O clima da sala ficou pesado quando o professor saiu. Todos se encararam, sem saber realmente o que dizer. Ainda bem que um livro apareceu na mesinha de centro da sala, acabando com o desconforto.

-Acho que nossa primeira leitura chegou –murmurou Lily, apanhando o livro.

-Como faremos isso? –perguntou Remus –Cada um lê um capítulo?

-Acho melhor, assim ninguém cansa –respondeu Alice.

-Eu também concordo –disse James, olhando para Lily –Evans, já que o livro está com você, quer ser a primeira?

-Pode ser...-respondeu ela, indecisa.

-Na verdade –interrompeu Frank –eu queria começar. Minha curiosidade, pelo menos no primeiro capítulo, não vai se contentar só em ouvir. Você se importa, Lils?

-Não, claro que não. –suspirou aliviada –Não queria ser a primeira mesmo –murmurou para si mesma.

Lily levantou para entregar o livro a Frank e sentou no lugar que o professor estivera anteriormente.

-O nome do livro é Harry Potter e a Pedra Filosofal. –começou Frank, olhando para James.

-Potter? Mas eu sou o último Potter vivo –comentou James, curioso.

-Acho que você reproduziu, Pontas –gargalhou Sirius –James teve um filho!

-Acho que o Almofadinhas tem razão –confirmou Remus –Mas o que ele tem a ver com a pedra filosofal?

-Melhor lermos para descobrir –disse Alice, fazendo sinal para o namorado começar a leitura.

O menino que sobreviveu.

-Sobreviveu? A que? –perguntou Sirius.

-Acho que não saberemos se você continuar interrompendo –disse Snape, friamente. Sirius bufou, se segurando para não responder.

Os outros não disseram nada, estavam curiosos para saber mais da história.

O Sr. e a Sra. Dursley, da rua dos Alfeneiros, no 4, se orgulhavam de dizer que eram perfeitamente normais, muito bem, obrigado. Eram as últimas pessoas no mundo que se esperaria que se metessem em alguma coisa estranha ou misteriosa, porque simplesmente não compactuavam com esse tipo de bobagem.

O Sr. Dursley era diretor de uma firma chamada Grunnings, que fazia perfurações. Era um homem alto e corpulento quase sem pescoço, embora tivesse enormes bigodes. A Sra. Dursley era magra e loura e tinha um pescoço quase duas vezes mais comprido que o normal, o que era muito útil porque ela passava grande parte do tempo espichando-o por cima da cerca do jardim para espiar os vizinhos.

-Lily, você acha que é...? –perguntou Snape, receoso.

-A descrição cabe perfeitamente, mas o que ela estaria fazendo em um livro sobre o filho do Potter? –Lily viu que todos os encaravam com curiosidade –Frank, é melhor você continuar lendo.

Os Dursley tinham um filhinho chamado Dudley, o Duda, e em sua opinião não havia garoto melhor em nenhum lugar do mundo.

Os Dursley tinham tudo que queriam, mas tinham também um segredo, e seu maior receio era que alguém o descobrisse. Achavam que não iriam aguentar se alguém descobrisse a existência dos Potter. A Sra. Potter era irmã da Sra. Dursley,

-NÃO! –gritou Lily, como se estivesse sendo torturada –Não pode ser, não pode ser..

-O que foi? Lily, o que aconteceu? –perguntou Remus, assustado.

-Petúnia, minha irmã, está noiva de Valter Dursley. –murmurou ela em resposta.

-Então você é a senhora Potter? –perguntou Alice, chocada.

-Pelo visto, sim –respondeu olhando de relance para James, esperando um comentário zombeteiro. Este, contudo, não veio.

Percebendo James estranhamente quieto, Sirius pediu para Frank continuar a leitura.

mas não se viam havia muitos anos; na realidade a Sra. Dursley fingia que não tinha irmã,

Lily abaixou a cabeça, segurando as lágrimas. James olhou preocupado para a garota, pensando se podia fazer algo por ela.

Era apaixonado pela garota desde que se conheceram, porém só assumiu isso para si mesmo no ano anterior, depois de tê-la magoado no final do quinto ano. Percebendo que ela já sofrera demais em suas mãos, resolveu falar com ela apenas quando extremamente necessário, deixando-a livre dele.

Contudo, mesmo com o afastamento, esquecer da ruiva era uma tarefa impossível, ele notou. Resolveu então, mesmo sem falar com ela, mudar de atitude. O amadurecimento veio de forma natural para o Maroto, e mesmo que não admitisse, Lily não pôde deixar de perceber a mudança.

Para James, saber que conseguiria conquistá-la, casar com ela e até ter um filho aquecia o seu coração. Porém, ele sabia que fazê-la notar que ele havia mudado não era algo fácil, então preferiu ficar quieto ao invés de provocá-la. Quem sabe, durante a leitura, ela não perceba que gosta dele também?

Snape foi quem menos gostou dessa novidade, e isso é claramente um eufemismo. Sua vontade era de gritar com Lily, afinal, ela se casaria com o garoto que implicava com ele, e o azarava por toda Hogwarts! Não que Severo fosse um santo, muito pelo contrário. A diferença é que ele azarava o Maroto sem que a ruiva tivesse conhecimento. A vontade de espancar Potter ardia nele, "o que esse estúpido, arrogante e imbecil tem para que Lily se apaixone por ele?" se perguntava.

porque esta e o marido imprestável eram o que havia de menos parecido possível com os Dursley. Eles estremeciam só de pensar o que os vizinhos iriam dizer se os Potter aparecessem na rua.

-Não tem nada de errado com os Potter! –exclamou Sirius.

-Nós sabemos, Sirius –murmurou Remus.

Os Dursley sabiam que os Potter tinham um filhinho, também, mas nunca o tinham visto. O garoto era mais uma razão para manter os Potter a distância; eles não queriam que Duda se misturasse com uma criança daquelas.

Lily olhou para James, que sorriu para ela levemente, e ela correspondeu. Snape, porém, não gostou nada daquela troca de olhares.

