Capítulo VII – Presentes de aniversário

Acordei com duas íris negras e estreitas me encarando ansiosas. Jake estava segurando uma coroa nas mãos. Ah não! Princesa aniversariante não! Pensei que eles já tinham parado com isso. Todos os anos eu era acordada no dia do meu aniversário, e colocavam uma coroa cheia de pedras na minha cabeça. Eu tinha a impressão que agora que eu parecia ser oficialmente uma adulta, eles iam parar com isso. Aparentemente, eu não sou adulta sobre nenhuma hipótese nessa família.

- Feliz aniversário princesa! – Jake disse todo sorridente colocando aquele artefato terrível na minha cabeça.

- Jake... – eu disse lamentando.

- Sorria! – Tia Alice disse quando o flash da câmera quase me cegou. – Vamos Jake, leve-a para baixo.

Jake me pegou no colo e me tirou da cama. Eu ia protestar, ainda estava usando uma camisola da Pucca. Mas desisti, ninguém ia se importar mesmo. Meu amigo lobo me colocou no chão no meio da escada, que eu desci bem devagar ouvindo uma musica bastante conhecida vinda do piano. Mas esse ano tinha ganhado um incremento especial.

Papai tocava Parabéns para você ao piano, e ao lado dele um lobo com pelo caramelo uivava no mesmo ritmo. Meu pai abriu um sorriso enorme para mim, e Seth uivou com ainda mais vontade meus parabéns. A sala estava toda decorada com balões lilás, fitas e flores. Da cozinha veio vovó e mamãe trazendo um bolo branco com uma linda vela com o número sete – eu sabia!

De repente eu estava cercada pelos meus entes queridos – quase todos. Eles cantavam batendo palmas para mim. Me fizeram soprar o bolo que só Seth e Jake comeriam. Cantaram todas as musiquinhas chatas que se canta nos aniversários. Me abraçaram e beijaram. Bagunçaram meu cabelo – lógico! Tudo muito bem registrado pela máquina da tia Alice.

- Eeei, e a mamãe! Hoje é aniversário dela também. – eu disse acusadora querendo dividir um pouco da atenção. Não que eu não goste de atenção, eu gosto. Mas às vezes eles exageram.

- Você acha que eu esqueci? – perguntou o papai abraçando minha mãe pela cintura e afundando o rosto no pescoço dela.

- Muitos anos de vida, não é algo que se possa cantar para mim. – papai ficou meio tenso com as palavras da mamãe. Ele sempre ficava, eu acho que ele exagera com essa coisa toda de se sentir culpado. Não era o que eles queriam, ficar juntos para sempre? Hoje marcava o dia que isso tinha se concretizado. A sete anos atrás mamãe estava entrando numa viajem incrível – e sem volta – para a realização do seu sonho.

Mamãe fez carinho na cabeça do meu pai querendo fazê-lo parar de bobagens. Cortei meu bolo, e distribui os pedaços que ninguém ia comer, a não ser o Seth que já tinha se transformado em homem de novo e estava devorando todos os pedaços cortados. Sentei do chão, com as pernas em borboleta e estendi as mãos.

- O que foi? – perguntou o vovô.

- Ela quer os presentes. – papai disse sorrindo.

Todos riram. Mas logo trataram de trazer meus presentes. Em meio segundo eu estava rodeada de caixas, que tratei de abrir logo. Da tia Alice e do tio Jazz ganhei uma bolsa Chanel, porque segundo ela "toda garota precisa de uma". Tudo bem, eu adorei. Quem não adoraria? Ganhei também um livro de lendas Quileute do Seth. Uma gargantilha de prata com uns pequenos brilhantes dos meus avôs para eu trocar pelo antigo que eu usava com o pingente do brasão da nossa família.

- Aqui – mamãe disse me entregando um pacote – vovô Charlie te mandou esse.

