Nota de autor: Se houver uma definição para o "porque sim", é o motivo deste fic existir. Desenhei o logótipo de uma banda para o meu cospobre metaleiro de Jinx e algo com essa ideia não me deixou. Acrescentem a vida real a dar-me uma cabeçada nos dentes e rasgos disto apareciam de vez em quando na minha cabeça para me ajudar a manter alguma sanidade. Depois, claro, para me tirar essa mesma sanidade.
A escrita, especialmente as falas, podem ter contrações para ficar um discurso mais coloquial, e ter expressões inglesas à mistura pelo mesmo motivo.
Há uma data de referências de música e links nas notas no fim.
Avisos: referências a auto-mutilação, pensamentos depressivos, discussões sobre terapia e adolescentes a curtirem.
Nota pt-pt para pt-br:
- "rapariga" é o mesmo que moça, não tem o significado que tem em pt-br
- "gozar" é o mesmo que troçar, xingar, não tem o significado que tem em pt-br
- "bué" é o mesmo que muito
- "fixe" é o mesmo que legal
- "gajo" é o mesmo que tio, informal
- "mesinha de cabeceira" é o mesmo que criado-mudo
- outras dúvidas por favor digam e eu vou tentar acrescentar
Disclaimer: Band names and logo are mine. Pentakill is not they're just mentioned for fun. Links at the end have more inspirations. And this whole little shenanigan AU comes from this head. Don't own Arcane and deeply wish I could get some of that quality writing because holy shit.
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- Então? - perguntou Jinx, quase sem conseguir controlar a sua excitação e sinceramente sem dar tempo suficiente para que Ekko formasse uma opinião coerente. - O qu'ê que achas? Muito barulho? Ouve-se pouco a voz? Queria que fosse ficando mais alta à medida que a música avança.
- Bem...
- Oh, aqui, parece que me enganei na bateria, não é?
- Não ouvi nada.
- Merda, eu sabia que a mistura de som não 'tava boa...
- Não, Jinx, tu só não me deixas ouvir a música - conseguiu Ekko dizer e Jinx saltou.
- Oh! Yá, desculpa... - Ela riu e tentou conter-se sentando-se numa bola apertada na cadeira junto ao computador, esperando que prender-se fisicamente fosse ajudar a dominar a sua mente também. A taxa de sucesso era questionável, porque ela tinha de fazer alguma coisa enquanto esperava pela reacção dele e começou a balançar para trás e para a frente enquanto os seus gritos aumentavam de intensidade na canção. Estudou Ekko atentamente, mas ele só estava a olhar para a folha de papel à sua frente.
Jinx estava quase a rebentar para dizer alguma coisa e de repente a música parecia que não acabava, porque é que alguém haveria de querer alguma vez ouvir isto, parecia um loop e não de uma maneira boa. Por fim, a expressão séria no rosto dele aumentou.
- O que foi? - ela arrebitou imediatamente.
- A letra é um bocado dark, não vou mentir - respondeu Ekko.
- É muito cringe? Muito irritante? É gritaria a mais? Eu sabia que estava a exagerar... - E ainda nem tinham chegado ao último grito, porra... Ela não lhe ia mostrar a letra, mas depois de pensar um pouco (e porque estava orgulhosa de como os versos tinham ficado e como passavam a mensagem) mostrou-lhe as notas rabiscadas. Agora estava a pensar duas vezes em tudo aquilo por causa daquela expressão.
- Não, não - disse-lhe Ekko, mas a preocupação de Jinx não era totalmente infundada, porque Ekko estava um bocadinho preocupado. Estava habituado a ler e escrever cenas bastante cruas nos seus raps e nos da sua crew, verdades desconfortáveis e raiva sem filtro, e por isso apoiava as cenas da antiga banda de Vander por exemplo, mesmo que nunca tivesse sido fã de metal para começo de conversa. Respeitava músicos e artistas de todas as cores e feitios, pessoas que vertiam a alma com tinta no papel e exorcizavam-no do sistema com uma batida; sabia o quanto isso ajudava alguém a manter-se são. E apesar de já ter lido pedaços da escrita de Jinx antes, parecia diferente ler com a sua letra ao mesmo tempo que era falada (gritada). Era negra. Zangada. Palavras de inutilidade, de desespero, de auto mutilação e morte que seriam mais metafóricas em canções mais à frente mas que eram bastante explícitas naquela. E mais do que zangadas, eram tristes.
- Sim? Então é o quê? - perguntou ela, o seu nervosismo endurecendo a voz e tornando-o numa exigência ao pausar a faixa.
- Sabes que gritos não são bem a minha cena, mas bem, são eficazes. A emoção 'tá toda lá - recomeçou Ekko. Não queria apagar aquela luz que iluminava os olhos de Jinx, por isso tentou avançar com cautela. - É só... dark. Consegue sentir-se a raiva.
