N/A: Olá meus amores eu sei q ainda ñ atualizei as minhas outras fics, mais ñ resisti fazer uma adaptação desse livro q pertence a autora Susan Mallery, espero q gostem! Até pq acho q depois dessas minhas três fics..."anjo negro", "amor e confiança" e "mperdoável paixão" eu talvez encerre minha carreira, por isso to fazendo tudo de uma vez pode ser q ñ tenha uma próxima, pelo menos ñ uma song, mais aqueles q gostam do q eu faço ñ se preocupem q as fics estão todas no começo e a maioria são grandes.

Vamos lá ela tem NC, portanto como sempre advirto " se vcs ñ gostam ou seus pais ñ permitem ñ prossigam"

Essa ficc passa nos anos 50 e em uma cidade do interior de Londres por isso as coisas lá são um tanto... sei lá ñ da pra explicar é melhor vcs lerem!

Capitulo I

Tiago Potter voltara. Esse era o assunto do dia na Evans General Store, a única loja da pequena cidade de Landing, onde se podia comprar de tudo, desde mantimentos, ferramentas e implementos agrí colas até roupas finas e calçados elegantes. Lílian Evans, a jovem proprietária, ouvia as vozes animadas em meio ao ruído dos pregos sendo pesados na balança ao fundo do estabelecimento e às passadas dos fregueses no chão de tábuas. Os fazendeiros e os rancheiros, que tinham vindo à cidade em busca de suprimentos, comentavam a grande novidade: a volta de Tiago Potter que veio ocupar o lugar do xerife recentemente falecido. Os moradores mais antigos acreditavam não se tratar do mesmo rapaz que abandonara a cidade há sete anos. Ele não se atreveria a mostrar a cara em Landing, depois do que acontecera. Os mais novos queriam saber o que Tiago tinha feito. Vagas referências a travessuras infantis e farras de juventude não os impres sionaram. Afinal, a cidade necessitava de um xerife, e se o sujeito fosse capaz de protegê-los e manter a ordem, seu passado não vinha ao caso.

As mulheres, reunidas ao redor dos rolos de tecidos e dos figurinos com a última moda de Paris, comentavam que nunca tinham visto rapaz mais bonito do que Tiago Potter.

— Bonito e criador de problemas — afirmou a viúva Dobson. Depois, afastando-se do grupo, voltou para a frente da loja, onde ficava sua mesa de trabalho, que servia como agência do correio local.

As palavras da viúva atraíram a atenção de Lílian, que levantou os olhos da relação de estoque que conferia. O primeiro grande carregamento de mercadorias do Leste acabara de chegar, e era preciso verificar item por item.

— Quem está criando problemas? — perguntou. A von tade de falar a respeito de Tiago venceu sua costumeira reserva. Perguntas sem fim giravam-lhe na mente: Ele es taria mudado? Lembraria dela? Que bobagem, censurou-se em seguida. Claro que Tiago não esqueceria a cruel despedida de sete anos atrás... Mas quem iria imaginar que ele voltaria um dia?

A sra. Dobson interrompeu a contagem de seu pequeno estoque de selos e ergueu a cabeça, ajeitando o corpete do vestido... Passados dez anos da morte do marido, ela conti nuava de luto. Na opinião de Lílian, apenas porque a cor a favorecia, contrastando com os cabelos de um loiro agora desbotado.

— No momento, ninguém — respondeu a viúva. — Es távamos falando de Tiago Potter. Aquele rapaz sempre foi mais bonito do que um homem tem o direito de ser, mas também esteve sempre envolvido em confusões. É do tipo a quem as mulheres e os problemas perseguem o tempo todo.

Lílian enxugou a palma das mãos subitamente suadas na saia.

— Talvez esteja mudado.

Voltando-se, a sra. Dobson estreitou os olhos azuis e encarou Lílian com atenção.

— Você não era uma daquelas desmioladas que viviam atrás do rapaz, era, Lílian?

A jovem ergueu o queixo com altivez. Sua risada soou confiante a seus próprios ouvidos.

— Alguma vez me viu com ele? Pode imaginá-lo vindo à minha casa para me cortejar?

A viúva reclinou-se para trás na cadeira e sorriu.

