Exceção a Regra

Capítulo 22: Dificilmente Diferentes

'When all is said and done

Will we still feel pain inside?

Will the scars go away with night?

Try to smile for the morning light

It's like the best dream to have

Where every thing is not so bad

Every tear is so alone

Like God himself is coming home to say

I, I can do anything

If you want me here

And I can fix any thing

If you'll let me near

Where are those secrets now?

That you're too scared to tell

I whisper them all aloud

So you can hear yourself...'

'A Little's Enough'—Angels and Airwaves

Sirius' POV

18 de Dezembro de 1976

Sexta-feira

Tem algo triste nessas férias iminentes de Natal.

As milhares e milhares de luzes coloridas, nas colossais árvores de cedro de Hogwarts não parecem ser tão exuberantes, tão alegres quanto geralmente são.

Os biscoitos doces não tem um sabor tão doce.

O calor na sala comunal não é tão quente, ou tão brilhante, quanto geralmente é nessa época do ano.

Até mesmo as xícaras de chocolate quente feitas pelos elfos domésticos - que eu geralmente (e secretamente) gosto - parecem ter perdido a sua atração.

Parece que tem centenas de coisas que simplesmente estão fora de ordem, centenas de coisas diferentes para eu reclamar.

Eu não posso localizar o motivo exato dessa sensação estranha e consideravelmente depressiva, mas eu tenho algumas teorias.

Talvez seja porque esse é o último Natal que eu possa passar aqui, caso eu queira. Por mais que eu tenha professado o meu ódio pela maioria das matérias (e por alguns professores)… por mais que eu queira negar isso a qualquer alma que se importe em perguntar… Eu vou sentir saudades desse lugar.

Em Hogwarts, eu tenho uma sensação de pertencer a um lugar, algo que eu jamais senti, em lugar nenhum. Eu fui criado como um puro-sangue, constantemente envolto pela magia, mas nunca desse tipo. Nunca a magia do tipo bom. E no momento que eu entrei por aquelas portas gigantes, como um aluno do primeiro ano com falta de confiança em si mesmo, eu somente podia imaginar como que isso seria diferente.

Eu não esperava ser colocado na Grifinória. Eu assumi que o meu sangue me levaria a Sonserina, assim como o resto de todos os meus parentes desprezíveis (excluindo os raros membros, que são verdadeiramente excluídos da descrição 'desprezível'), mas eu estava enganado.

Graças a Merlin.

Eu contemplei ficar aqui e esperar as férias passarem. Eu não estaria sozinho; eu ouvi vários outros alunos do sétimo ano discutirem o processo de ficar no que seria o último Natal deles nesse castelo encantado. Têm muitas memórias nesse lugar.

Algumas são ótimas - ser o primeiro membro da família Black a ser colocado na Grifinória, me tornar um Maroto, maquinar inúmeras peças, e aproveitar a vida quando ainda se é jovem. Longe de ser inocente, mas jovem.

E então tem as outras - os olhares frios e as ameaças de alguns membros dos meus relacionamentos insanos, uma breve lembrança da minha própria loucura, quando eu quase causei a morte do Snape, e, mais recentemente, o meu comportamento destrutivo que quase que me custou tudo que eu mais aprecio.

E isso, como era de se esperar, me leva ao outro motivo do porque essas férias não são como deveriam ser.

Eu vasculho pelo lixo embaixo da minha cama, tentando simultaneamente diminuir a bagunça e separar o que eu devo colocar na mala, e as minhas mãos se colidem com algo duro.

Duro, frio, e suave… como um vidro grosso.

Eu envolvo os meus dedos na parte estreita dele - não é nenhum pouco grande - e o trago para vê-lo, mas já sabendo o que é.

Aí está, as minhas suspeitas estão confirmadas. A minha mão pressiona a fonte do meu inferno pessoa, assim como o meu escape temporário pelas últimas semanas.

Uma garrafa meia vazia, meia cheia de uísque de fogo.

