PRETO NO BRANCO


CAPÍTULO 4 – PRIMEIRO AMOR EM HANAKOTOBA

É vontade que fala, né?

É uma voz que não cala, é

Que me diz que eu só posso morrer por amor

Se for pra vivermos por nós dois

Olhos heterocromáticos e olhos perolados se encaravam.

Nenhum dos dois cederia.

Hinata era a princesa do Byakugan.

Sasuke era o último Uchiha.

Não estava em suas naturezas desistir do que quer que fosse.

Mesmo com o cabelo preso para longe da face, o verão de Konoha fazia com que grossas gotas de suor escorressem pelas têmporas do shinobi.

Hinata, sentada em seiza e arrependida dessa decisão, de frente para ele no chão da sala, sentia o suor escorrendo das dobrinhas dos joelhos.

O kombucha servido em copos altos e com gelo ficara intocado em cima da mesinha de centro, também suado, deixando marcas circulares nos descansos de copo.

A porta da sacada estava aberta, Sasuke colocara as roupas de cama para secar mais cedo naquela manhã, mas as folhas paradas das árvores denunciavam que não havia qualquer brisa soprando que pudesse entrar pelo apartamento e apaziguar o mormaço.

Não estava em suas naturezas desistir do que quer que fosse.

Hinata e Sasuke se encaravam, intensamente, incansavelmente, porque tinham chegado ao maior impasse de seu relacionamento: qual sabor de bolo escolher para o casamento.

Sasuke acordara mais tarde que o normal no dia seguinte ao encontro no bar e desde o momento em que abrira os olhos procurando por Hinata ao seu lado na cama, mas lembrando-se que ela tinha saído para um doloroso turno duplo no hospital e só voltaria para casa na noite seguinte, as palavras de Temari voltaram para o palco de sua memória com força o suficiente para deixarem-no estático na cama, os olhos no teto de gesso, remoendo, ruminando.

"E Hinata? Já começou a se perguntar com o que ela se importa?".

O Uchiha precisou se esforçar por alguns momentos para se lembrar com clareza de como era sua vida antes que a opinião, gostos, manias e interesses de Hinata importassem tanto para ele.

Antes podia dar as costas para a Vila Oculta na Folha sem hesitar. Sabia que as pessoas e o próprio local estavam seguros com Naruto ali, que jamais deixaria que uma tragédia como o ataque de Pain acontecesse novamente, e tinha a certeza de que sempre estaria quando finalmente decidisse voltar, porque, a seu modo, também atuava com esse objetivo em mente em suas viagens.

Certo dia, ao dar as costas aos grandes portões, e apenas por um segundo, a imagem de uma moça sorridente, de cabelos escuros e um bigode de chantilly fruto do chocolate quente que pedira na cafeteria em que foram na noite anterior, cruzou sua mente.

Certo dia, ao dar as costas aos grandes portões, e apenas por um segundo, a imagem de uma kunoichi suja e suada, com marcas roxas e vermelhas de socos e chutes permeando seu corpo, mas erguendo-se, reerguendo-se, todas as vezes em que encontrava o chão, os olhos vivos, os punhos fechados, os dentes cerrados, correndo para ataca-lo de novo e de novo e de novo, cruzou sua mente.

Certo dia, ao dar as costas aos grandes portões, e apenas por um segundo, a imagem embaçada de uma amiga a sua frente, as mãos brilhando com chakra curativo encostando em suas têmporas, refrescante para sua mente enevoada pela dor de cabeça, pela dor nos olhos, o toque e a proximidade como um bálsamo tão intenso quanto o chakra recarregando suas energias, cruzou sua mente.

Certo dia, ao dar as costas aos grandes portões, e apenas por um segundo, a imagem do perfil de sua companheira de missão, adormecida sobre seu ombro quando pararam para descansar voltando da única missão que fizeram juntos e de sua mão, maior, mas tão calejada quanto a dela, encontrando o caminho por sob o cobertor que dividiam para segurar aquela mão menor, hesitante, quase criminoso, prendendo a respiração, inseguro como um genin, até senti-la entrelaçar seus dedos de volta e corar sozinho para a noite como um idiota, tentando puxar a gola alta de sua capa com a boca para cobrir mais seu rosto já que sua única mão estava ocupada, cruzou sua mente.

Certo dia, ao dar as costas aos grandes portões, e apenas por um segundo, a imagem de sua namorada sobre si, arfando, suada, os cabelos totalmente em desalinho de tantas mãos o percorrerem, as paredes da intimidade dela ainda pulsando ao redor de seu membro enquanto desciam do orgasmo, as pernas dela ainda tremendo de ambos os lados de seu quadril pela intensidade do mesmo, o rubor que escurecia as marcas que deixara no pescoço delgado, o olhar satisfeito, mas não saciado, quando os olhos perolados encontraram os dele de novo, cruzou sua mente.

Certo dia, ao dar as costas aos grandes portões, e apenas por um segundo, a imagem de Hinata, que caíra de cansaço sobre os documentos que estava investigando na mesa de centro da sala, acordando quando Sasuke colocou-lhe um cobertor sobre os ombros, esfregando os olhos enegrecidos por olheiras e tentando fazer sentido das palavras que ele dizia sobre comida pronta na geladeira porque ele tinha que ir, sim, no meio da noite, era urgente, e é melhor que você coma direito até eu voltar, você também, vá dormir na cama ou vai pegar um resfriado, eu te acompanho até a porta, não precisa, por favor, hn, agarrando o cobertor para que não caísse de sobre os ombros, já que estava frio o suficiente para nevar, esperando para que ele colocasse as sandálias no genkan e se virar para dizer um último adeus, cruzou sua mente.

