Nota: Olá outra vez. Tempos estranhos estes em que vivemos. Decidi traduzir os meus fics de Arcane porque sim.

Aviso: violência, linguagem. Menções de jilco com resultados violentos, por isso se gostam desse par este fic não é para vocês.

Nota pt-pt para pt-br:

- não sei se a expressão 'na toca do lobo' é usada em pt-br?
- chembarons foi deixado assim nas legendas pt-pt, não sei se na dobragem/dublagem pt-br têm outro nome
- Enforcers é esbirros em pt-pt mas é uma palavra estranha por isso deixo em inglês
- 'estás a gozar' é o mesmo que 'está-me zoando', não tem o significado que tem em pt-br
- 'miúda' é o mesmo que guria/garota. 'Rapariga' é o mesmo que 'moça', não tem o significado que tem em pt-br

Disclaimer: I wish I owned just a fraction of the genius storytelling of Arcane. Wish it could rub off by just admiring. Unfortunately, I do not and it does not.

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Sevika nunca tinha gostado de Jinx. Nunca gostou, nunca ia gostar.

Não tinha problema absolutamente nenhum com isso. Não precisava de gostar dela.

Não confiava em Jinx. Demasiado instável, demasiado imprevisível. Isso era um problema, e um problema real para Silco, para Sevika, para a organização inteira, e por extensão, para toda Zaun. Uma única miúda maluca podia prejudicar tanta coisa.

Mas Silco gostava dela. Era a filha dele. Não era preciso vê-los juntos muitas vezes para se perceber, e tendo a posição que Sevika tinha, sabia melhor do que a maioria o quão verdade aquilo era. Mais do que passar o pano nas asneiras da miúda, eram as pequeninas coisas: a paciência que ele tinha para alguns dos maiores episódios de birras infantis dela. As traquitanas feias e bugigangas pintadas que Silco guardava de que ninguém a não ser um pai ia querer saber. Como ele nunca se esquecia de procurar ele próprio tralha e sucata inútil para a miúda desmanchar e brincar.

Por ela, tudo bem. Apesar de acabar por lhe cair em cima a responsabilidade de controlar os danos mais vezes do que não, e apesar de achar que era um risco acrescido de muitas formas, atirar uma filha bomba-relógio para um negócio que já tinha problemas suficientes, Sevika respeitava Silco e por extensão como ele geria as coisas. Por enquanto.

Falando do diabo, pensou ela ao apanhar de relance o cabelo azul brilhante a saltitar, a sua dona serpenteando pelas mesas e pessoas no The Last Drop. Jinx estava a ficar alta muito depressa; outro pensamento que lhe atravessou a mente.

- Olha, lá vai ela - alguém atrás de Sevika disse.

- Fedelha maluca - acrescentou outra voz.

Sevika teria prestado pouca atenção à cuspidela para o ar casual se não estivesse a olhar na direcção de Jinx e não tivesse somado dois mais dois sem qualquer esforço. Inclinou-se no banco e acendeu um charuto.

- Como é que ela 'tá sequer connosco? Quem é que a 'tá a encobrir?

- 'Tás a falar a sério? Quem é que achas? É o próprio chefe.

- Não pensei que isso fosse a sério, pensei que era só um rumor.

- Um rumor uma merda.

- Pois os padrões deles é que são uma merda. Tens a certeza que estes é que são os tipos grandes?

- Podes crer.

As vozes eram claras o suficiente mesmo sob a música, mas apenas com isso Sevika não os conseguiu reconhecer, o que provavelmente significava que eram rufias que se tinham acabado de juntar. Deixando a sua vigia de Jinx, voltou a cabeça para a mesa atrás de si. Yá, novatos, já nem perto de serem adolescentes e crescidinhos o suficiente para saberem que não deviam cortar na casaca tão despreocupadamente, ainda por cima na toca do lobo. A mulher e um dos homens usavam cristas mal cortadas enquanto que o outro tipo tinha uma careca coberta de tatuagens, e estavam todos a inalar Shimmer. Com os números a crescer, Sevika não supervisionava todos os novos membros que se lhes juntavam, e só tinha visto estes de longe; e agora aqui. Escusado será dizer que não estava impressionada.

- Se for mandado p'a alguma missão com aquela maluca, demito-me - disse um dos homens.