— Claro que não, Lílian. Você sempre foi uma boa garota. Respeitável. — Ela voltou a lidar com os selos. — Eu não a culparia se também se encantasse por ele. Seria impossível censurá-la por isso. E Tiago não era de todo mau, sou obrigada a reconhecer. Ainda assim, provocará problemas. Estou com um pressentimento.

Disfarçando a perturbação, Lílian foi refugiar-se nos fundos da loja. Atrás de uma cortina havia dois aposentos. À esquerda, o maior era usado como depósito para o estoque. À direita, uma pequena sala servia-lhe de escritório. Fe chando a porta, ela apoiou os quadris na escrivaninha.

Como o restante do estabelecimento, o lugar era limpo e organizado. Lutando contra a agitação que a dominava, Lílian colocou os papéis que trouxera numa pilha à di reita, sobre a escrivaninha e foi até uma mesinha auxiliar, no fundo do pequeno escritório. Lá havia uma bacia e uma jarra de água. Depois de arregaçar as mangas, tratou de jogar um pouco de água fresca nas faces afogueadas.

Não adiantou. O espelho oval colocado na parede mos trou-lhe o rubor de seu rosto. Seus olhos brilhavam, se era de excitação ou medo, ela não saberia dizer. Os lábios rosados e carnudos tremiam.

Tiago Potter voltara.

Talvez não fosse ele, tentou acalmar-se enquanto descia as mangas. O nome era relativamente comum. Pelo menos, era uma vaga esperança.

Ajeitando os cabelos, Lílian voltou para a loja. Andrew, seu assistente, estava embrulhando um corte de musselina para uma jovem freguesa. Sem dúvida ela confeccionaria um belo vestido para o baile de Quatro de Julho. A come moração da Independência ainda estava a meses de distân cia, mas as pessoas se preparavam para a data com muita antecedência. Pensar na festa contribuiu ainda mais para lhe despertar lembranças de Tiago. Trouxe-lhe à memória as ocasiões em que ficava dançando com os rapazes que seu pai aprovava, enquanto observava Tiago pelo canto do olho. Ele dançava com quase todas as garotas, menos com ela. Fazia-as rir com suas brincadeiras e as fascinava com seu charme.

Uma vez, porém, numa dessas festas, numa noite mágica de céu estrelado, Tiago a encontrara fora do salão, cami nhando por entre o arvoredo. Não havia mais ninguém ao redor, embora a música das rabecas e sanfonas ainda se fizesse ouvir. Sem dizer uma palavra, ele a tomara nos braços e começara a dançar, segurando-a mais próximo do que os outros rapazes costumavam fazer. Tão perto que Lílian sentiu o calor do corpo jovem e másculo, e a res piração quente em sua face. Dançaram pelo que lhe pareceu uma eternidade, girando, olhos nos olhos. As mãos dele quei mavam em suas costas. Depois, enquanto aguardavam no intervalo entre as duas músicas, Tiago inclinou-se e, por um breve instante, seus lábios roçaram os dela. Então ele a fitou e...

— Ei, Lílian. — Uma voz de mulher veio interromper-lhe as recordações. — Preciso de alguns metros de seda.

Piscando, um tanto confusa, ela descobriu-se de pé atrás de um dos balcões da loja. A mulher à sua frente falava a respeito do próximo casamento da filha e da necessidade de fazer alguma coisa bonita para a jovem usar na noite de núpcias.

Lílian voltou a devanear. Nunca tivera uma noite de núpcias. Nem um casamento. Aos vinte e quatro anos, já era considerada solteirona. Mas era também uma mu lher de negócios, lembrou a si mesma, apressando-se a servir a freguesa. E daí se Tiago tivesse voltado? Não ligava a mínima. Não tinha tempo para preocupar-se com isso. Durante toda aquela tarde, porém, enquanto traba lhava, sua mente reproduzia a música daquela noite a tanto tempo passada, e seus lábios tremiam com a lem brança do beijo de Tiago.

Às três e meia, Lílian não agüentava mais. Se outra pessoa entrasse na loja falando sobre a volta de Tiago Potter, ela gritaria. Todos comentavam sobre a tal possibili dade, mas ninguém parecia disposto a averiguar a veraci dade da informação.