Eu a encaro, com os olhos estreitos, observando o veneno ruivo girar e girar, como eu já fiz diversas vezes. Eu já me embebedei tanto, e a esculpi nos meus sentidos, de tal forma que eu posso sentir o cheiro da bebida pela tampa impermeável e o vidro denso. Cada pingo está me chamando. A dor de abrir a tampa e beber o líquido remanescente é muito intensa, ao ponto de me causar dor.

Como eu desejo sentir a queimação na minha língua e o fogo abafado escorregar pela minha garganta, uma última vez. Como eu quero afogar o que restou da minha identidade, e beber até que eu não me lembre de mais nada, ou ninguém.

Vamos… uma última vez, e chega. Você já se desculpou, você fez algo bom, e agora você pode beber um pouco. Só uma vez.

A voz mal intencionada é irritante, me encorajando a me dobrar, como eu já fiz com muitos dos meus pontos fracos, nos últimos meses. E isso seria fácil, muito fácil… mas eu não estou tão envolvido na minha semi-dependência que eu não consiga discernir a verdade da ficção.

Eu sei que é tudo mentira. Eu sei o que vai acontecer se, e quando, aquela garrafa tocar os meus lábios. Uma gota, uma prova nunca vai ser a última. Nunca vai ser satisfatório. Nunca vai ser o suficiente.

Se eu tomar um gole agora, antes que eu perceba, eu vou estar parado na frente do Cabeça de Javali, ou em outro bar sujo de Hogsmeade, esperando ansiosamente por 'só mais um' gole.

Não. Um gole nunca vai ser o suficiente.

Inconscientemente, os meus pés me levam ao banheiro, e paro na frente da pia. Eu abro a tampa, viro a garrafa… e jogo os remanescentes dos meus demônios pelo cano escuro e sem fim.

Desaparecendo como as cicatrizes da Lily, lavando como as lágrimas mal escondidas do James. Cada pingo da bebida está indo embora, assim como a Marlene. Assim como tudo que eu deixei tudo ser o que está.

A última gota cai, saindo apressadamente do meu campo de visão, assim como o resto, e eu solto uma respiração trêmula que eu não sabia que estava segurando.

Isso, também, é a minha maldita culpa.

Somente quando eu olho para baixo que eu percebo que as minhas mãos pegajosas estão agarrando os cantos da pia limpa de porcelana. Um a um, os meus dedos soltam, e subitamente eu me sinto ridículo.

Como que eu deixei isso chegar tão longe? A algum tempo atrás, eu era o tipo de pessoa que recorria ao álcool somente para se alegrar. Só bebia muito em festas de vitória de uma partida de Quadribol, ou especialmente depois de acabar com a Sonserina, mas eu nunca recorri a bebida para esquecer da minha miséria.

Eu dou alguns passos para trás, com a garrafa vazia em mãos, e os meus olhos olham para uma imagem que eu não consigo reconhecer.

A primeira coisa que eu percebo é o meu cabelo estrategicamente bagunçado, embora eu tenha tentado pentear ele nessa manhã, ele agora está em uma bagunça natural.

Olhos cansados, vazios, com círculos escuros embaixo deles, dão a impressão que eu participei de uma briga terrível.

Pele pálida. Não que fosse muito escura, mas com certeza eu tinha mais cor do que isso. Mesmo nessa iluminação fraca, as veias azuladas no meu pescoço, braços, e as linhas fracas nas minhas pálpebras se sobressaem no contraste com o restante da minha pele.

Eu pareço velho. Até mesmo me sinto velho. Mas não somente dois, três, quatro, ou cinco anos, mais velho. O dobro da minha idade é uma estimativa apropriada.

Isso é muito, demais, e eu praticamente corro para fora do banheiro. Eu sabia que eu tinha ficado desleixado. Quando eu caminho pela escola, eu vejo cada e todos os rostos, e os seus olhares avaliadores, pensando que eu não consigo ver a intriga ardente dentro deles.

O que aconteceu com você?

E essa é uma excelente pergunta. Uma pergunta que eu espero que eles nunca saibam a resposta. Será que eles acreditariam, caso soubessem?