Eu abri, e era um boné de basebol. Sorri agradecida, coloquei na cabeça e recebi um flash na cara. Era tia Alice e mais uma fotografia. Mamãe olhou para o meu pai com uma certa expectativa, nada de pulinhos exagerados como teria sido caso fosse a vovó ou tia Alice, mas havia expectativa ali. Olhei para os dois interessada e papai sorriu. Ele saiu como um raio da sala e em menos de um segundo estava de volta.

- Seu presente está no seu quarto.

- O que é? – eu perguntei ansiosa.

- Não vamos contar! – mamãe disse sorrindo.

Olhei para todos na sala e sai correndo escada a cima, com todos ao meu encalço. Abri a porta do meu quarto e quase tive um treco, ao encontrar perto da minha cama uma guitarra preta linda e um amplificador gigantesco. Todos sorriam atrás de mim, eu podia perceber por suas respirações. Fiquei igual uma tonta boquiaberta sem me mexer pelo que pareceu uma eternidade para todo mundo.

- Você não gostou? – papai perguntou atrás de mim.

- Não... Não... Quero dizer... Bem... – cara, eu não conseguia formular uma frase decente.

- A gente pode trocar. – ele disse um pouco inseguro. Papai e suas inseguranças sem o menor fundamento – Eu pensei que você gostaria de uma Gibson clássica. Mas se você quiser uma rosa, sei lá.

- Pai. – eu me virei para encará-lo – Eu amei! É incrível! É... É... O máximo! – abracei-o e depois mamãe se juntou a nós.

- Caraca! – ouvi a voz do Seth quando ele entrou no quarto.

- Não é demais? – eu perguntei me soltando dos meus pais. – Vamos ver o que essa belezinha pode fazer.

O amplificador já estava ligado e a guitarra conectada. Percebi que também tinha ganhado uma pedaleira e um afinador, kit completo. Eu aprendi música com o meu pai, ele é incrível. Claro que não se pode me comparar a ele, mas eu toco direitinho, sei teoria musical e essas coisas. Há um tempão eu venho pedindo uma guitarra de presente, mas meu pai insistia que eu devia aprender melhor o piano, coisa e tal. Agora estou feliz, sou adolescente e tenho uma guitarra. U-hu!

Papai sorriu ouvindo meu pensamento. Depois ficou um pouco tenso quando eu pensei em formar uma banda e fazer sucesso na MTV. Relaxou de novo quando percebeu que era uma piada. Arrisquei uns acordes que tinha visto na internet, e meu pai veio me ajudar e ficamos todos no meu quarto por um tempão.

Resolvi expulsar todo mundo quando reparei que era quase meio dia e eu ainda estava de pijamas. Tomei um banho demorado e me arrumei bonita para passar meu aniversário. Quando desci as escadas encontrei Jake sentado no último degrau, me sentei ao lado dele.

- O que foi Jake? Não te deram comida nessa casa? – eu perguntei sorrindo.

- Estava te esperando. – ele disse tirando um saquinho de dentro do bolso – Seu presente.

- Ah obrigada! – abri o saquinho para encontrar um anel de madeira, igual aos outros seis que eu já tinha. Só que maior, para caber no meu dedo de adulta. – Eu adoro esse anel. – coloquei o anel no meu dedo anelar esquerdo, onde sempre foi o lugar de todos os outros.

- Eu pensei se deveria te dar uma coisa diferente esse ano... – ele disse meio sem graça, meio sorrindo.

- Deixa de ser bobo, Jake, eu amo esses anéis Quileutes. E estava precisando mesmo de um novo.

- E então o que quer fazer no seu aniversário? – ele disse mudando de assunto e me dando um soquinho leve no braço. Eu já ia respondê-lo dizendo que tinha muitas coisas que eu gostaria de fazer. A imagem de Will apareceu por meio segundo na minha cabeça, mas eu tratei de afastá-lo, como fazia todas as vezes que ele teimava em se fazer presente. Mas minha Dinda e tio Emmett chegaram fazendo bagunça.