- Obrigada! Admito, 'tou bastante orgulhosa das letras, foram mais fáceis do que escrever a música...
- Mas isto pinta... é uma imagem bué depressiva.
- Oh.
- Pelo menos esta - apressou-se Ekko a acrescentar depois de ver precisamente o que receava. Jinx riu nervosamente, o que ele sabia interpretar. - ... não só esta, hã.
- Tenho uma canção sobre diversão! - disse ela como se se estivesse a justificar. Mas provavelmente era melhor não lhe mostrar a letra dessa. - Vá lá, uns bons gritos são óptimos para a alma. Tiram-te logo o stress.
- Eu sei que é arte e que podemos mostrar uma data de cenas diferentes através da arte, mas isto é pessoal - disse Ekko, segurando na folha de papel escrivinhada.
Jinx debateu-se contra o sentimento, mas não conseguiu evitar sentir-se desencorajada. Claro que sabia que Ekko ia dizer aquilo; ele estava preocupado. Estavam todos. Jinx não centrara o seu EP em torno de um conceito mas sim de um sentimento para com alguém. Era o nome da sua one-man band, era o nome do álbum, estava no nome dela.
- Deve ter sabido bem deitar isto cá para fora - acrescentou Ekko, embora tivesse sido incapaz de manter o tom triste longe da voz.
Jinx voltou a reluzir apesar disso. - Pois foi. Ainda foi melhor gritá-lo.
Ekko deu uma risada quando ela guinchou, imitando um dos gritos mais crus e sem polimento da faixa. Jinx conseguia fazer clean vocals, e conseguia uns gritos e growls bastante decentes, mas na maioria das faixas não fora essa a mensagem que tentara passar.
Ekko folheou as páginas, lendo os títulos das canções até parar nos designs descartados e no resultado final do logótipo de Jinxed, todo ele ângulos e picos afiados e simétricos, a verter sangue e com ar demoníaco com o seu X grande no meio. Duvidava que fosse conseguir ler o que estava escrito se já não soubesse o nome, mas Jinx já lhe dissera que os designs corrosivos eram mesmo suposto reflectir as bandas e afastar os normais.
- Porra, isto 'tá badass! Porque é que não me tinhas mostrado já isto?
- 'Tá bastante fixe, modéstia à parte - riu Jinx. - Pintei um top para mim, olha, deixa-me mostrar-te.
Ela escavou por uma pilha de coisas, deixando-as mais caóticas do que elas (e todo o quarto) já estavam. Puxou o top curto que já estava a usar pela cabeça (deixando Ekko num bloqueio mental momentâneo como costumava acontecer sempre que lhe via as mamas), puxando o seu gorro "I hate people" pelo caminho e enfiou o top preto com o mesmo logótipo pintado à mão com tinta acrílica branca.
- Posso pintar-te uma t-shirt se quiseres.
- Hã hã.
- Hã, deixa-me adivinhar. Maminhas? - Jinx grunhiu audivelmente. - Vá lá, já as viste umas mil vezes, preciso que te concentres!
- Tu é que me distraiste!
- Temos tempo para curtir depois! Concentra-te. Como é que 'tá? - Apontou para o design. Agora tudo o que ele conseguia pensar eram as mamas debaixo dele. Merda das hormonas.
- Ok, ok - disse a si próprio, aclarando a garganta, e a mente também (assim esperava), olhando para baixo para o logótipo no papel. - Yá, adoro o desenho. É muito metal.
- Obrigada. Vês? Não posso cantar sobre flores e céus azuis com um logótipo assim, pois não? Tem de manter uma temática!
- Diz aquela que toca a guitarra meme - gozou Ekko, e olhar de lado a guitarra em questão ajudou-o ainda mais a focar-se de novo na conversa. Era a coisa mais feia e surreal no mundo, uma mistela entre uma guitarra e um tubarão saída de uma misturadora, completa com a barbatana no lugar da cabeça da guitarra, e Jinx adorava-a de paixão. Tinha-la personalizado e dado-lhe o ar-Jinx com tintas que brilhavam no escuro, mas não havia nada a fazer com o produto base.
- Ei! Nada de falar mal do Fishbones! Ele é a guitarra mais badass do mundo! - Riram-se os dois.
- Como é que eles conseguiam tocar músicas políticas com uma guitarra assim, nunca vou perceber - disse Ekko entre risos.
- Não deixes o Silco ouvir-te, ele adora a guitarra mesmo que finja que não.
- Bem, ela agora é tua, por isso posso ser honesto sobre a guitarra meme.
- Ei! O qu'ê qu'eu disse?
- É a porra de uma guitarra tubarão e o Silco costumava ser conhecido como Shark, quão foleiro é que isso é? É uma merda à Moon Moon!
- É perfeito!
