LEMBRANÇAS DE LUZ

Capítulo Um – O Sol, a Lua, as Trevas e a Cerejeira.

"O mundo das gueixas fica em um universo perigoso, Hinata-chan, e se você não tomar cuidado, pode se perder nele" suas mãe não era uma mulher que gostava de ficar se repetindo, mas Hinata era uma aluna dedicada e aprendia rapidamente. Enquanto caminhavam, ao cair do anoitecer, ela passava, uma atrás da outras, as lições que há muito tempo jaziam encaixotadas em baús de jade empoeirados de sua mente que ela não esperava um dia ter que lustrar outra vez.

- Hinata-chan? – perguntou Sakura salvando Hinata da maré de pensamentos que a estavam arrastando para o meio do oceano. A garota olhou-a por um minuto tentando se lembrar de onde estava e do que estava acontecendo. Lembrou-se de tudo quando viu os dois leques nas mãos de Sakura – Está tudo bem?

- Está, sim, Sakura-chan – ela lhe sorriu, tranqüilizadora – Só estava me lembrando.

- Isso é doloroso para você, não é? – as sobrancelhas de Sakura se arquearam e seus olhos ganharam um brilho terno. Hinata desviou seus olhos para evitar a piedade da rósea. Aquilo era a última coisa da qual precisava.

- Pelo contrário – disse-lhe – Lembrar me ajuda, de alguma forma.

O seu olhar queria voltar para o interior, para mais pensamentos e mais lembranças, mas Hinata se obrigou a ficar no presente. Pensar naquelas coisas meio que podia ajudar a lembrar-se que sua mãe um dia acreditou nela, mas não fora completamente franca com Sakura. Do outro lado da questão vinha o seu pensamento de que, se um dia sua mãe acreditara, ela estava morta e não havia mais ninguém para fazê-lo no presente. Sorriu triste, mas virou-se para Sakura que tinha se afastado novamente, treinando os movimentos que Hinata lhe ensinara com o leque.

Sasuke andava na frente, altivo e misterioso com a máscara semelhante à de Kakashi cobrindo-lhe o rosto. Mais cedo, quando Hinata parou para analisar seus companheiros, pensou se a máscara que o Uchiha atualmente usava nas missões não era uma homenagem a seu falecido sensei, assim como o vício do cigarro se tornara a homenagem de Shikamaru. Para ela tudo estava claro que sim. Naruto não conseguia ficar quieto, em nenhum momento. Hora ele seguia mais a frente, conversando ou brigando com Sasuke, hora tentava chamar a atenção de Sakura – mas esta logo lhe repreendia por não deixa-la praticar sossegada. Quando falava com Hinata ela ouvia, respondia, mas depois voltava a suas lembranças e Naruto voltava a ficar entediado. No momento ele seguia na retaguarda, os braços atrás da cabeça, reclamando sobre alguma coisa que nenhum dos outros fazia questão de escutar.

- Você está indo muito bem, Sakura-chan – elogiou Hinata quando viu Sakura executar perfeitamente, e em movimento, o lance de passar o leque de trás do corpo para frente.

- Obrigada. Não é mesmo tão difícil – e depois disso ela girou com a máxima destreza para a execução de um passo e estendeu o braço, mas o leque escorregou de sua luva e foi parar na cabeça de Sasuke forte o suficiente para faze-lo pender pra frente – Sasuke-kun!

Todos pararam naquele momento. Sakura tensa, Hinata temerosa e Naruto... Naruto começou a gargalhar. Tão escandalosamente quando podia. Sasuke parou de andar, agachou-se e pegou o leque nas mãos. Abriu-o para ver a seda negra e os desenhos em linhas cor-de-rosa de pétalas de cerejeira. Algo muito típico de Sakura.

- Desculpe, Sasuke-kun – Sakura pediu delicadamente, mas sua voz foi abafada por outra gargalhada de Naruto.

- Fala sério, teme, até a Sakura-chan já tá batendo em você!

- Fica quieto, Naruto! – gritou Sakura, nervosa – Não piora a situação!

Mas o loiro só continuou gargalhando até o moreno, num movimento rápido demais, fechar o leque e arremessá-lo diretamente na direção da boca de Naruto. E acertando, é claro.

- E você continua apanhando de mim, não é, dobe?

