Ekko remexe-se enquanto tenta relaxar, a mistura de entusiasmo e terror demasiado forte para aguentar enquanto espera que Powder chegue. Olha para baixo para a caixinha que contém a prenda que fez, uma anilha dentada lixada e polida para se tornar num anel personalizado, e faz o décimo ou décimo primeiro debate se aquilo é a sua obra prima pessoal (...e fofinho) ou a tralha mais ridícula que já fizera (... e certamente nada fofinho).

A caixa também é uma prenda, mas ele duvida que alguém a vá ver como tal; tentara que ficasse bonita, com umas marcas talhadas para parecerem partículas de pó; "Powder". Sim, era foleiro... bem, a intenção fora essa (não que fosse foleiro, que fosse empoeirado), pelo menos, mas valesse o que valesse, o resultado final só fazia parecer que o metal era defeituoso e fraco. Ele suspira, apertando a caixa na mão. O coração salta-lhe para a boca quando a caixa escorrega dos seus dedos e ele apanha-a mesmo antes de cair ao chão, suspirando de alívio. Imagina só estragar isto ainda antes de o tentar sequer fazer!

- Oi, Homenzinho!

Ekko salta literalmente pelo som inesperado da voz de Powder mesmo atrás de si, o seu coração falhando uma batida quando a caixa voa das suas mãos. Desta vez não a consegue acompanhar e encolhe-se mesmo antes de ouvir o som metálico quando ela bate no chão.

- Ups! Desculpa! - pede Powder, apressando-se a pegá-la mas Ekko é mais rápido a apanhá-la, como se estivesse com medo que ela a visse. E estava, especialmente com esta trapalhada. - Desculpa, desculpa.

Ela parece preocupada, as sobrancelhas franzidas de preocupação. Bom trabalho, Ekko!

- Não faz mal! Não é nada de especial, não te preocupes - atira ele sem pensar, sentindo o impulso de se esbofetear na testa.

- Oh - diz Powder, relaxando. Ao menos isso. - Então o que é que tens aí?

- Hã, na verdade... na verdade, é... - tropeça nas palavras, fazendo uma pausa e endireitando-se. Ele conseguia fazer isto. Ele conseguia fazer isto. Tinha ensaiado, era fácil. Só um "É para ti. Espero que gostes.". Ele conseguia.

Ele não conseguia.

Ele não conseguia.

Abortar missão. Abortar missão.

Com o cérebro em curto-circuito, Ekko fica ali de pé com a boca aberta enquanto Powder só espera, a olhar para ele de maneira estranha.

- Hã, sim, é...? - tenta ela ajudar, caso ele precisasse de encorajamento para continuar. Era mais voltar a reconectar.

- Ah! É-É para uma reparação de um relógio que estou a fazer - balbucia ele. - T-Tive de a personalizar para o sítio que é, é complicado.

- Oh! Porquê a caixinha bonita?

Ela acha que é bonita. Ela acha que é bonita. - Hã, n-não é nada, só me apeteceu tentar uma coisa diferente... - mente ele, demasiado elevado na sua felicidade para reparar bem na rapidez com que Powder lhe varre a caixa da mão, e o seu pânico demora um pouco a regressar.

- Fixe! Foi difícil de personalizar? - pergunta ela, olhando para a anilha atentamente e com o apreço pela obra como a colega artista que é.

- Hã, nem por isso - responde ele, como se não fosse nada, considerando depois o trabalho real que tinha dedicado naquilo. - Quero dizer, um bocadinho... Da ideia conceptual a achar o melhor tamanho, tratar dela e assim...

- Isto dava um anel muito fixe - diz Powder, experimentando-o e olhando para a mão. Está um pouco grande demais para ela, o que é simultaneamente um alívio e uma desilusão, e atira alguns murros tal como Vi faria e como ele sabia que ela ia fazer também. Um dos motivos para ter escolhido uma anilha dentada era pelo quão útil seria numa luta caso Powder alguma vez se metesse numa (não era provável, mas quer ela quer Ekko treinavam para quando o dia chegasse). Ela sorri antes de o tirar e lho devolver.

- Podes ficar com ele - as palavras saem de um só fôlego.

- Pensei que tinhas dito que era para o teu projecto do relógio - respondeu Powder, e Ekko tem aquele milésimo de segundo de pânico achando que ela o tinha apanhado na mentira.

- Bem, sim, mas posso sempre fazer outra. Se quiseres para o teu projecto, quero eu dizer.

- Como é que sabes que estou a trabalhar em alguma coisa? - pergunta-lhe ela, uma linha suspeita na sua testa.

Ekko encolhe os ombros, sorrindo em nervosismo. - Estás sempre a trabalhar em alguma coisa.

Powder não demora um momento e todo o seu rosto se ilumina. - Pois estou - concorda ela com um riso. Inspecciona a anilha/anel novamente, estudando a sua forma única e francamente inconveniente para o que quer que fosse de relojoaria ou mecânico. Mas podia ser sempre transformada num projectil, diz ela com entusiasmo, e começa a explicar-lhe os detalhes da sua bomba mais recente e como desta vez ela vai explodir num flash impressionante e lançar pregos e anilhas dentadas por todo o lado.

Ekko ainda tem os seus sentimentos todos baralhados, mas ele tinha tecnicamente entregue o anel a Powder e ela tinha gostado, por isso isso era uma vitória. O resto eram pequenos detalhes.

Um dia. Quando fossem mais velhos, tipo... daqui a alguns anos, talvez. Não que ele devesse precisar realisticamente de esperar tanto tempo, mas, bem... ele precisava reunir a coragem, e isso ia demorar alguns anos. Um dia ele ia dizer-lhe como o seu eu mais novo tinha sido tão tolo que tinha mentido para esconder o facto de lhe ter feito um anel, e iam rir-se acerca disto, do quão adoravelmente tolos quando eram em miúdos. Powder diria que ele não devia ter feito aquilo ainda mais porque a prenda era tão fixe, e que o anel tinha sido mesmo fixe. E se o seu eu mais velho ia ter coragem para fazer tudo aquilo, então seria certamente corajoso o suficiente para pedir para andar com ela.

Um dia. De certeza.

Mal podia esperar que crescessem.

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fim

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Nota: Nada diz 'fofinho' como uma facadinha no coração :')

Nota pt-pt para pt-br: "Fixe" é o mesmo que "legal"

Thanks for reading. Disclaimer at the end but unfortunately don't own anything in Arcane. Até o cospobre que estou a fazer de Jinx é versão metaleira porque não posso ter nada que se aproxime do original.