PRETO NO BRANCO
CAPÍTULO 1 – KANZASHI
Cansei de morrer por amor
Então me deixa viver por você?
Cansei de deixar pistas pra você encontrar
Mas, então, vem, se eu te chamar?
Para um complexo onde viviam quase 200 pessoas, a mansão principal dos Hyuuga estava silenciosa como os flocos de neve caindo no pátio, sobre as árvores secas, as pedras do caminho e a grama morta. As grandes portas deslizantes estavam abertas, apesar do ar gelado que entrava na sala. O chá estava parado na xícara, intocado.
Hyuuga Hiashi segurava um rolo de pergaminho entre as mãos duras de frio sem conseguir tirar seus olhos do texto curto, mas conclusivo. Lembrava-se com clareza do dia que assinara seu nome e colocara o selo do Clã Hyuuga no pergaminho ao lado do líder de outro dos maiores clãs da Vila Oculta na Folha, selando um contrato de união entre duas poderosas famílias, com linhagens irmãs.
O símbolo ao lado da chama dos Hyuuga era o leque vermelho e branco dos Uchiha.
O acordo se dera muito antes de qualquer suspeita de golpe por parte dos Uchiha ou qualquer animosidade em relação aos mesmos. O quarto Hokage em pessoa havia oficializado o contrato como ação de boa vontade em fortalecer ambos os clãs, apesar da maneira antiquada que os líderes tinham escolhido para fazê-lo.
Um casamento arranjado para união das linhagens sanguíneas parecia uma boa ideia a época.
Hiashi fechou os olhos, os ideogramas no contrato pareciam nada mais do que borrões depois de fixá-los por tanto tempo. Abriu-os novamente e encarou a neve e os poucos flocos desgarrados que o vento fraco soprara para cima da varanda externa. As coisas pareciam muito mais simples quando fechara aquele acordo com Uchiha Fugaku 23 anos atrás, dois dias depois de Hinata nascer.
No momento tudo o que queria fazer era rasga-lo em pedacinhos e usar para acender um fogareiro para requentar seu chá. Não podia fazer nenhuma dessas coisas; o acordo fora selado com o sangue de Fugaku e só poderia ser desfeito com todas as partes presentes, além disso havia um jutsu de completude que o obrigava a ser realizado.
Para todos os efeitos, era como se as partes do contrato já estivessem casadas.
Quanto ao fogareiro para o chá, aquela não era uma sala onde fogo deveria ser aceso e se tentasse cometer um ato tão atroz quanto requentar o chá, tinha certeza que um dos anciãos surgiria de um buraco no chão apenas para estapeá-lo.
Com os dedos rijos pelo frio, enrolou cuidadosamente o pergaminho e colocou-o dentro da manga do quimono. Levantou-se e tomou a saída pelo corredor interno da mansão, entre as antessalas e quartos agora ocupados indiscriminadamente por membros da família primária e secundária. Hinata se encarregara pessoal e enfaticamente em extinguir a divisão entre as famílias, dando um basta aos 300 anos de tradição do selo amaldiçoado em seu curto reinado como herdeira, antes de deixar o posto para Hanabi que o mantinha com punho de aço, mesmo com apenas 18 anos.
Hinata tinha o mesmo apreço dos anciãos pelo chá para ousar sequer pensar em requentá-lo, ela o teria apreciado devidamente antes de deixar esfriar, mas certamente não recriminaria quem quisesse fazê-lo.
Hanabi provavelmente estapearia os anciãos caso algum deles viesse dar palpite sobre como ela deveria ou não deveria tomar seu próprio chá.
Hyuuga Hiashi aprendera do jeito mais difícil a não subestimar a natureza e a personalidade de nenhuma de suas filhas ao tentar prever suas reações diante daquele assunto.
Rumou para a saída. Havia um único lugar onde podia ir e uma única pessoa a quem podia recorrer. Precisava de toda ajuda que pudesse conseguir para tentar desfazer aquele acordo ou, na pior das hipóteses, caso desfazê-lo fosse impossível, precisava fazer os devidos arranjos para informar todas as partes interessadas. Com sorte ainda tinha quase meio ano até o solstício de verão para celebração do contrato.
Com sorte, as coisas não precisariam ser tão preto no branco.
Hinata gostava de coordenar com cores seu calendário. Marcava as datas dos aniversários de seus amigos e familiares com uma caneta roxa brilhante, porque era sua cor favorita e suas pessoas favoritas. Usava vermelho – como todas as pessoas do mundo – para coisas urgentes e/ou importantes, verde para assuntos relacionados à Academia Ninja, laranja para as missões e azul para os turnos no hospital. Marcava em rosa os dias de folga e em amarelo tudo que tinha a ver com afazeres domésticos.
As marcações em preto eram mais raras.
Também as mais esperadas.
Hinata não conseguia se lembrar quando exatamente elas tinham começado, mas já devia ter uns dois ou três calendários.
Elas estavam ficando cada vez menos espaçadas entre os meses e provocavam em Hinata uma espécie de excitação misturada com crise de ansiedade que não conseguia explicar, como se quisesse que essas datas chegassem o mais rápido possível e também não chegassem nunca para simplesmente não ter que vê-las passar.