Nesse momento, eu estou remexendo na minha pilha de roupas, sem me importar nenhum pouco se vão ficar amarrotadas ou a aparência delas, quando eu desfizer a mala na casa dos Potter. Eu não tenho certeza quanta roupa devo levar… Eu duvido que eu vá sair do meu quarto muito freqüentemente.

"Você poderia usar a sua varinha, e estaria pronto em 5 segundos, ou menos."

As minhas mãos param o movimento delas, e uma camisa escorre pelos meus dedos, com o som do tom descontraído e levemente condescendente do James.

"É. Obrigado. Boa idéia." Eu me dou um soco mental no meu rosto. Porque diabos eu não me lembrei disso?

Eu imaginei o que aconteceria, quando esse momento inevitável chegasse. Será que ele vai me ouvir, será que eu vou dizer a coisa certa quando chegar a minha vez de falar, será que eu vou me enfiar em um buraco ainda maior? Eu me fiz pensar em todos os resultados possíveis, bons e ruins. E de qualquer forma, eu vou ser forçado a aceitar qualquer que seja a conclusão.

Nossos amigos provavelmente acham que eu estou me afogando em auto-piedade, me escondendo da discussão inevitável, que está se pressionando atualmente em mim. A verdade é que eu não sei o que eu estou fazendo.

É isso que chamam de se esconder?

Para ser justo, eu achei que seria sábio dar espaço para o James e a Lily, especialmente depois de tudo o que eles passaram. Eu luto contra os meus desejos estranhos de alegar o meu caso muitas, muitas vezes, pensando que é a coisa certa a fazer.

E agora, parado aqui e olhando a vítima nos olhos, eu não tenho tanta certeza.

Eu me volto para o meu baú, e a pilha de merda que cobre praticamente toda a minha seção do dormitório. Eu não olho mais para ele, mas eu ouço os passos dele, enquanto ele passa por mim.

"Eu achei que você fosse ficar." ele relata, virando a cabeça para o lado, e seus olhos penetrantes me avaliam vigilantemente. Eu posso dizer, pelo tom de voz dele, que ele não quis ser cruel, que ele só está meramente curioso se eu vou aceitar ou não o desafio de cara. Além do que, nós não estamos nos termos mais amigáveis, e vão ter mais do que poucos momentos embaraçados, com certeza.

Eu balanço os ombros indiferentemente. "Eu ia ficar, não tinha empacotado nada, nem me preparado. Eu até tinha feito planos para fazer uma visita a cozinha, e ter uma 'amostra' do jantar de Natal, mas então uma coruja veio hoje, e meio que me fez… mudar de idéia."

Ele concorda, enquanto a compreensão o atinge. "Você também recebeu uma, então."

Eu levanto o pergaminho rosado da cabeceira da cama, e jogo para ele, mas ele não se importa em abrí-lo. O peso leve na mão dele é facilmente reconhecido; eu vi a letra refinada da Sra. Potter antes mesmo que a coruja tivesse aterrizado e bicado a minha janela.

Os Potter sempre foram muito bondosos comigo; me provendo um abrigo quando eu não tinha nenhum, me dando comida caseira quente, comprando utensílios escolares e roupa (que eu protestei fortemente, e perdi) antes que eu recebesse a herança do Tio Alphard, e até mesmo depois.

Não preciso dizer que eu tive quase que medo de abrir. Me levaram quase que 15 minutos para romper o selo de cera, e mais 30 para desdobrar a carta. Eu suspeitei que agora eles já deveriam saber de todas as minhas transgressões, e provavelmente estariam com raiva do que eu fiz com o filho deles, e com o amor da vida dele.

Eu estava esperando uma lição de moral dura, ou palavras cruéis dizendo para eu nunca mais colocar os pés na casa deles novamente. Eu mereço o sermão. Eu mereço a frieza. Qualquer outra vez, eu teria recusado a punição, ou rido na cara dela, mas eu sei que eu mereci essa. Então, com um coração pesado e olhos atribulados, eu finalmente coloquei os olhos nos curtos parágrafos.