- É um meme!
- Nã-hã! Já te disse, não irrites o Fishbones ou ele arranca-te a cabeça! E depois quem é que vai apreciar a minha arte e as minhas maminhas? - Saltou para ir pegar na guitarra, abanando-a como uma marioneta grotesca e endurecendo a voz numa imitação de um velho: - Arranco-te a cabeça à dentada, Little Man!
Riram-se um bocado com aquilo. Jinx pousou a guitarra descuidadamente (era a guitarra dela agora, tinha-la baptizado e adoptado totalmente, por isso tratava-a da mesma forma que tratava tudo o resto) e mostrou-lhe mais algumas música (e manteve as letras longe das mãos dele) e discutiram o ritmo e fluidez do som, já que Ekko era o melhor nesse campo. Gostava mesmo do quanto Jinx tinha melhorado na bateria, depois de finalmente ceder após muita insistência de Ekko e Vi para pedir dicas a Vander ("Porquê desperdiçar um professor assim? Tu adoras como ele toca e ele ia adorar ensinar-te", tinham-lhe dito mais de uma vez), e ela tinha uns solos de guitarra bem decentes nas músicas que não eram excessivamente depressivas. Até tinha teclado numa música.
Jinx quisera que o EP de cinco faixas acabasse em grande e estava particularmente nervosa com a última música. Quisera que os seus dois pais entrassem no EP, o que teria feito qualquer fã dos Rat Nation passar-se ao ouvir tocarem de novo depois de terem acabado de forma trágica e feia há onze anos. Embora a música dela fosse muito diferente em termos de temática da que eles tocavam, ainda era maioritariamente centrada em death metal por isso os fãs haviam de ficar contentes, achava ela. Mas a decisão de os juntar na mesma faixa não fora linear; tivera duas músicas diferentes em mente para eles tocarem, satisfeita o suficiente por saber que eles iam entrar os dois no EP. Mas enquanto escrevia a letra, apercebeu-se que faria sentido se eles tocassem juntos.
Estivera tão excitada quando fora perguntar a Silco. O choque dele levara-a a mudar completamente de opinião, mesmo depois de ele lhe ter dito que era uma boa ideia e que ela não fizera nada de mal em lhe pedir. Ele sabia que ela nunca quisera que gravassem juntos, mas Jinx receou que ele talvez tivessem pensado que sim, como algum plano maquiavélico infantil para os fazer reconciliar (ela não quisera, a sério, ela sabia que as coisas entre eles eram feias, queria que estivessem os dois porque ambos eram importantes para ela, só isso) e aquilo provocara-lhe um ataque de pânico. Ao menos ficou preparada para quando perguntou a Vander e a reacção dele foi parecida, mas já se comportou muito melhor com a segurança e encorajamento que Silco lhe dera.
Agora, estava a conter a respiração quando a faixa começou a tocar, estudando novamente Ekko de perto.
Ekko sorriu ao reconhecer Vander na bateria, e reconheceu imediatamente Silco quando a guitarra entrou. Jinx dissera-lhe que eles iam tocar os dois, mas não na mesma faixa. Apesar de todo o desprezo que sentia pelo tipo, não havia como negar que o gajo sabia tocar e que claramente não perdera o jeito mesmo depois de doar a guitarra meme à filha (porque, quer se gostasse ou não, ela era filha dele tanto quanto de Vander).
- Já lhes mostraste?
- Não. És o primeiro a ouvir o EP, na verdade.
- Oh. A sério? - Ekko sentiu-se lisonjeado e encavacado. - Obrigado.
- Não fiques convencido! - gozou Jinx, atirando-lhe um macaco de peluche que costurara e acertando-lhe em cheio na cara.
- O Vander não perdeu o jeito. - Sabia que não, porque Ekko também já lhe pedira várias vezes beats para usar nos seus raps, além de também ter ensinado Vi, mas isto era definitivamente a sua praia e notava-se.
Ele parecia querer dizer mais alguma coisa mas quis esperar que a música acabasse, o que Jinx não sabia se a fazia sentir-se agradecida ou não. Focou-se mais no instrumental do que na sua voz e letra, e o EP acabou finalmente. Torceu as mãos, acumulando um riso nervoso.
- Pronto, já 'tá. O qu'é qu'achas? - Ekko mal teve tempo de abrir a boca antes de ela recomeçar a falar por cima dele. - É uma grande confusão, não é? Nada combina com nada, quero dizer, isto é black metal depressivo? Talvez a primeira, mas então e o resto é o quê? Mais melodeath ou só death, é metalcore? Blackened death? Não, de certeza. Porra, porque é que há tantos subgéneros? Cada música é uma coisa diferente e isto é só uma mistela de coisas. É uma confusão e não soa a coisa nenhuma-
- Calma - Ekko teve de intervir, fazendo Jinx parar. - Primeiro, não percebi nada do que acabaste de dizer. Para mim é tudo metal, ponto final.