Não suportando o falatório nem por mais um minuto, Lílian marchou para seu pequeno escritório nos fundos da loja. Lá, colocou o chapéu, fazendo uma pausa diante do es pelho para verificar se estava direito e se nenhum fio de cabelo escapava do penteado. Depois, pegando o manto, ajeitou-o so bre os ombros e prendeu o fecho na altura do pescoço. Luvas e bolsa na mão, voltou para o interior da loja.

— Andrew, tome conta de tudo para mim — determinou, enquanto encaminhava-se para a porta.

— Aonde você vai? — perguntou a viúva Dobson. Detendo-se à soleira, Lílian calçou as luvas.

— Vou descobrir se é verdade.

A mulher mais velha ficou de boca aberta.

— Está querendo dizer...

— Que estou indo até o escritório do xerife.

— Mas você não pode. Minha querida menina, se for ele... Bem, Tiago é "aquele" tipo de homem. O que as pes soas vão pensar?

A pergunta fez com que Lílian hesitasse. Conhecia o poder "do que o povo pensava". Tinha vivido toda a vida na dependência do que os outros pensariam ou não de seus atos. Entre as regras de comportamento de seu falecido pai e tendo como cunhado o pastor da igreja local, ela sempre fora obrigada a levar em consideração as opiniões alheias.

Por outro lado, tinha de saber se era verdade. Se não fosse o mesmo Tiago Potter que conhecera, simplesmente se apresentaria e sairia de lá. Se fosse ele... bem, pensaria no que fazer quando o visse.

— Estamos em plena luz do dia — falou, enquanto abria a porta. — O escritório do xerife é um lugar público. Não é como se eu estivesse indo ao quarto de um homem, sra. Dobson. Por que alguém pensaria mal?

E antes que perdesse a pouca coragem que reunira, saiu para a calçada, dirigindo-se à delegacia.

Os saltos de suas delicadas botinas batiam nas tábuas de madeira da calçada em frente à loja. O calçamento con tinuava até a cocheira onde as diligências paravam, termi nando abruptamente em frente ao açougue. Dali em diante havia um trecho de terra, até a calçada de madeira reco meçar diante da delegacia.

Sem hesitar, Lílian levantou a barra das saias até os tornozelos. Depois de observar com atenção o barro, a fim de evitar os piores trechos, e de fazer uma prece pelo bem-estar de suas botinas, atravessou corajosamente o lamaçal, alcançando de novo o calçamento. Batendo os pés para li vrar-se do barro nas solas, ela cumprimentou alguns co nhecidos, rezando para que não parassem para conversar e perguntar o que ela ia fazer. Seu coração batia disparado no peito e as mãos estavam suadas dentro das luvas de pelica. Erguendo o queixo, tentou ignorar o medo e aproxi mou-se da entrada do edifício de dois andares que abrigava a delegacia e a cadeia local. Duas janelas flanqueavam a porta. Não eram lavadas havia meses, o que a impedia de apenas espiar o interior e ver a cara do novo xerife. Mas, afinal, não ficava bem uma dama espreitar pelas janelas dos outros. Não, o que tinha a fazer era simplesmente abrir a porta e entrar, como qualquer cidadão decente. Veria por si mesma e depois sairia.

Fácil falar, mas difícil fazer. A indecisão a mantinha pa ralisada. "Ora, vamos acabar logo com isso!", ordenou-se com firmeza. Tinha de agir antes que algum outro conhecido aparecesse. Além do mais, o que de pior aconteceria?

Sem fazer ruído, abriu a porta e entrou. Naquele mo mento, Lílian se deu conta de que era a primeira vez que entrava na delegacia. Nunca tivera motivos para ir até lá.

Parada à soleira, inspecionou o ambiente. As paredes rústicas não eram empapeladas e vários cartazes de crimi nosos procurados estavam pregados nelas. Um pálido raio de sol infiltrando-se pelas janelas empoeiradas ilumi nava o chão riscado pelos saltos de botas e esporas dos homens que por ali transitavam. Três escrivaninhas ocu pavam quase todo o espaço. Duas portas conduziam aos fundos da delegacia, onde ficavam as celas. Ambas encon travam-se fechadas, e com exceção dela própria, a sala es tava deserta.