Eu descobri que eu não poderia estar mais enganado.

Isso não faz muito sentido. Como que ela pode ser tão carinhosa, depois que eu machuquei o filho dela de propósito? Como que ela pode me querer por perto? Como que ela já pode ter me perdoado, quando eu ainda não perdoei a mim mesmo?

A carta não está nas minhas mãos, mas algumas partes dela não podem ser bloqueadas.

'O que você fez não importa mais. Todos erramos. O importante é que você aprenda com os seus erros, e se erga uma pessoa melhor. É isso o que eu quero de você, Sirius.'

Eu sorri pelo meu choque, enquanto eu li a carta, memorizando-a, e agradeci a todos os deuses por não tirarem de mim a coisa mais perto de uma família de verdade, que eu jamais conheci.

James está olhando para fora da grande e limpa janela, que tem vista para a nublada Floresta Proibida, com a carta da mãe dele colocada de lado. Eu consigo ver o meu próprio reflexo tenso na janela, parado a uma curta distância atrás dele.

"Eu nunca deixei de ser seu amigo. Independentemente do que você possa ter pensado, ou o que ainda acredite, vocês três são a minha família, e nada jamais vai mudar isso." Destraidamente, ele levanta a mão direita e toca no vidro, o retirando imediatamente quando entra em contato com a superfície gélida.

Por um bom tempo, nós ficamos parados desse jeito, eu nas sombras escuras, e ele desenhado como uma silhueta na janela. Ele começa a falar algo, mas pára depois de uma breve respiração. Ele vira o rosto abruptamente, e abre a boca, mas a fecha abruptamente. Eu olho enquanto ele fica no limite de falar algo muito importante, lutando consigo mesmo pelas palavras.

No final das contas, ele suspira e se vira pela metade, ainda sem me encarar diretamente. "Está me custando cada grama de cortesia que eu tenho, para admitir isso," ele fala baixo, quase que livre de emoções. "Mas eu senti a sua falta. Você tem um temperamento podre, você é um tremendo idiota ocasionalmente, mas você é o meu melhor amigo." Um sorriso aparece nos lábios dele, e ele ri um pouco, antes de ficar sóbrio o suficiente para dizer, "Mas tem algo que você precisa entender."

Em vez de esperar a minha resposta, ele respira profundamente e vira de costas para mim.

"Não é um grande segredo que eu amo a Lily. Eu quero me casar com ela algum dia. Talvez não seja logo depois da graduação, mas nos próximos dois ou três anos. E embora talvez esteja fora de questão, eu quero ter uma família. Mas caso aconteça, eu quero estar ao lado dela. Eu quero ser capaz de proteger tanto ela quanto o nosso filho, quando o momento chegar."

Ele gira repentinamente, me encarando novamente, mas sem olhar para mim. Em vez disso, ele olha de cara feia para um ponto acima do meu ombro. Ele suspira, fecha e abre o punho, e solta os ombros de uma forma frustrada. Eu já o vi agir exatamente da mesma forma depois de uma perda particularmente difícil de uma partida de Quadribol, ou antes, depois de outra discussão com a Lily.

É outra parte do James que eu quase que esqueci. Eu estou começando a reconhecer ele em tudo que ele faz.

"Do lado de fora dessas paredes não é só diversão, não é Quadribol e jogos. Todo dia, nomes novos aparecem no jornal: aurores, trouxas, e nascidos trouxas. Pessoas que estão mortas. Pessoas como Lily. E logo logo, nós vamos estar lá fora. Nós vamos estar lutando. Nós vamos ver pessoas que conhecemos sofrer, e nós vamos perder pessoas que amamos. Não vão ser somente as fotos pavorosas no Profeta Diário, ou as histórias de horror de testemunhas. Vai ser real, bem na frente dos nossos olhos."

