Oie! Eu sei que eu não mereço o carinho de nenhum de vocês, que estou atrasadíssima para atualizar, mas em minha defesa (se tiver alguma, claro) eu acabei de publicar meu primeiro livro "Entre dois mundos" (os primeiros capítulos estão disponíveis para vocês na história dele por aqui) e já estou trabalhando no próximo!
Desculpem, mas infelizmente a fanfic não é minha proiridade no momento, apesar de eu amá-la. Porém, isso não quer dizer que será abandonada, ok? Vou continuar postando, mas demorando um pouquinho hihihi.
Boa leitura e espero que não desistam de mim!
~ J & L ~
A Floresta Proibida.
-É claro que a detenção tinha que ser essa –bufou Lily –Nada de escrever a mesma frase 50 vezes ou limpar troféus, não! Tinha que ser dar uma passadinha na floresta.
-Eu tenho certeza que Hagrid estará lá e cuidará bem dele, Lils –disse Alice, tentando acalmar a ruiva.
-Bom, espero que pelo menos seja durante o dia –murmurou Lily, se escondendo no abraço de James, que começou a mexer no cabelo ruivo da moça, carinhosamente.
As coisas não poderiam estar piores. Filch levou-os à sala da Profa. Minerva no primeiro andar, onde eles ficaram sentados esperando, sem trocar uma palavra entre si. Hermione tremia. Desculpas, álibis e justificativas fantásticas substituíam-se umas às outras na cabeça de Harry, cada qual mais capenga do que a anterior. Ele não conseguia ver como iam se livrar desta encrenca. Estavam encurralados. Como podiam ter sido burros a ponto de se esquecerem da capa?
-Não querendo piorar a sua situação, mas... como vocês esqueceram a capa? –perguntou James, inconformado –Pelo amor de Merlin, que ninguém a pegue.
-Ninguém vai pegá-la, Jay –sussurrou Lily, com carinho –Harry vai atrás dela e recuperá-la, fique tranquilo.
-Prongs, a capa é tão importante para ele quanto para você –falou Remus, com seriedade –Afinal, ela tem todo esse significado porque era do seu pai, e essa capa também é do pai de Harry.
-Ele não vai querer ficar sem algo que era seu –concordou Sirius –Eles só são mais descuidados que a gente, mas isso não significa que ela não é importante.
James sorriu agradecido. Ele precisava ouvir isso, apesar de não ter o acalmado totalmente.
Não havia nenhuma razão no mundo para a Profa. Minerva aceitar que estivessem fora da cama, esgueirando-se pela escola a altas horas da noite, e muito menos que estivessem na alta torre de astronomia, que era proibida aos alunos a não ser durante as aulas. Some-se a isso Norberto e a capa da invisibilidade e seria melhor começarem a fazer as malas.
-E Harry pessimista ataca de novo –murmura Frank.
Harry achou que as coisas não poderiam ficar piores. Estava enganado. Quando a Profa. Minerva apareceu, vinha trazendo Neville.
-Ah não –gemeu Alice –Agora meu filho vai para a Floresta Proibida.
Lily levantou a sobrancelha para a amiga, "quando era o meu filho ela achava que não ia ser tão ruim, né?", pensou ironicamente. Alice fingiu que não entendeu a expressão da ruivinha.
– Harry! – exclamou ele, no instante em que viu os outros dois. – Eu estava tentando encontrar vocês para avisar que ouvi Malfoy dizer que ia pegar vocês, disse que vocês tinham um drag...
-Oh, Neville tem um coração tão bom! –disse Lily, suspirando.
-Mas é muito ingênuo –riu Sirius, desviando em seguida do travesseiro que Frank lançou. –É verdade, ué.
Harry sacudiu com força a cabeça para fazer Neville calar a boca, mas a Profa. Minerva viu. Parecia mais provável que ela cuspisse fogo pelas narinas do que Norberto, ali a olhar os três de cima para baixo.
– Eu jamais teria acreditado que vocês fossem capazes disso. O Sr. Filch diz que vocês estavam no alto da torre de astronomia. É uma hora da madrugada. Expliquem-se.
-Huuum Harry e Mione, na torre da astronomia, se beijan... –dessa vez James lançou a almofada no amigo.
-SIRIUS! São crianças! –exclamou o maroto.
-Estou brincando –ele se defendeu –Até porque, não acho que esses dois tenham muita química.
Lily gemeu, desgostosa.
-Eu não quero pensar em com quem meu filho tem química, Sirius!
-E novamente –James suspirou pesadamente, antes de dizer com dureza: -São crianças!
-Vocês dois depois que viraram pais ficaram insuportáveis –Sirius revirou os olhos e teve que desviar de outra almofada.
Era a primeira vez que Hermione deixava de responder à pergunta de uma professora. Olhava para os sapatos, imóvel como uma estátua.
– Acho que tenho uma boa ideia do que anda acontecendo – disse a Profa. Minerva. – Não é preciso ser gênio para somar dois mais dois. Vocês contaram a Draco Malfoy uma história da carochinha sobre um dragão, tentando tirá-lo da cama e metê-lo em apuros. Eu já o apanhei. Suponho que achem engraçado que o Neville tenha ouvido a história e acreditado nela também.
-É uma desculpa melhor do que a realidade –admitiu Remus –É melhor que ela pense que foi uma mentirinha de criança do que Hagrid criando um dragão na escola.
-Eu nem posso imaginar o que os pais fariam com ele –Frank fez uma careta –Até porque eu vou me encaixar nesse grupo e não ficaria nada satisfeito.
-Com razão –Lily assentiu –Por mais que tenha boas intenções, Hagrid foi muito irresponsável.
Harry surpreendeu o olhar de Neville e tentou lhe dizer, sem falar, que aquilo não era verdade, porque Neville tinha uma expressão de espanto e mágoa. Pobre Neville trapalhão – Harry sabia o que deveria ter-lhe custado tentar encontrá-los no escuro para avisar.
-Oh, pobre Neville –falou Lily, em um suspiro.
-Meu neném –choramingou Alice, puxando o futuro marido para mais perto.
– Estou desapontada – disse a Profa. Minerva. – Quatro alunos fora da cama em uma noite! Nunca ouvi falar numa coisa dessas antes!
-Acho que precisamos lembrar a professora sobre nós. Estamos claramente sendo deixados para trás! –gargalhou Sirius, acompanhado dos amigos.
-Você, Hermione Granger, achei que tinha mais juízo. Quanto a você, Harry Potter, achei que Grifinória significava mais para você do que parece. Os três vão pegar uma detenção, sim, e você também, Neville Longbottom, não há nadaque lhe dê o direito de andar pela escola à noite, principalmente nos dias que correm, é muito perigoso, e vou descontar cinquenta pontos da Grifinória.
