois filhos e Angela, que se casara no final da década anterior, também tinha um recém-nascido. Confidenciei a elas a aversão que sentia, que por mais que a criança remexesse dentro de mim, não me sentia como uma mãe. Elas, que sempre tiveram facilidade em me entender, naquela situação, não foram capazes. Isa queria crianças para que fossem suas companhias e Ange estava em êxtase, apaixonada pelo marido e pela vida a dois.

Bianca nunca me abandonou, mas continuamos vivendo como amigas e ela entendia que com um filho tudo se tornava mil vezes mais complicado. Foi um período de minha vida em que me senti muito solitária.

Em 12 de novembro de 1950, dei à luz a Renata Anna Maria Bertoletto. Os primeiros meses foram difíceis. Foi a tarefa mais desgastante e complexa que encarei na vida. Falaram que o instinto materno seria imediato, mas não veio. Na realidade, só fui entender que amava minha filha quando ela tinha por volta de seis meses.

Renata tinha dormido após muita luta e fui para a cozinha preparar o jantar. Lembro até hoje do berro estridente que ela deu, mesmo a distância eu senti sua dor. Quando entrei no quarto, ela estava no chão, o rosto vermelho e seu pranto doía minha alma. Olhei pedacinho por pedacinho e ao ver um galo se formando em sua testa, a abracei e chorei tanto. Fiquei apavorada por qualquer coisa de ruim que pudesse ter acontecido ao meu bebê e ali, eu soube.

Marcus não me dava assistência, até porque foi ensinado que esse não era o seu papel. Com uma criança dentro de casa, ficávamos cada vez mais distantes e lembro que dias antes do aniversário de um ano de Renata, encontrei uma blusa dele suja de batom. Fui tomada por um alívio que não coube dentro de mim. Ele tinha alguém para satisfazer seus desejos, isso significava que não me procuraria.

Demorei a admitir que precisava de suporte e quando confessei a Bianca que estava chegando ao meu limite, ela teve uma atitude que jamais esperei. Apareceu na minha casa, em plena luz do dia enquanto Marcus tomava o café da manhã para trabalhar, dizendo que era uma amiga de longa data e que sabia que eu tinha tido uma filha e necessitava de ajuda.

Marcus a recebeu com sorriso no rosto e olhos que devoravam seus seios fartos e lábios vermelhos. Senti ciúmes e me controlei para não fazer uma cena, pois tinha medo que ele pensasse ser a causa de minha inquietude.

A partir daquele dia, Bianca passou a ser uma visita constante em meu lar. Me ajudava com Renata e Marcus a tratava bem. Com ela tão perto, tinha muito medo que minha mãe resolvesse me fazer uma visita inesperada e descobrisse tudo, mas isso nunca aconteceu.

Em 1953, em um surto de poliomielite que matou tantos na Itália, papà foi uma das vítimas. Mamma se tornou uma pessoa sozinha e buscou refúgio na casa de Ange. Não tínhamos um bom relacionamento. Prometi a mim mesma nunca tratar minha filha da maneira que ela me tratou.

Renata crescia saudável, cada dia mais parecida comigo, exceto por seus olhos que eram castanhos como de seu pai. Ela se dava bem com Bianca e volta e meia me pegava olhando para as duas e fantasiando uma vida incrível com apenas nós três. Cogitei muito o divórcio, principalmente quando Bianca e eu não aguentamos mais apenas os abraços e beijos na bochecha e nos entregamos a tentação. Só descobri o que era prazer aos 32 anos.

Fiz planos de fuga, mas era assombrada pelo medo de perder meu bebê. Ela era a pessoa que eu mais amava e entendi que na vida às vezes precisamos cometer sacrifícios. Continuava rezando, pedindo força para seguir e torcendo para que um dia a minha vontade fosse feita.

O momento demorou, mas veio.

A dica para a próxima fita é essa: era a paz de asas brancas. Sabor melhor que a liberdade, não encontrei.

In bocca al lupo!"

— Meu Deus, eu preciso saber o que tem na próxima — Isabella disse. — Elas vão ficar juntas. Eu sinto, Edward! Meu Deus!

— Calma, Bella — pediu dando uma risada. A empolgação dela era adorável.

— Onde pode ser o próximo lugar?

— Não sei. Algo relacionado a liberdade, certamente.

— Paz de asa branca é a pomba, né? Ela voa livre.

— E o sabor? — ele perguntou.

— Não acho que tenha algum valor significativo para o lugar.

— Joga no Google a palavra dove³ e Beathan — Edward sugeriu.

— Cacete, Edward. Tem um restaurante chamado The Dove. Eu estou muito empolgada, que inferno — falou alto, dando pulinhos e colocando a mão no ombro dele, que sorria com o rosto inteiro.

— Quanto tempo?

— Longe... Segundo o Google 40 minutos a pé, mas a gente sabe que o bonequinho do Google tem as pernas longas, porque eu sempre demoro mais do que indica.

— Se você topar, eu topo.

— Vamos, não tem nada melhor para fazer mesmo.

Isabella guiava o caminho e falava animada, calculando que talvez conseguissem terminar a missão dada até o início da noite. Edward parecia perdido em pensamentos e ela se tocou que não havia pronunciado uma palavra.

— Edward? Tá tudo bem?

— Sim. Foi mal, fiquei pensando aqui sobre a última fita.

— Foi difícil, mas estou esperançosa por ela agora. O final me deixou assim.

— É foda. Todos os dias que ela passou ao lado da pessoa que era apaixonada tendo que se controlar...

— Ela sabia as consequências — Isabella respondeu e, de repente, não queria que tivessem caído neste tópico.

— É. É triste. Espero que ela tenha realmente encontrado uma saída. Acredito que sempre possa ter uma.

Eles ficaram em silêncio. Não sabiam o que dizer. Edward não conseguia parar de observá-la e cogitou tomar uma iniciativa ali, mas covardemente desistiu. Tentou, então, devolver a animação para ela.

— Será que vai ter comida boa nesse restaurante? — ele perguntou e a morena sorriu.

— Qual é sua comida preferida, Edward?

— Adivinha.

— Cookies.

— Cookie é sobremesa. Vamos ver se você é capaz de acertar. Eu sei o seu.

— Sabe nada!

— Sei sim. É Chop Suey.

— Como você sabe?!

— Quando a gente pede comida no trabalho e você escolhe esse prato, você abre o pacote assim — falou e fez uma dancinha mexendo os quadris para um lado e para o outros.

— Eu não faço nada. — Ela estava gargalhando muito, pois sabia que fazia.

— E é o único prato que você não me oferece. Sério, você nunca oferece. Bem rude da sua parte, por sinal.

— Você sempre aceita tudo que eu te ofereço! Às vezes as pessoas só estão sendo educadas, Edward. Não é para você aceitar — disse séria e ele achou graça.

— O que eu faço mais que te irrita, hein? Eu vejo sua cara enfezada quando a gente está em reunião e sempre me pergunto se é alguma coisa que falei.

— Você morde a ponta das minhas canetas!

— Não mordo.

— Edward, eu vou jogar todas em cima da sua mesa para você ver. Não satisfeito em morder as suas, você rouba as minhas. Sério, você deve ter uma giárdia ou coisa assim porque precisa sempre estar mastigando alguma coisa.

Como resposta, ele riu e fingiu que ia mordê-la.

— O que você está fazendo? — Esquivou-se.

— Sei lá, foi impulsivo.

Ele foi tomado por uma crise de risos e Isabella, confusa e feliz, começou a rir junto.

— Você está precisando de tratamento, Edward. Isso é uma fixação oral — disse séria e, logo em seguida, percebeu o que suas palavras poderiam implicar. — Cala a boca. Não responde. Eu sei, eu percebi.

— Eu não ia falar nada.

— Até parece. Te conheço.

— Me conhece, mas não falou qual meu prato favorito.

— Qualquer massa ao molho pesto — respondeu segura.

— Como você adivinhou? — indagou admirado.

— Você sempre se suja. Alguém precisa te ensinar a comer direito. Ai, cacete, para de rir. Eu só noto o duplo sentido depois que falo. Para de pensar besteira, garoto. Você tem 25 anos.

— Ai, Bella. Você me mata — sorriu e não conseguia parar de olhar para ela. — Um dia você me mata.

Chegaram ao restaurante morrendo de sede, de tanta besteira que falaram durante o caminho. Pediram uma garrafa de água e sentaram-se em uma das 10 mesas que o local possuía.

— A gente vai ter que procurar de mesa em mesa? — Isabella perguntou.

— Não, vamos olhar o cardápio primeiro e depois pensamos onde ela poderia ter escondido a fita.

— Cara, é sério. Faz um exame ou coisa assim.