Quando o Sr. e a Sra. Dursley acordaram na terça-feira monótona e cinzenta em que a nossa história começa, não havia nada no céu nublado lá fora sugerindo as coisas estranhas e misteriosas que não tardariam a acontecer por todo o país. O Sr. Dursley cantarolava ao escolher a gravata mais sem graça do mundo para ir trabalhar e a Sra. Dursley fofocava alegremente enquanto lutava para encaixar um Duda aos berros na cadeirinha alta.

Nenhum deles reparou em uma coruja parda que passou, batendo as asas, pela janela.

Às oito e meia, o Sr. Dursley apanhou a pasta, deu um beijinho no rosto da Sra. Dursley e tentou dar um beijo de despedida em Duda mas não conseguiu, porque na hora Duda estava tendo um acesso de raiva e atirava o cereal nas paredes.

-Que criança horrível! –comentou Alice, horrorizada.

-Espero que Petúnia brigue com ele, ela é fanática por limpeza –falou Lily, quase que eu um sussurro.

Pestinha – disse rindo contrafeito o Sr. Dursley ao sair de casa. Entrou no carro e deu marcha à ré para sair do estacionamento do número quatro.

Foi na esquina da rua que ele notou o primeiro indício de que algo estranho ocorria – um gato lia um mapa. Por um instante o Sr. Dursley não percebeu o que vira – em seguida virou rapidamente a cabeça para dar uma segunda olhada. Havia um gato de listras amarelas sentado na esquina da rua dos Alfeneiros, mas não havia nenhum mapa à vista. Em que estaria pensando naquela hora? Devia ter sido um efeito da luz. Ele piscou e arregalou os olhos para o gato. O gato o encarou. Enquanto virava a esquina e subia a rua, espiou o gato pelo espelho retrovisor. Ele agora estava lendo a placa que dizia rua dos Alfeneiros – não, estava olhando a placa: gatos não podiam ler mapas nem placas.

-É Minerva! –falou Sirius com certeza.

-Concordo! Ela tem essa aparência –explicou James para o resto da sala –e é perfeitamente capaz de ler.

-Ou pode ser um gato qualquer, ué –afirmou Lily. –Não tem como vocês saberem.

-Aposto que é ela, Lily. –Remus disse com convicção –Não tem como não ser.

Lily deu de ombros e Frank voltou a ler.

O Sr. Dursley sacudiu a cabeça e tirou o gato do pensamento. Durante o caminho para a cidade ele não pensou em mais nada exceto no grande pedido de brocas que tinha esperanças de receber naquele dia.

-Que vida mais triste –Alice fez uma careta.

Mas ao sair da cidade, as brocas foram varridas de sua cabeça por outra coisa. Ao parar no costumeiro engarrafamento matinal, não pôde deixar de notar que havia uma quantidade de gente estranhamente vestida andando pelas ruas. Gente com capas largas. O Sr. Dursley não tolerava gente que andava com roupas ridículas – os trapos que se viam nos jovens! Imaginou que aquilo fosse uma nova moda idiota. Tamborilou os dedos no volante e seu olhar recaiu em um grupinho de excêntricos parados bem perto dele. Cochichavam excitados. O Sr. Dursley se irritou ao ver que alguns deles nem eram jovens; ora, aquele homem devia ser mais velho do que ele, e usava uma capa verde-esmeralda! Que petulância!

-Imagino o motivo de estarem sendo tão indiscretos –comentou Remus, pensativo.

-Não deve ter sido à toa –disse Frank –Algo grande deve ter acontecido.

-Tem que ser algo muito grande para saírem na rua sem cuidado nenhum –concordou James.

Mas então ocorreu ao Sr. Dursley que se tratava provavelmente de alguma promoção boba – essas pessoas estavam obviamente arrecadando alguma coisa... é, devia ser isto! O tráfego avançou e alguns minutos depois o Sr. Dursley chegou ao estacionamento da Grunnings, o pensamento de volta às brocas.

O Sr. Dursley sempre sentava de costas para a janela em seu escritório no nono andar. Se não o fizesse, talvez tivesse achado mais difícil se concentrar em brocas aquela manhã. Ele não viu as corujas que voavam velozes em plena luz do dia, embora as pessoas na rua as vissem; elas apontavam e se espantavam enquanto coruja atrás de coruja passava no alto. A maioria jamais vira uma coruja mesmo à noite. O Sr. Dursley, porém, teve uma manhã perfeitamente normal sem corujas. Gritou com cinco pessoas diferentes.

-Eu sei que ele é marido da sua irmã, Lils, mas ele realmente é uma pessoa detestável. –comentou Alice.

-Ah, eu sei muito bem disso. –Lily deu de ombros –Ele chega lá em casa e desrespeita meus pais na maior naturalidade, e Petúnia não fala nada. –suspirou.

James olhou para a ruiva, preocupado. Ela levantou o olhar, sorrindo para ele, como se dissesse que está tudo bem.

Algo diferente passava pela cabeça da ruiva. "Eu me casei com ele, então ele deve ter mudado de alguma forma. Ele não deve ser mais tão detestável assim! Ele parou de me chamar para sair, e eu nunca mais o vi azarando ninguém pelos corredores desde o final do quinto ano. Acho que esse ano eu verei um Potter diferente...".

Deu vários telefonemas importantes e gritou mais um pouco. Estava de excelente humor até a hora do almoço, quando pensou em esticar as pernas e atravessar a rua para comprar um pãozinho doce na padaria defronte.

Esquecera completamente as pessoas de capas até passar por um grupo delas próximo à padaria. Olhou-as com raiva ao passar. Não sabia o porquê, mas elas o deixavam nervoso. Essas cochichavam agitadas, também, mas ele não viu nenhuma latinha de coleta. Foi ao passar por elas, na volta, levando uma grande rosca açucarada em um saco, que entreouviu algumas palavras do que diziam.

... Os Potter, é verdade, foi o que ouvi...

... é, o filho deles, Harry...