-Cinquenta? –Lily ofegou –Ela tirou menos da metade de Draco!
-Ela é sempre mais dura com os alunos da própria casa –explicou James –Apesar de eu achar que deveria funcionar de outra maneira.
– Cinquenta?– Harry ofegou. Perderiam a dianteira, a dianteira que ele conquistara na última partida de quadribol.
-Não discuta, Harry –gemeu Remus –Eu já discuti e as punições quadriplicaram.
– Cinquenta pontos cada um– acrescentou a Profa. Minerva, respirando com esforço pelo nariz longo e pontudo.
-Vish, ela era mais complacente conosco, e olha que fazíamos muito pior que só andar de madrugada pelo castelo –comentou Sirius.
-Acho que o nível de paciência dela, que já não era muito grande, se esgotou com a idade –disse Alice, fazendo uma careta –Neville vai ser esculachado pela escola inteira.
-Ela nunca foi tão injusta com um aluno assim –Lily franziu a testa –Pelo menos, não nos relatórios que eu vi.
-É a velhice –Sirius deu de ombros.
– Professora... por favor...
– A senhora não pode...
-Harry, não diga a ela o que ela pode ou não fazer –brigou Lily, ignorando o fato de que ele não estava presente. –Só vai piorar a sua situação.
– Não venha me dizer o que eu posso e o que eu não posso, Harry Potter. Agora voltem para a cama, todos vocês. Nunca senti tanta vergonha de alunos da Grifinória antes.
James segurou a risada, enquanto olhava para os amigos que mantinham a mesma expressão.
-Precisamos tocar o terror nesse último ano para ela saber o que é vergonha –comentou, passando a mão pelos cabelos.
Lily e Snape reviraram os olhos, enquanto os outros riram.
-Não, senhor –a ruiva apontou o dedo para ele –Esse ano, você vai estar comportadinho e focado em lutar contra Voldemort, lembra?
-E dá para esquecer? –fez uma careta –Mas ainda teremos algum tempo livre para aprontar, Lils, fica tranquila.
-Você entende mesmo o significado dessa palavra?
-Fique apavorada, então –sorriu para ela –Prometo que não vou te atingir diretamente. –colocou um braço ao redor dela.
-Oh, isso me deixa tão tranquila –bufou, embora se aconchegasse ainda mais no abraço dele.
Cento e cinquenta pontos perdidos. Isto deixava a Grifinória em último lugar. Em uma noite, tinham estragado as chances de Grifinória conquistar a taça das casas. Harry teve a sensação de que o fundo do seu estômago se soltara. Como iriam poder compensar a perda?
Harry não dormiu a noite inteira. Ouviu Neville soluçar com a cara no travesseiro durante o que lhe pareceram horas. Harry não conseguia pensar em nenhuma palavra para consolá-lo. Sabia que Neville, como ele mesmo, estava com medo do amanhecer. O que aconteceria quando o resto de Grifinória descobrisse o que tinham feito?
-Vocês vão ser os alunos mais odiados –falou Frank, em uma careta.
-Como vocês nunca foram os alunos mais odiados? –indagou Lily para os Marotos.
-Ora, Lils, querida –falou Sirius, piscando para a mulher em questão –Nós temos um charme inegável.
Lily bufou.
-Isso e o fato de não sermos pegos na maioria das situações –falou James –Nós não esquecemos a capa, e conhecemos a escola como ninguém.
-E a professora normalmente descontava menos pontos, quando éramos pegos no flagra –completou Remus.
A princípio, os alunos de Grifinória que passavam pelas gigantescas ampulhetas que marcavam o placar das casas, no dia seguinte, acharam que tinha havido um engano. Como podiam de repente ter cento e cinquenta pontos menos do que no dia anterior? E então a história começou a se espalhar: Harry Potter, o famoso Harry Potter, seu herói dos jogos de quadribol, fora o responsável pela perda de todos aqueles pontos, ele e mais uns dois panacas do primeiro ano.
-Me lembre de ensiná-lo a não ser pego –murmurou James para Sirius.
-O que vocês estão cochichando aí? –perguntou Lily, com desconfiança.
-Nada, meu amor –falou James, sorrindo galante e bagunçando o cabelo. Lily revirou os olhos, mas não conseguiu segurar o sorriso.
"Ele não pode nem sonhar o quanto eu acho isso charmoso", pensou "E pensar que dois anos atrás eu queria matá-lo por ter esse hábito".
Da posição de aluno mais popular e admirado na escola, Harry passou à de mais odiado.
Até os alunos da Corvinal e Lufa-Lufa se voltaram contra ele, porque todos desejavam havia muito tempo ver a Sonserina perder a taça das casas.
-Quem não? –Sirius fez uma careta.
Para todo lado que Harry ia, as pessoas o apontavam e não se davam ao trabalho de baixar as vozes para xingá-lo. Os de Sonserina, por outro lado, batiam palmas quando ele passava, assobiavam e davam vivas.
"Obrigado, Potter, ficamos lhe devendo essa!".
-Humilhante –Remus fez uma careta.
-E é sempre voltado para o meu filho –Lily fez uma careta engraçada –Ele não perdeu 150 pontos sozinho!
-É o peso de ser Harry Potter –Frank deu um sorriso amarelo –As atenções sempre vão voltar para ele, independentemente da situação.
Somente Rony continuou do seu lado.
– Eles vão esquecer dentro de umas semanas. Fred e Jorge já perderam montes de pontos desde que chegaram aqui e as pessoas continuam a gostar deles.
Sirius riu, sem conseguir se segurar.
-Eles não são muito comentados, mas eu adoro os caras.
– Eles nunca perderam cento e cinquenta pontos de uma tacada, ou perderam? – retrucou Harry, infeliz.
– Bom... não – admitiu Rony.
Era um pouco tarde para consertar o estrago, mas Harry jurou nunca mais se meter em coisas que não eram de sua conta. Bastava de espiar e espionar. Sentia tanta vergonha que foi procurar Olívio para oferecer sua demissão do time de quadribol.
-O QUÊ? –gritou James, apavorado. –Harry Potter, não ouse! É nesse momento que você precisa se concentrar em ganhar todos os jogos possíveis para fazer a Grifinória ter a chance de subir novamente!
-É realmente muita burrice –concordou Alice –Aí sim que o odiariam eternamente.
– Se demitir? – trovejou Olívio. – Que bem faria isso? Como vamos poder recuperar os pontos se não conseguirmos vencer no quadribol?
Mas até mesmo o quadribol perdera a graça. O resto do time não queria falar com Harry durante os treinos e quando precisavam se referir a ele chamavam-no de "o apanhador".