Sasuke segurou essa memória pelas beiradas, esticando-a. Acontecera cerca de seis meses atrás, no último inverno. Hinata estava trabalhando em um caso de desaparecimento de crianças em vilas de camponeses na fronteira sudoeste do País do Fogo havia semanas, cada vez mais engajada. Ela mal descansava, dava para ver pelos olhos fundos, pela perda de peso e pelas noites em que ia dormir sozinho e acordava do mesmo jeito. Quando levantou-se depois de vestir as sandálias ela ainda estava ali, a coberta sobre os ombros, os olhos quase fechando, provavelmente sem tomar banho há pelo menos dois dias, sorrindo ao desejar-lhe uma boa viagem e que tomasse cuidado – o cuidado possível de tomar naquele estilo de vida deles.

Sasuke hesitou dizer adeus de volta. Hesitou dizer mais uma vez para que ela comesse o que ele deixara preparado. Hesitou dizer para que o esperasse voltar. Hesitou dar-lhe as costas e girar a maçaneta, hesitou deixar que a porta se fechasse atrás de si sem saber se ela conseguiria chegar na cama ou se cairia no corredor. Hesitou por cada passo até a saída da vila e hesitou ainda ao cruzar os portões. Hesitou deixar que uma imagem cruzasse sua mente. Hesitou partir. E hesitou voltar.

Foi nessa viagem que caçou informações, consultando diversas fontes em várias cidades e vilas até encontrar o melhor artesão de kanzashi do continente e solicitar-lhe uma encomenda.

Naquele ponto sabia qual era a cafeteria favorita dela em Konoha, Suna e na capital do País dos Rios entre os dois Estados, e não por causa da bebida em si, mas pelos rolinhos de canela; sabia que ela preferia primeiro tomar o desjejum e só depois escovar os dentes, enquanto ele sempre fizera o contrário, o que apenas resultava em ter que escovar de novo antes de sair; aprendera quais as melhores flores para prensar e quando elas desabrochavam, porque esses eram hobbies dela; Hinata gostava de abraçar antes de dormir, mas às vezes o chutava no meio da noite; e o seu melhor sorriso, aquele que o fizera e o fazia se apaixonar, era o que acompanhava a expressão que ela lhe mostrava quando se reencontravam, fosse depois de uma longa missão, fosse depois de só um dia de trabalho pela vila, fosse depois de passado algum tempo cada um em seu canto do apartamento consigo mesmos. Aquele sorriso, que aconchegava um sentimento tão banal quanto "estou feliz em te ver de novo" fazia com que Sasuke percebesse que queria estar em casa na presença dela.

Então se decidira. Não importava que Hinata soubesse que ele estaria presente se ela pedisse. Queria que ela soubesse que estaria presente no presente, sem que precisasse pedir, e para isso precisaria usar de suas palavras.

Ao final do turno duplo no hospital, a Hyuuga voltou apenas de corpo para a casa ao anoitecer do dia seguinte. Sasuke tinha aquecido a água do ofuro preventivamente e ficou com ela no banheiro para evitar que dormisse e se afogasse. Muito cansada para comer, a kunoichi bebeu uma das criações dos Akimichi que ajudava a repor água e sais minerais antes de se embrenhar na cama e capotar.

Hinata mal acordara no dia seguinte, dormindo por 14 horas. Aquela era sua rotina umas duas ou três vezes por mês e certamente não invejava Sakura que fazia aquela vida quase todos os dias. Saiu do quarto depois de ter jogado o vestido mais confortável que tinha por cima de si, prendendo os longos cabelos em um coque de qualquer jeito com seu kanzashi de prata.

Sasuke não estava sentado na mesa da cozinha, como esperaria, mas na sala, dois copos de kombucha gelado a sua frente, intocados. Havia um par de rolinhos de canela e melancia fatiada também, então a moça foi atraída para a sala pela promessa de café da manhã.

Ao sentar-se já pegando um dos rolinhos, Sasuke olhou para ela, sério. Mastigou o doce e mordeu-o de novo. O Uchiha continuava tão sério que Hinata largou seu rolinho, lambeu os dedos para limpá-los da calda o melhor que pode e sentou-se em seiza, o quadril sobre as pernas dobradas, como teria feito em uma conversa com seu pai.

O shinobi tinha as pernas cruzadas, joelhos para fora. Já não conseguia cruzar os braços por falta de um, mas certamente essa a imagem que passava.

- Quais os planos para o casamento?

- Uhn? O quê? - Ela ainda estava sonolenta ou aquilo era um sonho. Ou um genjutsu, mais provavelmente.

Ela... Não estava esperando que Sasuke fosse querer saber detalhes do que estava planejando para a cerimônia, porque escolher arranjos e esquemas de cores não eram afazeres que combinava com ele, então ela tinha simplesmente ignorado que o noivo poderia ter suas próprias opiniões sobre o ritual de união ao qual seriam submetidos.

Era um tanto machista da parte dela? Sim.

Ela tinha absolutamente passado pano para essa atitude e estava disposta a cuidar de tudo sozinha? Sim.

Ela tinha perguntado a ele se queria ajudar com algo no casamento? Não.

Estava certo? Não

As coisas meio que estavam balanceadas quanto a proporção de erros e acertos de conduta até então.

Sasuke tentando remediá-las? Isso era um pouco surpreendente, mas menos agora, depois de três anos, quanto fora no começo de seu relacionamento. A primeira vez que o namorado genuinamente lhe pedira desculpas, Hinata só fez chorar mais.