Em todos os anos que eu conheço o James, eu nunca o vi com uma expressão tão séria. A intensidade nos olhos dele, agora escuros com emoção, ou com uma vida nova que traçou o caminho embaixo da pele dele. E embora eu já saiba disso há meses, vi a evidência disso com os meus próprios olhos, eu posso distinguir completamente o que aconteceu com o meu melhor amigo, e eu posso apreciar isso. Ele amadureceu.

Não é somente a maturidade que aparece quando se apaixona profundamente, embora com certeza isso é uma grande parte. Mas é o tipo que ele ganhou ao retirarem os tampões dos olhos - por ler e levar a sério cada novidade, estudar a história, ficar consciente que tem mais na vida do que o que estávamos acostumados por todos esses anos.

Ele cresceu. Ele mudou para melhor. Lentamente ele está se tornando aquela pessoa que ele descreve tão eloqüentemente; a imagem exata do pai dele.

A palavra 'c'. A palavra de vinculação. Eu não deixo de perceber como que é fácil para ele falar isso, ou como que um sorriso passa pelos lábios dele, quando a palavra sai da boca dele.

Eu acho que eu deveria falar algo do tipo 'você é muito jovem', ou alguma outra bobagem, mas eu não falo. Eu acho que eu deveria chamar ele de louco, dizer que ele é um tolo por cair de cabeça, mas eu não falo.

E eu não vou falar.

Já faz algum tempo que eu tenho conhecimento que o relacionamento do James e da Lily vai além da limitação dos números. Eu posso não me identificar, mas eu definitivamente posso respeitar isso o suficiente, para guardar os comentários repreendedores para os casais que os merecem.

Eu quero dizer algo, qualquer coisa, só para que ele saiba que eu entendo isso agora. Realmente entendo. Mas parece que ele não acabou.

"Eu posso te dizer tudo sobre ela, que a faz ser tão especial para mim. Eu posso falar sem parar, mas eu sei que você já ouviu tudo isso antes, e provavelmente está de saco cheio disso. Mas isso eu vou falar," O tom dele é baixo, quase que um sussurro, mas eu ouço cada palavra alto e claro. "Precisa-se fazer muito para quebrar o espírito dela, e mais ainda para quebrar o coração dela. Algumas vezes, ela vai guardar rancor. Nos levou cinco anos para passar pelos rancores que ela tinha por mim. Mas por outro lado, nós nos tornamos pessoas melhores por causa desses empecilhos. E se tem algo que eu aprendi com isso tudo, é que ela é capaz de abrir exceções com aqueles que ela realmente se importa."

Nós dois estamos tensos. Nós dois estamos tendo grandes problemas em entregar os pontos. Eu, tentando me perdoar. James, tentando dar um fim a animosidade dele. Eu o admiro por ter a coragem de vir aqui, e permanecer calmo. Eu duvido que eu poderia fazer isso, caso eu estivesse no lugar dele.

"A última coisa que eu quero, é que ela seja infeliz, mas ela está. E não tem nada a ver com o que você fiz. Isso é passado. Ela está infeliz por causa de como nós dois estamos agindo."

As mãos dele se levantam, tão compulsivas como sempre, para o cabelo, para deixá-lo ainda mais bagunçado, e ele dá alguns passos para frente, retirando a minha atenção do chão.

"Eu andei pensando muito. Muito sobre ela, naturalmente, mas também sobre você. E eu quero ter a mesma atitude que a dela. Eu quero te perdoar, para o bem dela e para o meu próprio. Eu não gosto de hostilidade, e eu duvido que você goste. Então, é por isso que eu estou aqui. Eu acho que devemos começar a colocar isso tudo para trás."

Os meus lábios estão virando para um sorriso surpreso, porem apreciativo. Essa nova curva tem uma sensação estranha; eu não sorrio a muito tempo, mas não é uma mudança indesejável. Eu não sou uma pessoa emocional, e eu odeio quando as pessoas tentam fazer com que eu parta, mas dessa vez, eu não me importo.

Eu quero que ele veja o quanto eu sou grato. Eu quero que ele saiba que isso significa muito para mim. Eu quero que ele saiba que, por baixo dessa pessoa fantasmagórica, tem alguém que se importa com ele como um amigo, e confia nele como um irmão.