-Poxa, time! –bufou James –Precisamos estar unidos para vencermos juntos.
Hermione e Neville estavam sofrendo também.
Alice e Frank resmungaram algo incompreensível ao mesmo tempo.
Não estavam apanhando tanto quanto Harry, porque não eram tão conhecidos, mas ninguém falava com eles, tampouco. Hermione parara de chamar atenção nas aulas, mantinha a cabeça baixa e trabalhava em silêncio.
-Isso não ajuda em nada –comentou Lily –é muito melhor levantar a cabeça e responder todas as perguntas, e quem sabe assim dá para recuperar pelo menos um pouco dos pontos.
-O mesmo com o quadribol –James concordou.
Harry quase se alegrava que os exames não estivessem muito distantes. Todas as revisões que precisava fazer o distraíam de sua infelicidade. Ele, Rony e Hermione ficavam sozinhos, trabalhavam até tarde da noite, tentando lembrar os ingredientes das complicadas poções, aprender os feitiços e encantamentos de cor, decorar as datas das descobertas mágicas e das revoltas dos duendes...
-Eles estão estudando até tarde da noite? –gemeu Sirius –Afilhado, eu realmente preciso te ensinar umas coisinhas.
-Embora essa não seja uma época boa, eu acho ótimo que ele esteja usando o tempo dele para coisas produtivas –disse Lily, olhando feio para o novo amigo.
Então, uma semana antes de começarem os exames, a nova resolução de Harry, de não se meter em nada que não fosse de sua conta, foi submetida a um teste inesperado. Ao voltar da biblioteca, sozinho, certa tarde, ouviu alguém choramingando numa sala de aulas mais à frente.
Ao se aproximar, ouviu a voz de Quirrell.
-Mais confusão caindo no colo de Harry –Lily bufou –Quanto tempo isso vai durar?
-O resto da vida dele? –chutou Remus, levando um tapa forte da amiga. –Ouch, Lils.
– Não... não... outra vez não, por favor...
Ficaram todos instantaneamente tensos, pensando em diversas possibilidades do que viria a ser isso.
Parecia que alguém o estava ameaçando. Harry se aproximou um pouco mais.
– Está bem... está bem – ouviu Quirrell soluçar.
No segundo seguinte, Quirrell saiu correndo da sala de aulas ajeitando o turbante. Estava pálido e parecia prestes a chorar. E desapareceu de vista; Harry achou que Quirrell nem sequer reparara nele. Esperou até que o ruído dos passos de Quirrell desaparecesse e, então, espiou para dentro da sala. Estava vazia, mas havia uma porta entreaberta na outra extremidade. Harry já ia em direção à porta, quando se lembrou de que prometera a si mesmo não se meter em nada.
-Isso mesmo, filho –elogiou Lily.
Ao mesmo tempo James dizia:
-Harry, deixe de ser molenga.
Os dois se entreolharam e Lily acabou por bater na cabeça do maroto, levemente.
Assim mesmo, teria apostado doze pedras filosofais que Snape acabara de deixar a sala, e pelo que Harry acabara de ouvir, ganhara uma nova agilidade nos passos. Quirrell parecia ter finalmente cedido.
-Ele vai tomar a pedra? –Sirius fez uma careta de nojo –Harry, se for para impedir que isso aconteça, você tem a autorização do seu padrinho.
Lily o fuzilou com o olhar antes de dizer:
-Ainda não sabemos o rumo que as coisas vão tomar, então sem julgamentos. E meu filho continua sendo uma criança. Não é justo que seja ele a resolver essa situação.
-Concordo –Frank assentiu –Esse tipo de coisa precisa ser resolvida por Dumbledore.
Harry voltou à biblioteca, onde Hermione estava tomando os pontos de astronomia de Rony.
Contou-lhes o que ouvira.
– Snape então conseguiu! – exclamou Rony. – Se Quirrell contou a ele como quebrar o feitiço antimagia negra...
-Eu não sou o único a julgar qualquer coisa... –murmurou Sirius, para si mesmo.
– Mas ainda tem o Fofo – lembrou Hermione.
– Talvez Snape tenha descoberto como passar pelo cachorro sem perguntar ao Rúbeo – disse Rony, correndo os olhos pelos milhares de livros que os rodeavam. – Aposto como tem um livro por aqui que ensina como se passar por um cachorrão de três cabeças. Então, o que vamos fazer, Harry?
O brilho de aventura voltava a iluminar os olhos de Rony, mas Hermione respondeu, antes que Harry pudesse fazê-lo:
-Aleluia alguém com juízo –falou Lily, olhando ameaçadoramente para os Marotos, que estavam começando a se animar com a intervenção das crianças.
– Vamos procurar Dumbledore. Isto é o que deveríamos ter feito há séculos. Se tentarmos alguma coisa por conta própria, com certeza vamos ser expulsos.
Lily sorriu, contente com o posicionamento da amiga do filho.
– Mas não temos provas– disse Harry. – Quirrell está apavorado demais para nos apoiar. Snape só precisa dizer que não sabe como foi que o trasgo entrou no Dia das Bruxas e que nem chegou perto do terceiro andar. Em quem vocês acham que eles vão acreditar, nele ou em nós? Não é bem segredo que nós o detestamos, Dumbledore vai pensar que inventamos isso para ele ser despedido. Filch não nos ajudaria nem que a vida dele dependesse disso, é muito amigo de Snape,
Snape fez uma careta.
"É isso que eu vou ser no futuro? Amigo do Filch?", pensou desgostoso.
e quanto mais alunos forem expulsos, tanto melhor, é o que ele pensa. E não se esqueçam, nós nem devíamos saber da Pedra nem de Fofo. O que vai exigir muita explicação.
-Harry tem um ponto –disse Frank –Não seria nada bom prejudicar Hagrid dessa forma. Principalmente porque ele faz de tudo por eles.
-Mesmo que de forma errada, às vezes –Alice assentiu.
Hermione pareceu convencida, mas não Rony.
– Se déssemos só uma espiadinha...
– Não – respondeu Harry, decidido –, já demos muitas espiadinhas.
-Boa, Harry –a mãe do garoto aprovou –Bom garoto.
E, dizendo isso, puxou um mapa de Júpiter para perto e começou a aprender os nomes das luas.
-Credo –resmungou Sirius.
Na manhã seguinte, Harry, Hermione e Neville receberam bilhetes à mesa do café da manhã. Diziam a mesma coisa:
Sua detenção começará às vinte e três horas.
Aguardem o Sr. Filch no saguão de entrada.
Profa. Minerva
-Essa hora na Floresta Proibida? Nada bom –suspirou Lily, tentando não pensar no pior. James a puxou para si, fazendo cafuné.
-Vai ficar tudo bem com ele. E eles não irão desacompanhados.
