Título: God Save the Lover
Cap. 6: Salve-me
Eu engoli em seco. Minha garganta ardia pedindo líquido, mas a produção de saliva parecia ter parado. Eu estava congelada, só meus olhos escuros se mexiam. Ora encaravam Edward, que estava em pé ao meu lado, ora Jacob, que ficava fitando firme para mim da frente da cama.
-Não sei do que está falando, Jacob. Ele é só meu amigo, estava me consolando. - retruquei a sua afirmação nada educada, após titubear um pouco.
-Pare de agir assim. Que ridícula. Você estava grávida até poucos dias atrás! Meu Deus, eu não sou burro, Bella! - ele ergueu sua voz mais do que necessário e parecia agoniado ao pronunciar cada palavra. Eu estava tremendo muito, puxei um pouco as cobertas para ver se passava - em vão.
-Por favor, perdoe-me a ousadia de dirigir-lhe a palavra, majestade, mas creio que não é falando assim com tua esposa que o... - Edward falava mansamente com sua voz de veludo, com seus olhos olhando para o chão, até ser interrompido por um golpe.
Jacob deu-lhe um soco no rosto, mas ao invés do previsto não vi Edward no chão com uma expressão de dor. Vi Jake apertando o punho recém usado com a outra mão. Ele grunhia de dor, aparentemente, a pele marmórea de Edward não tinha só a cor e a temperatura da pedra, mas também sua rigidez. Levantei-me fazendo certo esforço, senti um relampejo de dor e vi meu pijama branco se tingir de vermelho rapidamente, mas não liguei. Ajoelhei-me perante Edward, ele tinha um olhar apologético em suas íris cor de mel. Mexi meus lábios de forma a dizer "vá logo" e antes que eu pudesse sentir outra ferroada vinda do meu ventre ele já tinha partido. Arrastei-me até onde Jacob estava, até agora, sofrendo com a dor.
-Meretriz. - ele não me encarava.
-Não, eu só... - não conseguia pensar num modo de terminar a frase, pois eu mesma não encontrava palavra melhor para me descrever. Calei-me.
O ardor na face provocado pelo tapa, ou a cortante dor no meu abdômen não se comparavam com a sensação que emanava de meu peito. Sentia meu coração se estilhaçando, como se fosse feito de vidro - um vidro fino e frágil. Ele parecia que ia parar de bater a cada momento, suas batidas incertas faziam com que me contorce-se. O pior de tudo era saber que essa sensação vinha da recente perda de um vampiro de cabelos cor de bronze. Não era da culpa, não era do bofete, era simplesmente da perda.
Senti-me sendo arrastada, eu gritava - mesmo que minha voz mal saísse -, pois era puxada pelos cabelos. Conseguia sentir uma pontada aguda cada vez que um fio do meu cabelo marrom e sem-graça era arrancado. Não agüentando mais juntei tudo que tinha de força e ergui-me. Abri os olhos e tentei focalizar o que via, só consegui enxergar o rastro de sangue que eu deixava para trás e minhas pernas cobertas do líquido rubro. Fechei de novo os olhos para aliviar a tontura que o cheiro de ferrugem estava me causando, não adiantou muito.
Tenho certeza que estava prestes a desfalecer quando senti meu cabelo sendo largado, mas ao invés de alívio, mais dor. Fui empurrada contra uma parede e senti as costas da cabeça bater forte. Não consegui manter a consciência; no início eu pensava 'Fique acordada, Bella', mas o sono e a exaustão venceram e eu pude perceber os sentidos lentamente esvaindo-se.
Quando acordei não vi nada a minha volta. Tudo estava escuro demais para poder enxergar qualquer coisa. Minha barriga implorava por alimento, eu devia ter passado um bom tempo desacordada. Retraí-me, apertando com força os joelhos contra o peito. Onde eu podia estar? Estava frio e eu não me sentia disposta nem para comprimir os meus joelhos. Larguei-os antes que me esgotasse. Foi aí que um ruído invadiu o local, eu não sabia dizer o que era com certeza, mas parecia vir da porta. 'Provavelmente a tranca' pensei. Arregalei e agucei meus olhos para ver quem entrava.