- O dia da assinatura do contrato. – Ele esclareceu quando ela deu sinais de que não tinha entendido as intenções dele. – Ino perguntou se vamos querer flores, porque precisam ser encomendadas com antecedência.

- Você quer flores, Sasuke?

- Eu quero saber o que você quer.

Hinata parou para pensar sobre seus desejos.

Quando garotinha, especialmente durante a Academia, quando todas as meninas planejavam seus casamentos com o último Uchiha, Hinata olhava para o outro lado, para o perdedor, com pensamentos de admiração. Estava mais preocupada em saber o que o motivava tanto a continuar tentando do que em qual paleta de cores ficaria melhor para complementar aqueles belos olhos azuis nas fotos de casamento.

Devaneava, sim, mas não podia permitir que fosse preeminente. Naquele tempo, a ansiedade e a pressão exercidas sobre si e de dentro de si afogavam todas suas ilusões.

Os pensamentos de casamento voltaram quando começou a sair com ninja surpreendente número um, mas de novo eram pensamentos afogados por outros, maiores e mais fortes, de insegurança e conformismo. Como podia pensar em marcar uma data de união com Uzumaki Naruto se todas as vezes que olhava seu calendário tentava adivinhar a separação? Quando as nuvenzinhas do pensamento se atreviam a formar, a kunoichi as espanava com a realidade para que fossem embora.

Com Sasuke... As coisas tinham sido diferentes desde sempre. Não ousara cogitar um relacionamento com o último Uchiha até depois de estar de fato em um relacionamento com o último Uchiha. Não pensara em cerimônia nenhuma, porque eles sempre foram diretos um com o outro; não precisava pensar em constituir uma casa, porque foram morar juntos sem maiores preocupações; não refletira em excesso sobre a divulgação, como papeis e convites, porque... Porque era excitante manter aquele segredo, porque temia que se as pessoas soubessem, o que eles tinham de especial acabaria, temia ter seus sentimentos pisoteados e escarnecidos pelo escrutínio debilitantemente assustador do mundo afora.

Agora ele queria saber, queria participar, e era direito deles terem voz no máximo que pudessem dentro de um contrato inquebrantável que lhes fora imposto, mesmo que no íntimo não fosse nada daquilo.

Hinata sorriu, a cor morna da felicidade subindo-lhe às faces. Ainda sentada em seiza, esticou-se para pegar o bloco de notas que mantinha por perto. Com decisão, informou-o:

- Quero decidir as coisas com você.

O rapaz concordou com um aceno de cabeça.

- Flores. – Ela escreveu com uma bonita caneta roxa. – Serão difíceis de manter frescas com o calor, então melhor que não sejam muitas... – Pensou por alguns segundos, a caneta encostada no queixo. Desenhou um arco na base do bloco e pontilhou de flores rabiscadas, um desenho simples apenas para referência. – Eu gostaria de um arco de flores, onde possamos ficar para... – Agora a cor que lhe subia às faces era o rubor do compromisso. - ...assinar.

Sasuke aproximou-se dela para observar as anotações. Precisavam escolher as flores com cuidado, porque além do calor inclemente da estação, os Yamanaka eram mestres da linguagem secreta das flores. Mesmo que escolhessem aquelas que gostavam pela aparência, Ino certamente interpretaria suas decisões com outros olhos. Nada de mimosas ou margaridas, que significavam amor secreto, nem crisântemos brancos, significando verdade. Também não podiam escolher flores muito marcantes em sua aparência, como rosas e camélias vermelhas, significando paixão ardente.

- Talvez uma flor principal, uma flor menor e algumas folhagens... – A moça murmurava, ainda pensando.

- Lilases roxas... – Sasuke deixou escapar baixinho, perdido em pensamentos.

- Uhn? O que disse, Sasuke?

A pergunta o trouxe de volta ao presente. Pego desprevenido por sua própria distração, o rapaz tentou desconversar e a Hyuuga, sem realmente ter ouvido o que ele dissera, deixou passar.

- Ah, glicínias brancas! E ficam mais bonitas porque são penduradas.

As discussões continuaram. Hinata conseguiu comer seus dois rolinhos e Sasuke tomou todo o kombucha já bastante aguado. Prepararam e comeram um almoço leve ainda conversando sobre os preparativos: quanto o Clã Hyuuga estava disposto a se intrometer – muito, provavelmente, se dependesse dos anciãos –, onde seria realizado – no antigo campo de treinamento entre o Clã Hyuuga e o Clã Uchiha, porque não era mais utilizado e suficientemente afastado –, recolheram e dobraram a roupa seca falando sobre a lista de convidados – apenas seus amigos próximos e familiares, a decisão foi unânime nesse ponto –, enquanto penduravam a nova leva de roupas limpas decidiram-se sobre a comida a ser servida no próprio local, sob algumas tendas com mesas e cadeiras, e voltaram a se sentar na sala quando finalmente chegaram ao último item da lista, a decisão sobre o bolo.

- Chocolate.

- Baunilha.

Disseram ao mesmo tempo.

Hinata parou com a caneta a meio caminho do papel e olhou para Sasuke, indignada. Ele não parecia mais contente do que ela se sentia.

- Sasuke, baunilha é muito simples!

- Chocolate é muito doce.

- As pessoas gostam mais de chocolate.

- O casamento é nosso, quem tem que gostar somos nós.

- Eu também gosto mais de chocolate.

- Baunilha.