-Provavelmente Hagrid será designado para a tarefa –se intrometeu Remus.
-E ele nunca deixaria algo de ruim acontecer com os três –completou Frank. –Eu espero.
No furor provocado pela perda de pontos, Harry esquecera que ainda tinham detenções a cumprir. Esperou que Hermione reclamasse que aquilo representava perder uma noite inteira de revisões, mas não disse uma palavra. Achava, como Harry, que mereciam o que tinham recebido.
-A detenção é justa –Alice disse –mas não os pontos retirados.
-Realmente –Sirius concordou com a cabeça –Eles deveriam ter perdido 10 pontos cada um, no máximo.
Às onze horas da noite eles se despediram de Rony na sala comunal e desceram com Neville para o saguão de entrada. Filch já se encontrava lá – e também Malfoy. Harry esquecera que Malfoy pegara uma detenção também.
– Sigam-me – disse Filch, acendendo uma lanterna e levando-os para fora. – Aposto que vão pensar duas vezes antes de desobedecer novamente ao regulamento da escola, não é mesmo? – disse caçoando. – Ah, sim, trabalho pesado e dor são os melhores mestres, se querem saber... É uma pena que tenham suspendido os castigos antigos... pendurar o aluno no teto pelos pulsos durante alguns dias, ainda tenho as correntes na minha sala, conservo-as azeitadas para o caso de precisarem... Muito bem, lá vamos nós, e nem pensem em fugir agora, será pior para vocês se fizerem isso.
-Acho que devemos achar algumas correntes e destruí-las –falou Remus para os amigos, um sorriso maroto sendo formado em seu rosto.
-Se isso significa que nunca vão castigar meu filho dessa forma, eu preciso concordar –todos olharam para a ruiva, em choque –O quê? Eu acho uma ideia brilhante, só não esqueçam de me chamar. –piscou para eles.
-Ruiva, você me surpreende mais todos os dias –gargalhou Sirius.
Eles caminharam pela propriedade às escuras. Neville não parava de fungar.
O coração dos pais do garoto ficou apertado.
Harry ficou imaginando qual seria o castigo. Devia ser alguma coisa realmente horrível, ou Filch não pareceria tão contente.
A lua brilhava, mas as nuvens que passavam por ela lançava-os na escuridão. À frente, Harry via as janelas iluminadas da cabana de Hagrid. Então, ouviram um grito distante...
– É você, Filch? Ande logo, quero começar de uma vez.
-Viu? –Remus sorriu satisfeito –Nada de deixá-los sozinhos nesse fim de mundo.
-Como se você não conhecesse a floresta de cor –James revirou os olhos.
O ânimo de Harry melhorou; se eles iam trabalhar com Hagrid então não seria tão ruim. Seu alívio deve ter transparecido no rosto, porque Filch falou:
– Acho que você está pensando que vai se divertir com aquele panaca? Pois pode pensar outra vez, menino. É para a floresta que você vai e estarei muito enganado se voltar inteiro.
Ao ouvir isso, Neville deixou escapar um gemido e Malfoy ficou paralisado.
-Eu espero mesmo que sejam ameaças vazias –reclamou Alice.
– A floresta? – repetiu e não pareceu tão tranquilo como de costume. – Não podemos entrar lá à noite... tem todo tipo de coisa lá... lobisomens, ouvi falar.
Remus bufou, "por que não deixam os lobisomens em paz?". Os que sabiam do seu Probleminha Peludo o olharam com compaixão, exceto Severo, que o preparou seu melhor olhar de desprezo.
Neville agarrou a manga das vestes de Harry e pareceu se engasgar.
Alice e Frank apertaram a mão um do outro com firmeza.
– Isto é o que pensa, não é? – disse Filch, a voz esganiçando-se de satisfação. – Devia ter pensado nos lobisomens antes de se meter em encrencas, não acha?
Hagrid saiu do escuro caminhando em direção a eles, com Canino nos calcanhares. Carregava um grande arco e uma aljava com flechas pendurada ao ombro.
– Até que enfim. Já estou esperando há meia hora. Tudo bem, Harry, Hermione?
– Eu não seria tão simpático com eles, Hagrid – disse Filch com frieza – , afinal eles estão aqui para serem castigados.
-A amargura desse homem me impressiona –Lily girou os olhos.
– É por isso que você está atrasado, não é? – disse Hagrid, amarrando a cara. – Andou passando carão neles, não é? Isso não é sua função. Você fez a sua parte, eu pego daqui para a frente.
-Boa, Hagrid –James elogiou –Coloca o cara para correr.
Lily balançou a cabeça, sorrindo para ele com diversão.
– Volto ao amanhecer para recolher o que sobrar deles – disse Filch, maldoso, deu meia-volta e retornou ao castelo, balançando a lanterna na escuridão.
Malfoy virou-se então para Hagrid.
– Não vou entrar nessa floresta – disse, e Harry ficou contente de ouvir a nota de pânico em sua voz.
-E ele continua achando que o mundo gira ao redor do umbigo dele –Alice bufou –Mimado.
– Vai, sim, se quiser continuar em Hogwarts – disse Hagrid com ferocidade. – Você agiu mal e agora tem de pagar pelo que fez.
– Mas isso é coisa para empregados e não para estudantes. Achei que íamos fazer uma cópia ou outra coisa do gênero, se meu pai souber que eu estou fazendo isso, ele...
-Mimado –rosnou Sirius –Tinha que ser filho de Narcisa.
-E ameaçar com os pais? –Remus bufou –Mesmo com onze anos, já passou da idade disso.
– ... lhe dirá que em Hogwarts é assim – rosnou Hagrid. – Fazer cópia! Para que serve? Você vai fazer uma coisa útil ou vai sair da escola. E se pensa que seu pai vai preferir que você seja expulso, então volte para o castelo e faça suas malas. Vamos!
-Boa, Hagrid –elogiou Frank. –Coloque-o em seu devido lugar!
-Primeiro com Filch, e agora com o bonequinho loiro... –Alice sorriu devagar –Estou orgulhosa desse gigante.
Malfoy não se mexeu. Encarou Hagrid furioso e em seguida baixou os olhos.
-Toma –James deu uma risada animada.
– Muito bem, então – disse Hagrid –, agora prestem atenção, porque é perigoso o que vamos fazer hoje à noite e não quero ninguém se arriscando. Venham até aqui comigo.
Ele os conduziu à orla da floresta. Erguendo a lanterna bem alto, apontou para uma trilha serpeante de terra batida que desaparecia por entre árvores escuras. Uma brisa leve levantou os cabelos dos meninos, quando eles se viraram para a floresta.