- Ah, se ao menos fosse assim tão fácil...
- Segundo, acho que 'tá fixe - continuou ele. - Os gritos não são para mim, mas gostei do que tocaste. Até tinhas teclado. Tocaste todos os instrumentos sozinha, fizeste a mistura toda. Isso é muito fixe.
- A sério?
- Claro! Posso não ser o melhor para dar opinião nas outras coisas, mas isto posso dizer. E olha só. Conseguiste fazer com que o Silco e o Vander tocassem juntos no teu EP.
- Não foi juntos, juntos... - corrigiu ela, a ser picuinhas.
- Ainda assim, é uma conquista! Deve ter sido difícil para ti pedir-lhes - supôs Ekko correctamente, e Jinx assentiu, contando-lhe sobre as duas cenas. Mas não lhe contou do ataque de pânico. - Sabes, nunca percebi a cena da divisão entre eles, p'ra ser honesto.
Jinx olhou para ele e Ekko viu-se a repensar as suas palavras, porque não a queria chatear. Tudo aquilo era um ponto sensível para todos os envolvidos.
- Pensa na coisa como um casal a dividir os miúdos, faz mais sentido - disse ela com um encolher de ombros. Só que fora três-um, não dois para cada.
- Yá, mas tipo, eles alguma vez tiveram um caso ou assim? Porque o Vander não parece gostar de homens, e o Silco... bem, ele é só assustador com'ó caraças.
- 'Tavas à espera que eles tivessem autocolantes de arco-íris na testa? - brincou Jinx e Ekko revirou os olhos.
- Sabes o que quero dizer...
- Porque é que não lhe perguntas?
- A quem, ao Silco? - Ekko disparou e ambos se aperceberam da estupidez da pergunta ao mesmo tempo. Jinx, claro, não ia deixar passar e desatou a rir.
- Não, tolinho! C'um caraças, acabei de te imaginar a perguntares-lhe isso.
- Yá, obrigado por imaginares a minha morte - resmungou Ekko, fazendo beicinho.
- Ná, ele não te ia matar. Só te ia fazer desejar que estivesses morto - corrigiu Jinx, sorrindo maldosamente.
Mas era verdade.
- Não sei, nunca me pareceu certo perguntar isso ao Vander. Só 'tava, tipo, curioso. Curiosidade mórbida. - Literalmente, naquele caso. - Não tenho nada a ver com isso, de qualquer das formas.
- Acho que qualquer pessoa que saiba sobre isto tem ficar um bocado curioso. Para ser honesta, a cena deles é tão complicada que mais valia eles terem estado juntos dessa maneira. Provavelmente ia tornar as coisas muito mais simples - disse Jinx, remexendo no cabelo enquanto pensava nas próprias palavras. Yá. Seria muito mais simples se eles tivessem sido um casal. - Portanto provavelmente não eram. "Platónico" com P grande e um F de "fodido". Os velhos têm mesmo mais tempo para acumular merdas, hã.
- O Vander não é assim tão velho - protestou Ekko, mas teve de rir com a forma como Jinx arqueou a sobrancelha.
- Ele tem cinquenta anos, e o Silco não 'tá muito atrás. Têm os dois cabelos brancos. São velhos.
- Ainda assim, conseguiste fazê-los tocar! Não há mais ninguém no mundo que fosse capaz de os fazer partilhar nem que fosse o mesmo timestamp numa música. Dá-te uma palmadinha nas costas.
Jinx sorriu, a sua confiança nos pícaros, ao ponto de a fazer abusar da sorte além do que essa confiança conseguia suportar.
- Achas que a Vi vai gostar? - Sentiu a voz estremecer imediatamente.
- Porque não haveria de gostar? É mesmo a onda dela também.
- Hã, ela é muito mais Pentakill e Rat Nation do que Jinxed.
- Para mim é a mesma coisa.
Jinx voltou a reclamar. - Preciso mesmo de te ensinar umas cenas sobre metal, meu.
- Seja como for, ela vai gostar. Foste tu que fizeste, por isso obviamente ela vai gostar ainda mais.
- Essa é a razão porque ela pode não gostar - disse Jinx entredentes, não baixo o suficiente para Ekko não apanhar.
- Ei, vá lá. Tu sabes que a Vi te adora.
Jinx resfolegou. - Porque haveria de gostar agora que tem uma namoradinha perfeita?
- Eu também 'tava de pé atrás com a Cait, não vou mentir - admitiu Ekko. - Mas ela é muito fixe, para uma miúda rica.
Mais um resfolegar. - Deve ser. Até tu já a tratas por "Cait" agora.
- Ei - Ekko chamou-a, fazendo sinal para a cama. - Vem cá.