- Teme! – gritou Naruto depois de cuspir o leque, irritado, mas perdendo toda a pose de entediado diante do meio sorriso cínico que Sasuke lhe lançava por trás da máscara. Ele não precisava estar sem ela para Naruto, ou qualquer uma das garotas, saber que ele estava sorrindo. Os seus olhos negros estavam se deixando ser expressivos o suficiente para até mesmo Hinata entender suas intenções.

Irritar Naruto.

- Eu posso quebrar a sua cara quando eu quiser, dattebayo!

- Humpf – foi a única e definitiva resposta de Sasuke. Ele se virou novamente, fechando os olhos, mas ainda sorrindo – Vamos passar a noite naquela casa de chá.

E foi o fim da discussão. Na estrada de terra batida em que se encontravam, ladeada de árvores grossas e antigas, descendo a colina, num vale muito grande, havia uma casa de chá que eles não tinham notado antes. Dos seus fundos levantavam-se nuvens de vapor e das chaminés chegavam a eles linhas finas de lenha queimando. Naruto colocou no rosto o sorriso e correu pra frente:

- Que bom! Vamos ficar na hospedaria por conta do teme, dattebayo!

- Eu não vou pagar pra você.

- Quê?! Porque não?

- Porque você é um idiota – e recomeçou a andar ignorando completamente, como sempre, os impropérios que Naruto desferia para ele.

Sakura e Hinata se entreolharam. Sakura sorriu e seu sorriso se transformou em um riso para mostrar a Hinata que estava tudo bem e ela seguiu os seus companheiros colina abaixo até o vale. Hinata demorou-se um pouco e apanhou o leque que jazia esquecido na estrada. Tirou a terra de cima dele e abriu-o. Girou numa única perna mantendo o leque ainda aberto e a sua mente veio à imagem de sua mãe executando o movimento. Hikari passou o objeto por cima dos olhos, na ponta dele vinha pendurado um guizo que tilintava o tempo todo, e desceu o leque fechando-o no caminho para arremessá-lo para cima com força e pega-lo aberto com a outra mão. O som de guizo tilintando e ela sorriu maravilhosa como sempre fora.

- Hinata-chan! – abriu os olhos bruscamente, de novo tirada de seus pensamentos pela voz de Sakura, que voltava subindo a colina – Eu esqueci o leque, você o encontrou?

- Sim – respondeu e passou uma das mãos pelos olhos. Precisava se concentrar, mas as suas lembranças, essenciais para aquela missão, não estavam ajudando.

- Tem certeza de que você está bem? Está muito distraída, Hinata-chan.

- Estou bem, isso vai passar logo – tentou sorrir, mas corou de vergonha por Sakura perceber sua distração – Não se preocupe.

Sakura sorriu em resposta e pegou-a pela mão puxando colina abaixo.

- Vamos, eu estou louca para um banho! – e, mais baixo, acrescentou – Podemos espiar através do bambu.

E a Hyuuga corou, os olhos arrelagados.


A casa de chá e hospedaria era como qualquer outra que eles encontrariam no País do Fogo, toda feita de madeira, com suas criadas pequeninas e prestativas, de portas corrediças e feitas com papel de seda decorados. Os ninjas de Konoha alugaram dois quartos separados, mas com uma saleta comum. Mal chegaram aos aposentos Naruto jogou suas coisas a um canto e pegou uma das yukatas(1) que estavam dobradas sobre os futóns(2).

- Banho ao ar livre, dattebayo! – gritou Naruto abrindo a porta de correr com força. Olhou para trás um momento, ainda sorrindo – Vem logo, Sasuke!

- Vamos também, Hinata-chan – Sakura chamou, sua yukata sobre o braço.

- Pode ir na frente, Sakura-chan, tenho que arrumar umas coisas.

- Certo – e a rosada saiu seguindo pelo mesmo caminho de Naruto.

A Hyuuga foi até sua mochila e tirou de lá os seus quatro embrulhos de papel de seda. Colocou-os arrumados e esperou mais um pouco até uma criada surgir na porta.

- Os senhores gostariam que eu trouxesse o jantar?

Só nesse momento Hinata percebeu que ela não estava sozinha no quarto. Se livrando da bolsa de kunais presa à perna e pegando sua própria yukata estava Sasuke, ainda de máscara. Como o rapaz não disse nada, a criada se voltou para a morena que no momento se joelhava em frente a ela.

- Não, ainda vamos tomar banho – respondeu quanto ao jantar – Vocês têm disponíveis cabides para quimono?

- Sim, senhora.

- Eu preciso de quatro, por favor.