A figura não era tão familiar quanto eu imaginei que seria. Era jovial e tinha uma expressão aparente de preocupação. Ajoelhou-se a meu lado e me ergueu em seus braços.
-Rainha Isabella! Como estás? - reconheci finalmente a pessoa por sua voz. Aquela voz de inabalável calma, grossa, mas nem por isso rude invadiu meus ouvidos e eu consegui a imagem perfeita da pessoa com quem falava: Carlisle.
-Carlisle... Edward, onde ele está? - gaguejei muito, as mãos frias dele me seguravam firmemente e sem aparente esforço.
-Foi perseguido pela guarda pessoal do Rei. Teve de se esconder. Majestade, ele me deixou encarregado de lhe procurar. Venho fazendo isso a mais de dois dias. - ele ainda estava inalterado.
-Dois dias... Mas Edward? Ele vai ficar bem? - eu não conseguia disfarçar minha preocupação.
-Majestade, tenho plena consciência que sabes de nosso segredo, então não deveria estar preocupada com Edward. Ele ficara bem. Se preocupe mais com você, afinal quem está mais pálida aqui é, inacreditavelmente, a senhora. - ele apertou-me com mais força, mas mesmo demonstrando preocupação com suas palavras e atos não detectei o menor sentimento em sua voz.
Tínhamos caminhado - na verdade Carlisle tinha caminhado - por um longo corredor e finalmente saímos à luz. Senti meus olhos queimarem um pouco, mas logo me acostumei e pude ver o reluzente cabelo loiro do meu carregador chacoalhando com a brisa - que estava brava demais para não ser uma daquelas que precede as tempestades inglesas. Nunca havia reparado como Carlisle também era muito atraente, tanto quanto Edward. Sua pele era semitransparente como a do quase ruivo, seu corpo frio e rígido como o dele também. Foi aí que veio o clarão:
Juntando o "Nosso segredo" que ele acabava de pronunciar, sua aparência e todas as vezes que eu senti sua cumplicidade com Edward, me senti idiota de não ver a resposta que o tempo todo esteve no meu nariz. Carlisle também era um vampiro.
-Dói. - eu falei em meio às bruscas puxadas de ar que eu precisava dar para respirar.
-Eu posso imaginar. - sorriu tristemente - Vamos. - e andou ainda mais rápido.
Logo estávamos na cabana onde Carlisle morava - aparentemente, aquele tempo todo eu estive dentro do castelo, talvez em um tipo de masmorra, ou algo que lho valha. Ele me colocou na cama que havia no meio do pequeno ambiente e iniciou sua busca pelo desconhecido. Abria todas as portas, gavetas e armários procurando encontrar algo.
—Finalmente! — ele praticamente amaldiçoou.
—Encontrou? - não sabia o que, mas quis incentivá-lo para ao menos quebrar o silencio que começava a se formar.
Ele apenas acenou com a cabeça positivamente, eu ainda não estava certa do que ele havia encontrado até ele andar de encontro a mim para enfim abrir a caixinha de mogno que carregava. Lá dentro eu vi frascos - de remédio talvez -, ataduras e outras coisas que servem para cuidar de enfermos e feridos. Abriu uma rolha e despejou um líquido amarronzado em todos os meus pequenos cortes e em seguida falou:
-Tenho de examiná-la. - sou voz era firme, mas eu estava extremamente encabulada - Sou médico, posso lhe garantir.
-Médico? Então por que estás aqui? O senhor tem um profissão maravilhosa deveria praticá-la! - eu falava como uma criança, mas é que eu estava realmente surpresa.
Ele só sorriu tristemente em resposta.
Provavelmente a história por trás de ele não praticar não era agradável.
Enfim ele me examinou, atestou que eu não poderia me mexer por ao menos três dias. Falou que eu não havia dado a chance de meu corpo cicatrizar e por isso sangrou novamente, eu escutava atentamente, mas minha mente divagava para outro lugar. Só conseguia imaginar Edward sendo preso. Sei que provavelmente não conseguiriam matá-lo, mas e quando descobrissem isso? O que Edward faria? Seu cheiro meio adocicado, sua voz aveludada e seu cabelo reluzente não me saíam da cabeça e ao mesmo tempo em que estava preocupada com tudo, estava feliz. Feliz porque ele disse que me amava.