Edward fez uma careta e olhou o menu. Pediram o almoço e, enquanto a comida era preparada, andavam sem rumo pelo restaurante. A dona, percebendo que os dois não parariam quietos até que encontrassem o que buscavam, resolveu dar uma ajuda.

— Vocês já viram o quadro que está no corredor dos toilettes?

— Quê? — Isabella perguntou confusa.

— O quadro. Vocês deveriam ver.

A comida chegou, mas eles saíram correndo, quase derrubando as cadeiras. No fim do corredor, um quadro com uma aquarela do símbolo da paz. A morena puxou o quadro com delicadeza e, sem qualquer surpresa, viu a fita presa com uma fita adesiva no verso.

— Vou dar 20% de gorjeta, sem sacanagem — Edward comentou.

Comeram rápido, ansiosos para saber o destino de Gianna e, para que o barulho do restaurante não os atrapalhasse, foram para um cantinho mais reservado e deram play na quarta fita. Libertà.

"Ciao. Passamos da metade das fitas, você consegue acreditar?

Os anos 60 começaram com uma coisa que me balançou. Marcus foi transferido no emprego e tivemos que nos mudar para Salerno. Implorei a ele para que não partíssemos. Insisti que poderia arrumar um emprego, já que Renata estava com quase 10 anos e sabia muito bem como se comportar em minha ausência.

Nada adiantou. Nos mudamos no fim de 1960 e fui embora com uma promessa de Bianca que faríamos dar certo. Já havíamos enfrentado dificuldades maiores, não era isso que nos faria desistir.

Meus dias eram tristes e até mesmo Marcus percebia. Certa vez, perguntei a ele se tinha algum arrependimento sobre as decisões que tomara na vida. Ele disse que não, mas via em seu olhar que a resposta era outra. Não ousou me questionar. Sabia que mal fui capaz de tomar decisões.

Trocava cartas com Bianca e, três meses depois, ela cometeu a loucura de se mudar para a mesma cidade que eu. Quando Marcus a viu em nossa porta, acho que foi a primeira vez que desconfiou. Não me importei, naquele estágio da minha vida eu já não ligava mais, só queria o alívio de tê-la por perto.

Em Salerno, meu marido encontrou outros lábios para beijar e corpos para amar. Eu permaneci com o de Bianca. Enganávamos a todos, tínhamos que manter as regras que nos foram impostas, mas no fim do dia me questionava se realmente valia a pena todo esse segredo. Não era como se pudéssemos ludibriar Deus, mesmo no esconderijo de nosso lar.

No meu aniversário de 40 anos, fiz minha vontade. Disse a Marcus que viajaria para passar um fim de semana na companhia de minhas irmãs em Nápoles e ele aceitou, desde que levasse Renata. Bianca, é claro, me acompanhou.

Cheguei à casa de Isa acompanhada de Renata, a pequena estava em êxtase por poder passar tempo com os primos e a felicidade dela sempre era a minha. Ange juntou-se a nós, sabendo que não tinha desejo de encontrar com mamma em sua casa.

Me lembro desse dia como se fosse ontem. Contei a elas sobre o que minha vida havia sido nos últimos tempos. Tudo mesmo, inclusive meu amor por Bianca.

Alguma vez na vida você já imaginou algo e, quando a realidade aconteceu, foi totalmente diferente? Comigo foi assim. Imaginei julgamento, mas ganhei amor. Ah, minhas irmãs [pausa]. Elas compreenderam. Elas sabiam o que foi nossa vida. Ange reconhecia sua sorte e Isa entendia o que era um amor nunca vivido.

Naquele domingo, acordei cedo e me encontrei com Bianca. Ela havia conseguido um carro com um amigo e passaríamos uma tarde em Portici. Meu Deus, que dia incrível. Passeamos de braços dados, conversamos bobagens e fomos livres. Mesmo no frio do inverno, dividimos uma única casquinha de sorvete e numa ruela nos beijamos até nossos lábios ficarem quentes. Estava tão feliz. Realmente feliz.

Ao retornar para Nápoles, apresentei Bianca a Isa, que nunca teve a oportunidade de conhecê-la, ao contrário de Ange. À noite, me despedi de minhas irmãs com lágrimas nos olhos, prometendo um retorno.

Acreditei que ao voltar para Salerno, a rotina seria mais uma vez restabelecida, mas as coisas não ocorreram dessa maneira. No começo de 1964, Marcus estava com uma ferida horrível no dedo que nunca parecia curar. Ele se recusava a ir ao médico e, quando finalmente entendeu a necessidade, já era tarde demais. Teve a perna amputada e desde aquele dia, não aceitou o destino que lhe fora dado. Foi impossibilitado de trabalhar e todos os dias bebia procurando um consolo que ninguém poderia o proporcionar.

Fui compreensiva. O ajudei e tentei fazer o meu melhor. Tenho em mim que ele sabia disso, pois jamais foi cruel. Cuidei dele até o último dia, quando a bebida em excesso e sua falta de zelo consigo mesmo o trouxeram a morte.

Marcus Bertoletto, meu marido, faleceu em setembro de 1966, aos 47 anos de idade. Chorei muito em seu velório, pois de todas as maneiras que me imaginei vivendo livre de meu casamento, essa não era a forma que desejei. Jamais quis ver minha filha, aos 15 anos, chorando em cima do caixão do pai.

Aquele fim de ano foi um momento turvo em minha mente. Bianca se afastou por um tempo e fui grata. Eu precisava [pausa].

Aos poucos, Renata e eu nos reerguemos. Voltamos para Nápoles e comecei a trabalhar em um hotel como passadeira. Bianca veio conosco, dividindo o mesmo teto.

Minha filha, com 19 anos, me questionou que tipo de relacionamento mantinha com Bianca e, mesmo que ela nunca tivesse nos visto fazendo mais do que trocando um abraço, não tive como mentir. Ela era um pedaço de mim. A expliquei que o que tínhamos era amor. 'Como homem e mulher? Como Benicio e eu?', ela questionou. 'Como amor.', respondi. Ela assentiu e voltou para o quarto.

Meses depois, quando nos preparávamos para uma celebração da virada da década em casa, Renata bateu em minha porta enquanto me arrumava. 'Se é amor, porque vocês nunca se beijam como eu beijava Benicio?'.

Não notava. Quando ela falou, percebi. Ainda escondia meu amor por Bianca até mesmo dentro do meu lar.

Ao aproximar da meia-noite do dia 31 de dezembro de 1969, Bianca abriu uma garrafa de champanhe e nós três brindamos. No fim da contagem regressiva, tinha as duas pessoas que eu mais amava em meus braços e, quando olhei para o lado e mio amore sorriu para mim, a beijei.

Como o líquido em minha taça, eu borbulhava com alegria. A vida nunca foi tão doce [pausa].

Ah, você quer saber onde fica a próxima fita, certo? Pois para essa, dica não irei dar [silêncio].

Calma, ainda não acabei de falar. Estava pensando. A próxima fita está no miradouro da cidade. Onde exatamente? Aí você já quer demais [risos]. Observe bem. Não sei que horas são e nem se é um dia rigoroso de inverno. Caso a temperatura esteja agradável, vá caminhando. É um longo trajeto saindo do restaurante, mas pode ser bom. De lá, observe a cidade e espero que dê a sorte de ver o pôr-do-sol. É um espetáculo à parte.

In bocca al lupo!"

Edward guardou a fita, mas não fez esforço para se levantar. Os dois estavam tão envolvidos com a história de Gianna, que precisavam de um tempo para se recuperar.

— Enquanto ela conta, parece que um filme passa na minha cabeça. Também é assim na sua? — Isabella perguntou.

— Sim. E a cada relato me sinto mais próximo. Preciso que as coisas deem certo para ela.

— Eu acho que agora tudo fica bem — desejou com a voz cheia de otimismo.

— Dá uma olhada quanto tempo de distância daqui até o miradouro, vou guardar a fita.

Ela jogou no mapa e quase caiu para trás ao ver o resultado de 1 hora e 20 minutos. Quando contou para Edward, até ele que sempre era cheio de disposição ficou um pouco duvidoso, mas indicou que, se ela topava, ele também estava dentro. Combinaram que iriam até quando suportassem.

Não tinham completado 20 minutos andando e a morena viu uma sorveteria. Pararam e ela comprou uma casquinha com seu sabor favorito: a pura e simples baunilha.

— Não vai comprar um pra você? — ela questionou surpresa.

— Não quer dividir como Gianna e Bianca? — ele perguntou com um sorriso e naquele momento seria incrível se pudessem ler um a mente do outro. "E depois nos beijamos até nossos lábios ficarem quentes?". O arrepio que ela sentiu com certeza veio do gelado do sorvete.