– Olhem ali, estão vendo aquela coisa brilhando no chão? Prateada? Aquilo é sangue de unicórnio. Tem um unicórnio ali que foi ferido gravemente por alguma coisa. É a segunda vez esta semana. Encontrei um morto na quarta-feira passada. Vamos tentar encontrar o pobrezinho. Talvez a gente precise pôr fim ao sofrimento dele.
-Como alguém consegue ter o coração frio desse jeito? –perguntou Lily –Pobre unicórnio!
-E duas vezes na mesma semana? –Sirius pensou alto –Isso está muito esquisito. Quem precisa de tanto para sobreviver?
– E se a coisa que feriu o unicórnio nos encontrar primeiro? – perguntou Malfoy, incapaz de conter o medo na voz.
– Não há nenhuma criatura viva na floresta que vá machucá-lo se você estiver comigo e com o Canino. E siga a trilha. Muito bem, agora, vamos nos separar em dois grupos e seguir a trilha em direções opostas. Tem sangue por toda parte, ele deve estar cambaleando pelo menos desde a noite passada.
-É realmente muita maldade –falou James, concordando com a ruiva. –E são criaturas tão puras.
– Eu quero Canino – disse Malfoy depressa, olhando para as presas de Canino.
-Esse cachorro covarde –Sirius riu ironicamente –Boa sorte, Malfoy.
– Muito bem, mas vou-lhe avisando, ele é covarde. Então eu, Harry e Hermione vamos por aqui e Draco, Neville e Canino por ali. Agora, se algum de nós achar o unicórnio, disparamos centelhas verdes para o alto, OK? Peguem as varinhas e comecem a praticar agora, assim. E se alguém se enrolar, dispare centelhas vermelhas, e vamos todos procurá-lo; então, cuidado. Vamos.
Alice e Frank ficaram mais pálios a cada palavra.
-Mandaram meu filho para a floresta com um idiota mimado e um cão covarde? –urrou amulher –Eu realmente vou precisar trocar umas palavrinhas com Hagrid!
-Logo agora que ele estava indo tão bem –gemeu Frank –Neville, se proteja, pelo amor de Merlin.
A floresta estava escura e silenciosa. Entrando por ela, chegaram a uma bifurcação, e Harry, Hermione e Hagrid tomaram o caminho da esquerda enquanto Malfoy, Neville e Canino tomaram o da direita.
O casal Longbottom trocou um olhar preocupado e angustiado.
Caminharam em silêncio, com os olhos no chão. Aqui e ali um raio de luar penetrava por entre os galhos e iluminava uma mancha de sangue prateado nas folhas caídas.
Harry viu que Hagrid parecia muito preocupado.
– É possívelum lobisomem estar matando os unicórnios? – perguntou.
-Deixem os lobisomens em paz! –resmungou Remus audivelmente.
Alice e Frank estavam tão preocupados com o filho que nem o ouviram direito, enquanto os marotos e Lily lançavam a Remus um olhar de pena.
– Não com essa rapidez, não é fácil matar um unicórnio, eles são criaturas mágicas poderosas. Nunca soube de nenhum ter sido ferido antes.
Passaram por um toco de árvore coberto de musgo. Harry ouviu água correndo, devia haver um riacho por perto. Ainda viam manchas de sangue de unicórnio aqui e ali pela trilha serpeante.
– Você está bem, Hermione? – sussurrou Hagrid. – Não se preocupe, ele não pode ter ido longe se está tão ferido e então poderemos... PARA TRÁS DAQUELA ÁRVORE!
-Ah, meu Jesus! –Lily se agarrou a manga das vestes de James, que embora estivesse tão preocupado quanto ela, tentava não demonstrar.
-Neville... –o rosto de Alice foi perdendo a cor.
Hagrid agarrou Harry e Hermione e guindou-os para fora da trilha e para trás de um enorme carvalho. Puxou uma flecha e encaixou-a no arco, e ergueu-o, pronto para atirar. Os três apuraram os ouvidos. Alguma coisa deslizava pelas folhas mortas ali perto; parecia uma capa arrastando no chão. Hagrid apertava os olhos para enxergar a trilha escura à frente, mas, passados alguns segundos, o ruído desapareceu.
– Eu sabia – murmurou ele. – Tem alguma coisa aqui que está fora de lugar.
– Um lobisomem? – sugeriu Harry.
Dessa vez Remus se contentou em apenas revirar os olhos.
-O que foi aquilo? –questionou James retoricamente.
-Alguém pode me atualizar sobre o Neville? –Frank pediu impaciente ao livro.
– Isso não era um lobisomem e não era um unicórnio, tampouco – disse Hagrid, sério. – Muito bem, me sigam, mas tenham cuidado, agora.
Continuaram a caminhar mais devagar, os ouvidos à escuta do menor ruído. De repente, alguma coisa na clareira adiante, alguma coisa sem dúvida se mexia.
– Quem está aí? – chamou Hagrid. – Apareça. Estou armado!
E na clareira apareceu um vulto – era um homem, ou um cavalo? Até a cintura, um homem, com cabelos e barba vermelhos, mas da cintura para baixo era um luzidio cavalo castanho com uma cauda longa e avermelhada. Os queixos de Harry e Hermione caíram.
-Eu nunca vi um centauro –falou Frank, distraidamente.
-Como não? Moramos em Hogwarts! –disse Sirius, incrédulo.
-Nem todos temos aventuras noturnas pela floresta, Sirius –falou calmamente.
-Eu também nunca vi –apoiou Alice –E aposto que Lily também não.
A ruiva olhou para o chão, envergonhada.
-Na verdade, eu já fui para a Floresta mais de uma vez –murmurou constrangida.
-E eu continuo me surpreendendo com você, Evans –riu, ou latiu Sirius.
– Ah, é você, Ronan! – exclamou Hagrid, aliviado. – Como vai?
Ele se adiantou e apertou a mão do centauro.
-Pelo menos as amizades doidas de Hagrid serve para alguma coisa –comentou James.
– Boa-noite para você, Hagrid – disse Ronan. Tinha uma voz grave e triste. – Você ia atirar em mim?
– Cautela nunca é demais, Ronan – disse Hagrid, dando uma palmadinha no arco. – Tem alguma coisa à solta nesta floresta. Ah, sim, estes são Harry Potter e Hermione Granger. Alunos lá da escola. E este é Ronan. É um centauro.
– Já percebi – disse Hermione com a voz fraca.
– Boa-noite – cumprimentou Ronan. – São alunos, é? E aprendem muita coisa na escola?
– Hum.
– Um pouquinho – respondeu Hermione, tímida.
-É difícil imaginá-la com vergonha de algo que não seja deixar de fazer um dever de casa –riu Sirius.