- Já sei o que vais dizer - respondeu Jinx, puxando os joelhos ao peito e enrolando-se ainda mais na cadeira.
- Vá lá. Por favor.
Jinx lutou contra um beicinho não muito subtil e devagarinho, como se não quisesse mesmo fazê-lo, desenlaçou as pernas e deslizou para fora da cadeira, caindo no colchão coberto de uma confusão de lençóis e fazendo-o saltitar. Ekko envolveu os braços em torno dela e puxou-a para perto.
- Sabes que não precisas de te preocupar com a Caitlyn. A Vi ama-te, e vai sempre amar.
Jinx queria protestar, mas para quê? Já sabia todas as palavras bonitas e de apoio que ele lhe ia dizer, e por mais genuínas que fossem, não mudavam a verdade. O simples facto de estarem a ter esta conversa de novo e ele as estava a dizer de novo, que Jinx tivesse provocado isto de novo, era tão irritante. Como podia alguém aguentá-la por mais de cinco minutos quando isto era como ela era, o que ela fazia, a toda a hora?
Mylo não aguentava. Via o caos que ela de facto era e não fingia gostar. Por esse motivo, ela quase podia ficar agradecida por ele provar a sua questão. E assim que todos os outros finalmente o vissem também, fariam o mesmo que ele.
Porque haveria Vi de ser diferente? Especialmente agora que tinha alguém tão mais interessante e bonita e composta e sã e rica para lhe fazer companhia. O que era a pequena irritante Powder, Jinx, comparada com isso? Uma coisinha estragada. Não, nem isso. Um saco do lixo cheio.
Vi já tivera um relance disso uma vez, e não correra muito bem, pois não.
Ekko seria o próximo. Ainda se deixava ficar apesar da quantidade de vezes que Jinx se revelava, mas ela estava a abusar da sorte de cada uma dessas vezes.
Fez com ele o mesmo que normalmente fazia com Silco, aninhando-se no seu colo e puxando-o para perto para o impedir de se ir embora pelo menos durante mais um bocadinho, mas ele era o namorado dela, não o pai, portanto isto era estúpido, infantil. Devia estar a namorar com ele como lhe prometera com o muito cliché e sugestivo "O Silco não está em casa", e o que é que tinham feito em vez disso? Só Ekko a aturar Jinx, os seus devaneios e a sua música cheia de gritos que ele não gostava e as mesmas velhas reafirmações de que nenhuma pessoa normal precisaria. Mais uma vez.
Ekko acariciou-lhe as costas apesar disso, e a sua voz tornou-se num agradável som de fundo de pontos positivos mas em última instância inúteis, acerca de como Vi faria tudo por Jinx, elas eram irmãs e sempre seriam, que ela nunca deveria ter medo de pedir ajuda a Vi ou a Vander ou aos rapazes, ou a Ekko já que se falava nisso, e Jinx ecoou os habituais "Eu sei"s que na verdade significavam que ela iria evitar pedir-lhes ajuda como quem evita a peste. Faria de tudo no seu poder para não os preocupar, para não os irritar. Por isso na verdade, esta coisa do EP era estúpida em retrospectiva, não era? Já vira como Ekko reagira. Parecia que na verdade os queria incomodar e mostrar o quão mal e danificada se sentia. Fazê-los sentirem-se tristes e culparem-se por qualquer coisa de que não tinham culpa, mostrar-lhes a verdade e do quão feia era e que eles deviam desistir de vez, hã?
Talvez abandoná-la de uma vez por todas.
- Não - implorou ela em voz alta, não sabendo exactamente ao que estava a responder a Ekko.
- Acho que devias mesmo pensar nisso. Sabes que agora as pessoas são muito mais compreensíveis, quero dizer, como é que é suposto funcionarmos neste mundo de merda? Acho que todos nós precisamos.
- Do quê? - perguntou, olhando para ele. Tinham os rostos muito perto um do outro. Conseguia contar as pestanas de Ekko. Eram muito bonitas, assim como os olhos sob elas.
- Terapia.
- Oh. - Que grande tópico. - Não, obrigada.
- Porque não, Jinx? Se é por causa daquele gajo continuar a ser um otário...
- O Silco não é um otário - corrigiu Jinx. - Dizes isso como se ele me estivesse a impedir de ir. Eu não quero ir.
- Bem, ele também não te 'tá a encorajar a ires, pois não? - refutou Ekko. Nunca superara a vez em que Jinx lhe contara que Silco achava que só as pessoas fracas precisam de terapia. Como se Ekko precisasse de mais razões para não gostar dele.
- Eles só te querem entupir de comprimidos na terapia, não é?
- Jinx, isso não é verdade - disse Ekko veemente, afastando-se um pouco e Jinx fez beicinho. Tinha sido tão bom estar tão perto dele, porque é que o tinham de arruinar?