— Eu tenho problema em compartilhar minhas coisas favoritas — a morena respondeu.

— Vou ficar com meus cookies. Daqui a pouco bate a vontade.

— Vou te dar uma lambidinha só — ofereceu o sorvete. — Meu Deus, por que eu sempre falo frases de duplo sentido?

— Eu genuinamente nem tinha pensando nesse de agora — ele respondeu com uma risada após dar uma mordiscada no sorvete.

— Edward, você mordeu? Não se morde o sorvete da casquinha. Se lambe.

— Não existe regra.

— Para você não existe mesmo, né? O homem que coloca o leite antes do cereal, eu já deveria esperar isso. Danificou meu sorvete todo, maior mordidão aqui.

— Desculpa — pediu. — Eu compro outro, se quiser.

— Só estou brincando com você, relaxa.

— Acho que vou cortar meu cabelo — ele falou passando a mão pelas madeixas cor de bronze.

— Agora? — perguntou, pois haviam acabado de passar por uma barbearia.

— Não — riu. — Passamos por ali e lembrei. Acho que vou cortar bem baixo.

— Ah, mas assim é tão bonitinho — respondeu, mas em seguida ficou tensa. Podia falar uma coisa dessas?

— Você gosta?

— Quem tem que gostar é você, garoto — retrucou. Eu amo.

— É que acho que fica meio bagunçado.

— Você tem que arrumar direito.

— Assim? — Puxou todo o cabelo para um lado, claramente fazendo errado.

— Tá lindo, se passar em frente a barbearia de novo o homem vai ser voluntário para usar a máquina zero aí — respondeu e ele achou graça.

— E assim? — fingiu um moicano.

— Estiloso, porém a gente sabe que não é bem a sua cara, né?

— Como que é?

Tsc, vem aqui. E abaixa um pouco. Segura meu sorvete também. Você tem que arrumar ele de forma que fique bagunçado, mas na verdade foi tudo estrategicamente planejado, sabe? E tem que comprar cera para passar — comentou mexendo nos fios de cabelo. — É algo mais ou menos assim.

Edward estava com o rosto perto do dela. Era questão de pouquíssimos centímetros, na realidade. Eles olharam para a boca do outro ao mesmo tempo e desviaram. Isso é tão inapropriado, ela pensou.

— Bom, daria nota 7 — se afastou —, mas depois posso procurar uns vídeos no Youtube para te passar. Me dá minha casquinha de volta.

Continuaram o percurso falando de coisas do cotidiano e o bom humor reinou até o celular de Isabella não parar de apitar.

— O que houve? — Edward questionou.

— Michael querendo saber coisa do trabalho que poderia ser resolvida na segunda-feira e não no sábado quando eu estou de folga — falou enquanto digitava furiosamente no aparelho. — Eu fico puta com essas coisas, parece que faz um teste. Quer mostrar para Jacob que é dedicado, que está fazendo coisa de trabalho em pleno final de semana, mas para mim só mostra incompetência de não solucionar problemas na hora do expediente.

— Ele é um escroto, né? Jessica deve beber daquele jeito no domingo porque tem que aguentar ele — constatou e com isso a morena riu.

— Não duvido, pois ela deve sofrer muito mesmo. Coitada. Nunca reclamou para você? A menina que entrou antes pediu para sair com menos de 6 meses. Michael é difícil e eu sinto que ele tem um problema pessoal comigo. Merda, não era para eu estar falando essas coisas com você. Esquece, não está aqui quem falou.

— Se for por medo que eu vá comentar alguma coisa com alguém no trabalho, pode falar. A gente trabalha juntos há 9 meses. Acho que nessa altura do campeonato já deu para você notar que sou uma pessoa digna de confiança. Ou não? — perguntou e ela sabia que ele tinha razão.

— Você sabe que entrei no banco da mesma forma que você. Michael entrou junto, mas eu sempre fui mais elogiada. Sempre era promovida antes dele e acho que doía, sabe? Você não participa das reuniões com o Jacob, mas Mike ama achar maneiras de invalidar o que eu falo. Às vezes fico pensando se ele não está lá para achar algum furo no que digo ao invés de realizar o trabalho dele.

— Ele te olha estranho, eu já percebi.

— Sim. Com desdém. Eu sei muito bem.

— Você já comentou algo com Jacob?

— Não, mas Jacob sabe do meu valor. Ele é um bom chefe, pelo menos — respondeu e bloqueou o celular. — Inclusive, não vamos falar sobre esse fim de semana que passamos juntos, tá? Não quero que pensem qualquer coisa... Vai ser ruim se souberem, ok?

— Claro — assentiu.

— E chega de trabalho, também. A gente pode falar de outra coisa?

— Sobre o que você quer falar? Diga-me, Isabella.

— Não me chama de Isabella, é esquisito.

— Diga, chefinha.

— Se você me chamar assim, serei obrigada a abrir um processo solicitando sua transferência para trabalhar com Michael, viu?

— Você não seria capaz.

— Não mesmo — riu e olhou para ele. — Aliás, falando em não ser capaz, seu amigo conseguiu terminar o namoro?

— Sim. Não te falei? Eu jurei que tinha falado ontem de manhã no carro.

— Eu cochilei várias vezes. Tinha hora que eu estava concordando, mas perdi metade da conversa — admitiu. — Me perdoa, prometo que se você me contar tudo de novo, vou te dar atenção.

Com paciência, Edward relatou todo o caso e, dessa vez, Isabella o ouviu. Amava o jeito que ele contava qualquer coisa e que se sentia confortável o suficiente para falar da vida fora do trabalho. Parando para pensar, eles passavam mais tempo juntos do que com qualquer outra pessoa de seu círculo social.

— Ainda bem que amanhã estarei em casa. Eu vou sentir essa caminhada — ela disse.

— Eu te vi recentemente no Lakefront Trail, parou de correr?

— Você me viu?

— Sim. Estava com um cara loiro.

— Ah... Esse dia. Foi um momento "uma vez na vida e outra na morte". Por que você não foi falar comigo?

— Sei lá, fiquei com medo de interromper alguma coisa.

— Era Jasper — rolou os olhos.

— Ah, claro, Jasper... Agora sim — debochou.

— É um amigo de longa data, já devo ter falado dele para você. Não teria sido nada demais interromper — afirmou e depois ficou se sentindo boba. Não tinha que ficar insistindo que Edward falasse com ela fora do trabalho.

— Minha irmã disse que ele era bonito, ficou toda encantada.

— Não recomendo — Bella falou e Edward arqueou a sobrancelha.

— Não dessa maneira que você está pensando — riu. — Jazz saiu de um relacionamento complicado há uns meses, está naquela fase de que quer curtir tudo com intensidade. Aquele dia ele me arrastou porque decidiu que vai ser uma pessoa que se exercita e que é mais saudável. E ele descobriu o Tinder. Está transando com tanta gente que eu perdi a conta. Se ela estiver disposta a algo casual...

— Acho que ela só o achou bonito, mas vou passar os dados fornecidos, muito obrigado. Quem sabe um dia a gente não marca de beber uma cerveja? Nós quatro e tal.

Isabella não respondeu. Sair para beber uma cerveja com Edward não parecia ser algo possível, mas seu silêncio permitiu que ambos fantasiassem com o cenário criado por ele. Seria uma noite boa.

Chegaram ao miradouro exaustos. A boca clamava por água e um pouco de sossego. Dividiram a mesma garrafa e, sentados em um banco, juntavam energia para procurar a fita escondida por Gianna.

— Ela já contou que estava aqui, não custava falar onde, né? — Isabella remarcou enquanto fitava os arredores. Colocou a cabeça entre as pernas e olhou embaixo do banco. Nada.

— Aqui não parece ter um lugar super seguro onde ela possa ter escondido a fita. Tudo fica exposto.

— Meu Deus, será que está enterrado, Edward?

— Não acho que seja tão extremo. Talvez ela tenha dito nas entrelinhas. A gente tem que repensar quais foram as palavras que ela usou.

— A gente você quer dizer você, né? Pois eu já não me lembro mais nada, quem tem a memória boa é você.

— Ela afirmou que não ia falar, mas que era para observar — ele disse e apontou para o telescópio. — Eu chutaria que é ali.

Foram até o objeto e procuraram por onde conseguiam, exceto a caixa onde caíam as moedas que eram depositadas.

— Está ali dentro — a morena apontou. — Eu tenho certeza.

— Precisamos saber o código — respondeu observando o cadeado que fechava a caixa. — Seis números.

Tentaram de tudo. A data de nascimento de Gianna e de Renata, a data de falecimento de Marcus. Usaram todas as datas que eram de alguma forma significantes na história, mas nenhuma combinação parecia funcionar.