Aliviada, avançou alguns passos. Não haveria ninguém para testemunhar sua potencial humilhação em face de Tiago Potter. Claro, também não havia nenhum Tiago potter.

Devagar, ela aproximou-se da mesa maior, onde se via uma grande caixa de madeira. A tampa havia sido retirada, e era possível ver o conteúdo: lápis e papéis, juntamente com um par de algemas. No fundo, Lílian avistou o cabo de uma faca, com as iniciais gravadas. Não dava para ler as letras, naquela posição, mas nem era preciso. Tiago potter tinha o hábito de gravar suas iniciais nas facas que possuía. Com certeza tratava-se de um T e um P, idênticos aos que estavam gravados na faca que ela ainda guardava no fundo de sua caixa de jóias.

Era ele. O Tiago Potter que conhecera tinha voltado.

— Ora, que bela surpresa!

A agradável voz masculina, soando de repente às suas costas, fez Lílian virar-se sobressaltada. Ele encontrava-se parado à porta dos fundos, e a luz que vinha de trás tornava difícil para Lílian distinguir-lhe as feições. Mesmo assim, ela o reconheceu de imediato. A largura dos ombros, a in clinação da cabeça e a graça felina do andar ao avançar na direção dela eram inconfundíveis. Lílian não percebeu que recuara até a escrivaninha ficar entre eles. Ao se dar conta disso, achou que o fato devia lhe dar mais segu rança, mas tal não ocorria. Nesse momento, Tiago alcançou o meio da sala e a luz iluminou-o por inteiro. Ela quase desejou que tivesse continuado na sombra.

Os sete anos decorridos haviam-lhe acrescentado matu ridade à beleza. Os cabelos continuavam tão escuros quanto antes, o comprimento atingindo a altura do colarinho da camisa branca. Os olhos igualmente escuros percorriam o rosto e o corpo dela com a apreciação impessoal de um comprador de cavalos examinando uma égua de raça. Lílian, porém, estava concentrada demais em estudá-lo para ofender-se. Havia pequeninas rugas ao redor dos olhos dele. Seriam devidas à exposição ao sol, ou Tiago teria tido motivos para rir e sorrir naqueles sete anos? As linhas em torno da boca faziam com que esta parecesse ainda mais sensual. O queixo quadrado e voluntarioso ainda se projetava em teimoso desafio. Uma vez Lílian lhe dissera isso, e eles haviam rido. A risada conduzira a beijos, e ele a abraçara pela cintura. Em seguida, suas mãos tinham su bido até os seios dela e...

— Então resolveu me dar as boas-vindas — Tiago falou, pegando a cadeira e virando-a, de forma a sentar como se a cavalgasse. Dobrando os braços, encarou-a. — É uma hon ra. Fez isso apenas por mim, ou costuma receber assim todos os recém-chegados?

Lílian continuou a fitá-lo em silêncio, incapaz de acre ditar que ele havia tomado um assento, sem antes convidá-la a sentar. Depois, sacudindo a cabeça, perguntou-se por que estava tão chocada. Afinal, Tiago estava se comportando exatamente como ela esperava.

— Vamos, Lílian, não me diga que veio até aqui só para ficar olhando para mim. Não me lembro de você como uma pessoa calada.

Ela lançou-lhe seu melhor olhar de desprezo.

— Seja bem-vindo, Tiago. Obrigada pelo gentil ofereci mento de uma cadeira, mas prefiro ficar de pé.

As sobrancelhas escuras ergueram-se, irônicas.

— Ah... uma exibição de temperamento. Também não me lembrava disso em você. Quer que eu pegue uma cadeira? Perdoe-me, mas sendo o bastardo da cidade, costumo es quecer as boas maneiras.

Lílian estremeceu como se ele tivesse lhe dado uma bofetada. Antes que pudesse recuperar-se o bastante, Tiago levantou-se e, pegando a cadeira da escrivaninha à sua di reita, foi colocá-la ao lado de Lílian.

— Por favor. — Com uma leve curvatura, carregada de zombaria, convidou-a a sentar-se.

