Nota: Resolvi traduzir os meus fics de Arcane porque sim.

Nota pt-pt para pt-br:
- 'miúdos' é o mesmo que moleques, molecada, guris
- em pt-pt Enforcers é Esbirros que é uma palavra wtf e em pt-br Defensores é fixe/legal mas prefiro a palavra original

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Vander sempre soube que Powder era inteligente de formas que nenhum dos irmãos era, mas tornou-se óbvio quando ensinou os miúdos a ler e a fazer contas, ou poliu o que eles já sabiam antes. Aprenderam todos ao seu ritmo e os seus interesses nas matérias variaram, mas Powder estava no topo em ambos os aspectos. Especialmente nas contas, aprendeu com uma rapidez ímpar e com um entusiasmo tal que era quase contagiante, só que infelizmente o conhecimento limitado de Vander não conseguia acompanhar. Ela depressa ultrapassou tudo o que ele lhe podia ensinar e o homem, que sabia bastante de brigas mas pouco do que quer que fosse remotamente académico, ficou sem saber bem como lhe ensinar algo que ele próprio não conhecia. Tornou-se numa pontada física no coração; tudo o que a pequena miúda brilhante queria era aprender mais, e ele era um professor inadequado.

Uma vez, o sobrolho carregado de concentração de Powder enquanto empilhava filas de números em cima uns dos outros trouxe de volta uma velha memória sem convite à sua mente, de tempos muitos diferentes onde mentes igualmente ávidas haviam brilhado por entre a fumaça e o pó por entre os quais tinham calhado nascer. Parte de Vander tinha noção de que a memória poderia (deveria) ter transmitido uma sensação de tolice boa - como ele tentara ensinar a um nada-interessado Vander acerca de "coisas úteis, e acima de tudo, importantes, tão importantes quanto as tuas manoplas", coisas que agora seriam de facto e sem dúvida úteis para a pequena Powder - mas em vez disso a memória apenas deixou um sabor amargo na sua boca e fez o olhar do homem cair pesado com aquela dor surda de desilusão, de arrependimento, que não pode ser anulada. Quando Powder gritou "Acabei!" e lhe mostrou ansiosamente o caderno para que ele confirmasse se as somas e subtracções e multiplicações e divisões estavam correctas, Vander empurrou a memória e o arrependimento para debaixo do peso dos anos que se tinham passado e sorriu à sua filha de cabelo azul, dizendo-lhe que ela acertara tudo embora ele não soubesse como resolver as equações.

Foi à loja do Benzo, meio sabendo e esperando achar pouca ajuda lá. Os itens valiosos costumavam ser mais de outros campos, ou continham informação que era simplesmente demasiado avançada e complicada para Vander sequer saber para o que é que estava a olhar, quanto mais explicá-lo a Powder.

Considerou uma alternativa, e aguardou pacientemente pela oportunidade quando Grayson o contactou acerca dos seus acordos de mútuo benefício.

- Queria pedir-te um favor pessoal. - Se fosse qualquer outra pessoa que não Grayson, talvez tivesse deixado as explicações por aí; mas por ser ela, acrescentou: - Uma das minhas miúdas, ela é mesmo inteligente. E torna-se aborrecido, tentar fazer as contas que eu lhe ensino quando ela está muito além disso. Achas que me conseguias arranjar um livro de uma escola de Piltover?

Grayson sorriu em aprovação antes de colocar a máscara com filtro para sair. - Claro. Vou ver o que consigo fazer.

Foi mais rápida do que Vander poderia ter esperado, e ficou abertamente surpreendido por a Enforcer lhe entregar quatro livros logo no dia seguinte.

- Uau. Obrigado, Grayson - disse folheando as páginas do primeiro livro, metade das quais nem sequer ia fingir que percebia. - Sabes se tem soluções que ela possa ver? Não vou ser capaz de lhe ensinar isto.

- Só um deles tem, receio. A maior parte dos professores insiste em corrigir os problemas em aula, e desencoraja acesso a soluções.

- É suficiente. Quanto é que isto... - tentou ele, recebendo de imediato um abanar de cabeça de Grayson.

- Por favor, Vander. É um favor pessoal. Aceita.

Sabendo que de qualquer forma não teria tido dinheiro suficiente para pagar o olhar maravilhado no rosto de Powder quando viu os livros, só podia esperar que Grayson conseguisse sentir o quão sincero o seu agradecimento era.

- C'um caraças! - guinchou Powder, demasiado excitada para sequer se aperceber que tinha praguejado à frente dele. - Ah, desculpa! Q-quero dizer... uau! Onde é que arranjaste estes?

- Sabes que tenho os meus contactos - piscou-lhe o olho, fazendo Powder rir e segurar os livros como os tesouros que eram. Moveu o caderno onde começara a criar os seus próprios problemas e exercícios depois de ter terminado todos os que Vander lhe dera, a sua contenção quase dolorosa de ver enquanto ela lutava para não abrir os livros de imediato. - São teus, Powder.

A forma como os olhos dela brilharam foi algo que não tinha preço.

- Não te vou mentir, não te consigo ajudar com estes porque não os percebo-

- Eu posso ensinar-te! - disse ela de imediato, trazendo de novo aquela memória mas sufocando a sua dor com amor e fazendo Vander sorrir. - Prometo que é fácil! E é tão divertido!

- Quero que te concentres em aprender - disse-lhe, tocando-lhe no nariz com cuidado. - Eu sei que consegues fazer isto, Pow Pow.

O peito da menina encheu-se de orgulho e ela acenou com um sorriso, abrindo o livro e começando a ler e aprender sozinha sob as luzes de néon o que as crianças de Piltover aprendiam nas suas salas de aula solarengas com tutores e professores.

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fim

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Nota: Uma coisa que quero mencionar é que acho que apesar de o Vander dar o seu melhor pelos miúdos, o facto de esperar que a Grayson o aborde por causa dos acordos deles e só aí fazer o pedid, em vez de lhe pedir ele primeiro, mostra que ele está totalmente adaptado à dinâmica de, bem, estar adaptado aos de cima e às suas exigências/horários/vidas. Ele trabalha com os de cima de acordo com o ritmo deles. Enquanto que o Silco teria definitivamente feito as coisas de maneira diferente e não teria esperado que alguém lhe desse o que ele queria. A Grayson contacto-o assim que tem os livros porque é fixe.
Isto é tipo um pormenor minúsculo no fic mas a intenção com o que o escrevi foi esta.

Obrigada por lerem, se acharem erros por favor digam.

Disclaimer at the end but I wish I owned just a fraction of the genius storytelling of Arcane. Wish it could rub off by just admiring. Unfortunately, I do not and it does not.