1. A espera

Hermione Granger não conseguia tirar as últimas 24 horas da cabeça; nesse espaço de tempo ocorrera a maior sucessão de acontecimentos que seu corpo, mente e espírito podia agüentar. Agora tudo acabara, mas o que isso importava depois de tantas mortes e, principalmente, depois do quase fim de Ronald Weasley?

Como fora tola ao pensar que depois de Voldemort morto todos os seus sofrimentos acabariam. Ela não podia suportar olhar para aquela cama em que seu corpo jazia inerte, e cujo único movimento aparente era o da respiração. A derradeira esperança e força que a movia era a certeza de que ele viveria, mas será que algum dia sairia daquele estado? Ela sofria ao pensar em todos os momentos felizes que imaginara viver junto dele, sofria ao se lembrar de que, havia pouco tempo, estavam estasiados pela euforia, medo, pressão e todos os sentimentos que habitava em cada um no momento da batalha.

'' Mione, não importa o que acontecer não se esqueça que eu te amo. ''

Essas palavras estavam impregnadas em seu coração de tal forma que era capaz de doer. Ela se lembrava nitidamente do que ocorrera após essa confissão exasperada, aquilo que tão íntima e intensamente desejara. Ainda podia sentir a boca de Rony na sua, a respiração ofegante, o rosto colado ao seu, e cada vez que pensava nisso sofria, pois tudo poderia nunca mais se repetir, e essa hipótese era a que a amedrontava, mesmo que todos estivessem esperançosos, ela sofria muito por dentro.

Olhou para a janela, mais um dia chegava ao fim. Estava em St. Mungus, foram todos mandados para lá, ela, Harry, os Weasley e alguns aurores feridos, todos os que lutaram para ver Voldemort e seus nojentos comensais ruírem. E isso de fato aconteceu, mas de uma forma tão dolorosa, às custas de tanto sofrimento...Lembrava-se de ver Olho-tonto caindo, com um filete de sangue escorrendo da boca, Arthur Weasley lutando com dois ao mesmo tempo, Tonks e Lupin juntos contra Lobo Greyback, que assumia sua forma mais asquerosa... Eram tantos os flashes que passavam por sua mente. Porém, o que persistia em ir e vir era o do duelo sendo formado. Harry e Voldemort, frente a frente, lutando arduamente; o ódio era tão presente em um como no outro. Porém em um momento de distração, por parte de Harry, devido a uma queda repentina, quase tudo foi perdido. Em uma fração de segundos Rony percebeu que o amigo estava vulnerável e saiu de onde estava atirando-se na frente de Harry. Nessa hora tudo parou, tanto Voldemort quanto Harry paralisaram o primeiro surpreso, o outro amedrontado. A atitude do ruivo foi tão repentina e desesperada que o "Avada Kedrava" não fora devidamente pronunciado, mas forte o bastante para deixar Rony nesse estado semi vegetativo.

Ninguém conseguia entender como o Lorde das Trevas não pudera pronunciar direito o feitiço que mais usou durante toda a sua medíocre trajetória pela Terra, no entanto, independente disso, foi esse o fato que determinou a vida de Ron, uma pequena e insignificante troca de sílabas. Foi nesse instante, depois de ver o corpo de Rony no chão, que Harry, tomado pela dor, ódio e frustração, conseguiu reunir forças o suficiente para executar o feitiço; Um forte e ofuscante jato de luz verde saiu de sua varinha e atingiu o peito do inimigo. Estava acabado. Ali terminava a profecia, um morreu para o outro sobreviver.

No quarto do hospital estavam: ela, Harry, Rony deitados nas três camas do aposento, além de Molly Weasley em uma cadeira na cabeceira do filho. Hermione era a única que permanecia acordada, e pensava agora no sofrimento que a Sra. Weasley deveria estar enfrentando, com a maioria da família internada no St. Mungus, ferida ou a trabalho, como no caso de Ginny. Todavia, de todos Rony estava em pior estado, além de Arthur com ferimentos graves e aparentes vestígios de feitiços lançados durante a batalha. Hermione pensava em sua fraqueza diante da fortaleza que Molly Weasley estava sendo para agüentar semelhante fato, por isso era realmente reconfortante vê-la dormir, ainda que por alguns instantes.

O quarto permanecia num silêncio angustiante, todos dormiam menos Hermione. Tentou fechar os olhos e descansar, mas era impossível, precisava de alguém ao seu lado, de um ombro para chorar, mas não devia mostrar sinal de fraqueza. Lembrou-se de seus pais, há muito tempo não os via, mas pensava sempre neles os últimos dias, na omissão de fatos, de tudo que ocultara deles, pelo bem deles, para evitar mais sofrimento, mas sabia que um dia teria que contar, quando tivesse forças, quando tudo estivesse mais calmo. Quem sabe amanhã... Se houver amanhã.

A noite enfim caía, entrava uma brisa suave da janela aberta, a brisa acariciava seu rosto e lhe dava mais paz, seus olhos foram pesando, era em vão lutar contra o cansaço. Adormecera.