- A terapia vai resolver o quê? Eu sou assim agora, ninguém pode mudar isso.
- A terapia não te vai "resolver", vai ajudar-te a sentir melhor. - Perante o escarninho de Jinx, Ekko insistiu: - Não vai fazer as coisas ficarem bem por magia, mas é um passo na direcção certa, sabes. Não é para pessoas fracas, não importa do que aquele idiota do Silco te diga.
- Eu só mudei! Tu mudaste, a Vi mudou, isso não faz parte do crescimento?
- Que mal faz teres alguém para te ajudar quando as coisas ficam difíceis?
- Bem, eu tenho o Silco! - disse ela apesar de ver Ekko revirar os olhos ainda antes de ela ter acabado de falar. - E tenho o Vander e a Vi e os rapazes. E tenho-te a ti, não é? Não acabaste de dizer isso tudo?
- Nós não somos terapeutas, Jinx.
- Tudo isto por causa de umas letras de música - reclamou Jinx. Claro que tinha de ser culpa dela. - É metal depressivo/death, é suposto ser dark e pesado.
- Não, não é só por causa disso, vá lá - tentou Ekko, mas Jinx falou por cima dele.
- Queres melhor terapia do que criar coisas? Como é que posso estar deprimida se compus e gravei cinco músicas sozinha?
- É terapêutico, não terapia.
- Hã, na verdade há uma coisa chamada terapia da música, sabias.
- Não te ponhas com questões técnicas - suspirou Ekko e Jinx saltitou no lugar, sentando-se sobre as pernas e inclinando-se para Ekko. Não queria ter mais esta conversa. Nenhuma conversa, na verdade.
- Queres passar a coisas técnicas? - Estavam afastados há demasiado tempo, por isso aproximou-se dele e deu-lhe um beijo no nariz. Ekko pestanejou, momentaneamente atordoado, e isso fê-la sorrir. Baixou o olhar primeiro e moveu a cabeça a seguir, plantando um suave beijo nos lábios dele.
- Só estás a fazer isso para me calar - disse ele, a voz de repente rouca como se lhe faltasse o fôlego.
- Podes fazer barulho se quiseres - provocou-o Jinx, beijando-o na bochecha, depois na orelha, respirando tão perto que lhe lançou um arrepio pela espinha. - Não está ninguém em casa, afinal.
Aquilo não fez absolutamente nada para ajudar Ekko a respirar melhor e ele estremeceu como uma folha. Jinx deu um grande sorriso e remexeu-se para perto, deslizando os dedos da nuca dele até ao cabelo enquanto se sentava sobre as pernas dele, sentindo as mãos dele imediatamente nas suas costas enquanto ela aparentemente estudava as feições dele para decidir qual o próximo lugar que tocaria com os lábios. Os lábios dele estavam entreabertos, demasiado adoráveis para ignorar, por isso voltou a escolhê-los.
- Estávamos a ter uma conversa séria - tentou Ekko mas Jinx gemeu contra os lábios dele, dificultando a tarefa de não a imitar.
- Já tivemos conversa suficiente. É hora de namorar.
- Mm, tens razão - murmurou Ekko, acariciando-lhe as costas devagar.
- Boa. Senão ia ter de guinchar outra vez - brincou ela, dando uma imitação de guincho baixinho que fez Ekko rir. Era um som tão bom que ela queria voltar a ouvi-lo, por isso fez-lhe cócegas de lado.
- Ei!
- Oh, tens cócegas, é?
- Tu sabes que... pára! - clamou Ekko em vão quando Jinx cacarejou e lhe voltou a fazer cócegas. Ele desmoronou sob ela num riso constrangido e lançou-os aos dois contra a cama, Jinx vitoriosa e orgulhosa. Fazia as cócegas valerem a pena, pensou Ekko para si.
Ela tinha a mesma expressão no seu rosto lindo enquanto movia lentamente os dedos pelos lados do rosto dele, de novo como se o estivesse a estudar, considerando-o digno da atenção para recolher todos os seus detalhes como se fosse uma das obra de arte dela. Jinx - Powder, de quem ele sempre gostara e achara a criatura mais bonita no planeta desde que eram crianças - olhava para ele de uma maneira que o despia até à sua essência. Ela queria estar com ele. Tecnicamente, ainda não tinham tornado o namoro oficial, mais porque não sentiam necessidade de o dizer quando ambos sabiam, mas já estavam juntos há meses e quase toda a gente que devia saber sabia, e apesar disso sempre que se beijam, sempre que tinham um pouco mais de tempo para namorar assim, ele sentia-se assoberbado pela sensação da pele quente dela, o quão suave o cabelo dela era, o quão bem ela cheirava, o quão bom era beijá-la, e como ele gostaria de fazer tudo isso de novo.