- Vossa Majestade está me escutando? - ele aproximou o rosto do meu, talvez achasse que eu estava mal novamente.
-E meus filhos? Eu preciso vê-los. - falei olhando para os padrões desenhados no lençol que me cobria, meus dedos apertavam com força o tecido, torcendo-o para tentar aliviar algo que estava preso em mim.
-A senhora necessita de ao menos três dias. Depois disso poderá voltar ao castelo, e eu tenho de lhe contar os planos do senhor Edward, mas ele prometeu que estaria aqui após seu resgate, então ele virá e poderá explicar ele mesmo.
Eu sorri, virei para o outro lado com extrema cautela e fechei os olhos, mas comecei a lembrar-me da fome que sentia.
-Carlisle, tem algo eu possa comer? - pronunciei sem me virar.
-Apenas pão. - falou provavelmente enquanto erguia o corpo, pois eu senti o peso sendo retirado da cama e ela fazendo um ruído, com o qual eu quase ri, pois parecia de alívio.
-Qualquer coisa...
Ele me serviu o pão que comi sem cerimônia. Não era novo, mas minha fome exigia comida, fosse o que fosse.
E meu primeiro dia se encerrou assim, pois eu fechei meus olhos, cansada, e só os reabri na manhã do segundo dia - que eu descobri ser na verdade o primeiro. "Você não ficou nem doze horas do dia de ontem aqui, não conta." Foi o que Carlisle disse. Eu bufei e dei de ombros.
-Agora tenho de ir trabalhar. - falou-me enquanto abria a porta - não saias, majestade, e não abras para ninguém. Melhor que isso: não saias da cama.
-Fique tranqüilo, Carlisle. - sorri.
O ponteiro do relógio se arrastava e eu mal podia esperar pelo momento em que Carlisle voltaria para me tirar do meu enfado. Bateram na porta, não normalmente, foram três batidas, depois duas e mais uma por fim. Eu me encolhi e cobri até a boca com o mesmo lençol desenhado de antes. Senti a dose de adrenalina sendo espalhada pelo meu corpo quando as batidas - coordenadamente como antes - repetiram-se.
-Droga, Carlisle! Sou eu! Abra essa porta. - e lágrimas vieram a meus olhos ao ouvir aquela voz de veludo. Não tinha erro, era Edward.
-Edward? - eu falei o mais alto que pude.
-Isabella! - sua voz estava cheia de comoção, exatamente como a minha.
-Edward, eu não posso me levantar para abrir a porta. - choraminguei.
-Está tudo bem, vou entrar pela janela.
E assim aquela figura o fez. E logo que confirmei com meus olhos o que eu já sabia senti meu coração disparar. O cabelo levemente avermelhado estava uma bagunça, as roupas sujas e gastas. Mas ainda era aquele mesmo Edward que me causava arrepios ao me tocar, era o mesmo da voz de veludo que me encantava.
-Como você está? - ele tocou meu rosto muito suavemente, mas foi o suficiente para que uma onda deliciosa percorresse meu corpo.
-Melhor, eu acho. - sorri.
Ele aproximou seu rosto do meu e beijou minha testa, depois meu queixo e enfim meus lábios. O contato frio me assustou no inicio, mas logo entreabri meus lábios para aprofundar o beijo. Fui surpreendida por um abraço em meio aquele beijo repleto de saudade. Edward soluçava - sim, ele estava chorando - E eu não sei o porquê, mas meu coração, que tinha acabado de se emendar, foi partido novamente. Provavelmente era aquela sensação, da qual já havia falado. Quando estamos com Edward se ele está triste, estamos tristes, se está feliz, estamos felizes. A melancolia impregnada em seus olhos lentamente contagia os outros.
-O que foi? - eu o afastei um pouco empurrando-o pelos ombros com toda minha força.
-Eu achei que tinha te perdido. Eu não ia agüentar... Não de novo. - ele murmurou no meu ouvido, os arrepios desciam minha espinha junto com a sibilada de cada palavra.