Naquele dia a marcação preta era seguida de uma marcação irritantemente vermelha: recebera um comunicado há duas semanas para se apresentar à Torre do Fogo naquele dia, pontualmente às nove horas da manhã.
A palavra pontualmente fora sublinhada três vezes no pergaminho que a solicitava. Hinata se perguntara extensivamente se a cópia da mensagem que recebera não era a versão que deveria ter sido entregue ao atual Hokage.
Sem se deixar tomar pela fatalidade do desencontro, pegou uma das canetas coloridas que ficavam em um suporte perto do calendário e marcou alguns itens na lista de compras. Dependendo do assunto urgente que a requisitara à presença do Hokage, talvez fosse algo que a permitisse voltar para casa ainda naquela noite e fazer umas compras pelo caminho. Estava perigosamente se arriscando com o último rolo de papel higiênico.
Também deixara sua mochila de viagem pronta perto da porta, caso fosse o outro tipo de urgência.
Ainda era cedo o suficiente para terminar de tomar seu chá e comer o último rolinho de canela que comprara na noite anterior, depois de um dia particularmente desgastante de voluntariado no hospital; uma pequena recompensa para si mesma, embora Hinata admitisse que não precisava dessas desculpas para comprar rolinhos de canela.
Lavou sua pouca louça com calma, conferiu a quantidade de kunai e shuriken no suporte da coxa, as pomadas e bandagens na bolsa das costas e trocou de sapatos no genkan. Seu calendário ficava pendurado ali, para ser a primeira e última coisa que via ao entrar e sair de casa. Observou a marcação em preto uma última vez e saiu.
- Ah, Hinata-chan, você chegou.
Ela estava alguns minutos adiantada. Esforçou-se para manter a expressão neutra e esconder sua surpresa pela presença incomumente pontual do Sexto Hokage. Fez uma curta reverência com a cabeça ao ser endereçada e terminou de entrar na sala fechando a porta atrás de si.
Com ainda mais surpresa, notou seu pai e Hanabi presentes. Estava devendo uma visita à sua família já há alguns dias, embora tentasse vê-los o máximo que conseguia quando não estava muito ocupada com as missões. Insistia no fato de que não era porque renunciara ao posto de herdeira e se mudara do complexo que deixara de ser uma Hyuuga, apenas conquistara a oportunidade de ser tão livre quanto Neji um dia desejara.
Ambos ficaram estranhamente calados enquanto ela se aproximava da mesa, a cada passo mais e mais apreensiva. Shikamaru, como cabeça do time de inteligência do Hokage após a morte de Shikaku na guerra, também estava lá parecendo como se precisasse muito de um cigarro.
- Bem, bem... - Kakashi parecia tão entediado como sempre e era bom ter uma pequena âncora de normalidade a qual se apegar. - Sasuke, você já pode parar de se esconder nas sombras.
O Uchiha surgiu ao lado da moça tão rápido que ela sequer percebeu, como se tivesse simplesmente removido um jutsu de invisibilidade, exceto que um jutsu daquele não existia. A menos que ele o tivesse criado. Hinata não julgaria impossível.
Ele vestia o poncho que geralmente usava em suas viagens e a bandana sobre os cabelos crescidos, ambos já bastante puídos e empoeirados, como se tivesse tido que voltar às pressas, sem tempo para parar em qualquer estalagem onde pudesse ter suas roupas lavadas.
A âncora de normalidade a que Hinata tinha se agarrado mostrou-se por demais efêmera. Em qual universo alternativo tinha caído para que precisasse ser convocada à Torre do Fogo, na presença pontual do infame atrasado Hokage, o líder da inteligência, sua família e Uchiha Sasuke?
- Ande logo com isso, Kakashi. - Sasuke queria cruzar os braços, pena que agora só tinha um, então contentou-se em apoia-lo na espada em sua cintura, por baixo do poncho. - Eu não voltei para Konoha correndo só para ver você.
- Oh? E eu aqui pensando que meu adorável aluno teria tempo de pelo menos tomar uma xícara de chá com seu sensei. - O hokage fingiu tão bem sentir-se devastado pela frieza do moreno que Hinata quase acreditou, mas ele ficou sério no segundo seguinte, colocando-se ereto na cadeira de espaldar alto e apoiando os cotovelos na escrivaninha. - Lamento dizer que vocês não vão gostar nada do motivo de terem sido convocados aqui hoje, crianças.
Com um gesto, Kakashi passou a palavra para o ex-patriarca dos Hyuuga que deu um passo a frente enquanto produzia um pergaminho enrolado de dentro da manga do quimono.
A temperatura do ambiente pareceu cair drasticamente quando tanto Sasuke quanto Hinata perceberam o nó Pan Chang feito de cordame vermelho amarrando o pergaminho. Sendo ambos descentes de clãs ancestrais - mesmo sem Sasuke ter recebido sua instrução completa nos costumes dos Uchiha -, eles sabiam o que aquele tipo específico de nó, naquela cor, enrolado em um pergaminho formal, queria dizer.