-O que aconteceu com a gente? –perguntou James para Lily.

-É uma boa pergunta, mas como Frank disse, tem que ter sido algo grande para os bruxos serem indiscretos assim. –respondeu Lily.

-Você também é uma bruxa –ela o olhou sem entender –é que às vezes você fala como se fosse trouxa. Você é uma de nós.

-É que como eu fico bem no meio dos dois mundos, é confuso me definir como parte só de um.

-Mas você não precisa fazer parte só de um –disse Remus –pode muito bem fazer parte dos dois.

Lily sorriu para ele agradecida.

O Sr. Dursley parou de repente. O medo invadiu-o. Virou a cabeça para olhar as pessoas que cochichavam como se quisesse dizer alguma coisa, mas pensou melhor.

Atravessou a rua depressa, correu para o escritório, disse rispidamente à secretária que não o incomodasse, agarrou o telefone e quase terminara de discar o número de casa quando mudou de ideia. Pôs o fone no gancho e alisou os bigodes, pensando... não, estava agindo como um idiota. Potter não era um nome tão fora do comum assim.

-Na verdade, é sim –disse Sirius.

Tinha certeza de que havia muita gente chamada Potter com um filho chamado Harry. Pensando bem, nem sequer tinha certeza de que o sobrinho tivesse o nome de Harry. Jamais vira o menino. Talvez fosse Ernesto. Ou Eduardo.

-Exatamente, tudo a ver um nome com o outro –murmurou Alice, irônica.

Não tinha sentido preocupar a Sra. Dursley, ela sempre ficava tão perturbada à simples menção da irmã. Não a culpava – se ele tivesse uma irmã como aquela... mas, mesmo assim, aquelas pessoas de capas...

-Não tem nada de errado com Lily –James rosnou raivoso.

-Tá tudo bem, James –respondeu Lily. James arregalou os olhos ao vê-la o chamando pelo primeiro nome. Ela nunca o chamou assim, com tanta intimidade. E sempre que ele a chamava pelo primeiro nome, ela fazia questão de corrigí-lo. –Já estou acostumada.

-Eles não sabem o que estão perdendo por não te terem por perto –disse James, levantando e indo sentar ao lado dela –Você é maravilhosa, e eles são um bando de idiotas por não enxergarem isso.

-James tem razão, Evans –falou Sirius, para a surpresa de todos.

-Obrigada –murmurou envergonhada.

Por mais que estivesse acostumada com o tratamento mesquinho de sua irmã, Lily não pôde deixar de se sentir vulnerável por seus colegas saberem como Petúnia a trata.

Achou bem mais difícil se concentrar nas brocas aquela tarde e, quando deixou o edifício às cinco horas, continuava tão preocupado que deu um encontrão em alguém parado ali à porta.

Desculpe – murmurou, quando o velhinho cambaleou e quase caiu. Levou alguns segundos até o Sr. Dursley perceber que o homem estava usando uma capa roxa. Não parecia nada aborrecido por ter sido quase jogado ao chão. Ao contrário, seu rosto se abriu em um largo sorriso e ele disse numa voz esganiçada que fez os passantes olharem:

Não precisa pedir desculpas, caro senhor, porque nada poderia me aborrecer hoje! Alegre-se, porque Você-Sabe-Quem finalmente foi-se embora!

A sala arfou.

-Voldemort foi embora? Mas...como? –perguntou Frank.

-Eu sinceramente estou com medo de saber como. Estou com um mal pressentimento. –disse Sirius.

-E estarem falando tanto de vocês –Remus disse, olhando para o futuro casal Potter -realmente é preocupante.

Até trouxas como o senhor deviam estar comemorando um dia tão feliz!

E o velho abraçou o Sr. Dursley pela cintura e se afastou.

O Sr. Dursley ficou pregado no chão. Fora abraçado por um completo estranho. E também achava que fora chamado de trouxa, o que quer que isso quisesse dizer. Estava abalado. Correu para o carro e partiu para casa, esperando que estivesse imaginando coisas, o que nunca esperara que fizesse, porque não aprovava a imaginação.

Quando entrou no estacionamento do número quatro, a primeira coisa que viu – e isso não melhorou o seu estado de espírito – foi o gato listrado que notara aquela manhã. Agora ele estava sentado no muro do jardim. Tinha certeza de que era o mesmo; as marcas em volta dos olhos eram as mesmas.

Chispa! – disse o Sr. Dursley em voz alta.

O gato não se mexeu. Apenas lançou-lhe um olhar severo.

-Agora eu concordo com vocês. Mas o que McGonagall está fazendo na frente da casa desses trouxas? –indagou Alice.

-Realmente não faz muito sentido –concordou Lily.

Será que isto era um comportamento normal para um gato?, pensou o Sr. Dursley. Continuava decidido a não comentar nada com a esposa.

A Sra. Dursley tivera um dia normal e agradável. Contou-lhe durante o jantar os problemas da senhora do lado com a filha e ainda que Duda aprendera uma palavra nova ("Nunca"). O Sr. Dursley tentou agir normalmente. Depois que Duda foi se deitar, ele chegou à sala em tempo de ouvir o último noticiário noturno.

"E, por último, os observadores de pássaros em toda parte registraram que as corujas do país se comportaram de forma muito estranha hoje. Embora elas normalmente cacem à noite e raramente apareçam à luz do dia, centenas desses pássaros foram vistos hoje voando em todas as direções desde o alvorecer. Os especialistas não sabem explicar por que as corujas de repente mudaram o seu padrão de sono." O locutor se permitiu um sorriso. "Muito misterioso. E agora, com Jorge Mendes, o nosso boletim meteorológico. Vai haver mais tempestades de corujas hoje à noite, Jorge?"

"Bom, Eduardo", disse o meteorologista, "não sei lhe dizer, mas foram só as corujas que se comportaram de modo estranho hoje. Ouvintes de todo o país têm telefonado para reclamar que em vez do aguaceiro que prometi para ontem, eles têm tido chuvas de estrelas! Talvez alguém ande festejando a noite das fogueiras uma semana mais cedo este ano! Mas posso prometer para hoje uma noite chuvosa."