— O lado bom é que agora estamos bem perto de ver o pôr-do-sol — Edward afirmou.

— Eu acho que já sei — disse e abaixou-se cheia de confiança. — A gente tentou 31 de dezembro de 1969 porque foi o dia que ela parou de esconder o relacionamento com Bianca, mas o dia já tinha virado. E essa fita é dos anos 70. A data é 01 de janeiro de 1970. 010170.

Como em um toque de mágica o cadeado abriu e Edward deu um pulo de alegria e alívio. Pegaram a fita ávidos para saberem o que mais poderia ter acontecido na vida de Gianna. Tinha o número cinco e a palavra Ricominciare escrita.

"Ciao. Espero que essa não tenha dado tanto trabalho a vocês, mas acredito que não. Era fácil decifrar o código do cadeado. Bom, pelo menos para mim, que o criei [risos].

Começamos a década de 70 com a esperança de que tudo iria se estabilizar. Entretanto, assim que o ano começou, Bianca recebeu um pedido de ajuda que mudou para sempre o nosso destino.

Giulio, seu tio e único parente vivo, que morava nos Estados Unidos, estava doente e precisando de cuidados. Eu vi a preocupação dela estampada no rosto. Não era o tipo de pessoa que negava ajuda a um familiar.

Pensamos em maneiras de trazê-lo para a Itália e chegamos a dar sequência a este plano, mas ele estava frágil demais. Por essa razão, Bianca acabou partindo sozinha para cuidar dele em um momento tão delicado.

Ela ficou por lá cerca de um mês e retornou com a triste notícia do falecimento de seu tio. Voltou também com uma ideia na cabeça e quando Bianca cismava com algo, acho que já deu para perceber que nada conseguia fazê-la mudar de foco.

Ela queria que fôssemos para os Estados Unidos começar do zero. O tio tinha um legado, era dono de dois imóveis e levava uma vida confortável em uma cidade que cresceu graças a grande comunidade italiana que imigrara para lá entre as décadas de 10 e 20. Bianca não queria abandonar algo que fora construído por seu sangue.

Relutei. Não era fã da ideia de forma alguma. O primeiro empecilho que criei foi Renata, mas minha filha achou que era uma boa. O segundo, foi toda dificuldade que enfrentaria. Diferente de Bianca e Renata, eu pouco sabia inglês. Como iria trabalhar sem falar a língua do país em que vivia? Fora que já estava com quase 50 anos. Começar do zero parecia ser algo trabalhoso demais. Eu só queria calmaria.

Meus protestos duraram por alguns meses, mas por fim acabei sendo vencida.

Não foi fácil. Talvez, no fim das contas, eu estivesse relutando em ir embora porque sabia o que aquilo implicaria [pausa].

Na véspera de partirmos, fui até a casa de Ange. Ela já sabia de tudo e, por mais que fosse sentir minha falta, entendíamos que nosso laço era forte demais para se quebrar apenas com a distância. Fui até lá porque precisava conversar com mamma.

Foi duro. Foi horrível. Me dói falar sobre isso [pausa].

Contei que estava de mudança com Renata e Bianca. Fui mais uma vez escorraçada. Disse que a perdoava, mas não sei se realmente o fiz. Hoje acho que sim. Não sei [pausa].

Foi a última vez que a vi. Ela faleceu dois anos depois e não retornei para seu enterro porque diferente do que pensávamos, as coisas não estavam tão fáceis nos Estados Unidos.

Mudamos para lá em uma época horrível, onde o país sofria com a recessão. Nossa maior sorte foi ter uma comunidade tão incrível na cidade de Beathan. Fomos recebidas de braços abertos por pessoas que tanto gostavam de Giulio, companheiros italianos que entendiam as dificuldades de imigrantes. Em especial Sienna, uma professora aposentada, que foi a responsável pelo meu aprendizado de inglês.

Aos poucos, caminhamos. Investi boa parte do dinheiro da casa vendida de Nápoles na educação de Renata. Bianca e eu trabalhávamos sem parar no restaurante que passou a ser nosso e no fim de todos os dias conseguíamos sobreviver.

Não demonstrávamos muito afeto publicamente, ainda tínhamos medo da intolerância, principalmente de uma comunidade majoritariamente católica. Do nosso jeito, vivíamos e apesar das dificuldades, tínhamos o que era preciso para ser feliz: a companhia uma da outra.

No meio da década, ao fim da universidade, Renata se casou com Felix, o rapaz com quem namorou durante os anos de curso. Não tínhamos dinheiro para festa, mas celebramos em casa. Ficamos muito próximas da família dele, Liam e Maggie eram pessoas que nos respeitavam e, além de sogros de Renata, tornaram-se nossos grandes amigos.

Tentando pensar de forma positiva, acho que apesar de toda a crise que estávamos, foi uma época de firmar nossas raízes. Deixamos de ser apenas nós três e criamos outros laços, vimos nossa família crescer. E cresceu. Em 17 de agosto de 1978 nossa pequena neta Giovanna Bianca Wilson nasceu. O dia que Renata revelou o nome, mio amore chorou tanto [voz embargada]. Renata disse que queria homenagear as duas mães. Aquele simples ato significou muito.

Bom, agora você sabe como fui parar nessa pequena cidade que ganhou meu coração. Espero que ganhe um pouquinho do seu. Foi nesse miradouro que em 1979, sentada em um banco com Bianca, ela tirou duas alianças do bolso e me falou 'acho que não precisamos de formalidades para eu te chamar de minha esposa, mas penso que um anel cairia bem'.

Era um dia lindo. De mãos dadas, com o sol batendo no ouro de nossas alianças, nos abraçamos e vimos o pôr-do-sol. Em um ato infantil e imprudente, registramos esse dia. Atrás do banco, fizemos um coração e gravamos nossas iniciais na madeira. O amor nos torna bobos [risos].

A próxima fita... A penúltima fita [pausa].

Aqui vai a dica: embora ela não seja feita de papel, descansa no local que só me trouxe boas novas.

In bocca al lupo!".

Assim que a fita terminou, Isabella levantou e Edward fez o mesmo. Olharam as costas do banco e eram tantos nomes, que tiveram dificuldade de encontrar os de Gianna e Bianca.

— Será que isso estava aqui antes ou são pessoas que escutaram a fita dela e também escreveram? — Isabella questionou. Edward já estava procurando uma chave dentro da mochila. — O que você está fazendo?

— Eu quero escrever meu nome também. Certeza que foi porque ouviram as fitas — respondeu e começou a talhar a letra E em um espaço que encontrou.

— Ai, faz o meu também.

— Um B ou um I?

— Preciso mesmo responder?

Edward fez rápido e com capricho, sorrindo com o resultado. E+B. Gianna estava realmente certa. O amor os torna bobos.

— Obrigada — agradeceu, mas não conseguia parar de fitar o símbolo de mais que unia seus nomes. Merda.

— Vamos esperar o pôr-do-sol? Não deve demorar tanto.

Ela concordou e voltaram a sentar no banco. Ficaram em silêncio, mas a mente de ambos não parava.

— Bella... — Edward tomou coragem.

— Não. Por favor — ela respondeu sem o olhar. Pelo andar da carruagem, sabia sobre o que ele ia falar. — Por favor, não.

Edward calou-se, consentindo ao pedido dela. O silêncio que já era desconfortável, tornou-se ainda mais avassalador. O rapaz olhou para o relógio e viu que ainda esperariam por mais 20 minutos. Abriu a mochila e de dentro tirou o pacote de cookies.

— É sério isso? — ela perguntou finalmente o olhando.

— O quê? Quer?

— Para onde vai toda essa porcaria que você come?

— Acho que você sabe como funciona o aparelho digestório.

— Larga de ser bobo — respondeu. — Me dá só um.

— Aqui.

— Nossa, esse sabor é bom demais — disse após uma mordida.

— Eu sei — sorriu.

— Desculpa ter te interrompido, é que... É complicado — ela falou.

— Eu sei. Tudo bem — concordou e voltaram a ficar em silêncio.

— Eu queria ver uma foto dela — Isabella disse rodopiando a fita que tinha em mãos. — Queria ver todos os lugares que ela viu.

— Itália deve ser incrível. Fora que eu fico imaginando como isso aqui deveria ser nos anos 70. Uma cidade que, pelo que ela falou, foi basicamente se estabelecendo por conta dos imigrantes italianos. Ainda deve ter muito dos descendentes por aqui.

— Meu Deus, será que a Renata está por aqui? E a neta de Gianna? Meu Deus, e a própria Gianna, Edward, será que ela é viva?