Um contrato.
Um contrato entre os clãs Uchiha e Hyuuga, como bem mostravam as insígnias dos dois clãs desenhadas em tinta nanquim nas costas do pergaminho quando Hiashi terminou de abri-lo.
- Há muito tempo atrás, meses antes de Hinata nascer e anos antes da tragédia que caiu sobre os Uchiha, as lideranças dos clãs Hyuuga e Uchiha tinham planos de aliança.
Hinata sentia-se meio tonta, uma leve vertigem chegando de mansinho pela lateral de seu corpo para pegá-la desprevenida. Tinha noção do Uchiha ao seu lado, o chakra dele, sempre contido e imperceptível, oscilava em ondas e revelava que o rapaz não estava tão calmo e indiferente quanto seu semblante impassível demonstrava.
- Fugaku-san e eu selamos um contrato dois dias depois de Hikaru dar à luz uma menina. - Ao dizer isso Hiashi teve a mínima decência de parecer arrependido, quem sabe até um pouco envergonhado, mas Hinata jamais ousaria ler tão a fundo as emoções de seu pai. - Um contrato para o casamento dos primogênitos dos Hyuuga e dos Uchiha.
O silêncio da sala foi pior do que os protestos que Hiashi estava aguardando. Mesmo que Hanabi, Shikamaru e o Sexto Hokage já soubessem de tudo e o vinham ajudando a tentar romper com o contrato desde que lhes revelara o fato, até eles pareciam incrédulos perante suas palavras, como se estivessem recebendo a notícia pela primeira vez.
- O que isso quer dizer? – Foi a voz quase inaudível de Hinata que chamou a atenção de todos. Ela tinha os olhos baixos, cobertos pela franja farta e as mãos torcendo-se uma a outra. Ainda conseguia sentir os perigosos picos de chakra emanado do moreno ao seu lado.
- Nós temos tentado romper o contrato com vários contra-jutsu, onee-sama, mas nada deu certo!
- As técnicas usadas nesse contrato são antigas, criadas nos primórdios do mundo ninja, quando as alianças de casamento e sanguíneas eram fundamentais para a sobrevivência dos clãs. – Shikamaru passou a mão pelo rosto, seu semblante pedia desculpas por estar apenar falando sobre história e não oferecendo uma solução. – De acordo com esse documento, vocês já podem se considerar casados.
- E se vocês não oficializarem a união até o Solstício de Verão, podem se considerar mortos. – Tornou Hanabi, friamente.
- O q-quê? – Isso fez Hinata levantar os olhos, assustada e Sasuke também encarou a caçula dos Hyuuga, semicerrando o olho visível, ao mesmo tempo que Hiashi exclamava, exasperado:
- Hanabi!
- É brincadeira! Vocês não vão morrer, não era essa a intenção de otou-sama e Fugaku-sama quando selaram o contrato, relaxem! – A mais jovem líder dos Hyuuga riu por um momento com a expressão de aliviada repreensão que Hinata lhe lançou.
- Mas a parte sobre o Solstício de Verão é verdade. – Kakashi falou, finalmente. Sasuke estava ficando cansado de virar a cabeça para acompanhar a conversa. - Vocês precisam estar oficialmente casados e com a união consumada até lá, o contrato os impele a isso.
- O que acontece se não obedecermos?
- O jutsu os fará sentir dor física com a distância de mais do que um quilômetro. Não poderão ficar separados, ir em missões ou simplesmente seguir com a vida. – Kakashi respondeu.
Hinata sentia um embrulho no estômago pela barbárie de um jutsu como aquele. Casamentos arranjados não eram nenhuma novidade no Clã Hyuuga e, tinha certeza, Sasuke também devia estar ciente que eles aconteciam no Clã Uchiha, mas fazer com que as partes sentissem dor apenas para que não pudesse recusar o arranjo era doentio.
Por um segundo obscuro em sua mente, Sasuke ficou satisfeito pelo fratricídio de seu pai. Não havia justificativa para usar um método tão antiquado, baixo e covarde para promover a união dos clãs. Aqueles contratos há muito deixaram de ser utilizados em grandes nações por ferirem todos os tipos de direitos que a população conquistara, embora nunca tenham sido proibidos por lei, e essa tinha sido a brecha utilizada por Hiashi e Fugaku.
E seu pai ainda estava disposto a sacrificar Itachi, seu herdeiro, seu favorito...
- Eu não sou o primogênito. – A voz de Sasuke se elevou, saída diretamente de sua linha de raciocínio. – Eu não sou Itachi.
- Não. – A voz de Kakashi, tendo entendido imediatamente as palavras do rapaz, era compreensiva, até condescendente. – Você não é o primogênito, mas é o atual herdeiro de Fugaku, e por isso o contrato ainda é válido, Sasuke.
- Há uma cláusula de substituição em caso de mais de um filho e morte dos primogênitos. – Completou Shikamaru.
Sasuke queria quebrar alguma coisa.
Hinata sentia sua cabeça rodar.