O Sr. Dursley ficou paralisado na poltrona. Estrelas cadentes em todo o país? Corujas voando durante o dia? Gente misteriosa usando capas por todo lado? E um cochicho, um cochicho a respeito dos Potter...

-Realmente tem algo muito estranho nisso tudo –concordou Sirius.

A Sra. Dursley entrou na sala trazendo duas xícaras de chá. Não adiantava. Teria que lhe dizer alguma coisa. Pigarreou nervoso.

Hum, hum, Petúnia, querida, você não tem tido notícias de sua irmã, ultimamente?

Conforme esperava, a Sra. Dursley pareceu chocada e aborrecida. Afinal, normalmente fingiam que ela não tinha irmã...

Lily abaixou a cabeça entristecida...tinha esperanças de que sua irmã voltasse a falar com ela um dia, mas pelo visto, não iria acontecer.

James viu o estado de Lily ao seu lado e sentiu que precisava fazer algo, mas não sabia o que. Tinha medo de fazer algo que a deixasse aborrecida, não sabia quais eram seus limites.

Com o coração acelerado, e com medo de como ela poderia reagir, chegou mais perto dela e pegou sua mão, acariciando. Lily assustou inicialmente, estivera tão preza em pensamentos que não notou que James se aproximara. Normalmente ela faria um escândalo, mas agora, era isso que ela precisava. Deitou a cabeça no ombro dele, e o garoto mal conseguiu acreditar que ela permitiu que ele a consolasse.

Snape olhou a cena de sua poltrona.

Não – respondeu ela, seca. – Por quê?

Uma notícia engraçada – murmurou o Sr. Dursley. – Corujas... estrelas cadentes... e vi uma porção de gente de aparência estranha na cidade hoje...

E daí? – cortou a Sra. Dursley.

Bem, pensei... talvez... tivesse alguma ligação com... sabe... o pessoal dela.

-Não há nada de errado conosco –murmurou Sirius, nervoso.

A Sra. Dursley bebericou o chá com os lábios contraídos. O Sr. Dursley ficou em dúvida se teria coragem de lhe contar que ouvira o nome "Potter". Decidiu que não.

-Esse é corajoso, hein –riu Alice.

Em vez disso, falou com a voz mais displicente que pôde:

O filho deles... teria mais ou menos a idade do Duda agora, não?

Suponho que sim – respondeu a Sra. Dursley, ainda seca.

Como é mesmo o nome dele? Ernesto, não é?

Harry. Um nome feio e vulgar, se quer saber minha opinião.

-Ah, claro. Com certeza Dudley é mais bonito –disse Remus sarcástico.

Ah, é – disse o Sr. Dursley, sentindo um aperto horrível no coração. – É, concordo com você.

Não disse mais nenhuma palavra sobre o assunto a caminho do quarto onde foram se deitar. Enquanto a Sra. Dursley estava no banheiro, o Sr. Dursley foi devagarinho até a janela e espiou o jardim da casa. O gato continuava lá. Observava o começo da rua dos Alfeneiros como se esperasse alguma coisa.

-Ela deve estar mesmo. McGonagall não ficaria o dia inteiro na frente da casa desses idiotas sem motivo. –concordou Frank.

Estaria imaginando coisas? Será que tudo isso teria ligação com os Potter? Se tinha... se transpirasse que eram aparentados com um casal de... bem ele achava que não aguentaria.

Os Dursley se deitaram. A Sra. Dursley adormeceu logo, mas o Sr. Dursley continuou acordado, pensando no que acontecera. Seu último consolo antes de adormecer foi pensar que mesmo que os Potter estivessem envolvidos, não havia razão para se aproximarem dele e da Sra. Dursley. Os Potter sabiam muito bem o que pensavam deles e de gente de sua laia... Não via como ele e Petúnia poderiam se envolver com nada que estivesse acontecendo. O Sr. Dursley bocejou e se virou. Isso não poderia afetá-los...

Como estava enganado.

Lily gemeu baixinho.

-Eu tenho até medo de saber o que aconteceu.

-Eu também...não deve ser boa coisa –James concordou com a ruiva, continuando a fazer carinho em sua mão.

O Sr. Dursley talvez estivesse mergulhando em um sono inquieto, mas o gato no muro lá fora não mostrava sinais de sono. Continuava sentado imóvel como uma estátua, os olhos fixos na esquina mais distante da rua dos Alfeneiros. E nem sequer estremeceu quando uma porta de carro bateu na rua seguinte, nem mesmo quando duas corujas mergulharam do alto. Na verdade, era quase meia-noite quando o gato se mexeu.

-Acho que não restam dúvidas que é Minerva –falou Alice, suspirando.

Um homem apareceu na esquina que o gato estivera vigiando. Apareceu tão súbita e silenciosamente que se poderia pensar que tivesse saído do chão. O rabo do gato mexeu ligeiramente e seus olhos se estreitaram.

Ninguém jamais vislumbrara nada parecido com este homem na rua dos Alfeneiros. Era alto, magro e muito velho, a julgar pelo prateado dos seus cabelos e de sua barba, suficientemente longos para prender no cinto. Usava vestes longas, uma capa púrpura que arrastava pelo chão e botas com saltos altos e fivelas. Seus olhos azuis eram claros, luminosos e cintilantes por trás dos óculos em meia-lua e o nariz muito comprido e torto, como se o tivesse quebrado pelo menos duas vezes.

-Definitivamente isso está muito esquisito. O que eles estavam fazendo na rua desses trouxas? –perguntou Sirius, mas ninguém sabia a resposta.

O nome dele era Albus Dumbledore.

