Nota: Traduzi os meus fics de Arcane porque sim. Inspirado pela música "Life Sentence" dos Chelsea Grin. Descobri-a numa cover de Misstiq, por isso recomendo ambas as versões.

Aviso: Distúrbio mental, angústia e depressão no geral.

Nota pt-pt para pt-br:
- 'fixe' é o mesmo que 'legal', é gíria comum

Disclaimer: Don't own neither Arcane or the song, but damn the inspiration.

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Vamos fazer um exercício.

Não consegues.

Não consegues.

- Cala-te.

Ok, consegues. Mas só para fazer asneira.

Ainda mal começara, raios o partam...

Jinx bate com as mãos resolutamente na mesa para deixar o seu ponto claro. Um pouco de silêncio, se faz favor.

Então. Um exercício para lidar precisamente com isto. Merdosos irritantes que não se calam. Conseguia ver Mylo, mas a maioria das outras vozes eram mais ou menos sem rosto, amálgamas rasuradas de pessoas que ela por vezes se questionava se seriam só o seu próprio eco.

Isso dera-lhe a ideia para um pequeno exercício: exteriorização. Já o fazia, através de cada arte colorida e cada granada que fazia. Que melhor exteriorização havia do que uma boa bombinha?, mas e se ela conseguisse canalizar de si para outra? Um outro eu, neste caso? Já tinha as bonecas de Mylo e Claggor, podia ter uma de si própria.

Um peluche. Porque não? Um exterior fofinho para despejar toda a loucura no interior. Tricotar e coser os farrapos de pano como fizera com Claggor ia ajudar a calar toda a gente, empurrar tudo para a nova cabeça, arrancá-la da dela e em vez disso encher a nova cabeça. Não ia ser bom? Seria muito fixe.

Jinx acha que sim, sorrindo enquanto costura com agulha e linha e se distrair com pormenores coloridos a lápis de cera. Talvez ela e a pequena boneca pudessem ir trocando?, mas pelo menos ia sair da sua cabeça por um bocadinho. A sua outra eu carregaria todos aqueles pesos de inseguranças e asneiras. Valia a pena tentar. Não era como se fosse fazer algum mal.

Isso é tão estúpido.

Estúpida, estúpida, estúpida.

...concentra-te, Powder.

- Sim, concentra-te, Powder - repete ela sem pensar, apercebendo-se um segundo depois e estacando a mão a meio no ar.

Powder? A Powder era estúpida e fraca. Estragava tudo. Tudo o que faz é inútil e estragado. Seria o tipo de pessoa que pensaria em fazer um peluchinho querido e inútil para se distrair.

Os seus olhos caem sobre a amálgama feia de tecidos.

...dás azar!

O martelo arranha a mesa e cai com força sobre o olho de botão, cravando estilhaços no crânio de pano.

Jinx olha para o novo estado da sua boneca. Não vê nenhuma qualidade redimível, o que poderia ser trabalhado e melhorado. Só vê lixo.

Eu disse que era estúpido. És mesmo uma bebézinha. Vais chorar, Pow Pow?

- Podes calar-te por uma vez?! - grita Jinx, atirando a boneca e acertando na cabeça de Mylo com um "boop". Jinx range os dentes e rosna. Que ideia brilhante foi fazer um peluchinho fofinho, hã?

Um peluchinho fofinho. Como um coelho de peluche. Como ela. Como Vi.

Era só uma metáfora. Só um exercício, não era real.

Claro. É uma farsa. És uma farsa.

- Como é que sou uma farsa? Estou a tentar-

Estás a fazer de conta, estás a fingir que estás a controlar as coisas. O que é que o Silco vai pensar de ti?

- O que é que estás a dizer? Porque é que o estás a puxar?

Porque se vais deslizar, ele vai ver que és inútil. Inútil, inútil, inutiL

- Não!

DeslizardeslizardeslizarDESLIZAR

- Não vou deslizar! Ele confia em mim!

Ele odeia-te.

ODEIA-TE

Só te aguenta. Só o irritas.

- Estás a mentir. Estás a mentir, pára!

Estás a tentar ver até onde consegues irritá-lo?

Só finges ser melhor que a Powder. Não és.

Vais falhar-lhe. A Powder falha. A Powder falha a toda a gente.

A Jinx falha.

- Não, cala-te - exige Jinx, detestando a quebra que ouve na sua voz. - Isso não é verdade. Ele teve todas as hipóteses de se livrar de mim.

Espera só.

Ele não sabe o que fazes atrás de portas, as merdas inúteis que queres fazer.

A merda inútil que tu fazes.

Qual tinha sido a ideia dela, mesmo? Uma bonequinha estúpida sem controlo sobre nada?

Desamparada, inútil-

- Não, eu consigo! Olha só tudo o que já fiz!

O quê? Uma boneca?

Um monte de sucata?

Prédios rebentados?

Uma data de cadáveres?

- Não! Pára com isso! Eu não fiz isso!

MENTIROSA!

FARSA!

JINX!

Uma ronda de gargalhadas ecoa à volta dela, muitas vozes que ela não consegue diferenciar. Jinx cerra os dentes e os olhos, desejando que páre.

Claro que falha.

Porque ela é a Powder estúpida e inútil.

Rosne e levanta-se, afastando Claggor do caminho com uma estalada e investindo contra Mylo e dá-lhe um murro na cara como aprendera com Vi. A dor que dispara dos seus nós dos dedos pelo braço fá-la ganir e recua desequilibrada, a fervilhar de raiva e a espumar da boca. Desta vez atira um pontapé que lança Mylo a voar por cima do sofá e depois atira um segundo pontapé ao trapo que costurara caído no chão, fazendo-o deslizar e cair da berma para o abismo lá em baixo.

Regressa à mesa, batendo com tudo em que toca enquanto junta chapas de metal, a costura desleixada mas contente agora um martelar de pregos cego e irado. Se desejara usar tudo aquilo como enchimento no seu outro eu, o seu eu falso o eu verdadeiro, agora bate e martela tudo, para dentro, para fora, dentro, fora fora fora fora fora FORA!

Jinx grita e atira o monte de sucata de cabeça contra o espelho, abrindo um buraco nele e enchendo tudo com vidros partidos. Crava pedaços na palma da mão quando agarra na sua nova boneca substituta e rodopia, atirando-a para o abismo atrás de si, deixando-a afundar-se e afundar-se e afundar-se o e desejando que explodisse e se afogasse e gritasse até se partir aos pedaços nas profundezas. Só um suave baque metálico de quando ela bate no fundo ecoa pelas paredes.

Agarra numa nova granada acabada de fazer da sua mesa de trabalho, arranca o pino e atira-a para o abismo. O som da explosão estremece algo dentro dos seus ossos, dentro da sua cabeça, desloca-o e coloca-o no sítio.

Jinx enterra-se no lugar. Sente-se de repente ofegante. A cabeça está ligeiramente zonza. Sangue acumula-se na mão de pequenos cortes.

Pronto. Agora estava em silêncio.

Funcionou.

Funcionou.

Tudo o que foi preciso foi uma explosão.

Funcionou.

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fim

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Obrigada por lerem.