Ele está ocupado digerindo a minha reação, quando eu percebo o quanto que isso é realmente importante. Ter ele por perto, ter alguém com quem brincar e rir; Eu não tenho isso faz tanto tempo, e eu tenho saudades disso. Eu tenho saudades da sagacidade dele, das travessuras meio selvagens dele, das idéias sorrateiras dele, que sempre nos deixaram em grandes apuros com a McGonagall.

Eu sinto falta dele. Mais do que eu tinha noção, e muito mais do que o meu lado masculino está disposto a assumir.

Sem a presença do James, eu passei a conversar bastante com o Remus. Ele é um grande amigo, um intelectual. Ele sabe exatamente o que dizer, e como dizer, e recentemente eu passei a depender dele mais do que o normal, para resolver os meus próprios problemas.

E Peter é, bem, Peter. Não tem muito o que dizer. E, para falar a verdade, ele me olha com muda admiração para o meu gosto. Mesmo assim, ele é bom para uma travessura e algumas risadas, embora atualmente ele não tenha estado muito por perto para fazer isso.

Mas tem algumas posições que não podem ser preenchidas jamais, não importa o quanto você tente. Algumas pessoas deixam uma marca tão profunda, embaixo da sua pele e da sua alma, que você não consegue se esquecer delas. Resumindo, Almofadinhas não é Almofadinhas sem Pontas, não importa o quanto que um deles seja um bobo apaixonado.

Sem nenhum aviso, a comporta se abre, e os meus pensamentos, emoções, tudo escorre em um abandono afobado.

"Eu queria ter essa conversa com você. Como que eu teria começado, ou tentado me desculpar, eu não tenho idéia. Eu sou horrível em relação a isso, e eu sei que eu disse isso milhares de vezes, mas eu estou arrependido, incrivelmente arrependido. Se eu pudesse roubar um vira tempo e consertar tudo, eu faria sem pensar duas vezes. Eu errei, e eu machuquei você e a Lily. Eu também me machuquei."

Ficado ali parado pacientemente, ele observa enquanto eu solto as palavras, procurando uma solução, tentando explicar coisas que eu não entendo. O que parecia ser tão fácil e fluir livremente na minha mente, agora parece ser uma tarefa impraticável. Sufocantes, cravadas na minha garganta, e fazendo a minha língua soltar sons que parecem ser redundantes.

Suspirando, eu abro a boca novamente, para falar algo que eu espero que faça algum sentido para nós dois.

"Isso não deve ser fácil para você. Eu não sei como que você consegue olhar para mim, muito menos me dar outra tentativa. Mas obrigado, isso significa muito para mim." Então eu rio uma risada amargurada, e não posso deixar de sentir que eu devo me corrigir. "Significa mais do que muito para mim. Eu só..."

Dando mais uma pausa, para juntar as minhas palavras, eu finalmente paro de impedir os meus pensamentos, e solto a última coisa que está impedindo que o James e eu de nos recuperarmos. Eu vou dizer exatamente o que está passando pela minha cabeça, como eu sempre fiz. "Eu estraguei tudo. E eu quero que você saiba que eu entendo. Eu entendo tudo o que eu fiz de errado, e tudo que eu preciso fazer. Eu vou achar um jeito de recompensar você. E a Lily."

Ele está certo. Ela faria o que quer que seja para apagar esses sentimentos árduos que estão entre nós dois. Isso vai deixar a Lily feliz, e isso é uma das minhas prioridades. Eu quero ver o sorriso dela novamente. Eu quero ouvir a risada dela novamente, assim como o James também quer.

Um sorriso, embora uma mera silhueta da aparência malandra dele, passa pelo rosto dele. Não é sarcástico, não tem conotações escondidas que sugiram diferentemente. Somente James.

Eu volto a pilha na minha frente, jogando os livros textos para fora da minha mochila, em cima da cama, quando um certo livro me chama a atenção.

O livro do Snape.

O livro do Snape com a declaração de amor dele para Lily.