- Se ela tem as costas quentes pelo chefão, duvido que vá ser mandada para onde quer que seja contigo, Zo - aquilo foi a mulher a falar.

- Bem, se ela for mandada 'tar comigo eu dava-lhe a volta à loucura, se é que me entendem - disse o outro tipo com um riso obsceno, fazendo Sevika revirar os olhos involuntariamente. Este tipo de pulhas eram facilmente subornados, sinceramente, mesmo nesta Zaun-pós-Vander onde Silco se estava a tornar o de-facto líder e a quem quer os actuais chembarons quer os aspirantes prestavam contas. Mais uma vez, por enquanto. Mas tinham os seus usos, mais que não fosse para servirem de bodes expiatórios para negócios com aquele Enforcer convencido como a porra, por exemplo. Carne para canhão de mais do que uma maneira, e pareciam mesmo desejosos de descobrirem mais formas de serem descartáveis.

- Ah, azar, ela tem dono.

- Oh? Achas que não consigo safar-me?

- Foda-se, és cego, Tee? O chefe é dono dela.

- O quê? 'Tás a falar a sério? - o tipo Zo perguntou, e sinceramente expressou os pensamentos de Sevika em voz alta. - 'Tás a gozar. Achei que isso era um rumor.

- 'Tou-te a dizer! É por isso que ela anda por aqui - declarou a mulher. Desde quando é que aquilo se tornara um rumor? Silco ia ficar zangado. Tipo, zangado.

- Ela tem tipo idade p'a ser filha dele ou sei lá - disse o outro tipo, Tee. - Sortudo do caralho!

- Ugh, Tee, a sério.

- Fala por ti, 'ugh'! Eu cá gostava de ter um esquema desses.

A conversa começara por se perguntarem se a organização a que se tinham juntado tinha bons padrões, e agora era Sevika quem se perguntava isso. A sério.

- Yá, bem, não com aquela. Tem dono.

- Mas tens a certeza? É que agora 'tás a fazê-lo soar mesmo apetecível.

- Quero dizer, não viste como é que eles se comportam ao pé um do outro? Ele anda a comê-la.

- Têm-na encoberta e com as costas quentes, hã? Wo-hooo martelar a maluca!

Sevika grunhiu, dando uma longa passa no charuto para aclarar as ideias ao levantar-se do lugar. Quer ela quer Silco sabiam que as pessoas falavam merda nas costas uns dos outros, e nenhum dos dois se importava muito com serem alvos de coscuvilhices ou assim. Não tinham de gostar todos uns dos outros; porra, ela era a primeira na linha dos que não gostavam de Jinx e o próprio Silco sabia, mas ela respeitava como as coisas eram. Há uma diferença entre não gostar de alguém e desrespeitar a pessoa, e enquanto número dois, Sevika só sentia a obrigação moral de relembrar o pessoal a ter a decência (leia-se: auto-preservação) de não desrespeitarem publicamente, especialmente perto dela, se não tencionassem receber um carinho a alta velocidade de um punho de metal. Era bom practicar e manter o respeito.

Mas isto era muito diferente. Estes tipos estavam a ultrapassar a definição de serem uns idiotas do caralho.

Sevika abriu a boca enquanto se virava para o grupo mas não chegou a dizer-lhes nada antes de Jinx.

- Martelar o quê?

O grupo levantou-se num salto, mal registando que Sevika se movera para os abordar porque Jinx estava a pairar mesmo atrás deles. Porra, a miúda era matreira. Nem a própria Sevika a vira mover-se ou ouvira qualquer indicação dela a aproximar-se com a música aos gritos.

- C'um caralho-! - arquejou um deles, agarrando-se ao peito.

- O que 'tás aqui a fazer? - exigiu a mulher saber.

- A Sevika estava a ouvir a vossa conversa, por isso fiquei curiosa para saber o que era - explicou Jinx inocentemente, olhando para Sevika e sorrindo-lhe enquanto o grupo acompanhava a direcção do olhar. Sevika viu-os olharem para ela confusos, claramente sem saberem muito acerca das pessoas para quem efectivamente trabalhavam. Seria cómico se não fosse tão estúpido. - Distraíram-na de me estar a vigiar, e ela está sempre à espreita para ver se eu não faço boom, por isso tinha de ser bom. Então, martelar o quê?