Os olhos perolados, sobrancelhas levemente franzidas, fixaram-se nos olhos negro e roxo, não menos determinados.

A Hyuuga adorava coisas açucaradas, o rapaz não podia com elas. Geralmente isso não era um problema: Hinata comia seus doces e Sasuke saboreava um tomate. Parecia que ali não conseguiriam resolver as coisas apenas evitando o gosto do outro.

Os olhares se mantiveram travados por longos minutos, impassíveis, imóveis. Quem se movesse primeiro estaria admitindo a derrota e, portanto, permitindo que o outro sabor de bolo ganhasse.

- Sasuke-kun. – Hinata tentou, sem desviar os olhos. O uso do sufixo perturbou o Uchiha. – Se o bolo for de baunilha... – O shinobi quase comemorou a vitória. - ...então o recheio e cobertura serão de chocolate.

Ahá!

- Morangos também. – Finalizou o rapaz.

Hinata sorriu e finalmente puderam desviar os olhos, tão drenados quanto estariam depois de uma sessão de treinamento um com o outro. A moça anotou a decisão, levantando-se para servir água gelada e mais pedaços de melancia aos dois. Sasuke trouxe o bloco para perto de si, passando item por item do que tinham decidido.

Voltando da cozinha, a morena colocou ambos os copos e o prato sobre a mesa e deitou-se no sofá. A temperatura a tarde estava ainda pior do que de manhã. Eles precisavam de um ventilador ou ar condicionado naquela sala. O apartamento era alugado, então talvez fosse melhor... Oh. Um pensamento ocorreu a Hinata.

- Sasuke. – Chamou, ele estava de costas, ainda sentado no chão. Estendeu a mão e tocou-lhe a nuca. Estava encharcada de suor, mas já não ligava mais. Em comparação com a pele dele, a ponta de seus dedos estavam frias.

- Uhn?

- Você virá morar aqui depois de nos casarmos? – Hinata riu da frase como se eles já não morassem juntos há mais de um ano. – Ou vamos nos mudar?

O último Uchiha deixou o bloco de notas sobre o chão ao seu lado e suspirou, pela pergunta e pela sensação prazerosa dos dedos de Hinata passeando entre seus cabelos. Fechou os olhos e deixou a cabeça pender um pouco para trás. Aquela era a única coisa sobre a qual estava decidido quando resolveu pedir a namorada em casamento e mandara fazer os kanzashi.

- Eu quero construir uma casa no terreno dos Uchiha.

Hinata não hesitou.

- Tem certeza que gostaria de voltar a viver lá, Sasuke?

- Sim. – Virando-se para falar com ela, os dedos da moça deslizaram de entre os fios negros e a palma aninhou a bochecha dele. – Eu não voltaria se fosse para viver lá sozinho. – Segurou-lhe a mão e beijou-lhe a palma. – Mas não estarei sozinho.

Hinata sorriu, os olhos brilhantes e ruborizada de satisfação, voltou a mão para os cabelos negros, conduzindo-o para de aproximar e poder plantar seus lábios sobre o dele.

Beijaram-se por muito tempo, apesar da posição estranha. O calor compartilhado conduzia seus corpos a aprofundarem o beijo, sugando lábios, mordiscando línguas e o contrário também, tentando absorver todo aquele sentimento compartilhado de familiaridade, amor, paixão, cumplicidade.

As mãos da Hyuuga deixaram os cabelos negros para puxar Sasuke para si, agarrando-o pela regata preta que usava, já bastante surrada e meio úmida de suor. Puxou-a o suficiente para arrancá-la enquanto o rapaz colocava-se sobre ela no sofá espaçoso com a kunoichi abrindo as pernas para acomodá-lo. Esticando as mãos, Hinata apalpou-o por sobre o short. Ainda não.

Sasuke deixou que ela continuasse acariciando-o enquanto se abaixava para beijá-la, o tronco elevado, apoiando-se com um antebraço no sofá para alcançá-lo entre as pernas com a outra mão. A única mão do rapaz segurou-lhe o rosto na posição que queria por alguns momentos antes de descer pelo pescoço. Hinata estremeceu e interrompeu o beijo com um gemido quando Sasuke baixou a alça do vestido e tomou-lhe um dos seios na mão. O braço de Hinata que a apoiava cedeu quando a língua do namorado encontrou seu mamilo e a tarefa de endurece-lo foi esquecida.

O Uchiha sugou e mordiscou o mamilo direito como se fosse seu único propósito na vida, depois deu o mesmo tratamento ao esquerdo. No meio tempo, deixou que seu quadril se encontrasse com o de Hinata, o leve vestido de verão levantado até a cintura. A tarefa anterior da Hyuuga fora bem sucedida e a rigidez encontrou-se com a umidade arrancando gemidos de ambos.

Fricção, fricção, fricção. Amava que a posição o fazia estimular seu clitóris, mas era tão melhor quando o fazia com ele já dentro de si.

Esticando-se o melhor que pode sem retirá-lo da posição de devorador de mamilos, Hinata contorceu-se e arranhou o quadril do shinobi até que conseguiu abaixar o short o suficiente para liberar seu pênis.

O moreno desatarraxou-se do mamilo esquerdo, satisfeito de ver uma marca se formando bem na extremidade da aureola, quando sentiu a mão pequena sobre seu membro, bombeando-o para aumentar ainda mais a rigidez enquanto o guiava para onde ela queria. Hinata estava vermelha do topo da testa até os seios – ou seriam aquelas as novas marcas que deixara nela? –, mas também tinha uma mão em seu pênis e a outra puxando a calcinha para revelar sua entrada úmida, latejante. Sasuke queria ter tido tempo de colocar sua boca sobre aquela entrada antes de penetrá-la, mas não era sua vez como ativo.