Nenhum dos dois sequer olhara um para o outro desde que chegaram ali, a princípio incertos do motivo da convocação, agora emoções muito diferentes os dominavam.
Hinata sentiu os olhos de Sasuke em si primeiro e tomou coragem para encará-lo, embora hesitante. Ele não parecia com raiva e ela não parecia a ponto de chorar. As ondas ameaçadoras de chakra de Sasuke diminuíram encarando o brilho dos olhos perolados e a cabeça de Hinata se estabilizou procurando suporte nas profundezas ônix.
Ambos tiveram suas liberdades individuais arrancadas de si em um dia que ambos haviam planejado para ser totalmente diferente.
O clima na sala era absolutamente funéreo para um grupo de pessoas na iminência de celebrar um casamento.
Hiashi esperava mais protestos da parte da filha, mesmo que aquela conduta pétrea e racional o deixasse orgulhoso por ver que Hinata ainda conseguia se manter dona de si perante uma crise; Hanabi estava pronta para se mover se sua irmã sequer insinuasse um amolecer de membros que premeditava um desmaio enquanto observava com admiração a firmeza silenciosa de Hinata, a mesma postura que a fizera líder dos Hyuuga pelo tempo suficiente de cumprir com seu único objetivo: banir para sempre a divisão entre as famílias e o selo amaldiçoado.
Kakashi esperava uma comoção muito maior de Sasuke, talvez uma invocação de Susanoo devido seu descontrole ao ver-se absolutamente obrigado a algo e não ficou pouco surpreso com o fato de o jovem Uchiha lidar tão bem com a situação – nada fora quebrado e Sasuke continuava presente, era mais do que esperara inicialmente; Shikamaru queria muito um cigarro e concluiu que tinha sido uma jogada acertada mandar Naruto em missão para que não estivesse ali no momento, o loiro certamente não estaria tão calmo.
Nem Hinata nem Sasuke foram capazes de prever as respostas e reações como as que receberam um do outro:
- Lamento que tenha que ser assim, Sasuke-kun.
- Não é sua culpa, Hyuuga.
Ninguém se pronunciou sobre quais os próximos passos ou sobre preparativos a serem feitos, tinham certeza que os dois prometidos ainda precisavam de tempo para absorver a notícia e processá-la. O fato de terem reagido com calma naquele momento não dissipava a tempestade interna que abrigavam.
Hinata não olhou para o pai ao deixar a sala do Hokage logo depois de proferir suas desculpas, categoricamente recusadas pelo Uchiha, e o mesmo desaparecer do jeito que surgira; também recusou a oferta de Hanabi de acompanha-la de volta a seu apartamento. Queria aproveitar a caminhada para pensar.
Fazia um lindo dia de primavera em Konoha e as pessoas o estavam aproveitando ao máximo, mesmo com o sol quase a pino. Hinata andava por entre as prateleiras da mercearia mais próxima de seu apartamento jogando produtos aleatórios na cestinha, absolutamente distraída.
Um casamento.
Precisava se casar até o Solstício de Verão, isso era menos de um mês para fazerem quaisquer preparativos.
Um casamento com Uchiha Sasuke.
Agachou-se em um dos corredores da mercearia, colocando a cestinha meio cheia no chão a sua frente, fingindo procurar por algum produto ali embaixo, mas conseguindo apenas enfiar seu rosto nas mãos sentindo-o esquentar com o sangue que subiu rápido à sua cabeça.
Como poderia... Não, como conseguiria contar às pessoas? O que não diria Kiba? Estremeceu ao pensar no melhor amigo – não se preocupou muito com Shino, pois fosse qual fosse sua reação, tinha certeza que seria deveras mais racional - e estremeceu ainda mais ao pensar nos melhores amigos de Sasuke. Naruto, sabia, estava fora da vila havia alguns dias – e agora não estranharia se a urgente missão do loiro tivesse sido obra do líder da inteligência do Hokage.
E Sakura.
Sakura e ela geralmente não se cruzavam muito, mesmo nos dias de Hinata como voluntária no hospital. Seu foco eram os pacientes com lesões e obstruções em vias de chakra, enquanto Sakura cuidava, bem, de todo o resto, em seu cargo recém-incumbido de médica-chefe devido Tsunade e Shizune terem deixado a vila poucos meses atrás para aproveitarem de uma boa e merecida aposentadoria.
Nem o brevíssimo tempo que passou como namorada de Naruto após os acontecimentos envolvendo Hanabi e Ootsukitsuki Toneri fora proveitoso para estreitar seus laços com a rosada – ou talvez fora justamente esse o motivo que a tivesse impedido de ter uma amizade mais íntima com a Haruno. Com Sasuke longe e Naruto como o eterno porto seguro do Time 7, Hinata era um navio desconhecido ancorado, impedindo que Sakura jogasse seu cordame onde estava acostumada.
Sakura fora uma das pessoas que mais a encorajaram a revelar seus sentimentos para o loiro, apenas para se afastar da Hyuuga assim que os mesmos foram ouvidos e retribuídos, e Hinata ficou sem entender o porquê.