– Um pouquinho. Bom, já é alguma coisa – suspirou Ronan. Depois, jogou a cabeça para trás e contemplou o céu. – Marte está brilhante hoje.
– É – disse Hagrid, mirando o céu também. – Olhe, foi bom termos nos encontrado, Ronan, porque tem um unicórnio ferido. Você viu alguma coisa?
Ronan não respondeu imediatamente. Continuou a olhar para o alto sem piscar e então suspirou outra vez.
– Os inocentes são sempre as primeiras vítimas. Foi assim no passado, é assim agora.
-Isso quer dizer que está voltando? –perguntou Lily, prendendo a respiração –Os tempos sombrios estão voltando? Voldemort está voltando?
-Não temos como saber ao certo, Lils –respondeu James –Porém, é um pouco suspeito que unicórnios estejam sendo assassinados novamente e que haja a necessidade de esconder a Pedra Filosofal em Hogwarts.
-Infelizmente, parece que ele está se reerguendo –concordou Remus, apreensivo.
– É, mas você viu alguma coisa, Ronan? Alguma coisa anormal?
– Marte está brilhante hoje – repetiu Ronan enquanto Hagrid o observava impaciente. – Um brilho anormal.
-E o que diabos isso quer dizer? –perguntou Alice, com impaciência.
– Sim, mas estou me referindo a alguma coisa mais perto da terra. Você não notou nada estranho?
Mais uma vez, Ronan levou algum tempo para responder. Por fim disse:
– A floresta esconde muitos segredos.
-Ai, eu não suporto pessoas que falam tudo de maneira indireta –bufou Alice.
-Teoricamente ele não faz parte do grupo "pessoas" –Remus disse, segurando o sorriso.
-Você entendeu –ela deu um sorriso largamente falso para ele.
Um movimento nas árvores atrás de Ronan fez Hagrid erguer o arco outra vez, mas era apenas um segundo centauro, de cabelos e corpo negros e de aspecto mais selvagem do que Ronan.
– Olá, Agouro – cumprimentou Hagrid. – Tudo bem?
– Boa-noite, Hagrid, você vai bem, espero.
– Bastante bem. Olhe, eu estava mesmo perguntando a Ronan, você viu alguma coisa estranha por aqui ultimamente? É que um unicórnio foi ferido. Você sabe alguma coisa?
Agouro foi se postar ao lado de Ronan. Olhou para o céu.
– Marte está brilhante hoje – disse simplesmente.
-Eu queria ter feito aula de Astronomia o suficiente para entender o que eles querem dizer –resmungou Lily –Definitivamente eu vou entrar esse ano e prestar atenção nesses detalhes.
-Eles só podiam falar tudo logo de cara! –disse Alice, exasperada.
– Já sabemos – respondeu Hagrid, agastado. – Bom, se um de vocês vir alguma coisa, me avise, por favor. Vamos indo, então.
Harry e Hermione saíram com ele da clareira, espiando Ronan e Agouro por cima dos ombros até as árvores tamparem sua visão.
– Nunca – disse Hagrid, irritado – tentem obter uma resposta direta de um centauro. Vivem contemplando as estrelas. Não estão interessados em nada que esteja mais perto do que a lua.
Alice resmungou baixinho, e todos lançaram um sorriso conspiratório para ela.
– E tem muitos deles aqui? – perguntou Hermione
– Ah, um bom número... Vivem isolados na maior parte do tempo, mas têm a bondade de aparecer quando preciso dar uma palavrinha. São inteligentes, veja bem, os centauros... sabem das coisas... só não falam muito.
– Você acha que foi um centauro que ouvimos antes? – disse Harry.
– Você achou que era barulho de cascos? Não, se quer saber, aquilo é o que anda matando os unicórnios. Nunca ouvi nada parecido antes.
-Nada bom –resmungou Alice –E não temos notícias de Neville.
E continuaram a caminhar pela floresta densa e escura. Harry não parava de espiar, nervoso, por cima do ombro. Tinha a sensação ruim de que alguém os observava. Estava contente que tivessem Hagrid e seu arco com eles. Acabavam de passar uma curva na trilha quando Hermione agarrou o braço de Hagrid.
– Rúbeo! Olhe! centelhas vermelhas, os outros estão em apuros!
-Meu Merlin –ofegou Frank, abraçando Alice, um apoiando o outro.
-Merda, merda, merda –ela disse altamente, angustiada.
– Vocês dois esperem aqui! – gritou Hagrid. – Fiquem na trilha, volto para apanhá-los!
-Agora Harry está sozinho! Hagrid, me ajude a te ajudar –murmurou James, aflito. Sentiu alguém pegando sua mão e viu que era a ruiva, tentando confortá-lo. Sorriu agradecido.
Eles o ouviram romper o mato e ficaram parados se entreolhando, muito assustados, até não conseguirem ouvir mais nada à volta exceto o farfalhar das árvores.
– Você acha que eles estão machucados? – sussurrou Hermione.
– Não me importo com Malfoy, mas se alguma coisa pegou Neville... É culpa nossa que ele esteja aqui.
-Pelo menos tem alguém se importando com o meu filho –disse Alice, áspera.
Todos optaram por não comentar, sabendo do mau humor e ansiedade da garota.
Os minutos se arrastaram. Seus ouvidos pareciam mais aguçados do que o normal. Harry parecia estar registrando cada suspiro do vento, cada graveto que quebrava. O que estava acontecendo? Onde estavam os outros?
Finalmente, um grande barulho de mato pisado anunciou a volta de Hagrid. Malfoy, Neville e Canino o acompanhavam. Hagrid vinha danado da vida. Malfoy, ao que parecia, se atrasara e agarrara Neville por trás para lhe dar um susto. Neville se assustara e mandara o sinal.
-Maldito –praguejou Alice.
-Veja o lado positivo –disse Frank, suavemente –Não era um perigo real. Nosso filho está ótimo.
-Graças a Merlin –ela sussurrou.
– Teremos sorte se apanharmos alguma coisa agora, com a barulheira que vocês aprontaram. Muito bem, vamos trocar os grupos: Neville, você e Hermione ficam comigo; Harry, você com o Canino e esse idiota. Sinto muito – acrescentou Hagrid para Harry num cochicho –, mas vai ser mais difícil ele assustar você e precisamos acabar o nosso serviço.
-Agora é o nosso bebê com um cão covarde e um babaca mimado –gemeu Lily.
-Ele consegue lidar com isso –garantiu Sirius.
Então Harry entrou pelo coração da floresta com Malfoy e Canino. Andaram quase meia hora, embrenhando-se cada vez mais, até que a trilha se tornou impraticável porque as árvores cresciam demasiado juntas. Havia salpicos nas raízes de uma árvore, como se o pobre bicho tivesse se debatido de dor por ali. Harry viu uma clareira adiante, através dos galhos emaranhados de um velho carvalho.