Eu peso a idéia de mostrar isso para James, deliberando se vale a pena o esforço de uma explicação. Agora não é a hora dele lidar com isso, mas ele merece saber. No momento que ele toca na porta, com a mão direita na maçaneta, para me deixar sozinho com as minhas coisas, eu chego a uma decisão.

"Eu sei porque ele a salvou."

Ele congela.

A frase é curta e concisa, mas faz com que o olhar severo e sondador dele encontre o meu mais rápido do que a queda de um nuque. Ele não precisa perguntar, ele sabe muito bem quem é 'ele'. Só tem uma pessoa que se encaixa nesse critério agora.

"O que você quer dizer?" ele pergunta, embora seja uma pergunta inútil.

Eu acho que ele tem uma boa idéia de aonde isso vai levar, e ele não gosta disso nenhum pouco.

"O que eu quis dizer é que eu sei porque Snape não deixou ela para trás, nem permitiu que ela fosse torturada pelo Rosier." Eu respiro profundamente, me preparando para o pior. "Ele está apaixonado por ela."

Choque preenche os olhos dele, a testa enrugada dele, o nó na garganta que ele está tentando engolir desesperadamente. Ele parece estar em um estado de meio transe, enquanto a mente, o coração, o estômago dele processam esse detalhe novo. Ou será que é novo?

"Eu não preciso ouvir isso." Ele diz irritadamente, com a voz perigosamente baixa e um pouco instável. Snape sempre foi um assunto sensível com ele, desde o 'incidente no lago' no quinto ano, e agora é mais do que antes, eu acho.

"Se você quer ouvir isso ou não, isso não é a questão. O que eu disse é um fato."

Ele vem até aonde eu estou mais uma vez, com os olhos arregalados ampliados pelos óculos, engolindo os gritos que eu tenho certeza que ele adoraria soltar agora, mas ele consegue controlar o impulso.

"Qual é o problema? Você acha que eu não percebi? Eu vi isso de primeira mão. Em Poções, ele dá olhares quando ele acha que ela não está olhando. Quando nós passamos por ele no corredor, ele não olha mais de cara feia para mim. Em vez disso, ele olha para ela." ele fecha os olhos rapidamente, e trinca os lábios. "Eu vi isso, pode acreditar. Só que eu nunca fiz nada contra isso, só porque não vai adiantar de nada e ela vai achar que eu voltei a ser como eu era antes."

"Ja- Pontas, olha. Eu nunca prestei muita atenção nele para perceber isso. Para falar a verdade, eu nem me importo com quem ele está olhando, ou sobre o que ele está pensando. Eu descobri isso algumas semanas atrás, antes disso tudo acontecer. Slughorn queria que ele fosse o meu tutor, nós discutimos, e ele me deu esse velho livro para que nós não tivéssemos que trabalhar juntos. Está bem aqui, tão claro quanto o dia."

Eu abro o livro na página aonde a anotação está escrita, e seguro para ele ver. Ele pega o livro da minha mão e o segura, chocado com a prova na frente dele.

"Parece familiar?"

Olhando na página, lendo as inicias que ele rabiscou tantas vezes nos cadernos dele, ele balança a cabeça. Não como uma recusa para aceitar a verdade; com certeza ele viu aquele brilho nos olhos do Snape, quase idêntico ao brilho dos próprios olhos dele. Ele teria que ser cego para não ver isso.

Mas isso não quer dizer que ele não esteja lutando contra isso.

"Se ele a ama, então porque ele está sempre andando com aqueles brutamontes, Crabbe e Goyle? Ela já deixou bem claro que ele precisa mudar, você não acha? Se ele a amasse, realmente, realmente a amasse, então a escolha seria simples."

Eu rolo os olhos e jogo o livro de volta na cama. Obviamente não é a melhor decisão, já que causa que algumas folhas soltas caiam, mas eu não me importo. Duvido muito que eu teria um uso melhor para elas.