O grupo trocou olhares entre si e para quer Jinx quer Sevika. Não sabiam o que dizer da situação.

- Nós, hã... - tentou um deles, mas Sevika interrompeu-o.

- Vocês os três deviam lavar a boca com sabão antes de eu a lavar com sangue e dentes. Ponham-se a andar.

- Não fizemos nada de mal - disse a mulher. - Estávamos só a falar.

- E alto como a porra - acrescentou Sevika.

- Martelar o quê? - repetiu Jinx. - Não parecia que queriam partir alguma coisa. Sabem, martelar, 'bang'. Boom. Eu gosto de bangs e booms.

Zo escarneceu de superioridade. - Tu tens mesmo um parafuso a menos, não tens?

Jinx respondeu-lhe que sim com um acenar de cabeça contente. - Estavam a dizer alguma coisa má? Era por isso que a Sevika vos estava a ouvir?

- Querem fazer-nos sair só porque 'távamos a dizer a verdade?

- Não, só me estão a mexer com os nervos - respondeu Sevika, fazendo os três voltarem-se para ela. - Eu ficaria a olhar por cima do ombro daqui para a frente se fosse vocês, porque são capazes de não ter esse olho por muito mais tempo.

- Se o queres, vem cá buscá-lo - rosnou Tee, exibindo um bocado de músculo que teria feito Sevika voltar a revirar os olhos se ele não tivesse dito o que disse a seguir: - E depois vai pedir ao chefe se posso dar uma martelada na maluca também.

- Não sabes mesmo no que te estás a meter - disse Sevika com um sorriso, antecipando a adrenalina do Shimmer antes de de facto ele ser injectado.

- 'Dar uma martelada na maluca'? O que é que isso é suposto querer dizer?

- Dá-lhe, Tee! - apoiaram os companheiros dele.

- Oh! ! ! Oh, oh, já percebi, já percebi, agora já percebi! - disse Jinx, saltando no lugar para chamar a atenção deles, mas só o homem careca a ouviu.

- Maluca do caralho - cuspiu alto o suficiente para Sevika ouvir. - Vai mamar o paizinho e deixa os crescidos conversarem.

Já chegava, a sério. Sevika avançou mas não conseguiu fazer nada antes de Jinx saltitar para a frente dela e se colocar entre ela e os idiotas.

- Oh, eu já tinha percebido, não precisavas de o dizer agora! Tontinho! - ela riu-se naquele tom inacreditavelmente irritante. O grupo olhou para a rapariga com caretas de nojo crescente.

- Sai-me da frente, Jinx - grunhiu Sevika, tencionando empurrar Jinx para o lado mas a rapariga esquivou-se e voltou-se para ela.

- Queres que te entretenha, Sevika? - perguntou ela, os olhos literalmente a brilhar com os reflexos das luzes néon. - Deixa, deixa, vá lá, aposto que consigo! Confia em mim!

Sevika esboçou-lhe uma carranca, sem paciência para a aturar a ela também. Ninguém desrespeita o Silco de forma tão aberta, tão simples quanto isso.

O tipo com a crista abriu a boca e houve uma pancada ensurdecedora. Sevika pestanejou, demorando meio-segundo a perceber o que acabara de acontecer, ainda assim mais depressa do que os companheiros do homem que olharam chocados, as caras de repente pintadas com uma enorme mancha de vermelho. O homem com a crista desfez-se em direcção ao chão como um balão despejado e ensopou-se numa poça que rapidamente se alastrou em torno da sua cabeça. Os ocupantes das mesas ao lado levantaram-se e algumas pessoas foram empurradas com o susto.

Merda.

- Mas que caralho?! - berrou a mulher antes de Jinx voltar a pistola para ela e disparar duas vezes de seguida contra o estômago dela. O grunhido de dor chocado dela foi abafado pelos gritos que irromperam de detrás deles e a pela música que pouco se importou com os eventos e continuou a tocar. Depressa chegaram dois capangas, mas Sevika fez-lhes sinal; ela haveria de acalmar as coisas e limpar a confusão, como sempre.

- Mas que caralho?! - arquejou o único homem que restava. Não conseguia processar o que acabara de acontecer, balbuciando: - N-Nós 'tamos convosco! 'Tamos com o Industrialista!