- Imediatamente – a criada sorriu e fechou a porta.

Hinata levantou-se de novo e foi para perto de suas coisas e só ouviu a porta deslizar gentilmente para ser aberta. Não se virou, agora sabia quem era.

- Não demore – disse Sasuke. E a porta se fechou com a mesma suavidade que abriu. Hinata estremeceu, desde sempre achara Uchiha Sasuke uma pessoa que era para ser temida, uma pessoa misteriosa e de segredos muito mais profundos do que as pessoas faziam fofoca na rua principal da Vila. E nunca pensou que fosse se arrepiar ao detectar em sua voz um leve, quase inexistente, sinal de urgência.


- Porque demorou, teme? – perguntou Naruto com uma toalha branca na cabeça encostado a uma pedra. A casa de banho estava vazia exceto por eles. Uma parede de bambu dividia os dois lados da terma.

- Nada – Sasuke respondeu sentando-se numa pedra e jogando água sobre si antes de entrar no banho.

- Hinata! Estou aqui! – do outro lado da parede de bambu veio à voz de Sakura e não demorou nem um pouco para que as orelhas de Naruto ganhassem mais atenção para o que estava acontecendo do outro lado. Ele se aproximou da parede e achou uma fenda suficientemente grande – O que é que você está segurando?

- Não estou segurando nada, Sakura-chan – respondeu à morena. Pela fresta Naruto via as costas de Sakura, os cabelos curtos presos para cima, e Hinata enrolada numa toalha, os cabelos negros presos em um rabo-de-cavalo alto, os braços na frente do corpo.

- Hei, Sasuke, vem ver isso aqui, dattebayo! – sussurrou Naruto, um sorriso se estendendo na sua melhor cara de raposa.

- Você deveria deixar de ser infantil, Naruto.

- Quê? Tá me dizendo que isso aí são só seus peitos!?

- Sakura-chan! – pela fresta Naruto viu as bochechas de Hinata ganhando uma coloração não mais rubra, algo arroxeado ou azul, de tão intensa era sua vergonha. Ela mergulhou na água até a boca.

- Desculpe, Hinata-chan – respondeu Sakura com um sorriso brincalhão.

Naruto mudou de ângulo se movimentando para olhar por uma fresta mais a esquerda, mas sua mão esbarrou em outra mão. Quando ele levantou os olhos viu Sasuke, com a face séria de sempre, espiando por uma outra fresta, o Sharingan ativado.

- Eu sou infantil, Sasuke? – o sorriso de raposa tinha voltado às feições de Naruto, mas Sasuke apenas socou-lhe a cabeça fazendo Naruto bater o nariz contra o bambu.

- O que foi isso?

- Devem ser só Naruto e Sasuke-kun – Sakura respondeu simplesmente – Sasuke-kun deve estar impedindo aquele pervertido do Naruto de nos espionar.

Naruto levantou-se de súbito ao ouvir aquilo, mas foi impedido por Sasuke de gritar qualquer coisa em protesto.

- É muito complicada a idéia de só calar a boca e olhar? – perguntou Sasuke num sussurro raivoso. Naruto negou com a cabeça.

Do outro lado da parede, na parte feminina da terma, Hinata se encostara a uma pedra e olhava para o céu. Estava muito escuro e as poucas estrelas estavam difundidas pelo vapor da água.

- Hinata? – Sakura estava recostada a uma pedra próxima, a expressão tristonha como se ela fosse dizer algo que Hinata não acharia agradável.

- Sim?

- Você ficou triste com... Você sabe, Naruto?

E não foi agradável. A Hyuuga mergulhou e só voltou a emergir próxima a parede de bambu. Recostou-se nela, ainda segurando a toalha branca que a envolvia antes de entrar na água. Ela segurou a toalha e cruzou os braços sobre o busto para segurar seus ombros. O seu olhar caiu na água quente, mas não conseguiu se ver refletida.

- Quero dizer, você gostava dele há muito tempo, não é? – Hinata maneou a cabeça afirmativamente e, do outro lado, Naruto tirou seus olhos da fresta. Sasuke olhou-o abaixar a cabeça e dar um sorriso triste.

- S-sim, mas... Naruto-kun foi muito... Gentil comigo, Sakura-chan – a voz de Hinata era amena, com uma alegria perceptível. Suas bochechas não estavam rosadas e seus olhos brilhavam – Só por ele ter tentado gostar de mim também, isso já é muito bom.

A Haruno encarou-a espantada, mas não durou muito.