Naruto aceitara e reciprocara seus sentimentos em parte para honrá-los, já que jamais dera uma resposta satisfatória a Hinata quando esta se confessara a ele durante a luta contra Pain, e em parte para deixar que Sakura não tivesse que se preocupar em machucá-lo, recusando-o mais uma vez para insistir em seu amor por Sasuke.
Hinata consentira pelo início do relacionamento mesmo com o sentimento e gosto amargo na boca de ter que engolir seu medo de como as coisas ficariam ao perde-lo no futuro. Marcou o dia do início em seu calendário com uma linda caneta em tom de turquesa e folheou os meses seguintes, tentando adivinhar quando marcaria o término. Não confidenciou a ninguém esse sentimento de finalidade que já viera com o relacionamento, mas ele era tão presente quanto a felicidade que sentia por finalmente ter dado vida a sua longa admiração pelo Uzumaki.
Foi ao final de abril, com as cerejeiras florindo pela cidade inteira, pintando o horizonte, as ruas, os rios e os humores de rosa pálido.
Eles terminaram calmamente no meio de uma ponte onde pararam para observar essa beleza; Naruto lhe devolveu o cachecol e presenteou-lhe com o sorriso de uma partição sem mágoas, embora triste em si mesma, e a última vez que a tocou casualmente foi para tirar uma pétala desgarrada de seu cabelo. Ele deixou a pétala ser soprada de seus dedos, colocou as mãos nos bolsos e passou por ela. Hinata não ousou olhar para trás, porque tinha certeza que ele não o faria e seria ainda mais doloroso observar as costas dele se afastando.
Às vezes ainda se perguntava, saudosa e nostálgica, por que começara algo com data de validade?
Desde então Naruto a tratava de forma mais carinhosa e respeitosa até do que quando estavam juntos, como se seu amor tivesse transcendido; Sakura mantinha a mesma distância, mas sempre tinha olhos tristes ao fitar a Hyuuga e tentava disfarçar com um sorriso mais triste ainda quando seus olhos se cruzavam sem querer. Nunca se atreveu a perguntar o motivo daquele olhar.
Estaria ela desapontada porque Hinata falhara em fazer seu melhor amigo feliz? Triste porque Hinata amara Naruto por anos, apenas para ver aquele amor não dar certo? Ansiosa porque sua situação era parecida e poderia ter o mesmo destino? Agridoce porque Sakura e Sasuke sequer tinham um ponto inicial, quanto mais um ponto final? Hinata não sentia que Sakura lhe dera abertura para perguntar, também não lhe dera abertura para confortar, então a Hyuuga não fez nenhuma das duas coisas e tentou seguir com sua vida pós-Naruto da melhor forma que conseguiu.
Recomposta da tempestade de lembranças que se juntara ao furacão de novas informações, embora ainda aérea como se tivesse sido soprada pelos ares, Hinata marchou para o caixa e pagou suas compras sem nem se preocupar em contar o troco e saiu sem devolver as palavras gentis da moça do caixa, o que era absolutamente estranho dada a personalidade da morena e fez com que a atendente ficasse se perguntando se a Hyuuga estaria doente. Caminhou os poucos quarteirões até seu prédio e subiu as escadas desatenta a um dos vizinhos que vinha descendo com seu cachorrinho na coleira, não devolvendo o cumprimento e fazendo-o olhar para trás, surpreso.
Havia um par de sandálias ninja que não eram dela arrumadas no genkan e o barulho da ducha aberta no banheiro chegava até ela, parada na entrada, a sacola plástica machucando seus dedos por causa do peso das compras. Alguém fizera um grande X sobre seu evento urgente e/ou importante marcado com tinta vermelha no dia de hoje e Hinata deixou seus lábios curvarem-se em um sorriso de um segundo pelo gesto birrento e desnecessário de "desocupar" seu dia.
Levantou a página do calendário para observar o mês seguinte e lá estava, marcado em preto no dia do Solstício de Verão, no início do terceiro decêndio de junho, na letra corrida, mas elegante, como um ataque de espada: CASAMENTO.
Hinata entrou no apartamento diretamente para a pequena cozinha, pegou a chaleira vazia de cima do fogão e colocou-a para encher sob a torneira da pia.
Um casamento com Uchiha Sasuke.
- Hinata, acabou o papel higiênico... O que você está fazendo?
A voz masculina despertou-a violentamente de seus devaneios. A chaleira transbordava com água dentro da pia e ela fechou a válvula, assustada.
Sasuke, recém-saído do banho, vestindo apenas um de seus shorts brancos e com a toalha sobre os ombros, onde seus cabelos ainda pingavam, a olhava com ambos os olhos perscrutadores e preocupados.
- Sasuke... – Ela sussurrou, deixando a chaleira na pia e levantando os olhos perolados para encarar os dele, olhando sem realmente ver, perdendo-se em mais pensamentos.
Um casamento entre Hyuuga Hinata e Uchiha Sasuke.
O que esse casamento tornaria diferente em suas vidas até agora?
Estavam junto há quase três anos.
Nunca contaram para ninguém, não porque queriam propositalmente manter segredo, mas porque viviam postergando oportunidades, até que já não viam mais necessidade de vir a público, estando satisfeitos como estavam apenas um com o outro.