Ainda era raro em seu relacionamento os momentos em que Hinata decidia por tomar o controle das coisas, sexualmente falando. Ambos eram virgens quando começaram, mas todas as pessoas são virgens de seus novos parceiros, de serem tocados pela primeira vez por aquela pessoa. Hinata tivera presença de espírito e determinação suficiente para conversar com Sasuke antes de terem sua primeira vez e Sasuke, sempre inabalavelmente direto, a ouviu e respondeu. Às vezes a intimidade que compartilhavam era fazer amor, às vezes era a mais pura satisfação carnal e às vezes, como naquela tarde quente, com as portas da sacada abertas e a roupa secando sob o sol, com as cigarras cantando no verão de Konoha, no sofá da sala e ainda meio vestidos, era um misto dos dois, compartilhando de contentamento e prazer.

Sasuke penetrou-a no ritmo que ela determinou, uma mão ainda em seu membro e os calcanhares empurrando sua bunda, gemendo juntos. O antebraço do rapaz estremeceu e cedeu, fazendo-o ficar apoiado no sofá com o cotovelo.

Com o rosto perto do dela, sussurrou roucamente:

- Vamos trocar?

Hinata concordou com a cabeça. Deixando com que Sasuke saísse de si, e quase lamentando a perda, moveram-se no sofá até que estavam ambos deitados de lado, a moça no interior e Sasuke atrás de si. Segurando sua própria perna, a Hyuuga deixou que o parceiro encontra-se ele mesmo o caminho para dentro de si mais uma vez. A sensação de ser finalmente preenchida foi tão boa quanto a anterior, quanto a primeira, quanto todas as outras entre elas.

Sasuke começou a se mover, aumentando o ritmo devagar. Gostavam daquela posição, era uma das únicas em que Hinata conseguia ter um orgasmo sem precisar estimular o clitóris, mas aquilo demorava mais e ali queriam um alívio mais imediato para seus desejos. Fechou os olhos e deixou que o som de pele contra pele e a respiração de Sasuke, com a boca colada a seu ombro, certamente deixando mais marcas, embalasse seu crescendo quando alcançou o ponto nervos prazeroso entre seus lábios, acariciando-os em círculos no ritmo das estocadas.

Lá vinha o primeiro. Os gemidos de Hinata se tornaram gritos abafados quando sua mão desocupada encontrou a almofada sob suas cabeças e enfiou a ponta em sua boca, mordendo com força enquanto seu corpo arqueava e suas penas tremiam. O Uchiha diminuiu o ritmo sentindo as paredes pulsarem ao redor de si, mas ainda não era a saciedade que buscavam.

Deixou que ela se acalmasse o suficiente e recomeçou o movimento, sem crescendo dessa vez, estocando fundo o rápido desde o começo, levantando a perna dela com sua única mão para ter melhor acesso naquela posição. Não demorou para que Hinata voltasse a se autoestimular para que terminassem juntos dessa vez – ou quase – e o Uchiha grunhiu roucamente quanto finalmente sua visão esbranquiçou-se por um momento quando gozou. (Às vezes se perguntava se aquele mundo branco era algo próximo do que Hinata descrevera uma vez sobre enxergar as coisas através do Byakugan, mas era apenas outro daqueles pensamentos efêmeros do alto do prazer.)

Tentando respirar o mais fundo que podia com seu nariz e boca enfiados nos cabelos dela, Sasuke ouvia seu nome sair num sussurro repetido dos lábios abusados de Hinata, como se na amnésia temporário do orgasmo o nome dele era sua única memória restante.

- Sasuke...

Na posição em que estavam, a mão esquerda do Uchiha – que havia soltado a perna de Hinata quando os tremores ficarem muito intensos para que a mantivesse em outra posição que não esticada – deslizou de sobre o quadril da moça, percorrendo a curva da costura da calcinha, acariciando mais com ternura do que na intenção de lhe provocar outro orgasmo. Por enquanto.

- Hinata. – Chamou quando sentiu que ela já estava suficientemente presente e atenta. – Me chame de anata.

A Hyuuga sentiu-se pulsar e os olhos perolados voltaram a se fechar. A mão de Sasuke, antes tão leve, encontrou seu centro, posicionando o dedo do meio entre os lábios, sobre seu clitóris, fazendo com que todo o corpo da morena se arrepiasse. O anelar e o indicador acariciaram ambas as laterais, sedutoramente carinhoso.

- Quantos já foram, Hinata?

Ela não sabia mais contar, não conseguia mais pensar, quanto mais falar. Seu corpo fervia por todos os lados, sentia que estava deixando uma marca permanente no sofá, e com Sasuke colado por inteiro em suas costas, era como se quisesse se fundir com ela. E aqueles dedos...

- Sa... – Sua voz quebrou. - ...Sa-sa... ke...

- Errado.

Gemia enquanto ele ia mais rápido, mais lento, mais rápido. Suas unhas arranhavam o espaldar do sofá tentando se agarrar à realidade, a beira de se perder no prazer de novo.

- Aaah... – Tentava falar, porque tinha certeza que ele não a deixaria em paz a menos que conseguisse dizer o que Sasuke queria ouvir.