– Olhe... – murmurou, erguendo o braço para deter Malfoy.
Alguma coisa muito branca brilhava no chão. Eles se aproximaram aos poucos.
Lily prendeu a respiração ao mesmo tempo que o futuro marido endireitava a coluna e ficava tenso.
O resto do grupo fez o mesmo, automaticamente.
Era o unicórnio, sim, e estava morto. Harry nunca vira nada tão bonito nem tão triste. As pernas longas e finas estavam esticadas em ângulos estranhos onde ele caíra e sua crina espalhava-se nacarada sobre as folhas escuras.
-Pobre unicórnio –Alice sorriu tristemente.
Harry dera um passo à frente mas um som de algo que deslizava o fez congelar onde estava. Uma moita na orla da clareira estremeceu... Então, do meio das sombras saiu um vulto encapuzado que se arrastava de gatas pelo chão como uma fera à caça. Harry, Malfoy e Canino ficaram paralisados. O vulto encapuzado aproximou-se do unicórnio, abaixou a cabeça sobre o ferimento no flanco do animal e começou a beber o seu sangue.
-Nada bom, nada bom, nada bom, nada bom –murmurava Lily freneticamente.
– AAAAAAAAAAAAAAAAAH!
Malfoy soltou um grito terrível e fugiu, seguido por Canino. A figura encapuzada ergueu a cabeça e olhou diretamente para Harry – o sangue do unicórnio escorrendo pelo peito. Ficou de pé e avançou rápido para Harry – que não conseguiu se mexer de medo.
-Harry, sai daí –Sirius falou, aterrorizado.
-Rápido, Harry! –falou James, gesticulando sem parar –Sai daí!
Então uma dor, como ele nunca sentira antes, varou sua cabeça, como se a sua cicatriz estivesse em fogo – meio cego, ele recuou cambaleando. Ouviu cascos às suas costas, galopando, e alguma coisa saltou por cima dele, e atacou o vulto.
-Harry... –Lils disse, ainda mais aflita.
A dor na cabeça de Harry foi tão forte que ele caiu de joelhos. Levou uns dois minutos para passar. Quando ergueu os olhos, o vulto desaparecera. Um centauro avultava-se sobre ele, mas não era Ronan nem Agouro; este parecia mais novo, tinha cabelos louros prateados e o corpo baio.
– Você está bem? – perguntou o centauro, ajudando Harry a se levantar.
– Estou, obrigado, o que foi aquilo?
O centauro não respondeu. Tinha espantosos olhos azuis, como safiras muito claras. Mirou Harry com atenção, demorando o olhar na cicatriz que se sobressaía, lívida, em sua testa.
– Você é o menino Potter. É melhor voltar para a companhia de Hagrid. A floresta não é segura a estas horas, principalmente para você. Sabe montar? Será mais rápido. Meu nome é Firenze – acrescentou ao dobrar as patas dianteiras para Harry poder subir no seu lombo.
-Harry realmente conquistou a simpatia dele –disse Remus, impressionado.
-Eles raramente deixam alguém subir em seu lombo –explicou Sirius. –Significa que Harry é especial.
-Ou que está correndo fortes perigos –disse a ruiva, que ainda não tinha se recuperado do último acontecimento.
-Quem sabe os dois?! –James tentou amenizar a situação.
Ouviram repentinamente o ruído de galopes vindo do outro lado da clareira. Ronan e Agouro irromperam do meio das árvores, os flancos arfan-tes e suados.
– Firenze! – Agouro trovejou. – O que é que você está fazendo? Está carregando um humano! Não tem vergonha? Você é uma mula?
– Você sabe quem ele é? – retrucou Firenze. – É o menino Potter. Quanto mais rápido ele sair da floresta, melhor.
– O que é que você andou contando a ele? – rosnou Agouro. – Lembre-se, Firenze, juramos nunca nos indispor com os céus. Você não leu o que vai acontecer nos movimentos dos planetas?
Ronan pateou o chão, nervoso.
– Tenho certeza de que Firenze achou que estava fazendo o melhor – falou em tom sombrio.
Agouro escoiceou com raiva.
– Fazendo o melhor! O que tem isso a ver conosco? Os centauros se preocupam com o que foi previsto! Não é nossa função ficar correndo por aí como jumentos recolhendo humanos perdidos na nossa floresta!
-Por mais que seja maldoso, é verdade –disse Sirius, pensativo.
-Quanto menos eles se envolverem conosco, melhor. –concordou James –Assim eles tem uma chance maior de não serem vítimas de Voldemort ou qualquer outro Bruxo das Trevas.
Firenze de repente empinou-se nas patas traseiras com raiva, de modo que Harry teve de se agarrar nos seus ombros para não cair.
– Você não viu o unicórnio! – Firenze berrou para Agouro. – Você não percebe por que foi morto? Ou será que os planetas não lhe contaram esse segredo? Tomei posição contra o que está rondando a floresta, Agouro, tomei, sim, ao lado dos humanos se for preciso.
-Fico muito grata que ele salvou a vida de Harry –sussurrou Lily, para si mesma. –Eternamente.
-Nós dois seremos –James murmurou no ouvido dela, provando que a ouvira.
E Firenze virou-se depressa para partir; com Harry agarrando-se o melhor que podia, eles mergulharam entre as árvores, deixando Ronan e Agouro para trás.
Harry não fazia a menor ideia do que estava acontecendo.
– Por que Agouro está tão zangado? – perguntou. – O que era aquela coisa de que você me livrou?
Firenze abrandou a marcha, alertou Harry para manter a cabeça abaixada a fim de evitar os galhos baixos, mas não respondeu à pergunta. Continuaram por entre as árvores em silêncio por tanto tempo que Harry achou que Firenze não queria mais falar com ele. Estavam passando por um trecho particularmente denso da floresta, quando Firenze parou de repente.
– Harry Potter, você sabe para que se usa o sangue de unicórnio?
– Não – disse Harry surpreendido pela estranha pergunta. – Só usamos o chifre e a cauda na aula de Poções.
Remus deu uma risadinha discreta, adorando a resposta de Harry.
– Porque é uma coisa monstruosa matar um unicórnio. Só alguém que não tem nada a perder e tudo a ganhar cometeria um crime desses. O sangue do unicórnio mantém a pessoa viva, mesmo quando ela está à beira da morte, mas a um preço terrível. Ela matou algo puro e indefeso para se salvar e só terá uma semivida, uma vida amaldiçoada, do momento que o sangue lhe tocar os lábios.
Um arrepio sombrio passou por todos na sala, que hesitaram pensativos. Mesmo que já soubessem, toda vez que refletiam como alguém viveria assim, e como poderiam matar uma criatura tão pura, se sentiam incomodados.