- Kiba-kun é que ficou com vontade de matar Naruto-kun – e a morena riu. Colocou a mão no queixo como se lembrando de algo – E Lee-san me disse que Neji-nii-san ficou muito aborrecido.

Assim como Naruto, Hinata era outra pessoa que tinha um grande coração. E, também diferentemente dele, ela não precisava sair por aí gritando e sendo escandalosa para mostrar isso. A rósea se aproximou da parede de bambu e sorriu para Hinata.

- Vem, me deixa lavar suas costas – e puxou Hinata para a parte mais rasa da terma, do lado mais longe da parede de bambu. Hinata sentou-se, a toalha cobrindo sua frente. Sakura estava ajoelhada atrás dela e esfregava as costas de Hinata.

- E... – começou tímida – Como vai com Sasuke-san?

O movimento em suas costas parou por um segundo. Naruto olhou para Sasuke, mas o moreno só continuava parado, olhando pela fresta. Sakura voltou a esfregar.

- Continua como sempre. Eu não consigo fazê-lo me ver, sabe, Hinata? É como se ele olhasse, mas não visse.

A Hyuuga virou-se para encontrar as feições tristes de Sakura.

- Eu acho... Que Sasuke-san tem muitos problemas na cabeça, Sakura-chan – mas Sakura balançou a cabeça em negativa.

- Essa desculpa seria compreensível, Hinata, antes de ele voltar para Konoha, mas agora... – Sakura começou a tremer muito levemente. Hinata aproximou-se e abraçou-a.

- Não se preocupe, Sakura-chan – ela disse – Ele ainda vai ver.

Do outro lado do muro, se antes Naruto estava com tanta vontade de bater em Sasuke por fazer Sakura ficar triste que até estava começando a escapar-lhe um pouco do chakra da Kyuubi, agora ele estava com um sorriso no rosto e sangue escorrendo-lhe pelo nariz.

- Você é nojento – disse-lhe Sasuke.

- Hei, Hinata-chan – a Haruno desvencilhou-se do abraço de Hinata e agora sorria largamente, tão marota quanto o sorriso de raposa de Naruto – Você já tentou usar o byakugan para... Dar uma espiadinha?

- Sakura-chan!

- Vamos, Hinata! Quando você namorava Naruto você não o viu sem roupa?

- N-não, nós nunca...

- Pois essa é sua chance!

- E-eu... Não sei...

- E Kiba? E Shino, então? Porque deve, definitivamente, ter alguma coisa embaixo daquelas roupas – Sakura tentava lhe convencer, mas Hinata estava temerosa - Por favor, Hinata-chan, é só descrever pra mim, sabe, abdômen, tórax, pernas...

- Você acha que ela vai usar mesmo o byakugan, Sasuke?

- Não.

- Byakugan!

- O que você dizia, teme? – Naruto alargou o sorriso, mas o Uchiha já não estava mais ao seu lado – Teme? – Sasuke estava do outro lado, a toalha enrolada na cintura, saindo da terma – Vai me deixar aqui sozinho?

- Vou.

- NARUTO-KUN! – ele ouviu um grito vindo do outro lado e colou-se a parede para ver Hinata submergindo e Sakura, com o punho levantado, enrolada numa toalha branca, vindo em sua direção.

- SEU PERVERTIDO! – ela gritou socando a parede, bem onde se encontrava o rosto do loiro, estourando-a e fazendo-o bater numa das pedras grandes da terma – Como você ousa nos espionar tão deliberadamente?

Mas Naruto não se encontrava em condições de falar.


Da sala comum do quarto deles a vista do céu não era anuviada pelo vapor e as poucas estrelas se faziam muito bem visíveis. Depois do banho – e depois de Naruto acordar – eles voltaram para o quarto já devidamente vestidos com as yukatas. A sala comum era muito espaçosa e em seus cantos estavam dispostos os quatro cabides com os quimonos que Hinata trouxera. Sakura ficou maravilhada ao entrar e se deparar com eles, tão bonitos e arrumados.

- Ah, como eles são lindos, Hinata! – Sakura entrou e foi imediatamente na direção deles. Acariciou-os, tirou-os do cabide e provou-os sorrindo como uma garotinha.

- Eu os trouxe para servir de moeda para barganha – explicou a morena – Ficará mais fácil nos aceitarem como gueixas se já tivermos algo de valor para oferecer.