Albus Dumbledore não parecia ter consciência de que acabara de pisar numa rua onde tudo, desde o seu nome às suas botas era malvisto. Estava ocupado apalpando a capa, procurando alguma coisa. Mas parecia ter consciência de que estava sendo vigiado, porque ergueu a cabeça de repente para o gato, que continuava a fixá-lo da outra ponta da rua. Por algum motivo, a visão do gato pareceu diverti-lo. Deu uma risadinha e murmurou: "Eu devia ter imaginado." Encontrou o que procurava no bolso interior da capa. Parecia um isqueiro de prata. Abriu-o, ergueu-o no ar e o acendeu. O lampião de rua mais próximo apagou-se com um estalido seco. Ele o acendeu de novo – o lampião seguinte piscou e apagou, doze vezes ele acionou o "apagueiro", até que as únicas luzes acesas na rua toda eram dois pontinhos minúsculos ao longe – os olhos do gato que o vigiava. Se alguém espiasse pela janela agora, até a Sra. Dursley, de olhos de contas, não conseguiria ver nada que estava acontecendo na calçada. Dumbledore tornou a guardar o "apagueiro" na capa e saiu caminhando pela rua em direção ao número quatro, onde se sentou no muro ao lado do gato. Não olhou para o bicho, mas, passado algum tempo, dirigiu-se a ele.

Imaginei encontrar a senhora aqui, Profa. Minerva McGonagall.

E virou-se para sorrir para o gato, mas este desaparecera. Em vez dele, viu-se sorrindo para uma mulher de aspecto severo que usava óculos de lestes quadradas exatamente do formato das marcas que o gato tinha em volta dos olhos. Ela, também, usava uma capa esmeralda. Trazia os cabelos negros presos num coque apertado. E parecia decididamente irritada.

Como soube que era eu? – perguntou.

Minha cara professora, nunca vi um gato se sentar tão duro.

A sala explodiu em risadas. Até mesmo Snape se permitiu dar uma risadinha.

O senhor estaria duro se tivesse passado o dia todo sentado em um muro de pedra – respondeu a Profa. Minerva.

O dia todo? Quando podia estar comemorando? Devo ter passado por mais de dez festas e banquetes a caminho daqui.

A professora fungou aborrecida.

Ah, sim, vi que todos estão comemorando – disse impaciente. – Era de esperar que fossem um pouco mais cautelosos, mas não, até os trouxas notaram que alguma coisa estava acontecendo. Deu no telejornal. – Ela indicou com a cabeça a sala às escuras dos Dursley. – Eu ouvi... bandos de corujas... estrelas cadentes... Ora, eles não são completamente idiotas. Não podiam deixar de notar alguma coisa. Estrelas cadentes em Kent, aposto que foi coisa do Dédalo Diggle. Ele nunca teve muito juízo.

Você não pode culpá-los – ponderou Dumbledore educadamente. – Temos tido muito pouco o que comemorar nos últimos onze anos.

-Onze anos? –murmurou James para si mesmo –Isso quer dizer que o livro está se passando em 1981. E se eu já tenho um filho, quer dizer que eu fui pai cedo.

-É verdade –concordou Lily –Acho que sairemos de Hogwarts e já iremos nos casar, afinal com 21 anos já temos um bebê.

-Vocês realmente se casam muito cedo –interferiu Sirius, olhando para os dois horrorizado –Prongs, você nem vai aproveitar a vida!

-Cala a boca, Pads –repreendeu Remus, dando um tapa na cabeça do amigo.

Sei disso – retrucou a professora mal-humorada. – Mas não é razão para perdermos a cabeça. As pessoas estão sendo completamente descuidadas, saem às ruas em plena luz do dia, sem nem ao menos vestir roupa de trouxa, e espalham boatos.

De esguelha, lançou um olhar atento a Dumbledore, como se esperasse que ele dissesse alguma coisa, mas ele continuou calado, por isso ela recomeçou:

Ia ser uma graça se, no próprio dia em que Você-Sabe-Quem parece ter finalmente ido embora, os trouxas descobrissem a nossa existência. Suponho que ele realmente tenha ido embora, não é, Dumbledore?

Parece que não há dúvida. Temos muito o que agradecer. Aceita um sorvete de limão?

-Ele nem muda de assunto rapidamente, não –Remus revirou os olhos.

Um o quê?

Um sorvete de limão. É uma espécie de doce dos trouxas de que sempre gostei muito.

-Não posso culpá-lo, é realmente uma delícia –concordou Lily.

-Quero experimentar um dia –disse James, salivando.

-Eu te levo um dia. –riu Lily.

Todos na sala olhavam curiosos para aquela amistosa comunicação. Lily e James sempre brigavam um com o outro, no mínimo uma vez ao dia. Tudo começou com a implicância de Prongs com o Severo, que era melhor amigo de Lily. Era uma implicância mútua, é claro. Os dois vivam se azarando pelos corredores da escola, e James em várias situações fez Snape sofrer humilhações na frente de toda a escola. Lily, é claro, defendia seu amigo e passou então a detestar James.

Porém, o Maroto passou a se interessar em Lily com o tempo. Sua beleza era notável, tinha longos e ondulados cabelos ruivos, e olhos verdes, mas não era só isso que fez James querer algo com ela. Ela era simpática, amável, inteligentíssima e divertida. Obviamente, não com ele. Porém, James resolveu tentar mesmo assim...chamou-a para sair e ela o recusou.

Prongs nunca teve seu orgulho tão ferido assim, então passou a tratá-la como um desafio. Ia para cima e para baixo atrás dela, lançando cantadas baratas e chamando-a para sair incansavelmente. Os gritos de Lily eram ouvidos por toda a escola.

No sexto ano em Hogwarts, entretanto, James resolveu parar. Parou de perseguí-la, de chama-la para sair e começou a trata-la como alguém...insignificante. Ele finalmente tinha começado a amadurecer.

Não, obrigada – disse a Profa. Minerva com frieza, como se não achasse que o momento pedia sorvetes de limão. – Mesmo que Você-Sabe-Quem tenha ido embora.

Minha cara professora, com certeza uma pessoa sensata como a senhora pode chamá-lo pelo nome. Toda essa bobagem de Você-Sabe-Quem, há onze anos venho tentando convencer as pessoas a chamá-lo pelo nome que recebeu: Voldemort.