Estavam muito próximos, agora. Próximos o suficiente para que ela distinguisse a total ausência de verde ou dou rado nos profundos olhos castanhos. Nunca fora capaz de perceber o que ele pensava, e aquele momento não era exceção. A proximidade também lhe permitia estudar a leve cicatriz no queixo firme. Apertando os punhos, lembrou-se de como era delicioso tocar aquele rosto másculo. O contraste de texturas. A aspereza da barba começando a despontar, a linha mais saliente da cicatriz e a umidade quente do macio lábio inferior.

O odor masculino envolveu-a, despertando-lhe os sentidos e amolecendo-lhe os joelhos. Aquele homem sempre fora uma tentação. E fazia tanto tempo... Ela oscilou sobre os próprios pés, aproximando-se dele. Tempo demais. Os olha res de ambos se encontraram e se prenderam. O medo aban donou Lílian, substituído por uma deliciosa fraqueza. A respiração ficou suspensa em sua garganta.

— Sente-se, Lílian — ele insistiu, em tom brusco, se gurando a cadeira com uma das mãos. — Sente-se e diga que diabos veio fazer em meu escritório.

A zanga de Tiago completou o trabalho que a proximi dade dele havia iniciado. Os joelhos de Lílian cederam e ela desabou na cadeira.

— Desculpe. — Sua voz soou tremula. Um embaraço sub jugou-a, fazendo-a baixar a cabeça, envergonhada. Como pudera reagir a ele daquela maneira? Aflita, pôs-se a torcer as mãos, pousadas no colo, sem se atrever a erguer os olhos.

Não o ouviu afastar-se, mas, ao criar coragem para encará-lo outra vez, encontrou-o sentado do outro lado da es crivaninha, do mesmo modo descontraído de antes. Nada em sua expressão denunciava o que estava sentindo, mas a irritação anterior permanecia no ar, entre ambos.

— Foi um erro ter vindo aqui — ela continuou, a voz um pouco mais firme.

— E, afinal, por que veio? — Tiago usava um casaco preto sobre a camisa branca. As convenções locais exigiam que os homens a trouxessem sempre abotoada até o pescoço, mesmo nos dias mais quentes do verão. Ainda fazia um pouco de frio, mas ele usava a camisa aberta até o início do peito bronzeado. Lílian podia ver até alguns dos pêlos escuros que cobriam a pele bronzeada. Certa vez, sentados à beira do riacho numa noite quente de verão, ela se atrevera a beijá-lo bem naquele ponto, que agora se oferecia a seu olhar ávido. Tinha sentido o gosto e o calor da pele máscula. E ele gemera de prazer em seus braços.

Tolas lembranças, disse então a si mesma. Melhor es quecê-las. Tiago estava zangado com ela, e, claro, não podia culpá-lo. Ele tinha esse direito, com toda a razão. Devia odiá-la, agora.

— Vim para descobrir se era você mesmo que estava de volta. — Desabotoando o manto, deixou-o escorregar para o encosto da cadeira.

Os olhos escuros se estreitaram.

— Não me venha com essa, Lílian. Podia ter pergun tado a qualquer um. O que quer de mim, de verdade?

— Ah, mas eu não poderia perguntar sobre você. As pes soas iriam querer saber o motivo. Eu não suportaria que pensassem...

Ela engoliu o resto da frase, mas era tarde demais. Pela segunda vez, Tiago levantou-se da cadeira, sem se preocu par em disfarçar a raiva, visível na rigidez do maxilar e na linha apertada da boca. Encolhendo-se toda, Lílian observou-o aproximar-se.

— Não suportaria que pensassem o quê? — perguntou, detendo-se bem na frente dela.

— Eu não quis dizer o que está pensando.

— E o que você quis dizer "exatamente"?

Lílian não conseguiu encará-lo. Não suportaria o desprezo presente em seu olhar. Tiago realmente a odiava. Enxergava isso tão claramente como via o ho mem à sua frente.

Enterrando o rosto nas mãos, murmurou:

— Sinto muito, sinto muito por todas as coisas que eu lhe disse há sete anos.

— Mas não sente pelo que me fez.