Com esforço, porque sentia seu corpo inteiro eletrificado e mole ao mesmo tempo, virou-se o suficiente para colocar-se de costas no assento, seus rostos agora mais próximos, a respiração quente se misturando. A atividade em que estavam entretidos fizera com que os cabelos de Sasuke se soltassem do prendedor, embora este continuasse preso nas mechas caídas, meio grudadas sobre a testa suada. Com uma das mãos Hinata penteou os cabelos para trás, soltando a presilha e deixando-a cair pela sala, aproveitando para beijá-lo enquanto a mão de Sasuke se mantinha no trabalho de leva-la ao terceiro orgasmo quase seguido, deixando de acariciar-lhe o clitóris, aproveitando-se da posição para introduzir o dedo médio e anelar juntos em si, de uma vez, fundo, pulsante, mais fundo, mais forte. Quando o beijo terminou, sôfrego, os dedos também se foram, voltando para a tarefa anterior ainda mais escorregadios.

Sasuke sorriu um pequeno sorriso terrível e sedutor.

- Quer me dizer alguma coisa, yome-san?

Yome-san... Noiva.

- Anata... – A palavra escapou-lhe com uma respiração. O Uchiha lambeu os lábios. – Anata, por favor...

Sharingan ativo, tomoe rodando, Sasuke aprontou-se para obedecer.

A campainha soou, sempre muito mais alta do que o esperado no pequeno apartamento. O gemido de Hinata ficou estrangulado na garganta pelo susto e o shinobi desativou sua kekkei genkai em tempo de não incendiar a casa com um tsukuyomi descuidado quando seus olhos miraram a porta, como se assim pudesse fazer a pessoa do outro lado desistir e ir embora.

- Qu-quem é?

- Sakura... – Sasuke concentrou-se momentaneamente para distinguir os chakras. Se fosse apenas a rosada, poderia ignoraá-la e continuar, mas com um suspiro sentou-se no sofá deixando que Hinata fizesse o mesmo, frustrada e envergonhada. – E Naruto.


Mais um dia, um pouquinho mais fácil de se convencer a sair da cama, embora já passasse do meio-dia. Um pé depois do outro, um pedacinho de rotina depois do outro: escovar os dentes, tomar banho, pentear o cabelo, colocar uma roupa, passar maquiagem, fazer o café, tomar o café, arrumar as coisas para sair, trancar a porta, ter certeza que estava fechada, ir para o hospital.

Saíra de casa para ir ao hospital, começar mais um turno, então porque acabara ali? Nem se dera conta de que se lembrava de onde Hinata morava depois de deixar o Clã Hyuuga, mas talvez a tivesse visitado uma ou duas vezes ali depois do término com Naruto. Não eram exatamente próximas, exceto pelos breves momentos em que Sakura passara incentivando-a a reforçar os sentimentos pelo loiro antes e durante os acontecimento com os Ootsutsuki.

E veja só no que dera todo seu incentivo...

Riu sozinha um riso perdido encarando o pequeno prédio residencial, típico das novas áreas urbanizadas da vila, pequeno, quadrado, de poucos andares, para solteiros e famílias pequenas, de aluguel baixo e absolutamente zero comodidades. Bastante diferente do que Hinata devia estar acostumada.

Afastou o pensamento. Não queria começar de forma amarga. Queria apenas conversar com ela, precisava conversar com ela, precisava ter certeza que aquilo era mesmo apenas um contrato traçado há muito tempo por duas famílias de tradições arcaicas e...

E o quê? E então Sasuke esperaria o tempo requerido pelo contrato, romperia com Hinata e ficaria com ela? Sakura, não seja estúpida!

"Eu e Hyuuga Hinata vamos nos casar no dia do Solstício de Verão", Sasuke dissera aquilo tão seguro de si e Sakura ouviu "lá se vai a última chance que você jamais teve com seu amor não correspondido."

Hinata definitivamente não o merecia. Hinata nunca admirara Sasuke, sempre com os olhos voltados para Naruto. Ela não esperara, como Sakura. Anos e anos e anos. Sobrevivera a uma guerra esperando-o. Inabalavelmente. Obsessivamente, talvez, mas de que outra forma teria certeza de que o amava de verdade se não fosse pelo fato de que ainda estava esperando?

Hinata não era como ela. Até mesmo Ino e Karin desistiram, mas Sakura persistira. A Hyuuga sequer tentara. Ela não o merecia, nem mesmo subjugada por um contrato que não podia controlar.

Seus punhos fechados tremiam com determinação renovada.

Estava ali porque Hinata precisava entender que, apesar de tudo, Sasuke jamais seria dela apenas por causa de um casamento contratual, preto no branco.

- chan...

Palavras não seriam suficientes.

- Sakura-chan... – Piscou, voltando ao presente. – Sakura-chan!

- Naruto... – O loiro corria em sua direção, roupas casuais e o sorriso mais luminoso do que o sol do verão. Esperou que ele se aproximasse mais forçando os punhos a relaxarem um pouco o aperto da bolsa. – O que está fazendo aqui?

- Você também, Sakura-chan, o que está fazendo aqui? – Ele rebateu quando parou ao lado dela. Naruto arregaçara as mangas da camiseta, mais bronzeado pela estação, e os braços morenos brilhavam pela umidade que aderira à pele. A rosada perseguiu a gota de suor que escorreu da frente da orelha até ficar pendurava na mandíbula esculpida.

- Eu... – Hesitou. Podia dizer a Naruto, era a verdade, só não toda a verdade. – Eu queria falar com Hinata.

Olhos cerúleos a encararam, curiosos, mas confiantes. Sabia, racionalmente, que Naruto não tinha habilidades de entrar na mente das pessoas, como Ino, e mesmo assim a Yamanaka não podia ler pensamentos, mas sentiu-se perscrutada. Às vezes era apenas outra fraqueza existir alguém que a conhecia tão bem.