Harry ficou olhando para a nuca de Firenze, que estava prateada de luar.
– Mas quem estaria tão desesperado? – pensou em voz alta. – Se a pessoa vai ser amaldiçoada para sempre, é preferível morrer, não é?
-Não para quem já mexe com Magia das Trevas e não tem nada a perder, já que tem uma alma impura –disse Frank.
– É – concordou Firenze –, a não ser que ela precise se manter viva o tempo suficiente para beber outra coisa, algo que vai lhe devolver a força e o poder totais, algo que significa que jamais poderá morrer. Sr. Potter, o senhor sabe o que é que está escondido na sua escola neste momento?
– A Pedra Filosofal! É claro, o elixir da vida! Mas não percebo quem...
-Mesmo querendo ficar longe, alguém sempre o traz para o meio da bagunça novamente –Lily fez uma careta.
– Não consegue pensar em ninguém que tenha esperado muitos anos para retomar o poder, que se apegou à vida, esperando uma chance?
Foi como se uma mão de ferro de repente apertasse o coração de Harry. Acima do farfalhar das árvores, ele parecia ouvir mais uma vez o que Hagrid lhe contara na noite que se conheceram: "Tem quem diga que ele morreu. Besteira, na minha opinião. Não sei se ainda tinha humanidade suficiente para morrer."
-Ele está voltando –disse Lily, sentindo o impacto das próprias palavras –e vai atrás de Harry 'terminar o serviço'.
-Harry ficará bem –assegurou Remus –Com apenas um ano ele conseguiu derrotar Voldemort, então ele é muito mais poderoso do que um dia poderíamos imaginar.
-Se ele desenvolver o poder que tem, ele poderá ser mais forte que Voldemort –concordou James, sombriamente.
-Não sei se ele terá tempo suficiente para isso. –Sirius falou, duramente –Se ele voltar quando Harry tiver apenas onze anos...
-Ele está ferrado –completou Frank, com o maxilar trincado.
– Você está dizendo – Harry falou rouco – que aquele era o Vol...
– Harry! Harry, você está bem?
Hermione vinha correndo ao encontro deles pela trilha, Hagrid a acompanhava arfando.
– Estou bem – disse Harry, sem nem saber o que estava dizendo. – O unicórnio morreu, Rúbeo, está naquela clareira lá atrás.
– É aqui que eu o deixo – murmurou Firenze enquanto Hagrid corria para examinar o unicórnio. – Está seguro agora.
Harry escorregou de suas costas.
– Boa sorte, Harry Potter – disse Firenze. – Os planetas já foram mal interpretados antes, até mesmo pelos centauros. Espero que seja o que está ocorrendo agora.
-Eu também –murmurou Alice.
Virou-se e entrou a trote pela floresta, deixando para trás um Harry cheio de tremores.
-Não só você –disse Lily, apavorada.
Rony adormecera no sala comunal às escuras, esperando os amigos voltarem. Gritou alguma coisa sobre faltas no quadribol, quando Harry o sacudiu com força para acordá-lo. Em questão de segundos, porém, seus olhos se arregalaram quando Harry começou a contar a ele e à Hermione o que acontecera na floresta.
Harry nem conseguia se sentar. Andava para cima e para baixo na frente da lareira. Continuava a tremer.
-Queria tanto poder estar ali para ele –sussurrou Lily, apoiando a cabeça no ombro de James.
-Eu também –ele sorriu tristemente, dando um beijo suave na testa dela.
– Snape quer a pedra para Voldemort... e Voldemort está esperando na floresta... e todo esse tempo pensamos que Snape só queria ficar rico.
-Até eu preciso admitir que isso é fútil –Sirius deu de ombros.
– Pare de repetir esse nome! – disse Rony num sussurro de terror, como se Voldemort pudesse ouvi-los.
Harry nem o escutou.
– Firenze me salvou, mas não devia ter feito isso... Agouro ficou furioso... falou de interferência naquilo que os planetas anunciaram que ia acontecer. Eles devem estar indicando que Voldemort vai voltar... Agouro acha que Firenze devia ter deixado Voldemort me matar...Imagino que isso também esteja escrito nas estrelas.
-Nunca repita isso, Harry Potter –brigou Lily, esquecendo por um momento que o garoto não estava ali para ouví-la.
– Quer parar de dizer esse nome? – sibilou Rony.
– Portanto só preciso esperar que Snape roube a pedra – continuou Harry, febril –, então Voldemort vai poder voltar e acabar comigo... Bem, quem sabe Agouro vai ficar feliz.
-HARRY! –gritou Lily, indignada –Para de ser tão negativo! Você não vai morrer e ninguém quer te ver morto! Eu espero –murmurou a última parte.
-Lily –começou Sirius –ele não está aqui.
-Deixe ela liberar a raiva, Padfoot –falou Remus –Senão ela vai direcionar os gritos a você. –Sirius olhou para o amigo apavorado e resolveu se calar.
Hermione parecia muito assustada, mas teve uma palavra de consolo.
– Harry, todo mundo diz que Dumbledore é a única pessoa de quem Você-Sabe-Quem já teve medo. Com Dumbledore por perto Você-Sabe-Quem não vai tocar em você. Em todo o caso, quem disse que os centauros têm razão? Isso está me parecendo adivinhação, e a Profa. Minerva diz que adivinhar o futuro é um ramo muito inexato da magia.
-Ela nunca superou –riu Frank –depois de todos esses anos... não conseguiu aceitar a matéria?!
O céu havia clareado antes de terminarem de conversar. Foram se deitar exaustos, com as gargantas ardendo. Mas as surpresas da noite não tinham terminado.
-Ah não –gemeu James –O que é agora?
Quando Harry puxou os lençóis da cama, encontrou a capa da invisibilidade cuidadosamente dobrada sobre o forro. Tinha um bilhete espetado nela:
Por via das dúvidas.
-Graças a Merlin –James suspirou aliviado.
-São onze horas da noite –falou Frank olhando para o relógio –Mais um ou deixa para amanhã?
-Eu acho melhor deixar para amanhã –respondeu Lily –Acho que a história vai começar a piorar e não vamos conseguir dormir sem acabar o livro.
James, Frank e Remus concordaram com ela, e os outros apenas deram de ombros.
Estavam tão cansados que em menos de meia hora todos já haviam apagado; era muita informação para assimilar, afinal.
~ J & L ~
Finalmente passamos do primeiro dia de leitura! Eu sei que parece semanas, mas eles só leram em uma noite (quando chegaram) e durante um dia inteiro.
No próximo capítulo já teremos o segundo dia, onde provavelmente terminarão a leitura deste livro!
Beijos e até mais.