-O medo de um nome só faz aumentar o medo da própria coisa –disseram os Marotos em uníssino.

Snape bufou e revirou os olhos.

A professora franziu o rosto, mas Dumbledore, que estava separando dois sorvetes de limão, pareceu não reparar. – Tudo fica tão confuso quando todos não param de dizer "Você-Sabe-Quem". Nunca vi nenhuma razão para ter medo de dizer o nome de Voldemort.

Sei que não vê – disse a professora parecendo meio exasperada, meio admirada. – Mas você é diferente. Todo o mundo sabe que é o único de quem Você-Sabe... ah, está bem, de quem Voldemort tem medo.

Isto é um elogio – disse Dumbledore calmamente. – Voldemort tinha poderes que nunca tive.

-Claro, você é muito decente para usá-los. –afirmou Alice.

Só porque você é muito... bem... nobre para usá-los.

É uma sorte estar escuro. Nunca mais corei assim desde que Madame Pomfrey me disse que gostava dos meus abafadores de orelhas novos.

-Eu poderia morrer sem essa informação. –gemeu James.

A Profa. Minerva lançou um olhar severo a Dumbledore e disse:

As corujas não são nada comparadas aos boatos que correm. Sabe o que todos estão dizendo? Por que ele foi embora? Que foi que finalmente o deteve?

-Aleluia vão esclarecer isso. –animou-se Frank.

Aparentemente a Profa. Minerva chegara ao ponto que estava ansiosa para discutir, a verdadeira razão pela qual estivera esperando o dia todo em cima de um muro frio e duro, porque nem como gato nem como mulher ela fixara antes um olhar tão penetrante em Dumbledore como agora. Era óbvio que seja o que fosse que "todos" estavam dizendo, ela não iria acreditar até que Dumbledore confirmasse ser verdade. Dumbledore, porém, estava escolhendo mais um sorvete de limão e não respondeu.

O que estão dizendo – continuou ela – é que a noite passada Voldemort apareceu em Godric's Hollow. Foi procurar os Potter. O boato é que Lily e James Potter estão... estão... que estão... mortos.

A sala arfou. Logo em seguida, foi tomada por um silêncio profundo.

-Nós morremos. –Lily disse para James, chorosa.

-Nós morremos. –James não podia acreditar nisso. Claro que sabia que não era imortal, mas ainda assim, tinha esperança de que pudesse sobreviver à guerra.

-Não, eu não vou permitir –gritou Sirius –Eu não vou deixar. Não vai acontecer.

-Sirius –Remus colocou a mão em seu ombro –estamos aqui justamente para mudar isso. Não vai acontecer, ok? Não vai –murmurou olhando para o casal.

O resto dos participantes do grupo não se sentiram confortáveis para comentar algo, embora estivessem tão desolados quanto os outros.

Dumbledore fez que sim com a cabeça. A Profa. Minerva perdeu o fôlego.

Lily e James... Não posso acreditar... Não quero acreditar... Ah, Albus.

-Pelo menos eu sei que professora se importa com a gente –James tentou amenizar o clima da sala.

Dumbledore estendeu a mão e deu-lhe um tapinha no ombro.

Eu sei... eu sei... – disse deprimido.

A voz da Profa. Minerva tremeu ao prosseguir:

E não é só isso. Estão dizendo que ele tentou matar o filho dos Potter, Harry. Mas... não conseguiu. Não conseguiu matar o garotinho. Ninguém sabe o porquê nem como, mas estão dizendo que na hora que não pôde matar Harry Potter, por alguma razão, o poder de Voldemort desapareceu, e é por isso que ele foi embora.

-Como Voldemort não conseguiu matar uma criança? –perguntou Frank, inconformado.

-Não faz sentido nenhum. É só um bebê –murmurou Snape.

Dumbledore concordou com a cabeça, sério.

É... é verdade? – gaguejou a professora. – Depois de tudo o que ele fez... todas as pessoas que matou... não conseguiu matar um garotinho? É simplesmente espantoso... de tudo que poderia detê-lo... mas, por Deus, como foi que Harry sobreviveu?

-É uma ótima pergunta –concordou Lily.

Só podemos imaginar – disse Dumbledore. – Talvez nunca cheguemos a saber.

A Profa. Minerva pegou um lenço de renda e secou com delicadeza os olhos por baixo das lentes dos óculos. Dumbledore deu uma grande fungada ao mesmo tempo que tirava o relógio de ouro do bolso e o examinava. Era um relógio muito estranho. Tinha doze ponteiros mas nenhum número; em vez deles, pequenos planetas giravam à volta. Mas devia fazer sentido para Dumbledore, porque ele o repôs no bolso e disse:

-Tem coisas que só fazem sentido para Dumbledore –riu Alice, tentando amenizar a situação. Não funcionou.

Hagrid está atrasado. A propósito, foi ele que lhe disse que eu estaria aqui, suponho.

Foi. E suponho que você não vá me dizer por que está aqui e não em outro lugar.

Vim trazer Harry para o tio e a tia. Eles são a única família que lhe resta.

-O quê? Como ele pôde sequer cogitar deixar o meu filho nas mãos desses babacas? –gritou Lily, se levantando –Eu não acredito! Não é possível que Harry não tenha ninguém!

-Lils –chamou James, se aproximando dela –eu também odeio a ideia de Harry morar com eles. Odeio mesmo! Não posso nem imaginar o que vão fazer com nosso filho –ele segurou as mãos dela –mas vamos ver o que vai acontecer. Vem cá –puxou ela para sofá e a abraçou –De qualquer forma, vamos sobreviver, e vamos mudar isso.

O restante da sala os observou em silêncio. Snape apertava os punhos.

Você não quer dizer, você não pode estar se referindo às pessoas que moram aqui?! – exclamou a Profa. Minerva, pulando de pé e apontando para o número quatro. – Dumbledore, você não pode. Estive observando a família o dia todo. Você não poderia encontrar duas pessoas menos parecidas conosco. E têm um filho, vi-o dando chutes na mãe até a rua, berrando porque queria balas. Harry Potter vir morar aqui!