Sasuke atravessou a sala e sentou-se, depois de abrir a porta, recostado a ela, olhando para fora. Naruto, com um olho roxo e um papel no nariz para evitar o sangramento, sentou-se encostado a uma das paredes e lá ficou. Assim que a criada bateu na porta Hinata foi até ela e pediu que trouxesse o jantar. Sakura continuava entretida com os quimonos e ela sorriu. Gostava muito daqueles três, do jeito extrovertido e familiar que eles se entrosavam. Com Kiba, Shino e Akamaru a sua relação era semelhante, apesar de que eles dois pareciam muito protetores de vez em quando. Ali ela podia notar que Sakura estava sozinha, apesar dos dois, enquanto ela podia conversar e pedir conselhos a Shino quando quisesse. Assim como para obter uma boa companhia ela recorria a Kiba e ao pelo macio de Akamaru.

- Eu não consigo fazer esse nó atrás! – Sakura irritou-se com o obi e decidiu fecha-lo na frente, mas Hinata aproximou-se e a advertiu.

- Só as prostitutas usam o nó do obi na frente, Sakura-chan. É pra mostrar que é mais fácil de abrir o quimono – ela desatou o nó de Sakura, que vestia o quimono por cima da yukata, e passou para trás atando-o com uma facilidade assustadora – Pronto.

- Como você é boa nisso! – Sakura colocou-se na frente do espelho comprido que tinha no canto e admirou-se vestindo o quimono de outono. Virou uma vez, duas, três, até que andou pelo quarto e conseguiu tropeçar na barra, caindo no chão – Ai!

- Você precisa andar com um pé em frente ao outro, Sakura-chan – Hinata pegou o quimono azul e vestiu fazendo o nó do obi em si mesma, mais simples, com alguma dificuldade. Para vestir corretamente todas as peças de um quimono de gueixa seria necessário pelo menos uma hora e duas mulheres para ajudar, mas ali não era nenhuma apresentação especial que precisasse de toda essa preparação – Dobre um pouco o joelho e um pé na frente do outro, isso faz a barra sair do caminho.

As explicações continuaram até o jantar e de novo depois dele. Naruto foi o primeiro a abrir a porta do outro quarto e se jogar nos futóns estendidos para ele e Sasuke, sem se importar de desocupar o espaço do Uchiha. Sakura foi a próxima. Abriu a porta do outro quarto e foi deitar-se, cobrindo-se até o queixo. A Hyuuga tirou dos cabides os quimonos e voltou a guardá-los com precisão, dobrando-os delicadamente. Transformando um ato simples em um ritual conforme pensava somente no que estava fazendo. Colocou-os sob o papel de seda e de volta na mochila. Coçou os olhos e bocejou.

- Vá para a cama, vamos acordar cedo amanhã.

- Sasuke-san! – Hinata se sobressaltou, tinha se esquecido, de novo, de Sasuke parado no canto. Quando ele ficava quieto conseguia ser tão imperceptível quanto um item da decoração. Ele tombou a cabeça levemente e seus olhos negros cravaram-se nela como espadas muito afiadas, mas a morena pareceu não perceber. Levantou-se e se sentou sobre os joelhos perto da porta, olhando para fora – Você também precisa dormir.

- Você já tentou dormir com Naruto? – ele perguntou sério, mas no seu tom de voz tinha um riso dissimulado – Prefiro ficar acordado.

- Você pode dormir com a Sakura-chan, se quiser – ela corou imensamente. Talvez estivesse fazendo um favor a ela, mas sabia que Sasuke poderia pensar que ela estava fazendo isso para dormir junto de Naruto. Desviou seus olhos, mas as palavras de Sasuke não eram acusadoras quando falou.

- Não sei o que é pior: ser chutado por Naruto ou agarrado por Sakura.

Ficaram em silêncio depois disso. Não de forma desconfortável, apenas em silêncio, entretidos o suficiente com seus próprios pensamentos para sequer terem vontade de se mover. Hinata trouxe suas mãos para perto e começou a brincar com os dedos. Apertou-os fortemente antes de se virar para Sasuke, determinada, mas parar no último segundo quando viu os olhos ônix de perto, dardejando em si novamente, muito profundos, hipnotizantes, que pareciam sugá-la para mais perto, mais perto. Mas quando desviou os olhos e voltou a si, não tinha se movido um centímetro para perto dos olhos dele, como pensara.

- Porque você não fica com a Sakura-chan, Sasuke-san?