— Calma, uma coisa de cada vez — ele riu. — Não sei se Gianna está viva. Ela disse que ia gravar por décadas e só temos mais duas. Fora que ela estaria com quase 100 anos.

— Imagina viver 100 anos!

— Cruzes, eu passo.

— Eu quero ver o pôr-do-sol, mas estou tão curiosa para saber o que está na próxima fita.

— Primeiro a gente tem que saber onde está.

— Ué, é meio óbvio, não?

— Você já sabe? — questionou curioso.

— Na caixa de correio.

— Hmmm... — ponderou. — Faz sentido.

— Claro que faz, também sou boa em desvendar mistérios — se gabou e ele sorriu.

— Quer pular o pôr-do-sol?

— Uma parte de mim sim, mas tem outra que não. Vamos esperar, vai.

— Eu quero ver. Tem tempo que não paro para simplesmente observar o dia encerrando na frente dos meus olhos.

— Vamos aguardar, então.

Edward pegou o celular e procurou dentro da bolsa pelos seus fones sem fio. Colocou sua playlist favorita e ofereceu um a Bella. A morena aceitou e observaram o horizonte sem trocar palavras.

Quando o sol começou a dar seu adeus, a canção Rather Be começou a tocar e os dois se entreolharam. O silêncio já queria dizer muita coisa.

Com a chegada da noite, partiram para a pousada com a ajuda de um táxi, pois Bella já sentia um leve incomodar em suas panturrilhas.

Assim como premeditaram, encontraram a penúltima fita na caixa de correio que ficava em frente a pousada. 6. Tranquillità. Foram direto para o quarto e, dessa vez, utilizaram o toca-fitas na mesinha ao invés do walkman.

"Ciao! Chegamos nos anos 80.

Pequenas coisas aconteceram nessa época, mas foram tão significativas que nem sei por onde começar. Talvez seja melhor explicar o porquê da fita ter sido escondida na caixa de correio.

Bom, logo no transformar da década minha filha se mudou com o marido para Flórida a trabalho. Foi doloroso, principalmente porque fiquei distante de minha piccola Giovanna, mas eram as correspondências que ela me enviava que me faziam ficar na expectativa de algo novo pelo menos uma vez no mês.

Era através de cartas que também me comunicava com minhas irmãs. Isabella havia se tornado viúva e dizia que não queria ver mais homem algum em sua frente, nem mesmo pintado de ouro. Sua diversão era escrever histórias infantis e contar para os netos. Uma vez ela até me mandou um conto para que eu pudesse ler para Giovanna e devo dizer que minha irmã mais velha não perdeu o talento que tinha para criar mundos imaginários.

Angela era curiosa e pouco contava de sua rotina, gastava mais espaço nas cartas querendo saber detalhe por detalhe de como era a vida nos Estados Unidos do que me relatando exatamente o que se passava em Nápoles.

Como nem tudo são flores, foi nessa década também que o país vivia um de seus momentos de maior intolerância e preconceito. Com a propagação da AIDS, houve uma grande perseguição a pessoas homossexuais, principalmente homens. As reportagens não paravam de surgir e, embora amigos próximos tivessem falando que era coisa da minha cabeça, lembro que algumas pessoas passaram a nos olhar diferente naquela época.

Desde o casamento de Renata a casa que morávamos foi ficando grande demais e, ao invés de vender o imóvel que havia herdado do tio, Bianca teve a brilhante ideia de transformar nosso lar em uma pousada.

Quero destacar que a ideia de minha mulher foi tão brilhante que levou três anos para ser concluída. Sim, três anos. Três! Meu Deus, eu quis matar tanto Bianca. Nós não tínhamos dinheiro para fazer tudo de uma vez e convivemos com o caos que se tornou o nosso lar.

No dia em que tudo ficou pronto e o letreiro foi pendurado na porta, devo dizer que perdoei ela um pouquinho. Poxa, ela colocou meu apelido como nome da pousada, eu não tinha como permanecer brava, né? [risos]. Disse que era meu presente atrasado de 60 anos.

A cidade estava crescendo e aos poucos os turistas foram surgindo para passar um fim de semana ou outro. Não tínhamos uma vida de luxo, mas não passamos necessidade.

Em 1985, um cinema foi construído próximo de onde morávamos e foi a primeira vez que vi um filme em uma tela tão grande. O filme era De Volta Para o Futuro e posso te garantir que foi uma das coisas mais fantásticas que já vi na vida! Simplesmente esplêndido!

Nesse mesmo ano fui brindada também com mais um acontecimento! Nascia meu segundo neto, Alec. Só tive a chance de conhecê-lo pessoalmente quando Renata voltou para Beathan em 1987, inclusive grávida do neném que seria meu pequeno clone: Jane. Até os olhos verdes e a pintinha ao lado da boca ela puxou!

Renata passou a administrar o restaurante junto a Felix, o que foi bom. Bianca e eu não éramos tão jovens e já não possuíamos a disposição para dar conta de dois estabelecimentos. Por morarmos no térreo da pousada, era muito mais simples administrar os dois andares do imóvel que pouquíssimas vezes ficava lotado.

Um filme se passa na minha mente enquanto estou aqui te contando minha história. Foi tanta coisa boa, uma época de tanta tranquilidade em minha vida. Gostava de fazer as coisas simples, de tomar um café do lado de fora da pousada, de jogar pôquer com Liam e Maggie, preparar um almoço para a família e passar a tarde agarrada no sofá com meus netos. Foi meu período de glória e paz.

Estou aqui pensando que a próxima é a última e... Nada nos prepara para o final, não é mesmo?

Minha dica para meu último tesouro não poderia ser mais simples: como em um círculo perfeito, tudo termina onde começa.

In bocca al lupo!".

Edward apertou o botão no toca-fitas, mas olhou para Isabella que estava sentada na cama.

— A última fita está aqui — ele disse.

— Será que está no mesmo buraco? — perguntou indo direto para o local no chão. — Não, só tem a antiga.

— A gente tem que achar outro taco solto. — Agachou-se e começou a procurar. — Você acha que a Jane da recepção é a neta de Gianna?

— Alguma dúvida? Ela tinha uma pinta perto da boca e não reparei exatamente a cor dos olhos, mas vi que eram claros — a morena descreveu enquanto tateava o piso ao lado da porta.

— Temos que falar com ela depois que ouvirmos a última fita.

— Será que está no banheiro?

— Talvez — ele respondeu com metade do corpo embaixo da cama.

— Será que a moça do restaurante era a Renata? — perguntou dentro do banheiro fuxicando o armário.

— Parecia ser bem mais jovem. Renata teria quase 70 anos. Acho difícil.

— Pode ser a Giovanna.

— Merda, Bella. Eu acho que encontrei, está aqui embaixo da cama. Pega a lanterna do celular, por favor.

Com a ajuda de Isabella, Edward resgatou de um buraco, similar ao primeiro, a última fita. 7. Finale.

"Ciao. O dia aqui já anoiteceu e estou pensativa em como narrar os últimos anos nessa fita.

É... [pausa]. Essa vai ser difícil.

Eu [pausa].

Mio amore partiu em uma manhã de domingo, em fevereiro de 1990 [pausa]. Foi tão rápido e devastador. Ela passou mal durante a madrugada, começou a sentir um aperto no peito e corremos para o hospital [voz trêmula].

Quando o médico veio falar comigo e com Renata, eu já sabia. Ele disse suas condolências e eu entendia que minha mulher havia falecido, mas não conseguia assimilar.

Renata tentou me dar o máximo de suporte que podia oferecer, mas a dor dela era grande como a minha. Ela havia perdido uma mãe e eu o amor da minha vida.

O processo de luto é árduo [pausa].

Era difícil para mim acordar e não ter ela ao meu lado. Dias atrás Bianca estava comigo e depois simplesmente parou de existir. Eu não conseguia processar isso. Como podia alguém estar aqui em um dia e então não estar mais? Sei que soa estúpido, mas não fazia sentido na minha mente.

De todos meus momentos difíceis, esse foi o mais doloroso. Fiquei morando por uns meses na casa de Renata porque a pousada me doía. A falta da presença física dela era sentida por todos os cantos.

Às vezes me pegava usando seu batom vermelho favorito, mas me olhava no espelho e não via o que me trazia felicidade. Queria as manchas desleixadas que ela deixava em meus lábios e por onde seus carinhos eram distribuídos.

Sinto muito a falta dela. Tem dias que menos e tem dias que me dói tanto que fico presa à lembranças o dia inteiro.

Voltei para a pousada no fim daquele mesmo ano e coloquei na cabeça que ia me dedicar por completo a manter o lugar que ela sonhou tanto em transformar.