Ekko disse-lhe tudo isso com palavras suaves, porque ele nunca poderia dizê-lo vezes suficientes e Jinx nunca poderia ouvi-lo vezes suficientes. Os seus beijos mantiveram-se brincalhões enquanto se puxavam gentilmente para decidirem quem ficava por cima, apesar de continuarem a perder e a recompensar o vencedor com beijos e abraços que se enlaçavam e desenlaçavam enquanto afagavam os braços um do outro. Numa das vezes em que ela estava em cima dele, Jinx deslizou os dedos pelo peito dele e moveu-se dolorosamente devagar até ao estômago, achando caminho sob o tecido e tocando na pele que parecia estar a arder. Ekko gemeu baixinho e depressa imitou os movimentos no corpo dela, mas Jinx travou os seus toques nele e em vez disso moveu-se para guiar os dele no seu corpo, ajudando-o a despir o top. Ekko arquejou, embaraçado pela sua própria reacção, mas Jinx afastou o choque dele com beijos e um sorriso satisfeito por ainda causar o mesmo efeito nele.
Ainda não tinham feito sexo. Pelo menos com penetração. Tinham brincado e apalpado, mas não muito mais além disso. Estavam ambos satisfeitos com isso, mas Ekko não conseguia esconder o facto de que sentia todo um outro tipo de calor quando via Jinx nua, nem que fosse só os seios.
Voltaram a mudar de posição, Ekko demasiado impaciente para deixar Jinx despir-lhe a t-shirt e acabou por o fazer sozinho, mas recompensou-a com atenção redobrada. Manobraram-se em torno das longas tranças azuis de Jinx para que ele pudesse beijar-lhe os seios, os dedos nos lados do seu corpo antes de se focarem suavemente nas suas novas tatuagens, traçando os rodopios nas nuvens com toques tão leves como uma pena que lançaram arrepios maravilhosos pelo corpo de Jinx. Foi a sua vez de gemer, não tão baixo como Ekko antes, e ela manteve as mãos ocupadas acariciando os braços e as costas de Ekko, aquela presença física constante de que ele estava ali, de que ele gostava dela. Ele adorava as tatuagens, e apesar de as ver a maior parte do tempo, era diferente agora, tê-las totalmente expostas para poder apreciá-las, para cobrir a pele que as agulhas tinham perfurado com carícias gentis. Vi também gostava delas, mas Mylo e Claggor não tinham dito nada em especial. Vander sorrira como que de derrota por ela ter feito as tatuagens contra o conselho de toda a gente, e Silco não ficara muito contente quando as vira, mas agora não era altura de estar a pensar em nada daquilo. Tinha de se concentrar em Ekko. Concentra-te.
Concentra-te, porra.
Puxou-o para si, esmagando-se por um momento sob o peso dele antes de ele conseguir recuperar o apoio nos cotovelos e ela sentiu imediatamente a falta da ligação, do peso que não a deixava respirar mas que, por uma vez, era devido a algo tangível. Jinx segurou o rosto dele entre as mãos, olhos azuis encontrando castanhos antes de o beijar mais profundamente do que tinham até aí. Ekko cedeu à força com que ela o puxava para si, e depressa estavam ambos a arquejar por ar, os rostos tão perto que eram um borrão.
Ekko inclinou-se de lado e Jinx deslizou o corpo de novo para cima dele, tirando as tranças do caminho para se deitar confortavelmente em cima dele e sentir a fina camada de suor que cobria o peito dele, focada, ancorada, aproximando-se e beijando-o e pensando que talvez precisasse de mais agora, isto não era próximo o suficiente, tão perto quanto podia estar dele. Pressionaram os corpos num abraço apertado, pele despida e a arder uma contra a outra, e Jinx moveu a mão para baixo no corpo dele para a pressão que conseguia sentir ali. Ekko arquejou mais alto agora, e ela silenciou-o com a boca. Quando Jinx gemeu para o beijo, de repente ouviu-se o som de uma chave e a porta da casa abriu-se.
- Merda! - Jinx saltou de cima de Ekko como se tivessem apanhado um choque. - O Silco voltou.
- Merda - ecoou ele, levantando-se à pressa também enquanto Jinx voava atrás do top e o voltava a vestir, olhando para o relógio na mesinha de cabeceira.
- Ele voltou mais cedo. Merda, merda, merda...
- Jinx? Estás em casa? - a voz de Silco veio da sala de estar.
- Hã, sim! Só um momento! - guinchou ela, não disfarçando nada o pânico na voz.
Ekko encolheu-se involuntariamente com o quão culpados o pânico de Jinx os fazia parecer. Silco era uma das pessoas que sabia que eles namoravam. E não gostava nem um bocadinho. Eles não o escondiam, mas certamente também não lho atiravam à carantonha feia. Com ele, não era uma questão de provar nada com rebelião adolescente, era mais tipo auto-preservação consciente.