O tom de Tiago foi tão suave que Lílian quase pensou ter imaginado as palavras. Erguendo o olhar interrogativo, viu-o sentado na ponta da escrivaninha.

— Você lamenta ter me chamado de "bastardo da cidade", mas não lamenta não ter ido embora comigo. De ter rompido uma promessa.

As palavras soaram inexpressivas, como se não signifi cassem coisa alguma. Lílian fitou-o, em busca de uma pista dos sentimentos dele, mas não havia expressão nos profundos olhos escuros.

— Desculpe-me por tê-lo magoado — repetiu, esperando que as desculpas fossem aceitas dessa vez.

— Oh, não, Lílian. As coisas não são assim tão simples. — Movendo-se com agilidade felina, ele foi agachar-se, bem junto dela. — As palavras que você falou aquele dia lhe pesam na consciência, mas sua atitude para comigo, não.

— Pare com isso — ela ordenou, mas sua voz saiu fraca, sem a menor autoridade. Não podia sequer fugir, já que para isso teria que empurrá-lo. O que significava tocar em Tiago. E isso seria sua perdição. — O que quer que eu diga? — perguntou, então, abatida.

— Apenas a verdade, Lílian. Por uma única vez, em sua vidinha miserável, diga-me a verdade. Se fizer isso, aceito seu pedido de desculpas.

O temperamento de Lílian começou a esquentar, apesar de sua confusão interior. Não reconhecia aquele estranho furioso. Nada tinha a ver com o Tiago de sua infância, ou com o rapaz encantador por quem se apaixonara naquele verão, sete anos antes. O Tiago atual era duro e assustador, irônico e frio. Queria fugir e esquecer que estivera na de legacia. Esquecer o calor daquele olhar, o cheiro másculo e a força das mãos que agora apertavam as suas.

— A verdade, vamos — ele exigiu entre os dentes.

As mãos de Tiago sempre haviam sido ásperas devido às longas horas de trabalho duro na cocheira da cidade. O tempo não alterara isso. Ele apertou as mãos que Lílian conservava fechadas até as unhas dela se enterrarem nas palmas. A dor aguda libertou-a da paralisia que a acome tera. Esquivando-se do toque, ela levantou-se de um pulo e avançou pisando duro, para o outro lado da sala. Respi rando fundo, encarou-o:

— Está bem. — Sua voz soou alta e zangada. — Sinto muito pelo que lhe disse há sete anos, mas não me arrependo de ter ficado aqui. De não ter ido com você.

Tiago levantou-se também, sorrindo para ela. Contudo, não havia alegria ou gentileza naquele sorriso. Sentindo um calafrio, Lílian cruzou os braços na frente dos seios.

—E agora, está satisfeito?—perguntou, num tom de bravata.

O sorriso desapareceu enquanto ele voltava para sua cadeira.

— Não — disse, sem olhar para ela. — Mas finalmente falou a verdade. Seu marido conhece esse hábito de omitir tudo o que não lhe agrada?

Marido? Oh, céus, Tiago pensava que era casada. Lílian agradeceu o fato de estar de luvas, o que o impedia de ver que não usava aliança. Casada... Quando descobrisse que continuava solteira, presumiria que estivera esperando por ele? Não, ele não podia pensar assim. Claro que isso não era verdade. Havia inúmeras razões para não ter se casado e nenhuma se relacionava com Tiago Potter.

— Eu não costumo omitir coisas desagradáveis — limitou-se a responder, mantendo a distância que os separava. — E quanto à sua mulher? Ela sabe que você assedia mu lheres, em seu escritório?

Dessa vez, o sorriso foi genuíno. Lílian tinha se esquecido da covinha que se formava na face esquerda de Tiago e da maneira como seus olhos brilhavam quando algo o divertia. Contra a vontade, seus próprios lábios curvaram-se nos cantos. Ele sempre tivera a capacidade de amansá-la com seu charme, por mais zangada ou magoada que estivesse.

—Dificilmente você poderia considerar-se assediada, Lílian.

— Você entendeu o que eu quis dizer. — Cautelosamente ela voltou a sentar-se na cadeira em frente a ele. Dessa vez ajeitou-se na beirada, preparada para fugir à menor provocação.