É o melhor lugar para ele – disse Dumbledore com firmeza. – Os tios poderão lhe explicar tudo quando ele for mais velho, escrevi-lhes uma carta.

Uma carta? – repetiu a professora com a voz fraca, sentando-se novamente no muro. – Francamente, Dumbledore, você acha que pode explicar tudo isso em uma carta?

-Por que Dumbledore está fazendo isso com Harry? Uma carta para Petúnia? Ela não vai entender! –choramingou Lily, abraçada a James.

-Realmente não faz sentido. E não sei por qual motivo ele se assumiu como responsável pelo futuro de Harry –James disse, com raiva –Ele não pode tomar as rédeas assim, não diz respeito a ele. Tenho certeza que Sirius seria a melhor opção para Harry.

-Também acho –concordou Remus –Não faz sentido Dumbledore tirar Harry de Sirius. A não ser que...

-Que eu já esteja morto –terminou Sirius. O clima na sala ficou ainda mais sombrio.

Essas pessoas jamais vão entendê-lo! Ele vai ser famoso, uma lenda. Eu não me surpreenderia se o dia de hoje ficasse conhecido no futuro como o dia de Harry Potter. Vão escrever livros sobre Harry. Todas as crianças no nosso mundo vão conhecer o nome dele!

Exatamente – disse Dumbledore, olhando muito sério por cima dos óculos de meia-lua. – Isto seria o bastante para virar a cabeça de qualquer menino. Famoso antes mesmo de saber andar e falar! Famoso por alguma coisa que ele nem vai se lembrar! Você não vê que ele estará muito melhor se crescer longe de tudo isso até que tenha capacidade de compreender?

A professora abriu a boca, mudou de ideia, engoliu em seco e então disse:

É, é, você está certo, é claro. Mas como é que o garoto vai chegar aqui, Dumbledore? – Ela olhou para a capa dele de repente como se lhe ocorresse que talvez escondesse Harry ali.

Hagrid vai trazê-lo.

Você acha que é sensato confiar a Hagrid uma tarefa importante como esta?

-Eu confiaria minha vida a Hagrid –disse Lily.

Eu confiaria a Hagrid minha vida – respondeu Dumbledore.

Não estou dizendo que ele não tenha o coração no lugar – concedeu a professora de má vontade –, mas você não pode fingir que ele é cuidadoso. Que tem uma tendência a... que foi isso?

Um ronco discreto quebrara o silêncio da rua. Foi aumentando cada vez mais enquanto eles olhavam para cima e para baixo da rua à procura de um sinal de farol de carro; o ronco se transformou num trovão quando os dois olharam para o céu – e uma enorme motocicleta caiu do ar e parou na rua diante deles.

Os olhos de Sirius brilharam. Remus e James riram da cara dele.

Se a motocicleta era enorme, não era nada comparada ao homem que a montava de lado. Ele era quase duas vezes mais alto do que um homem normal e pelo menos cinco vezes mais largo. Parecia simplesmente grande demais para existir e tão selvagem – emaranhados de barba e cabelos negros longos e grossos escondiam a maior parte do seu rosto, as mãos tinham o tamanho de uma lata de lixo e os pés calçados com botas de couro pareciam filhotes de golfinhos. Em seus braços imensos e musculosos ele segurava um embrulho de cobertores.

Hagrid! – exclamou Dumbledore, parecendo aliviado. – Finalmente. E onde foi que arranjou a moto?

Pedi emprestada, Prof. Dumbledore – respondeu o gigante, desmontando cuidadosamente da moto ao falar. – O jovem Sirius me emprestou. Trouxe ele, professor.

-O que? Eu estou vivo e não fiquei com a guarda de Harry? –gritou Sirius, indignado.

-Eu tenho certeza que deve ter um motivo para isso –murmurou Remus, tentando acreditar nas próprias palavras.

-Dumbledore passou dos limites tirando Harry de você –comentou Lily. Todos a olharam com espanto –O que? Fala sério, eu sei que Sirius cuidaria muito bem de Harry. E eu sei que ele o ama. Sei também que a nossa escolha –olhou para James –é deixar Sirius com o nosso filho.

Lily falava "nosso filho" com uma naturalidade que deixou Severo irado.

-Acho que eu não gosto de Dumbledore tanto assim agora –resmungou James audivelmente.

Não teve nenhum problema?

Não, senhor. A casa ficou quase destruída, mas consegui tirá-lo inteiro antes que os trouxas invadissem o lugar. Ele dormiu quando estávamos sobrevoando Bristol.

Dumbledore e a Profa. Minerva curvaram-se para o embrulho de cobertores. Dentro, apenas visível, havia um menino, que dormia a sono solto. Sob uma mecha de cabelos muito negros caída sobre a testa eles viram um corte curioso, tinha a forma de um raio.

Foi aí que...? – sussurrou a professora.

Foi – confirmou Dumbledore. – Ficará com a cicatriz para sempre.

Será que você não poderia dar um jeito, Dumbledore?

Mesmo que pudesse, eu não o faria. As cicatrizes podem vir a ser úteis. Tenho uma acima do joelho esquerdo que é um mapa perfeito do metrô de Londres.

-Eu também não precisava dessa informação –resmungou Frank.

Bem, me dê ele aqui, Hagrid, é melhor acabarmos logo com isso.

Dumbledore recebeu Harry nos braços e virou-se para a casa dos Dursley.

Será que eu podia... podia me despedir dele, professor? – perguntou Hagrid.

Ele curvou a enorme cabeça descabelada para Harry e lhe deu o que deve ter sido um beijo muito áspero e peludo. Depois, sem aviso, Hagrid soltou um uivo como o de um cachorro ferido.

-Eu realmente amo Hagrid. Precisamos agradecê-lo por se importar tanto com o nosso menino depois. –disse James, enquanto fazia cafuné em Lily.