Naruto acenou com a cabeça uma vez e finalmente desviou os olhos para a escada e para as sacadas acima. O apartamento de Hinata ficava do outro lado do corredor e não podia ser visto dali, disso Sakura se lembrava.

- Eu estou procurando o teme.

Sasuke-kun estava... Com Hinata? Naquele exato momento?

- Rastreei o chakra dele até aqui. – O que, por si só, não era fácil de fazer. Sasuke era um mestre de controle de chakra e tinha por hábito mantê-lo suprimido. Naruto passara mais de uma hora procurando com seu poder natural ativado e só o encotrara porque sentira um súbito descontrole cerca de vinte minutos atrás. Durara apenas alguns momentos, mas o suficiente para Naruto saber onde e com quem ele estava.

Sem mais delongas, com as mãos atrás da cabeça, o Uzumaki tomou as escadas. Não olhou para trás para ver se Sakura o seguiria ou se sua presença a dissuadiria do encontro com Hinata, mas os passos leves da rosada o seguiram depois de alguns segundos. Fizeram o resto do caminho em silêncio.

Naruto não se lembrava mais se chegara a visitar a Hyuuga depois que ela deixara o Clã Hyuuga. Sequer se oferecera para ajudar na mudança, apesar de lembrar-se que Kiba fizera questão de falar a data e da necessidade de ajuda enquanto patrulhavam juntos dias antes, provavelmente apenas para avaliar sua reação. A reação de Naruto foi sair da vila por alguns dias. Evitara Hinata como a peste depois do término. Apesar de ter partido de si a separação, por semanas e meses depois de soltar a mão dela, vê-la doía. Egoísta. Não gostava de conviver com o fato de que partira o coração de uma das pessoas mais importantes de sua vida.

Parado em frente a porta cinza do apartamento número 39, Uzumaki Naruto surpreendeu-se pensando que talvez não fora sua ideia mais brilhante nem seu momento mais lúcido abrir mão de estar ao lado de Hyuuga Hinata naquela dia de primavera.

Tirou as mãos de trás da cabeça, ajeitando a postura. Sakura, às suas costas, não percebeu o pequeno sorriso tristonho que ele carregava quando estendeu a mão e tocou a campainha.


Rápidos e sem fazer barulho, afinal, eram ninjas, Sasuke levanto o short de volta por sobre o quadril, sua meia ereção se desfazendo. Na sacada, arrancou das roupas que secavam uma camiseta limpa para si e escolheu uma das blusas de mangas compridas e gola alta, do mesmo tipo usado pelos chunnins e jounins sob os coletes, e jogou para Hinata, que a pegou no ar enquanto arrumava a calcinha, as alças do vestido e o cabelo. Precisavam cobrir as marcas nas peles. A moça a vestiu enquanto os dois, em uníssono, pegavam uma das cobertas leves que ficavam perto do sofá e esticavam por cima do móvel para cobrir quaisquer manchas de fluídos que pudessem ter deixado.

Hinata não percebeu que Sasuke fizera um clone das sombras aparecer até que este saiu do banheiro com um toalha úmida e se agachou perto dela, que já estava no genkan pronta para abrir a porta, levantando a saia o suficiente para limpar de suas coxas os fluídos deixados por ambos. A moça corou, mas olhou agradecida para o Uchiha verdadeiro que terminava de acender o incenso de aroma mais forte que tinham para espantar o cheiro de sexo da sala.

A campainha soou uma segunda vez.

O clone tacou a toalha que usara para limpar Hinata para o verdadeiro, que passou atrás da moça dirigindo-se a cozinha com os copos de kombucha na mão, antes de se dissipar silenciosamente. O original pegou-a com o antebraço e desapareceu na curva do cômodo no momento em que Hinata abriu a porta.

- Naruto-kun? – Perguntou, sem precisar fingir a surpresa que sentia, apesar de já saber quem estaria do outro lado. – Sakura-san?

- Yo, Hinata!

Sakura não disse nada, os olhos verdes presos no chão, as mãos segurando a bolsa na frente do corpo.

- Entrem, por favor. – Hinata colocou-se de lado para que passassem. Naruto murmurou um animado "com licença", a Haruno apenas o seguiu. Sasuke saiu da cozinha, um copo de água na mão, quando Naruto terminou de tirar os sapatos, deixando-os de qualquer jeito na entrada. Voltando-se para seu primeiro "convidado", a Hyuuga reclamou: – Sasuke-kun, você podia ter atendido a porta.

- Eu não moro aqui. – Respondeu o moreno cruzando o corredor e colocando-se sentado na extremidade da sala, as costas para a sacada. As palavras dele não combinavam com a imagem absolutamente à vontade que pintava.

- Teme, eu te procurei pela vila toda! – Naruto colocou-se sentado no chão no lado oposto da mesa.

- E agora você me achou, dobe. – Sasuke pegou o bloco que tinha deixado perto do sofá em algum momento antes de se engajarem nas atividades anteriores. – O que foi?

Sakura ainda não tinha se movido do genkan, ela sequer tirara os sapatos ou levantara os olhos. Hinata voltou-se para ela, tentando um sorriso que não encontrou observadores. As juntas dos dedos da médica estavam brancas com a força de segurar a alça de tecido. Se fosse couro, a Hyuuga suspeitava que conseguiria ouvi-la ranger.