Até onde sabiam, ninguém havia descoberto, também, pelo modo como eram sutis tanto em suas profissões quanto em suas personalidades.
Haviam se aproximado discretamente, quase sem querer, perto do final do mesmo ano em que o relacionamento entre Hinata e Naruto acabara.
Em um primeiro momento, era apenas pelo fato de que Sasuke estava na vila ao mesmo tempo que tanto Sakura quanto Naruto estavam ausentes e Hinata era uma pessoa disposta a simplesmente não deixá-lo jantar sozinho quando se cruzaram sem querer nas ruas do centro.
Sasuke nunca andava pelo centro, mas sem seu time ali não tinha muito o que fazer ou para onde ir; Hinata resolvera naquele dia fazer um caminho diferente porque tinha acabado de se mudar para um novo apartamento e queria conhecer os arredores. Eles pararam um na frente do outro, chamaram seus nomes em cumprimento e ficaram em silêncio por longos segundos, sem saber bem o que fazer um com o outro agora que Hinata já não era mais namorada de seu melhor amigo e Sasuke já não era mais o melhor amigo de seu namorado, até que seus estômagos romperam a estranheza da situação roncando alto ao mesmo tempo. Convenientemente eles tinham parado bem em frente a um restaurante de udon.
Em um segundo momento, Hinata era uma pessoa a quem Sasuke ativamente procurava quando queria uma companhia agradável e sossegada e estar na companhia de Sasuke sempre a fazia se sentir um pouco privilegiada.
Em um terceiro, ele relatava o que podia sobre as coisas que via em suas viagens, as pessoas que encontrava, e ela compartilhava sobre seus dias, sobre os conhecidos e desconhecidos, sem que nenhum dos dois sentisse que ouvia o outro apenas por acontecer de estarem ali. Foi a partir desse momento que os encontros acidentais pelo centro passaram a ser "acidentais" dentro de restaurantes e outros lugares específicos, procurados, recomendados, curiosos, aventureiros, familiares, novos, velhos, hipsters, tradicionais, locais, estrangeiros.
No quarto momento, Sasuke chegou à vila e foi direto ao apartamento de Hinata sem sequer pensar que ela poderia não estar, porque era o maior espaço de tempo que já tinham tido entre seus momentos desde o início dos mesmos, e quando ela abriu a porta, suada e vermelha da limpeza que estava conduzindo, mas com um sorriso surpreso e uma exclamação deliciosa de seu nome nos lábios, Sasuke puxou a porta sem nem pedir licença, fechou-a atrás de si e tomou Hinata no braço por uma eternidade, o nariz enfiado em sua têmpora molhada, deixando-a sem palavras, transbordando de reciprocidade.
Havia meses desde que a primeira marcação em preto apareceu no calendário que ele mesmo lhe dera. Hinata usou uma caneta de um vermelho profundo que comprou especialmente para marcar o início. Sasuke estava com ela quando marcou a data, bastante discutida antes de ser decidida – devia ser a data do primeiro encontro? Do primeiro beijo? De quando ele se apaixonara? De quando ela se apaixonara? Daquele mesmo dia? –, sendo ele a primeira pessoa com quem ela compartilhou seu código de cores, até mostrou as marcações em turquesa nos antigos calendários, e a beijou em seguida, impedindo que a moça procurasse por uma data de término no futuro.
O quinto momento aconteceu por acidente quando Hinata estava voltando de uma missão bem sucedida de busca e apreensão de mercadorias roubadas em que conduziu um time de chunins. Eles ficaram surpresos pela líder da missão ter uma relação íntima o suficiente com Uchiha Sasuke a ponto de convidá-lo para se juntar a eles na casa de chá onde pararam para descansar e comer dango; ficaram absolutamente estarrecidos quando ele aceitou sem qualquer relutância e disse que também passaria a noite ali.
No sexto momento, Sasuke chegou ao apartamento de Hinata, onde ela abriu a porta antes que ele pudesse bater ou tocar a campainha, e entregou-lhe um sorriso corado junto com uma chave extra pendurada em um chaveiro de girassol. Naquele mesmo dia o jovem Uchiha desfez o contrato de aluguel para o apartamento que ocupava nas raras vezes em que estava em Konoha.
O sétimo momento foi onde eles pararam de contar.
Hinata abriu os olhos para uma manhã cinzenta de fevereiro, chovia porque o clima estava úmido, mas não frio o suficiente para transformar as gotas em gelo. A porta de vidro de correr da sacada tinha ficado com as cortinas abertas, nenhum dos dois ocupantes do quarto preocupados em fechá-las quando entraram aos tropeços na noite anterior, concentrados demais em não perderem o contato um com o outro.
Hinata deu as costas à claridade, ainda tinha mais alguns minutos para ficar na cama, melancólica. Sasuke partira em uma viagem naquele dia, certamente muito antes do sol nascer e sem acordá-la, como sempre. Ao virar-se na cama, sob as cobertas grossas, queria perseguir e se aninhar no calor remanescente do corpo dele.