Jinx encolheu os ombros. - E então?

O homem debateu-se para conseguir respirar, a indiferença arrebatadora. - Tu... tu mataste-os! Como se... c-como se...

As pessoas à volta deles remexeram-se desconfortavelmente e Sevika rangeu os dentes. Estavam no covil deles, raios a partam.

- Não deviam ter falado demais - disse, e por verdade que fosse, estava mais a dizê-lo para que os outros à volta ouvissem e percebessem que Jinx não tinha só perdido o controlo como a bomba-relógio que era. Controlo de danos, controlo da porra dos danos.

- És... és maluca! Mataste-os! - guinchou o homem careca. Jinx voltou a rir.

- Oh, eu sou uma daaaata de coisas, querido. Maluca, pirralha, bebé, inútil, falhada, dou azar. Mas não sou uma assassina. Estás a ouvir-me? Não sou!

Como que apanhando a deixa, a mulher gemeu e agitou-se no chão, tossindo sangue. Jinx não pestanejou, nem sequer olhou para ela, para ser honesta, só ergueu a pistola e disparou. Alguém voltou a gritar ao fundo.

- Ou talvez seja, hã - disse ela, os olhos transfixos no tipo mas parecia estar a olhar através dele. - As intenções não contam para nada comparadas com os resultados.

O tipo estava só ali congelado salvo o subir e descer loucos do peito. Mal se atrevia a afastar o olhar de Jinx para Sevika, enquanto que a própria Sevika estava só à espera que acabasse para ter os corpos dali tirados. Ela podia pelo menos tê-los matado lá fora. Silco já deveria ter sido informado que não era nada com que se preocupar, mas...

- Vá. Vai-te embora.

Sevika pestanejou, enquanto que o homem completamente embasbacado mal registou as palavras. Os ombros de Jinx caíram ligeiramente.

- Eu disse que podes ir. Vai-te embora.

Por algum motivo, a música ainda continuava. O homem olhou à volta num completo estupor até que eventualmente os seus instintos de sobrevivência dispararam. Levantou-se a correr e saiu disparado pelo clube nocturno, desaparecendo de vista. A multidão que ficou para trás ainda estava ela própria a recuperar, tentando decidir se olhavam para os corpos abatidos ou se fingiam que estava tudo bem.

- Se algum de vocês quiser martelar a maluca, já sabem como vai correr! - Jinx elucidou as coisas um pouco, abrindo os braços e sorrindo largamente, ainda a segurar a pistola na mão. - Portanto sempre que quiserem, venham ter comigo! Vai ser bang, bang, bang!

Sevika inspirou e reajustou o braço que nem tivera oportunidade de carregar. Olhou para os cadáveres enquanto foi buscar o seu charuto abandonado, grunhido por este se ter apagado durante a estúpida situação. Fez sinal aos capangas de novo para que começassem a remover os corpos.

- Não pensei que fosses deixar o idiota ir embora - comentou, tirando o isqueiro para voltar a acender o charuto. - O Silco ter-me-ia feito pendurar o tipo e queimado-o vivo nos fumos se tivesse ouvido uma palavra daquilo.

- Oh, eu vou contar-lhe.

Sevika falhou o botão do isqueiro. - O quê?

Jinx voltou-se casualmente, guardado a arma no coldre e sorrindo por a mulher claramente não estar a acompanhar. - Não és a única que quer ser entretida, Sevika.

Não queria admiti-lo, mas um arrepio gelado percorreu-lhe a espinha. Jinx voltou-lhe de novo as costas, espreitando as bebidas dos tipos e as máscaras de Shimmer e fazendo uma careta pelo cheiro. Estava de volta a ser uma miúda a comportar-se como tal. Era... desconcertante.

Sevika sentiu movimento atrás dela, voltando-se para liderar os tipos a tirar o lixo dali, mas mais uma vez não conseguiu dizer o que pretendia. Os tipos estavam lá, de facto, com Silco à frente deles.

- Senhor.

Ele não parecia impressionado. Os olhos moveram-se dos corpos para Jinx, para Sevika. - Preciso de saber?

- Não, senhor. Está resolvid-

- Silco! Aí estás tu! Ia mesmo à tua procura... Não vais acreditar no rumor que tem andado por aí.

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fim

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Obrigada por lerem, se acharem erros por favor digam.