- Sakura-san, não quer se sentar? – Inconscientemente a voz de Hinata baixara para um tom pouco mais alto que um sussurro, como se falar normalmente com a rosada pudesse assustá-la ou irritá-la de alguma forma. – Vou servir chá gelado.

A Haruno negou com um movimento breve de cabeça.

- Ne, Sasuke, o que você e Hinata estavam fazendo?

- Decidindo os preparativos da cerimônia.

- Eeeh?

Sakura quisera ir até lá, tinha andado voluntariamente todo o caminho de sua casa até a casa de Hinata, dando a volta maior para evitar o hospital, onde deveria estar dez minutos atrás para começar seu turno.

Mas agora que estava ali, a adrenalina fazendo com que seu coração batesse tão forte que podia sentir as pulsações reverberarem em suas veias, calava-se. Seus companheiros de time estarem ali fora inesperado. Queria falar com Hinata sozinha, sem testemunhas.

Ter encontrado Naruto fora uma surpresa, mas Sasuke, já entre as paredes dela, na presença dela, com roupas casuais e ciceroneando pela sala como se morasse ali, fora um verdadeiro choque.

- Você quer ajudar com o casamento?

Hinata a deixara parada lá e fora arrumar o chá gelado a ser servido. Colocou a jarra e quatro copos com gelo na bandeja de madeira que tinha para aquelas ocasiões: ocasiões em que recebia visitar, não para encontros embaraçosos, mas também serviria.

O apartamento não era grande, com a sala e a cozinha separados apenas pelo genkan na entrada e um balcão organizado, por isso a conversa dos dois ninjas mais fortes da vila não era difícil de ouvir.

- É tão estranho assim? Você deixaria que Hinata cuidasse de tudo sozinha, dobe?

Sakura estremeceu. Hinata? Quando Sasuke-kun deixara de chama-la pelo sobrenome?

- Claro que não! E é exatamente por isso que eu estava procurando por você.

A Hyuuga saiu da cozinha, a bandeja parecia pesada. Sakura finalmente olhou para cima, mesmo com os olhos marejados. Não de tristeza, não. A conversa que estivera ouvindo a fizera se lembrar do sentimento que a motivara a vir até ali. Raiva. Frustração. O pior tipo de ansiedade, que impele a atos inconsequentes.

- Sakura-san. – A kunoichi tentou de novo, a voz no mesmo timbre contido de antes. – Sente-se, por favor. – Sakura tinha certeza que a estava deixando desconfortável por continuar parada lá. Bom. – Nós não temos ar condicionado neste cômodo, desculpe o calor aqui.

Nós? Nós quem?

Deixando a rosada, Hinata ajoelhou-se ao lado de Naruto. O loiro pegou um dos copos direto da bandeja sem pestanejar e sorriu largamente enquanto a moça servia o chá. Deixando a bandeja na mesa, a morena encheu mais dois copos, passando um para Sasuke, que nem sequer levantou os olhos do bloco de notas, e trouxe o outro consigo ao se levantar e voltar-se para a Haruno mais uma vez, mais um sorriso, mais palavras quase sussurradas, como se estivesse tentando não assustar um pequeno animal.

- Sakura-san, aqui. – E estendeu o copo.

- Kakashi-sensei precisa saber quem vocês querem na cerimônia para poder organizar os turnos e preparar os protocolos de seguran-

- Hinata! – Sakura não chegou a gritar, mas seu tom foi alto o suficiente para sobressaltar a todos e chamar a atenção total dos presentes para si.

A Hyuuga recolheu os braços estendidos para perto de si e colocou cuidadosamente o copo sobre o balcão, a superfície mais próxima das duas.

Os olhos de Sakura continuavam marejados, uma lágrima solitária até escorrera por sua bochecha esquerda, mas a postura e a voz eram ambos determinados, irreversíveis em sua resolução.

- Precisamos conversar. Amanhã.

- Uhn... – Hinata relanceou para o calendário cheio de marcações coloridas a esquerda da rosada. – Amanhã eu dou aula na Academia até o último horário.

- Eu sei, te encontro lá ao pôr do sol.

Haruno Sakura deu as costas aos presentes e saiu do apartamento sem despedidas e sem delongas.

- O que- - Naruto deixou escapar, precipitando-se de joelhos, mas uma olhar para Sasuke o dissuadiu de perseguir a companheira de time. – O que deu nela?

O Uzumaki sussurrou as últimas palavras, mas se Sasuke fora capaz de ouvi-las, Hinata também.

O olho negro do Uchiha deixou os azuis, confusos, para sua noiva encarando a entrada, até a figura naturalmente disruptiva de Naruto exigir de volta sua atenção. Hinata limpou a garganta, pegou o copo de chá do balcão e bebericou-o antes de juntar-se a eles em volta da mesa. Olhos perolados e ônix mantiveram-se distantes.

"Precisamos conversar", Sakura dissera. Hinata julgava ser uma boa intérprete da natureza humana. Sabia distinguir quando uma pessoa queria conversar, desabafar, sentar-se e desfrutar de uma companhia silenciosa, socar um postes, gritar contra o travesseiro, tomar um longo banho nas termas, tomar um porre ou simplesmente comer um bolo inteiro.

Mas não conhecia Sakura tão bem assim para saber distinguir com certeza se aquela conversa no dia seguinte seria mais parecia com a que tivera com Shino ou com a que tivera com Kiba.


Boa parte desse capítulo foi escrita com a música W.A.P. da Cardi B tocando sem parar. Se souberem de qual parte eu tô falando, me digam nos comentários ; )

Vou responder as reviews e, com sorte, temos Familiar ainda esse mês.