Seus olhos se arregalaram, surpresos, quando o mesmo ainda se encontrava ali, os fios negros caindo sobre o rosto bonito. Sasuke tinha os olhos fechados, mas a moça percebeu por sua respiração que ele também já despertara.
- Sa-sasuke, o-o que...?
Seu braço direito, único que lhe restara, encontrou a cintura de Hinata e puxou-a para perto. Ele tinha um sorriso minúsculo ocasionado pelo gaguejar que arrancara dela pela surpresa.
Hinata acabou aninhada no peito dele, sem resposta, as pernas entrelaçadas, com sua mão esquerda abraçando-o por sobre a cintura também, seus lábios a centímetros do peito desnudo.
- Ainda é cedo, vamos dormir um pouco mais. – Ele sussurrou contra seus cabelos e a surpresa de Hinata atingiu o ápice. A Hyuuga desvencilhou-se apenas o suficiente para poder levantar a cabeça e olhar seu rosto. O rapaz tinha os olhos abertos agora, curioso pelo gesto dela.
- Mas sua viagem... Você não tinha que estar a caminho? – Hinata não sabia a caminho de onde, ele nunca lhe dizia e ela não sentia que devia perguntar. Se ele viajava para redimir-se de seus erros passados ou por ordens superiores, Sasuke pouco falava sobre. Ela esperava, pacientemente, por sua volta e por suas palavras, pelo que ele estava tão incessantemente buscando além de Konoha.
- Não preciso ir tão cedo. – A mão quente em sua cintura moveu-se para cima, deslizando pelo braço até alcançar a curva do pescoço dela e aninhar-se ali, segurando-lhe o rosto. – Não queria ter que ir.
Os olhos de Hinata se iluminaram e Sasuke sentiu a quentura sob sua palma conforme ela corava de felicidade. A Hyuuga sustentou o olhar bicolor do rapaz o máximo que conseguiu até ele sorrir e baixar sua boca contra a dela, castamente, sem movimentos bruscos para não perturbar o momento.
Hinata fechou os olhos e voltou a enfiar o rosto no peito de Sasuke, puxando-o impossivelmente mais perto de si, seus lábios e seus cílios longos borboletando sobre a pele dele, provocando arrepios de ternura. O Uchiha fechou os olhos e relaxou o rosto sobre os cabelos dela.
O quarto todo cheirava a eles, a sexo, sabonete, madeira, velas aromáticas de lavanda, ar morno.
Foi a primeira vez em todos os anos em que trabalhava para a vila que Hyuuga Hinata mentiu para tirar um dia de folga.
A assinatura de chakra de Uchiha Sasuke não deixou Konoha até o dia seguinte.
- O que aconteceu? – Sasuke tinha os olhos duros, preocupados, quando deu um passo para perto dela na cozinha. Ela parecia em transe, olhando para ele, mas sem enxerga-lo. – Hinata?
A moça balançou a cabeça, acordando do estupor das recordações e tentando fazer sentido do rapaz a sua frente. De súbito percebeu também que entrara no apartamento ainda calçando suas sandálias, trazendo para dentro de seu lar toda a sujeira da rua, ignorando anos de memória muscular e tradições nacionais, e desapareceu atrás do balcão da cozinha, sentando-se no chão desesperada para tirá-las.
Sasuke a observou desaparecer, sua preocupação com aquelas reações incomuns aumentando. Deu a volta no balcão e agachou-se em frente a uma Hinata que tinha conseguido tirar ambas as sandálias e as apertava contra o colo, os olhos baixos, brilhantes com algo que Sasuke não conseguia decifrar e isso o deixava louco.
- Hinata. – Ela pareceu não ouvi-lo de novo. – Fale comigo.
- O que... – Hinata hesitou. A moça ainda se recusava a levantar os olhos e os nós de seus dedos estavam brancos de apertar as sandálias. – O que você está sentindo em relação a esse contrato, Sasuke?
Sorriu brevemente com a escolha de palavras dela, com o que ela de fato queria saber: não a sua opinião racional sobre o assunto, tudo o que seu cérebro já tinha analisado e processado para que coubesse em sua realidade, mas o que ele sentiu sobre o que fora anunciado pelo Hokage mais cedo. Era deslumbrante como ela sempre queria saber sobre seus sentimento e como conseguia entende-los.
O Uchiha sabia que aquela situação toda a tinha abalado mais do que ela deixara transparecer na Torre do Fogo. O fato de ela ter recusado a presença de Hanabi foi o primeiro indício; aquela atitude catatônica só agravava o quadro.
Sasuke respondeu com sinceridade:
- Eu me senti roubado.
Isso fez com que os olhos perolados voltassem para o rosto sério do moreno. Ela estava a beira das lágrimas, os olhos brilhantes, os lábios trêmulos.
- Eu havia planejado este dia de forma muito diferente. – Sasuke detestava quando as coisas não iam de acordo com seus planos, ela sabia. Desajeitadamente ele se virou, esticando o braço para cima e tateando o balcão, voltando com algo retangular embrulhado em um lenço preto, o símbolo dos Uchiha bordado em fino traço na frente. Sasuke o segurava pelo nó no topo, oferecendo-o para Hinata como uma caixa de obento. – Eu me senti roubado da chance de te entregar isso do jeito que eu queria.