- Preciso de falar contigo quando puderes - a voz de Silco estava abafada mas nítida o suficiente, e Jinx conseguiu perceber que ele estava stressado. Não era óbvio, mas ela conhecia-lo demasiado bem.
- Só um momento! - chiou Jinx mais alto, agora com uma nova camada de preocupação. Era suposto Silco estar numa reunião de negócios, por isso se ele voltara mais cedo e stressado isso não podia ser um bom sinal. Olhou apressadamente para Ekko enquanto ele se debatia para achar a t-shirt no meio da confusão de roupas que Jinx tinha no chão, e foi a sua vez de se encolher. Silco não ia ficar feliz de saber que Ekko estava ali, e certamente não ia ficar nada contente se eles parecessem tão obviamente *ahem* ocupados.
- O meu cabelo 'tá um caos! - guinchou Jinx baixinho, apanhando um relance seu no espelho e tentando passar a ferro os nós no topo da sua cabeça. Isto não ia ajudar a situação dela! - Onde é que 'tá o meu gorro?!
Ekko ficou de boca aberta, olhando desorientado à volta antes de o achar na secretária e o atirar a Jinx enquanto enfiava a t-shirt pela cabeça.
- A minha cara 'tá um caos! - arquejou ela ao olhar mais de perto no espelho para a maquilhagem ligeiramente esborratada de transpiração. - Merda, merda, merda...!
Ekko também tentou ajeitar um pouco o cabelo enquanto Jinx bufava para si própria. Como é que ia fazer isto? Yá, o Ekko estava ali para ouvir a música dela. Inocente, tudo fixe, o Silco não ia precisar de ficar demasiado chateado. Yá, também tinham curtido um bocado. Não tão inocente, não tão fixe, o Silco ia ficar um bocadinho mais chateado. Mas tipo, ele já sabia sobre eles, afinal de contas. O que é que ele achava que ia acontecer? Ele também já tinha sido um adolescente, certo? Hormonas e assim. Ele não gostava de Ekko, e Ekko não gostava dele. Isso não ajudava. E a cereja no topo do bolo era que alguma treta devia ter acontecido com os Barões, o que significava que Silco estava com menos paciência do que o costume e que ia ter de lidar com cenas do trabalho, cenas que Ekko não podia sob nenhuma circunstância saber.
Ok, a prioridade era tirar Ekko de casa. Seria muito mais fácil se eles não vivessem na porra de um terceiro andar. O que honestamente era um bocado uma falha de design, e se Silco alguma vez precisasse de fugir da bófia ou assim? Era algo que teria de falar com ele.
Concentra-te, porra.
Que se lixe. Qual era a melhor forma de tirar um penso rápido?
- É melhor arrancar e pronto, n'é? - perguntou Jinx retoricamente, lançando o que se pareceu com um murro gelado no estômago de Ekko.
- Jinx, não - ainda tentou ele dizer, mas não foi rápido o suficiente para a travar.
- Olha, 'tou com o Ekko! Não te passes!
Não havia muito barulho lá fora antes, mas agora havia um silêncio sepulcral.
- Oh.
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continua
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Edit depois de acabar o fic: este video é óptimo para explicar os subgéneros, aqui tens Ekko instagram com /reel/C0H0HPlSXPO/?igshid=MzRlODBiNWFlZA==
- Para o tipo de letras que a Jinx escreveu, "Life Sentence" dos Chelsea Grin ( que já me inspirou a escrever um fic) e quer "Suicide On My Mind" e "Do You See Me Now" dos Angtoria são boas. Não seriam tão lentas como as dos Angtoria though. Atenção que as letras são pesadas.
- Para uma ideia do som mais cru e pouco polido dos vocais na música dela, imagino algo como "Hope(less)" ou até "Mirrors of Failure" dos Mars Mantra.
- Ela ainda teria de certeza uma música mais leve como "Get Jinxed". Talvez só um bocadinho mais metal.
- Para o tipo de som que imagino o Vander e o Silco a tocarem, "Evil in You" dos Kalmah tem a minha referência mental perfeita para a respectiva bateria e guitarra que eles tocariam.
- Para o tipo de letras (e som) da banda deles, quer "Using the Word" quer "The Blind Leader" dos Kalmah ou "The oppressed will rise" dos Mors Principium Est funcionam bem. O Benzo tocava baixo e não sei quem era o vocal e a outra guitarra, provavelmente os pais da Vi e da Powder.
- Para a guitarra Fishbones e um fanart brutal de Silco modo banda, aqui está a inspiração por Niku30 no twitter
- "screamy screamy music" vem dos óptimos vídeos de mattbevantt no Instagram
- o gorro "I hate people" vem do canal dos A&P Reacts
Obrigada por lerem.