"Eu não estou dizendo que eu entendo o que se passa naquela cabeça maluca dele, e eu estou grato que eu não entenda. Mas, por outro lado, eu sei que você já pensou sobre isso. Eu sei que você já imaginou porque ele salvou ela quando, primeiro, ele sabe que você a ama, e segundo, ela é nascida trouxa, e ele tem conteúdo de Comensal da Morte. Para falar a verdade, provavelmente essa é a única coisa que vocês dois têm em comum. Ela significa algo para vocês dois."

Ele cruza os braços defensivamente, e olha de cara feia, mas não se opões.

"Eu suponho que ele já foi questionado sobre o Rosier, certo? Ele provavelmente sabe exatamente aonde ele está, mas ele não disse nada. Não pode arriscar se incriminar, certo?"

"Se ele souber, ele não disse nada. Ele provavelmente sabe, mas não tem o porque negar nada. Dumbledore saberia se ele estivesse mentindo. Dumbledore sempre sabe."

"Se eu-" Eu começo, mas ele deduz aonde eu estou levando a conversa, e me corta balançando a cabeça violentamente.

"Pára com isso. Pára de se acusar por algo que estava fora do seu controle. Você fez o seu estrago, sim, mas o que aconteceu com a Lily não foi culpa sua. Na verdade, eu diria que é parcialmente minha. Se eu tivesse dito algo, feito algo depois da primeira tentativa, em vez de deixar a minha raiva me controlar, eu teria nos poupado."

Irritação ferve mais uma vez dentro de mim, e eu fecho o meu baú com toda a força. Ele chega para trás, a minha reação explosiva o pegou de surpresa.

"Se é assim que você quer analisar isso, então Lily, Aluado, Rabicho, e eu temos tanta culpa quanto você. Nós estávamos lá, nós podíamos ter dito algo para McGonagall, ou para o Dumbledore, ou qualquer pessoa, mas não falamos. Nós não falamos. Isso não é o seu erro. Eu não posso te culpar por ter reagido da forma que você reagiu. Se tivesse sido Mar-"

O nome descontinuado paira no ar, sem precisar de explicações extras, enquanto o ar sai dos meus pulmões. James está claramente indeciso se ele deve ou não falar, mas julgando pelo silêncio que percorre os meus ouvidos, ele escolhe o silêncio.

Não. Eu não posso mais pensar nela desse jeito. Eu não posso pensar nos 'e se' ou nos 'devia ter'. Eu não posso pensar em todas as coisas que eu quero falar, porque nada disso importa. Nem falar ou omitir o nome dela vai trazê-la de volta, ou mandar ela mais ainda para longe.

Por um longo minuto - um minuto que a minha mente utiliza para desperdiçar esse tempo em desejos inacessíveis - nós estamos em uma pausa. Ele tosse, eu me mexo, e nós dois esperamos o desconforto passar. Nenhum dos dois consegue pensar em algum jeito de preencher o vazio, até que uma luz de recordação brilhe nos olhos dele.

"Eu acho que nós já estabelecemos porque eu vim aqui." Ele se inclina na janela congelada, e sorri. "Agora, esse é o ponto onde você entra."

E dessa forma, nós estamos de volta ao normal - ou pelo menos o que pode ser considerado normal para nós. Por tanto tempo, eu tinha tanta certeza que nós tínhamos mudado. Mesmo assim, aqui estamos nós, ainda em boas condições, mas dificilmente diferentes.

"Você vai me ajudar a fazer o que eu devia ter feito a muito tempo atrás." Aquele brilho familiar, travesso de Maroto volta a vida nos olhos dele, e a sensação a muito tempo perdida de euforia arde nas minhas veias.

As coisas vão ficar interessantes.

XXXX

A/N: Pois é, depois de muita demora eu atualizei. Finalmente alcancei a minha outra história a original (caso não tenham lido, dêem uma olhada, chama-se A Cada Outra Meia Noite, e já tem 56 capítulos postados), e pude traduzir esse capítulo.

A autora não atualiza essa fic desde Maio, então não sei se ela pretende continuar ou não com a história. Caso ela atualize, eu traduzo e posto para vocês.