Hinata piscou e as lágrimas rolaram.
- O que é...?
- Abra.
Ela colocou as sandálias de lado, com cuidado para que as solas não tocassem no chão, e pegou o embrulho com as duas mãos, reverente. Mais lágrimas caíram sem que ela conseguisse evitar e Sasuke a ouviu fungar.
Hinata desfez o nó com apertado e retirou o lenço de sobre uma linda caixa de laca preta, arredondada nas bordas, com um padrão de galhos retorcidos e folhas em formato de leque aberto pintados em tinta dourada. A laca fora tão bem encerada que a moça podia distinguir seu reflexo no tampo.
Levantou seus olhos para Sasuke novamente esperando uma explicação antes de continuar. O shinobi se recostara no armário, o cabelo ainda pingava na toalha sobre os ombros, sua mão direita descansando sobre o joelho dobrado. Ele não disse mais nada, mas fez um movimento com a cabeça para que ela continuasse.
Com cuidado, Hinata abriu o tampo, seus dedos deixaram marcas das digitais.
Aninhados em veludo negro havia um par de kanzashi.
Sendo ambos descentes de clãs ancestrais - mesmo sem Sasuke ter recebido sua instrução completa nos costumes dos Uchiha -, eles sabiam o que aquele presente queria dizer.
Hinata se preparara por muito tempo para a desilusão de nunca receber um daqueles de Naruto, uma vez que ele era a pessoa que mais amava e com quem queria estar, mas tinha certeza que o Uzumaki não conheceria nem utilizaria de uma das tradições de casamento mais antigas dos clãs da Vila Oculta na Folha.
Ver aquele presente tendo consciência que Sasuke sabia o que aquilo significava e que escolhera fazê-lo livremente trouxe novas lágrimas a seus olhos, muito diferentes do que sentia nem dois minutos antes, com seu coração batendo tão alto que cada turu-turu ribombava em seus ouvidos.
Uchiha Sasuke estava propondo casamento a Hyuuga Hinata da maneira mais tradicional que existia.
No chão da cozinha do apartamento de um quarto que compartilhavam.
Enquanto ele estava bravo por ter sido roubado da chance de lhe fazer o pedido.
Enquanto ela estava insegura se casamento era algo que ele realmente queria.
As gordas lágrimas que Hinata tentara deter rolaram e pingaram sobre o veludo da caixa.
Com cuidado, Hinata pegou o kanzashi mais simples, feito de prata. Ele era menor, com duas pontas para enfiar nos cabelos e um padrão circular de nami chidori na extremidade que ficaria visível uma vez colocado no cabelo, um hirauchi kanzashi. Os pequenos pássaros voando sobre as ondas não eram o padrão mais comum de pedidos de casamento, mas seu significado o tornava o favorito de Hinata. Com as ondas simbolizando a sociedade, o par de passarinhos sobrevoando-as significavam a felicidade matrimonial do casal superando as dificuldades lado a lado.
E, é claro, era uma verdade universalmente conhecida que o Chidori era um dos mais característicos ataques de Sasuke.
O segundo kanzashi era feito da mesma laca preta da caixa, polido até brilhar. Também tinha duas pontas que iam no penteado de casamento, mas a parte que ficava para fora era bem maior, no formato do instrumento usado para tocar o shamisen, chamado bachi, com um entalhe vazado de flores na parte inferior. No meio ele tinha um enfeite em alto relevo de folhas de ouro branco emoldurando três cachos com três pérolas cada e vinhas retorcidas do mesmo metal precioso.
Antes que Hinata pudesse retornar o kanzashi de prata à caixa, o que ela devia usar pela duração do noivado deles, caso aceitasse o pedido tradicional, Sasuke segurou-lhe a mão, envolvendo também o enfeite. Ele estava sobre os joelhos, tendo se voltado para ela de novo, e Hinata levantou seus olhos lacrimejantes e vermelhos.
- Hinata...
- Sim! – Ela não o esperou terminar, já sabia o que ele iria dizer. Sua exclamação saiu em um sopro de seus lábios, junto com toda a emoção que não queria reprimir, e mais lágrimas rolaram.
Sasuke sorriu de lábios fechados e se aproximou dela que também se aproximou dele, ambos de joelhos sobre os azulejos, a caixa com o kanzashi a ser usado no dia de seu casamento entre eles, o kanzashi de noivado ainda seguro na palma da kunoichi.
Hinata jogou seus braços sobre os ombros dele e a mão de Sasuke foi parar em sua cintura enquanto se beijavam. O Uchiha usou seu único polegar para enxugar as lágrimas dela quando se separaram e Hinata arfou, de repente se lembrando de algo como se alguém tivesse destruído seus kage bunshin e todas as memórias e acontecimentos do dia se reunissem em seu corpo:
- Sasuke, eu esqueci de comprar papel higiênico!
Ai, ai... Eu não aprendo.
Tilim ;)