Vi nossos netos crescerem e não deixei que eles esquecessem a pessoa incrível que era a avó deles. Muito da minha força veio daí. Gosto do carinho sincero que as crianças oferecem.

A década passou devagar e me distraía com o quão rápido o mundo parecia mudar. Perdi a paciência de tentar entender qualquer coisa ligada a tecnologia há alguns anos. Tenho apego ao que me lembra a época mais deliciosa da minha vida.

Acho que não mencionei, mas estou gravando isso no verão de 2003. Hoje fez um dia bonito, acordei e fui para a área externa da pousada tomar meu café enquanto via meus netos partindo para a escola. Eles sempre passam aqui para me dar um beijo, é a coisa mais doce.

Mencionei que comecei a gravar essas fitas por gostar de caça-tesouros, mas a verdade é que não quero que minha história seja perdida. Ela pode não tem nada de muito especial para muitos, mas é minha.

Essa semana eu recebi uma notícia que não é muito boa. Eu tenho poucos meses de vida pela frente. Há alguns meses descobri que estava com um tumor maligno e agora deu metástase no meu fígado. O médico me ofereceu um tratamento, mas ao perguntar as estatísticas, tive uma resposta realista.

O tratamento tem um preço absurdo e, se posso ser sincera, sinto que já vivi tantas vidas nessa. Escolho por esperar o tempo de Deus. Inclusive, me peguei pensando nisso. Tenho que contar a Renata sobre o que o médico falou e estou enrolando o dia inteiro para isso. Não é fácil contar para sua filha que ela vai perder mais uma mãe.

Por falar em mãe, lembrei de mamma quando soube o que o destino me reservava. Sua voz venenosa dizendo que eu iria para o Inferno. Acho que foi uma das coisas que me motivou a ficar pensando sobre a vida e contar um pouquinho do que passei. Não temo a morte e meu julgamento. Cometi erros, mas amar jamais se encaixaria nessa categoria. Faria tudo exatamente igual. É minha vida, minha história. Tudo é um pedacinho de quem sou.

Chego ao fim, não com uma lição, pois quem sou eu? Entretanto, tenho aqui meu pedido.

Acredito que a vida é feita de trocas. E agora, seja lá onde eu estiver enquanto você parou para ouvir palavra por palavra, gostaria de saber sobre a sua. Você me contaria?

Providenciarei para que tenham fitas suficientes na recepção da pousada. Peça uma lá e grave sua história para mim. O que você me contaria sobre você?

Obrigada por me escutar. Não é todo mundo que tem esse dom.

Ciao."

— Não acredito que acabou — Edward disse.

— Tem quase 17 anos que ela gravou isso. Jamais imaginaria.

— Vamos na recepção? Quero conversar com Jane.

Antes de falar com a mulher, deixaram a penúltima fita de volta na caixa de correio. Como previam, ela estava na recepção com um sorriso no rosto.

— Você é a neta de Gianna — Edward afirmou e o sorriso dela aumentou.

— Com muito orgulho — respondeu. — Vocês terminaram?

— Sim. Ainda não acredito. Eu tenho tantas perguntas... — Bella falou.

— Sempre. Já estou acostumada — a mulher riu. — O que gostariam de saber?

— Como as fitas resistiram todos esses anos?

— Dias antes do falecimento de minha avó, ela contou para minha mãe sobre as fitas e onde tinha escondido todas. Ela sempre amou brincar dessas coisas com a gente, então a mamãe ficou zero surpresa. Ouviu todas e fez uma cópia digital. Já perdemos algumas fitas ao longo desses anos, mas sempre repomos todas.

— Como ninguém contou sobre isso? — Edward quis saber.

— Já contaram, tem gente que vem aqui e pede especificamente pelo quarto 2, mas ele só é alugado quando estamos lotados. Era o quarto em que minha avó vivia. A estrutura da pousada continua a mesma.

— Tem gente que fica no quarto e não encontra a fita?

— Sim. Já aconteceu algumas vezes.

— Quando ela faleceu?

— Em 11 de outubro de 2003.

— Meus sentimentos. Ela foi uma mulher forte. Eu gostaria de ver uma foto dela, você tem?

— Sim — apontou para dois retratos na parede. — Essas são minhas duas avós.

Edward e Bella olharam as fotos admirados. Finalmente conseguiram colocar um rosto na voz que ouviram ao longo do dia.

— Que lindas. Você é mesmo igual a Gianna, chega a ser assustador — Bella disse e Jane riu.

— Vocês chegaram a ver minha irmã no restaurante? Ela tem o jeito mais parecido com o de vovó. Vive dando pista para as pessoas que estão procurando as fitas.

— Aquela era Giovanna? Ela não nos contou.

— Que bom que vocês continuam dando sequência ao legado das suas avós — Edward comentou. — E nosso dia foi incrível, jamais imaginamos que íamos terminar assim.

— Ainda não terminou, né? — a loira disse abaixando e pegando duas fitas. — Aqui, caso vocês queiram gravar um pouco da história de vocês. Colocamos todas naquele canto.

A loira apontou e quando os dois viraram de costas, perceberam que uma parede afastada da recepção era repleta de fitas coladas. Chegaram perto e viram inúmeros nomes e datas.

— Não vamos ouvir, mas colocamos na parede. Então, caso queiram, gravem e podem me entregar quando fizerem o checkout. Se não quiserem gravar nada e apenas colocar o nome e a data, não tem problema — entregou duas caixas para Edward. — O aparelho que te dei também grava.

— Obrigado, Jane.

— Imagina. Boa noite. — Retornou para recepção onde duas pessoas a aguardavam.

Voltaram para o quarto e, como no dia anterior, Isabella foi a primeira a entrar no banho enquanto Edward refletia e rodopiava a fita virgem que estava em sua mão. No que ela voltou, foi a vez do rapaz tomar um banho e uma decisão.

Encontrou um quarto escuro, mas já conhecia o caminho para sua cama. Com o walkman que descansava no colchão, Edward decidiu que faria exatamente o que Gianna havia pedido ao fim da fita: compartilhar sobre sua história.

"Oi. Hoje é 28 de março de 2020. Meu nome é Edward Anthony Masen. Nasci em junho de 1994, na cidade de Chicago. Minha mãe se chama Esme e não sei nada sobre meu pai biológico. Nunca me interessei em saber.

Quando tinha 4 anos, minha mãe se casou com Carlisle, que é quem considero meu pai. Ele também já tinha uma filha e eu ganhei uma irmã postiça chamada Alice. Nós nos damos muito bem, temos a diferença de apenas um ano. Ela é a mais velha. Bom, essa é minha família [silêncio].

Minha infância foi incrível. Passávamos muito tempo no parque e eu adorava ir para o colégio. Meu brinquedo favorito era uma pelúcia. Ok, era o Cookie Monster [risos]. Minha mãe sempre remarca que desde novo eu gostava de falar pelos cotovelos e, quando não estava tagarelando, estava comendo. Ela dizia que às vezes tinha vontade de desligar minha bateria e de Alice só por uns 2 ou 3 dias [risos].

A adolescência foi... divertida. As meninas me paqueravam muito no colégio e eu era do time de futebol americano. Não tem nada pior para um adolescente do que ter o ego inflado [risos]. Meu pai disse uma vez que arrogância não levava a lugar algum e acho que foi a partir daí que baixei minha bola. Me dediquei cada vez mais aos estudos e ao time.

No último ano do ensino médio, apliquei para a faculdade de Chicago e ganhei uma bolsa por conta do esporte. O curso que escolhi foi economia, mas sonhava em seguir os passos de minha mãe e me tornar um advogado.

A faculdade era demais. Uma época fantástica. O primeiro ano foi uma loucura, mas me adaptei. Acho que a gente se adapta ou acaba enlouquecendo lá dentro, respiramos aquele ambiente 24 horas por dia.

Eu não era de frequentar muitas festas, mas sempre ia nas que eram oferecidas no final do semestre e, em uma que aconteceu em maio de 2014, eu conheci alguém muito especial [silêncio].

Estava jogando beer pong quando ela passou por mim. A bola foi parar longe e meus amigos ficaram me zoando. Enrolei mais umas partidas, mas naquele mar de pessoas, procurei por ela.

Quando a vi, estava sentada em uma escada mexendo no celular e na maior cara de pau, sentei-me ao seu lado. Questionei se estava acompanhada e pela bufada que deu, sabia que deveria esperar um fora, mas aí ela olhou para mim e disse um simples 'não, não estou'. Perguntei se ela queria dançar e meneou a cabeça, mas disse que topava me desafiar no beer pong.

Eu era excelente, mas ela... Na mesma hora percebi que eram anos de prática. Quando ela ganhou, perguntei o que queria em troca e juro que minhas pernas ficaram até bambas quando ela disse 'sei lá, acho que topo um beijo'.

