Nota: Traduzi o meu fic de Arcane porque sim. Foi escrito por causa da música "Days Before the World Wept" dos The Agonist.
Aviso: violência.
Disclaimer: Don't own neither Arcane or the song, but damn the inspiration.
Nota pt-pt para pt-br:
- 'gozar' é o mesmo que xingar ou debochar
- 'nódoa negra' é o mesmo que pisadura
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Uau, Vi! Quero aprender a dar murros assim! Ensina-me!
Vi grunhiu, os punhos cerrados com força contra o cimento segurando o seu peso até o cacetete voltar a cair contra as costas de novo e a atirar ao chão. O guarda não parou, atirando-o mais umas duas vezes só por via das dúvidas e deixando-a a tossir para tentar recuperar o fôlego.
- Já não te sentes mais calma? - gozou o guarda, soltando uma risada convencida. O parceiro aguardava do lado de fora da cela enquanto ele terminava a "conversa". - Sempre que achares que precisas de libertar a raiva à tareia, chama-me antes de começares à porrada com os outros reclusos. Há muito mais de onde estas vieram!
Vi contorceu a cara, nojo e desdém e raiva ao olhar para o guarda enquanto ele guardava o cacetete de volta no cinto. Tinha um ar de superioridade na tromba que a irritou, por isso Vi fez a única coisa que podia.
- Vai-te foder.
Já sabia o que ia acontecer mas não se importou. Apesar de se ter preparado, o impacto do punho contra o maxilar foi tão forte que a lançou a voar e demorou um momento a que a dor explodisse, atordoando todos os seus outros sentidos excepto aquele tinir ensurdecedor nos ouvidos durante o que pareceu uma eternidade.
Pára, Vi. Só um bocadinho, pára. Desiste desta.
Powder...
Vi gemeu, tossindo e cuspindo o sabor a ferro da boca. Sentia-se tonta.
-...merda de ratazana de esgoto! - a voz trovejante do guarda pairava algures perto dela.
Por favor, Vi.
- Vá lá. Já chega - soou a voz do outro guarda enquanto Vi recuperava um pouco da audição, distinguindo o arrastar dos pés a aproximarem-se. A sua voz saía em grunhidos enquanto tentava rebolar sobre o ombro e voltar a apoiar-se nos cotovelos para a ronda três, ou quarto, ou lá qual era.
- Teimosa de merda - cuspiu o guarda. - Esta não aprende-
Por favor, Vi, pára.
Vi rangeu os dentes ensanguentados e sentiu o esforço nos braços e as ondas de dor latejante que dificultavam a respiração. Por fim, o corpo cedeu e ela voltou a cair, e desta vez ficou no chão.
Pela Powder. Pela Powder.
A Powder alguma vez tinha dito aquilo? Vi não se lembrava. Estava só a imaginá-lo, o que desejava poder ouvir? Porque haveria de querer ouvir para desistir de uma luta?
Não queria ouvir aquilo. Queria ouvir Powder. Queria...
Vi queira lutar, mas esta era a única maneira agora. Se alguma vez queria voltar a ouvir a voz de Powder.
...por favor não me deixes. Fora issoque ela dissera, antes de... porra, antes de...
Vi sentiu a memória muscular dos braços e mãos espicaçar para que esmurrasse alguma coisa, qualquer coisa que aplacasse e melhorasse isto, mas o seu corpo respondeu à sua nova tentativa de se levantar deixando-a cair de costas, chutando-lhe o ar dos pulmões e deixando-a ali.
Em algum momento, os guardas desapareceram, e sozinha na cela podia deixar que tudo aquilo caísse em cima de si, não tinha forma de o impedir. Não conseguia lutar contra ela com os punhos, e não havia forma de conseguir vencer.
Nunca se devia ter ido embora, nunca se devia ter ido embora, nem sequer por um minuto, não devia... se ao menos não tivesse... se ao menos...
Queria tanto voltar a ouvir a voz de Powder, tanto, queria ver o quanto ela crescera, o quanto sorria a todas as pequenas coisas maravilhosas, queria certificar-se de que ela estava bem.
Vi tinha de ficar viva, pela Powder. Tinha de sobreviver mais um dia, cada novo dia era uma nova promessa de que algum dia... ia voltar a ver a Powder, tinha de a voltar a ver. Tinha de garantir que ela estava bem e abraçá-la de novo, dizer-lhe todas as coisas que não devia ter dito...
...mas tinha visto o vulto de Silco recortado contra as chamas, de pé sobre ela, uma faca na mão.
Não, não, não.
O peito de Vi afundou-se, a garganta fechou, não conseguia lidar com isto.
...ainda estás viva, Powder?
Não, não não não, ela tinha de estar viva, tinha de estar viva, Vi tinha de a ver de novo, tinha de saber que ela estava bem. Não podia pensar que a última coisa que dissera à sua irmãzinha fora...
Vi atirou o braço sobre a cara, cerrando os dentes com tanta força que achou que eles se iam partir, desejou que se partissem, que alguma coisa se partisse fisicamente porque pelo menos essa dor ela sabia como lidar, sabia que podia recuperar. Se alguma coisa sangrasse ela saberia onde se tratar e começar a sarar, mas isto... esta ferida não sarava.
Por isso é que ia espancar cada um dos capangas de Silco que calhassem a cruzar o seu caminho em Stillwater, haveria de os espancar com toda a raiva que tinha por Silco por associação para aliviar algo, qualquer coisa daquela dor que não desaparecia e não paráva. A Vi só lhe restava violência, e ele tirara-lhe tudo o que a tornava suportável, tudo o que a tornava certa.
Porque a sua família estivera lá sempre, Powder estivera sempre lá depois de uma luta, quando os cortes e nódoas negras de Vi sangravam e doíam, Powder estivera lá, a sorrir e a mantê-la forte, dando-lhe abraços e miminho e mostrando-lhe todas as maravilhosas invenções que a sua mente brilhante tinha para dar ao mundo, dando-lhe aquela promessa de mais um dia.
Ele tirara-lhe isso.
...Vi deitara isso fora.
Uma lágrima caiu pelo canto do seu olho, mais pesada e dolorosa do que a tareia do guarda. Só queria que parásse, não sabia como lidar com esta dor, não sem a Powder, não sem a promessa de voltar a ouvir a voz dela, nem que fosse só para a ouvir dizer odeio-te.
Por favor que estejas viva, Powder. Por favor.
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fim
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Nota: Obrigada por lerem. Façam um favor a vocês próprios e ouçam a música especialmente se gostarem de melodeath.