-Eu estou aqui, e não vou a lugar nenhum tão cedo. - apertei-o contra mim.
-Eu preciso te contar algumas coisas. Acho que eu te devo. - ele me pulou quando subiu na cama e deitou-se ao meu lado.
Entrelaçou seus dedos aos meus e eu me senti mais próxima a ele naquele momento do que em qualquer transa. Eu tinha me declarado, pois a paixão corroia meu coração, e tinha sido correspondida, mas isso não significava que tudo estava perfeito. Eu não tinha a mínima intimidade com Edward, quero dizer: Não sabia nada sobre ele.
-Lembra quando lhe falei da minha mãe? - me perguntou repousando sua cabeça no vão do meu pescoço.
-Sim. - respondi bem devagar.
-Sabe por que eu a amava tanto? - após meu balanço negativo da cabeça ele continuou: - Ela era humana, assim como eu também já o fui um dia. Éramos uma família feliz até meu pai... até meu pai...
-Não precisa continuar se não quiser. - eu passei meus dedos por entre seus cabelos um pouco embaraçados.
-Está tudo bem. - sorriu aquele sorriso falso e sem forças - Eu tinha uma irmã e meu pai a molestou. Minha mãe não agüentou aquilo. Não conseguiu conceber de maneira alguma como ele pode ter feito aquilo. Eu tinha 20 anos, a idade que ainda tenho até hoje. Meu pai tentou me matar porque eu quis contar ao padre que vivia perto, minha mãe me protegeu, morreu no meu lugar. Minha irmã assustada jogou uma pedra na cabeça de meu pai e o matou. Ela saiu correndo para um lado, eu para o outro. Quase me afoguei ao tentar atravessar um rio. É a ultima coisa que me lembro antes de acordar sedento por sangue. Cuidei para que pudesse domar essa sede, aprendi a me controlar. Anos depois descobri que minha irmã foi morta por uns soldados, e no mesmo ano encontrei Carlisle.
-É por isso? Por que tua mãe o salvou. Deves tua via a ela. - eu sorri, acho que foi até exagerado, mas eu não continha a felicidade que emanava de meu coração por ele estar se abrindo comigo.
-Sim. - Ele não me olhava nos olhos.
-E Carlisle? - o cutuquei para que me fitasse.
-Um médico acusado injustamente de bruxo, pois durante um parto ambas a mãe e a criança morreram. Ele foi jogado na água para um teste que provaria sua bruxaria. Quando o resgatei já era quase tarde demais, não tive oura opção a não ser convertê-lo em um monstro como eu.
-"Bruxo"? Então isso foi a mais de... - ele acenou com a cabeça e eu nem precisei continuar a frase.
-Meu deus, estou com um idoso! - eu ri, mas ele ficou sério.
-Sabes que eu não envelheço, certo?
Eu grudei meus lábios a sua orelha e sussurrei: - Posso ser uma vampira por ti.
-Faria isso por mim? Tens certeza, vossa majestade? A dor, a agonia. Terá de aprender a se controlar... - seu olhar era tão triste e vago, fiquei pensando se ele estaria recordando-se de seu próprio sofrimento.
-Faria tudo por ti.
-Eu quero que saibas que eu te amo, Bella. E preciso te pedir que faça parte de um plano (Carlisle deve tê-lo mencionado) para que fiquemos juntos.
Concordei com a cabeça e prestei atenção no que ele tinha para falar. Seria difícil mas eu conseguiria, para poder ficar com Edward.
Olá!
Como vão todos? Não estou totalmente satisfeita com este capítulo, por isso talvez eu estarei modificando-o quando postar o próximo!
Reviiiiiiiiiiiiiews please! ;D
Dan' - tentei vencer a preguiça, mas não deu muito certo! Me perdoe! Ahahha ;*
Jess Oliver Masen Cullen - Nossa! Obrigada! Continuei! ;*
Julliet Disappear - Pode odiá-lo agora, porque eu odeio. No livro eu amo o Jacob, por isso senti necessidade de criar um Jacob do qual eu não gostasse e uma Bella da qual eu não tivesse tanta raiva.
Ana Kawall - Matei um pouco da curiosidade? ;)
Beijoos!
Louise