O beijo encaixou. Foi uma delícia. A gente ficou se pegando um tempão e, quando a festa já foi perdendo a graça, eu falei que a deixava em seu dormitório. Ela me contou que não vivia no campus e que morava em um apartamento relativamente longe, mas que me acompanhava até o meu prédio.

Sabe quando você não quer que o momento acabe? Eu não queria. Paramos em um banco que ficava no jardim na frente do meu prédio e disse que gostaria de passar mais tempo com ela. A gente ficou se beijando de novo [riso], mas conseguimos conversar um pouco depois. Na real, passamos a noite inteira conversando. O dia já estava clareando e permanecemos naquele banco. Ela deitada no meu colo e eu com os braços nos joelhos, cochichando com ela, que às vezes me roubava uns selinhos quando tinha força o suficiente para levantar o rosto.

Ela pegou no sono uma hora e achei que era o fim do nosso dia. De repente, uma música começou a tocar no bolso dela. Era Rather Be. Ela levantou toda atrapalhada. Era o primo querendo saber se estava bem. 'Essa hora que você pergunta? Já dava tempo de terem me matado. Tô indo para casa.'. Eu impliquei com ela. 'Estamos em 2014, quem que coloca música como toque?'. Ela justificou dizendo que era sua favorita e, desde esse dia, quando a escuto, ela é a primeira pessoa que vem na minha cabeça.

Nos despedimos, mas foi difícil. Tão difícil, que não consegui deixar de propor que subisse para meu quarto. Três beijos e ela topou. A gente transou e foi espetacular. Depois a gente dormiu. E quando acordamos, transamos de novo.

Se eu fechar meus olhos agora, consigo sentir o gosto dela. É doido, eu sei. Ela usava um perfume que não saiu da minha mente por muito tempo. Inclusive, falei para ela que era muito bom. Se não estou enganado, disse que era um cheiro sedutor e estava me deixando inebriado. Ela riu, devia me achar muito bobo.

No fim da tarde, ela foi embora, mas me deu o número de telefone. Na mesma noite, mandei uma mensagem e ela respondeu. No dia seguinte, já não estava me dando tanta atenção e no final da semana me dispensou de forma educada. 'Foi incrível, mas no momento meu foco é outro, vamos guardar esse fim de semana na memória.' Eu guardei.

Quando acabei meu bacharelado em economia, entrei na faculdade de direito. Foram 3 anos intensos, até respirar parecia difícil. Não achei que ia dar conta, mas dei. Me formei em maio de 2019. Nesse mesmo mês, fiz a entrevista para um programa de trainee no SM Bank e passei.

Olha, eu vou te falar. A vida tem umas surpresas, mas essa foi do caralho [risos].

Cheguei no meu primeiro dia de trabalho e quem era a minha chefe? Sim. Ela. Isabella. A cara dela. Fico pensando se foi a mesma que a minha. Puro choque.

No primeiro minuto que tivemos sozinhos, perguntei se era tão estranho para ela quanto era para mim. 'O quê?', ela me respondeu. 'Por conta do lance da época de faculdade'. Ela fez cara de desentendida e por um segundo eu me questionei se poderia ser alguma prima ou irmã gêmea, mas o nome e a reação dela não me deixaram dúvida. E aí, eu entendi. Ela não queria tocar no assunto. Não queria tanto, que estava fingindo que era algo que nunca tinha acontecido. Eu, de maneira implícita, acabei concordando.

Acontece que trabalhar ao lado dela acabou sendo algo mais difícil do que imaginei que seria naquele primeiro dia. Não por conta do trabalho, porque ela é genial. Ela é o tipo de profissional que eu almejo ser, agradeço todos os dias por tê-la como exemplo. Ela é foda.

É difícil porque eu acho ela foda em tudo. Ela é boa de conversa e fica ouvindo minhas baboseiras. Depois que toma seu café preto, até ouso dizer que é um amor de pessoa [risos]. Implica comigo, diz que como muito doce e provavelmente está certa, mas é engraçado que toda vez que abro um pacote de cookie, Bella me pede. Inclusive, ela não sabe, mas passei a comprar o Chips Ahoy Chunky porque é o sabor que ela mais gosta.

Nossa convivência é fácil, nossa química é forte e a gente tenta ignorar, mas está nos pequenos detalhes. Em um olhar trocado, em uma sincronia de pensamento, em um toque inocente que arrepia até a alma. O cheiro dela ainda me enlouquece. Merda, ela é linda de morrer.

Eu também não sei, Gianna, quando exatamente que aconteceu. Não sei se foi naquele banco em 2014 ou se foi no dia que ela comemorou o sucesso de um contrato fazendo uma dancinha boba que só ela faz, mas eu cometi a loucura de me apaixonar e o mais louco é que acho que ela também sente algo por mim."

Ao fim das palavras dele, apenas o silêncio pairava no quarto. Edward fechou os olhos e respirou fundo. Baixinho e vindo da cama debaixo, ouviu um fungado e depois outro. Ela estava acordada. Ela sabia.

Isabella estava quase imóvel, mas por dentro era só rebuliço. Ela sabia.

Pensaram em qual seria o próximo passo. Conversar? Ignorar? Puxar o lençol para cima da cabeça e acordar no dia seguinte dizendo que tudo não passou de um sonho que zombava com a realidade?

— Me dá o gravador — ela pediu esticando o braço. Edward ia descer e entregá-lo, mas quando se movimentou para tal, ela pediu que não o fizesse. — Com você me olhando não vou conseguir. Só o aparelho, por favor.

Para Edward, ela levou quase uma hora para emitir o primeiro som, mas na verdade foram 7 minutos, a morena viu no relógio.

"Oi [pausa]. Meu nome é Isabella Marie Swan, mas gosto que me chamem de Bella. Nasci em setembro de 1989 em Forks, uma cidade pequena em Washington.

Meu pai é chefe de polícia da cidade e minha mãe trabalha como cozinheira em um restaurante de Portland. Eles me tiveram muito jovens, com 18 anos.

Eu sempre fui muito responsável, acho que é algo que fez parte da minha personalidade. Era muito estudiosa no colégio e nunca dava problema aos meus pais.

Eles se surpreenderam quando, ao fim do ensino médio, apliquei para a Universidade de Chicago. Não tínhamos a menor chance de conseguir pagar pelo curso e, por esta razão, quando recebi a carta de aprovação, peguei um financiamento que jurei quitar até meus 30 anos.

Fui a primeira pessoa da minha família a entrar na universidade. Me mudei junto com Seth, meu primo que estava desesperado para sair da pequena cidade de Forks. Foi meio doido, mas deu muito certo. Nos virávamos em um apartamento minúsculo e ele gostava de farrear e eu tentava fazer tudo de forma moderada, mas era difícil. Era um novo mundo pra mim. Passei a socializar mais e frequentar as festas da faculdade, mas nunca deixei isso atrapalhar minhas notas.

No segundo ano comecei a namorar e ficava mais tempo no dormitório do meu namorado do que no apartamento. Esse ano em especial foi muito bom, eu estava bem apaixonada.

Droga, é muito difícil ficar pensando tudo que aconteceu assim no calor do momento [pausa].

No fim da faculdade de economia, entrei para o curso de direito. As coisas pareciam caminhar bem na minha vida e até achei que me casaria com esse namorado após a conclusão dos meus estudos, mas um belo dia ele terminou comigo.

É meio foda quando alguém termina com você e o desejo não é mútuo. Me doeu bastante, fiquei fragilizada. Me levou um tempo para ver as coisas com mais clareza e entender que talvez estivesse mais acomodada do que apaixonada. Fico feliz que ele tenha terminado nosso relacionamento antes que se tornasse uma lembrança ruim na minha vida.

Eu me recordo do dia daquela festa. Seth encheu meu saco para irmos porque estava de rolo com um carinha do curso de economia. Ele nem frequentava a Universidade e tinha mais contatos lá dentro do que eu [risos].

Coloquei minha melhor roupa e parei de sentir pena de mim mesma. Assim que cheguei lá, dei de cara com esse cara [pausa].

Merda, eu não acredito que vou fazer isso [pausa].

Eu vi esse garoto. Ele era lindo e certamente mais novo do que eu. Cara de quem tinha acabado de entrar na universidade e se divertia bebendo cerveja barata e jogando beer pong. Eu sabia de experiência própria.

Fiquei na minha, era tudo muito barulhento e eu comecei a me sentir velha demais, mas na realidade acho que só estava sóbria. Sentei na escada e mandei mensagem para Seth, perguntando onde o filho da mãe tinha se enfiado. Quando escutei uma voz do meu lado, estava pronta para dar um fora, mas era ele.