- Você já imaginou seu futuro, Hinata? – ela o encarou de perfil, as sobrancelhas franzidas como se lembrando de uma memória distante, diferente do olhar perdido dela quando entrava na própria mente para ter com suas lembranças. Ele olhava para baixo, para lugar nenhum, e falava calmamente – Acho que fez isso e viu Naruto lá na frente.

A garota estremeceu e também abaixou a cabeça, esperando Sasuke continuar.

- Quando eu imagino meu futuro eu não vejo Sakura lá na frente, porque eu simplesmente não consigo vê-la no presente.

A morena não o encarou. Estava pessoalmente doída por aquele comentário de Sasuke sobre a Haruno. Levantou-se e seguiu em silêncio para a porta do quarto em que estava à rosada. Parou, a mão na porta corrediça, e respirou muito profundamente.

- As coisas mudaram no meu futuro, porque o seu não pode mudar também?

- Porque a decisão sobre o seu futuro não era apenas sua, mas quanto ao meu é inteiramente minha.

Hinata apertou a porta com raiva das palavras de Sasuke, porque não era verdade aquela sentença. O seu futuro dependera de Naruto também, mas se Sasuke escolhesse Sakura o futuro dele dependeria dela.

- Você está errado, Sasuke-san – Sasuke olhou para as costas da yukata dela, a mão que segurava a porta tremia levemente e sua voz não tinha mais a suavidade de outrora, mas uma determinação que, para Sasuke, era desconhecida – A partir do momento que vemos uma pessoa no nosso futuro, ela passa a ter direito a decidir sobre ele também, você só precisar ver – a morena abriu a porta e entrou no quarto – Boa noite, Sasuke.


O dever da lua é iluminar as trevas, o dever do sol é alegrar a cerejeira.

O sol está constantemente fugindo da lua e a lua foge do sol, mas eles não são inimigos nem amantes. São amigos que nunca podem ficar juntos de fato, apenas sorrir docemente um para o outro quando a lua se põe a sua frente ou quanto o sol o faz, porque eles se ajudam, eles se dão força. A cerejeira recebe, dia após dia, o brilho e a alegria do sol, mas espera constantemente a chegada da noite para receber algumas carícias das trevas, mas as trevas não olham para a cerejeira, pois as trevas estão muito ocupadas admirando o brilho da lua. O sol briga com as trevas, pois eles não podem coexistir ao mesmo tempo. A lua não olha diretamente para ponto algum, apenas ilumina as trevas para fazê-las enxergarem a cerejeira.

O sol entrava pelo papel de seda para perturbar seu sono, mas não importava. Aquele sonho sobre uma antiga lição que sua mãe lhe ensinara, sobre as quatro pessoas que se amavam entre si, mas que foram condenadas a se tornarem aqueles elementos, tinham-na deixado inquieta por toda a noite, pois aquela história tão antiga quanto o tempo estava se mostrando estranhamente familiar.


(1)Yukata: quimono leve de verão usado em festivais e casas de banho. Literalmente traduzido como "roupa de banho".

(2)Futón: colchonete estofado, como um colchão, mas mais fino.


Cara, esse capítulo ficou muito mais parado do que eu achei que ficaria, mas culpem a distância de três dias de caminhada até o feudo, é bem ruim andar tanto!
Desculpe-me a demora, mas eu tenho uma boa desculpa: minha prima Ana Clara nasceu! \o/ Então culpem a gravidez da minha tia!
Por favor, quanto a esse capítulo, sejam sinceros sobre o que vocês acharam. Dizer que gostaram é muito bom, mas reviews com exclusivamente elogios não me fazem melhorar tanto quanto eu preciso. Vamos lá, povo, críticas!
E participem do !Bônus! de "Projeto Hyuuga", estou esperando!

AGRADECIMENTOS:

Gabbi-chan, Persephone Spencer, Kinha Oliver, Moniket, Sazame Hyuuga, Elara-chan, Carol, Dondeloth, Lust Lotu's, Gesy, Hinata, Hinachantilha, Hachi-chan2, Kisa, Tia-Lulu, Uchiha Ery, FranHyuuga, BelaRaven, Nostradamus da Modernidade(Nostr-chan), Akasuna no Luna, Tia Kate-chan, Hana-Lis, Toph-baka, Marcy Blacke zal-chann.

Fanfic de presente para Marcy Black, porque se não fosse ela eu seria uma pessoa mais calma e controlada!

OBRIGADA POR LEREM!
Beijos, Tilim!