— Não, ela não sabe que assedio mulheres em meu escritório.

As palavras não deveriam tê-la surpreendido, mas Lílian ficou abalada. Quem iria supor que Tiago Potter tivesse se casado? Lembrou-se da preocupação que a devo rara pelo decorrer de todo o dia. Estivera dividida entre a esperança de que ele tivesse perdoado o que acontecera entre ambos e o receio de que quisesse continuar o relacionamento. Agora, nada disso importava. Tiago havia se casado.

— Quem é ela? — perguntou, rezando para que ele não percebesse o quanto se encontrava perturbada.

Apoiando os braços dobrados no encosto, Tiago pergun tou, fingindo inocência.

— Quem?

— Sua esposa.

— Qual esposa? — Um sorriso preguiçoso curvou a boca máscula e atraente.

Ela suspirou.

— Tiago Potter, nem mesmo você tem o direito de tratar sua esposa com tanto desrespeito. Quem é a mulher com quem se casou?

De novo, Lílian viu o sorriso dele desaparecer, e o bom humor ser substituído pela raiva fria de antes.

— Você quer dizer que mesmo o bastardo da cidade de veria saber como tratar uma dama? E o que a faz pensar que casei com uma dama?

— O tempo que passou longe daqui deu-lhe uma acuidade mental que não consigo acompanhar. — Pegando o manto, Lílian ajeitou-o sobre os ombros. — Peço perdão por qual quer insulto que tenha falado. Asseguro-lhe que não foi in tencional. Desejo muitas felicidades a você e à sua esposa.

— Não há nenhuma esposa, Lílian. Uma viúva quase me agarrou, mas consegui escapar.

A zanga de Lílian desvaneceu-se, sobrepujada pela pre sença arrasadora de Tiago. Não receava mais, não com meia sala e uma escrivaninha a separá-los. Seus joelhos ainda tremiam diante da beleza máscula e do vigor daquele homem, mas de alguma forma dominara a fraqueza. Con tudo, a confusão permanecia. Por que ele jogava com as suas emoções? Seria um castigo pelo modo como o tratara sete anos antes?

Não. Castigar seria o mesmo que reconhecer que ainda se importava com ela. E isso não podia ser verdade. E, mesmo que fosse, nada mudara, mudara? Ele ainda era Tiago Potter e ela...

A porta foi aberta com força, sobressaltando-os.

— Lílian Evans, pode me explicar o que faz aqui com... com esse homem?

A irmã de Lílian, Petúnia entrou no aposento com a determinação de um arcanjo vingador invadindo os domínios do demônio. Lílian desejou poder esconder-se debaixo da mesa, mas não havia tempo.

— Ah, srta. Evans — disse Tiago, com um sorriso. — Que prazer vê-la de novo.

— Sou a sra. Dusley agora, senhor. O que pensa que está fazendo com minha irmã?

— Estávamos só... conversando.

Lílian deixou escapar um gemido. A pausa entre as palavras "só" e "conversando" tinha demorado o bastante para despertar a desconfiança de Petúnia. O que, combinado com o sorriso sugestivo e a piscadela que ele deu em sua direção, com toda a certeza selaria seu destino. Petúnia ia fazer-lhe sermões pelas próximas três semanas, no mínimo. Lílian sempre lamentara ser a cunhada do pastor da ci dade, mas nunca tanto quanto naquele momento.

Para piorar ainda mais a situação, Tiago tomou uma das mãos enluvadas de Petúnia e levou-a aos lábios com galanteria. A irmã deu um grito.

— Solte-me, senhor. Sabe quem eu sou? Lílian, diga a... a esse sujeito quem sou eu.

Lílian olhou para Tiago. Atrás da fachada zombeteira, do sorriso charmoso, ocultava-se a fúria. Podia captá-la na rigidez do corpo másculo e nas linhas ao redor da boca bem-feita. A qualquer momento, e sem o menor aviso, ele explodiria.

Sim, Tiago Potter estava de volta. E nada seria o mes mo daí em diante.

N/A: E ai gostaram do primeiro capitulo, espero q sim! E para me dar essa resposta vcs poderiam me deixar algumas reviews, sabe como é importante saber a opinião de vcs!

Muitos beijos