Psiu! – sibilou a Profa. Minerva. – Você vai acordar os trouxas!

Des-des-desculpe – soluçou Hagrid, puxando um enorme lenço sujo e escondendo a cara nele. – Mas nã-nã-não consigo suportar, Lily e James mortos, e o coitadinho do Harry ter de viver com os trouxas...

É, é, é muito triste, mas controle-se, Hagrid, ou vão nos descobrir – sussurrou a professora, dando uma palmadinha desajeitada no braço de Hagrid enquanto Dumbledore saltava a mureta de pedra e se dirigia à porta da frente. Depositou Harry devagarinho no batente, tirou uma carta da capa, meteu-a entre os cobertores do menino e, em seguida, voltou para a companhia dos dois. Durante um minuto inteiro os três ficaram parados olhando para o embrulhinho; os ombros de Hagrid sacudiram, os olhos da Profa. Minerva piscaram loucamente e a luz cintilante que sempre brilhava nos olhos de Dumbledore parecia ter-se extinguido.

Bem – disse Dumbledore finalmente –, acabou-se. Não temos mais nada a fazer aqui. Já podemos nos reunir aos outros para comemorar.

É – disse Hagrid com a voz muito abafada. – Vou devolver a moto de Sirius. Boa-noite, Profa. Minerva, Professor Dumbledore...

-O lado bom disso tudo é que eu finalmente vou conseguir ter a minha moto –riu Sirius.

Enxugando os olhos na manga da jaqueta, Hagrid montou na moto e acionou o motor com um pontapé; com um rugido ela levantou voo e desapareceu na noite.

Nos veremos em breve, espero, Profa. Minerva – falou Dumbledore, com um aceno da cabeça. A Profa. Minerva assoou o nariz em resposta.

Dumbledore se virou e desceu a rua. Na esquina parou e puxou o "apagueiro". Deu um clique e doze esferas de luz voltaram aos lampiões de modo que a rua dos Alfeneiros de repente iluminou-se com uma claridade laranja e ele divisou o gato listrado se esquivando pela outra ponta da rua. Mal dava para enxergar o embrulhinho de cobertores no batente do número quatro.

Boa sorte, Harry – murmurou ele. Girou nos calcanhares e, com um movimento da capa, desapareceu.

-Ele deixou Harry com bebê no meio da noite na porta de uma casa? Ele quer matar meu filho? Dumbledore é louco. –gritou Lily, histérica.

-Foi uma completa falta de responsabilidade mesmo –concordou Remus.

Uma brisa arrepiou as cercas bem cuidadas da rua dos Alfeneiros, silenciosas e quietas sob o negror do céu, o último lugar do mundo em que alguém esperaria que acontecessem coisas espantosas. Harry Potter virou-se dentro dos cobertores sem acordar. Sua mãozinha agarrou a carta ao lado, mas ele continuou a dormir, sem saber que era especial, sem saber que era famoso, sem saber que iria acordar dentro de poucas horas com o grito da Sra. Dursley ao abrir a porta da frente para pôr as garrafas de leite do lado de fora, nem que passaria as próximas semanas levando cutucadas e beliscões do primo Duda... ele não podia saber que, neste mesmo instante, havia pessoas se reunindo em segredo em todo o país que erguiam os copos e diziam com vozes abafadas:

A Harry Potter: o menino que sobreviveu!

-Acabou o primeiro capítulo –falou Frank.

-Acho que foi muita coisa para assimilar, né? –murmurou James –Vamos dar uma pequena pausa –disse olhando para Lily. –Quer conversar sobre isso?

-Eu...não sei –murmurou.

Notando que era uma conversa íntima, todos saíram do cômodo para lhes dar um pouquinho de privacidade.

-Eu sei que você me detesta, e eu não espero que a leitura desses livros te façam mudar de ideia.

-James, eu...eu realmente te detestava. –riu fraquinho –mas eu não te vejo mais dessa forma. Desde o ano passado eu notei que você amadureceu bastante –ele sorriu –mas eu não estou pronta para avançar.

-Eu sei. Tudo bem, faça isso no seu tempo. –suspirou.

-Eu não quero casar com você porque eu estou lendo que vou casar –murmurou –eu quero me casar com você por te amar. Eu não quero me sentir obrigada a fazer algo contra a minha vontade –ele abriu a boca –eu sei que você não me forçaria –riu –mas eu realmente preciso de um tempo para conseguir te amar da forma que você merece.

-Eu entendo –sorriu –Obrigado por ser sincera comigo. Mas, por favor, quando você estiver pronta, me conta.

-Vai ser o primeiro a saber –sorriu suavemente. –E obrigada por estar comigo na leitura do livro. Eu sei que também não é fácil para você, mas eu fico feliz que você esteja comigo. Eu não poderia suportar isso tudo sozinha. –ele acariciou o rosto dela.

-Lily Evans, me escute bem –ele olhou sério para ela –Você nunca, nunca, estará sozinha. Eu vou estar sempre aqui pra você.

Ela sorriu sem graça e disse que a recíproca é verdadeira. Logo depois, todos voltaram para a sala para a leitura do próximo capítulo.

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E aí? O que estão achando? Deixem um review para eu saber a opinião de vocês! Quero fazer um James mais maduro nessa fanfic, mostrando que amadureceu e que está disposto a mudar por Lily.

Peço perdão aos fãs de Snape, pois não irei fazê-lo bonzinho e injustiçado por aqui porque eu sei que ele não é. E eu realmente o detesto! Perdão se eu for injusta com ele de alguma forma, ok?

Quero colocar a lealdade a Dumbledore em dúvida também. Eu tenho certeza que ele é um bruxo fantástico e um gênio, mas acho que muitas vezes ele simplesmente esquece que as pessoas tem sentimento e as manipula da forma que ele quer. Acho que é um fardo que ele leva pela sua inteligência, né?

Enfim, me mandem reviews e até mês que vem! Me sigam no Twitter caso queiram falar comigo diretamente: lilsruiva.