Ele olhou pra mim e eu soube. Eu vou beijar esse garoto. Tinha certeza absoluta. Jogamos umas partidas de beer pong e quando disse que queria um beijo ele ficou todo bobo, eu ri.

Foi um beijão. Ele beijava gostoso e me deixei levar. Ficamos nos beijando a madrugada inteira, conversamos sobre bobagens e coisas sérias. Descobri que ele era cinco anos mais novo que eu e confesso que aquilo me espantou um pouco, mas aí ele passava o nariz pelo meu pescoço e chupava bem abaixo da minha orelha. Eu falei que ele beijava bem gostoso, né? O sexo também foi, mesmo naquela cama horrível de beliche que ele tinha no quarto.

Lembro que acordamos enroscados e ele levantou para pegar um café para mim. Trouxe em uma caneca do Homem de Ferro. Café preto, sem açúcar. Nem lembrava que tinha falado para ele que gostava assim, mas ele não tinha esquecido. Se sentou no chão, olhando para mim enquanto colocava um cereal que tirou do armário em uma tigela cheia de leite. 'Não é doideira, eu coloco assim porque consigo ver exatamente o equilíbrio entre o leite e o cereal. E escondo no armário porque Paul come tudo meu'.

A gente conversou mais e fez um sexo delícia de novo. Cheguei em casa tão inebriada quanto ele estava pelo meu perfume. Foi uma química incandescente.

Ele me mandou umas mensagens depois, foi atencioso e parecia ser um fofo, mas sabe quando você não está pronta? Eu não estava. E sabia que se rolasse mais coisa entre a gente, não ia ser só uma foda casual quando batesse a vontade. Por essa razão, acabei o dispensando e foquei no meu objetivo principal. Me formar e conseguir juntar dinheiro o suficiente para pagar o empréstimo que havia feito.

Quando me formei, entrei no SM Bank através do famoso processo seletivo para trainee que eles oferecem. Fui contratada e tive que suar muito para mostrar o meu valor lá dentro, ainda mais em um ambiente formado majoritariamente por homens e com pessoas que estão o tempo inteiro prontas para puxar o seu tapete [pausa].

E aí ele chegou. Não participei do processo seletivo porque estava de férias, quase desmarquei, mas Jacob me assegurou que tudo correria bem e que escolheria o melhor funcionário possível para eu chamar de meu. E ele escolheu.

Quase pedi para mudar quando vi que era Edward, mas fiquei com medo que isso acabasse sendo ainda pior. E se ele se juntasse com Michael e contasse tudo que tinha rolado conosco? Me fiz de doida quando parou para conversar comigo e ele entendeu o recado.

Só que o que adianta fingir que nada aconteceu quando algo está entranhado na sua mente? A primeira semana foi um pesadelo. Eu olhava para cara dele e meu cérebro lembrava de um beijo, de um toque mais íntimo. Com o tempo, achei que fosse melhorar, mas claro que não.

A maior virtude de Edward é que ele é atencioso. Para tudo. Ele presta atenção em todos os detalhes, ele aprende rápido e deve comer essa quantidade de doce absurda para repor toda a doçura que exala.

No dia que quitei meu empréstimo estudantil, chorei no meio do trabalho. Edward me deu um abraço tão sincero que foi difícil me distanciar. Ele disse que estava feliz por mim e pareceu genuíno. Fiquei contente que ele estava ao meu lado para dividir esse momento.

O banco não aceita qualquer relacionamento entre funcionários. Não aceita porque eu sei qual foi o destino de Rosalie quando se envolveu com Emmett. Consegui cumprir com meu objetivo, mas quero ir além e não desejo passar pela merda que amiga passou.

Eu... [pausa].

É claro que eu sinto a mesma coisa por você, Edward. Você sabe. Eu sei. A gente seria doido se não soubesse e eu acho que é a maior burrice que a gente cometeu. Quer dizer, é a segunda, porque a maior foi aceitar passar esse tempo todo juntos e dividir esse quarto quando a gente sabe muito bem o que um sente pelo outro. Quando sabemos o que se passou quando ficamos em um quarto com um beliche.

Eu fico puta porque sempre acho que dá para fugir. Tem aquele momento que a gente sabe que se seguir adiante, vai se apaixonar. É uma linha muito tênue, mas ela existe. E eu atravessei. Eu escolhi atravessar.

É idiota demais. É quebrar todas as regras.

Mas merda, vai ser tão gostoso agora dizer [pausa].

Claro que eu sou apaixonada por você.".

Quando ele desceu as escadas do beliche, não foi surpresa. Quando agachou perto da cama e passou a mão pelo rosto dela, chegando perto demais, ela o recebeu com prazer.

Lábios afoitos queriam matar a saudade e, ao se encontrarem, que alívio.

O gosto parecia o mesmo, mas depois se tornou tão diferente. Olhos que ao se cruzarem falavam mais que suas bocas que só pediam por mais e mais.

— Você beija tão gostoso... — murmurou. Podia ter sido ela ou ele, tanto faz. Era mútuo.

Ela puxou o corpo dele para cima do próprio e não teve urgência. Queria o afago no cabelo, o beijo no pescoço e palavras doces que faladas ao pé do ouvido arrepiavam.

Como no passado, perderam a hora com seus beijos, arfando pelo calor que emanavam e o tesão que uma língua na outra provocava. As mãos dele passavam pela coxa de Isabella com precisão e, quando ela mordeu seu lábio inferior e gemeu baixinho, o corpo dele acordou.

Se tentaram até que o momento que se tornou demais. Quando seus corpos se conectaram, entenderam o que era intimidade e torceram para que aquele fosse um caminho sem volta.

Horas depois, Isabella foi a primeira a acordar. Se afastou do corpo com que dividia a apertada cama e entrou no banheiro. Na lixeira, ao lado do vaso, a evidência da noite anterior, mas ao olhar no espelho e ver o cabelo bagunçado e os lábios inchados de tanto beijar, sabia que o que havia acontecido horas atrás era muito mais do que vestígios deixados por aí.

Ao voltar para o quarto, ele a observava com olhar inseguro.

— Bom dia — falou se desenrolando dos lençóis e ficando de pé. Usava apenas a cueca que vestira antes de pegar no sono.

— Bom dia — respondeu. Quando ele se aproximou e a ofereceu um abraço e um beijo no ombro, ela aceitou. — Vamos tomar o café e fazer o checkout? Temos 3 horas de viagem pela frente.

— Sim — Edward concordou. — Bella?

— Sim?

— O que aconteceu ontem à noite...

— Ninguém pode saber — ela respondeu.

Ele tentou esconder a decepção que tomou conta de seu rosto, mas era impossível. Não queria acreditar que mais uma vez teriam que guardar tudo o que viveram na memória e seguir em frente.

— Então foi nossa despedida? — questionou. A voz cheia de vulnerabilidade.

Isabella se aproximou ainda mais dele, as mãos desesperadas precisavam oferecer consolo e afago. A verdade era que não tinham como voltar atrás e, honestamente, ela não queria. Trocaram um olhar e a morena expressou em palavras o que seu afeto queria realmente dizer:

— Claro que não — se envolveu em seus braços. O corpo dele relaxou. — Essa noite foi nosso início.


¹ trecho da música Rather Be, de Clean Bandit. Tradução: Se você me desse uma chance, eu aproveitaria.

² expressão idiomática para boa sorte, em italiano.

³ pombo, em inglês. Igual o símbolo do sabonete rs. Embora não tenha diferença científica entre dove e pigeon (ambos significam pombo), geralmente usa-se dove para referir-se ao pombo branco.


N/A: E aí, gente? Eu oficialmente não consigo escrever o/s pequena.

Espero que tenham gostado! Foi MUITO incrível escrever essa história, cada pesquisa e cada ideia que ia surgindo enquanto tudo foi tomando forma... ai, eu amo demais o processo de criação.

Acho que o lance das imagens tá meio fácil de perceber, né? Pelo menos objeto, lugar e ação eu sei que estão hahaha. Quanto ao sentimento, pensei em usar a ideia de "ir contra a maré/quebrar regras" porque tem a bailarina indo na direção oposta aos outros dançarinos. Acho que dá pra ter essa interpretação com ambos os casais protagonistas da fic. A Ana, enquanto estava betando, interpretou como liberdade e acho que também vale!

Bom, é isso! Não é só o Edward que ama um biscoito, eu também! Então, quem leu tudinho, por favor, deixe um comentário! Vou enviar um SUPER extra pra quem comentar. É a cena daquela noite lá em 2014.

Ah, e leiam as outras fanfics participantes do Projeto!

Beijinhos e até a próxima (não sei quando rs). SE CUIDEM!