- Saí pra lá fedorento! – tia Rose disse, e Jacob e eu fizemos cara feia para ela – Está na hora do meu presente!

- Rosalie! – ouvi a voz do meu pai a repreendendo lá do outro lado da sala.

- Ignore ele, vem.

Ela me estendeu a mão, e nós fomos para a ala de trás da casa. Todo mundo nos seguiu, como sempre, fofoqueiros – eu pensei rindo. É claro que todos já sabiam qual era o presente, talvez Jake e Seth não soubessem, mas os outros todos sabiam com certeza. Eu só queria saber por que meu presente estaria escondido na garagem.

Essa pergunta foi respondida assim que a tia Rose, parou em frente a um carro vinho, que tinha uma fita enooorme, em cima. Caraca! Eu estava ganhando um carro!

- E aí, gostou? – ela perguntou o óbvio, e mais óbvio ainda era a resposta.

- Claro né? – eu disse rindo ao abraçá-la.

- Esse é o novo modelo da Nissan, o 370Z Touring Roadster. Escolhemos no último salão de Genebra. – Tio Emm disse orgulhoso, tocando a lataria do carro.

- Uau! – ouvi a voz de Seth atrás.

O carro era incrível. O design do meu conversível era charmoso e meio futurista, bancos de couro e aposto que tem um milhão de cavalos de potência no motor. Corri para sentar no banco dianteiro do carro e sentir o cheiro do couro. Agora sim, eu sou uma adolescente, tenho uma guitarra e um carro. U-hu!

- Ei, e o meu presente? – Tio Emmett disse sorrindo.

- Nem pensar! – papai disse chegando perto dele.

Olhei para os dois e vi que o meu tio estava balançando uma carteira de motorista com a minha foto. Sorri vendo-o tentando se desvencilhar do meu pai. Um começou a cercar o outro e ficaram assim um tempão, até minha mãe ficar de saco cheio e intervir.

- Parem já com isso os dois! – mamãe disse ficando no meio deles. – Edward – ela disse em tom de aviso quando eles não pararam.

Ele ficou imediatamente como uma estátua, respirando ofegante, igual todas as vezes que era contrariado. Tio Emmett saiu com cara de vitorioso e veio para perto de mim. Jake e Seth caíram na gargalhada, enquanto tia Alice tirava uma foto da cara do papai e depois uma de mim dentro do carro.

- Aqui está Bichinho. – disse tio Emmett me entregando a carteira.

- Renesmee não pegue. – papai disse sério.

- Isso seria falta de educação. – eu disse zombeteira.

- Nessie, pare de aborrecer seu pai. – mamãe disse rindo.

- Escutem aqui vocês dois. – papai disse olhando para a tia Rosalie e tio Emm. – Vocês insistiram com essa coisa de carro, mesmo sabendo das atuais circunstancias – acho que ele estava se referindo a minha fuga e castigo – tudo bem, é aniversário dela. Mas a carteira não. Renesmee não quer ter uma vida adolescente normal? Então vai tirar licença como todos os colegas da escola. Fazer aulas e prova.

- Isso é ridículo. – Tio Jazz se pronunciou. – Até a sua carteira é falsificada.

- Tudo bem, eu não ligo. – falei baixinho olhando o painel do meu carro novo.

Todos olharam para mim complacentes. É claro que eu ligava, mas não queria discutir. Papai andava estressado demais, e seria apenas perda de tempo ficar chorando e reclamando da injustiça que estavam fazendo comigo. Meu pai me jogou um olhar ligeiramente solidário, mas manteve-se irredutível. Dei de ombros e saí do carro cabisbaixa.

Quando saí da garagem pude ouvir a discussão recomeçando atrás de mim, mas não dei muita importância. Jacob me seguiu até a entrada da sala, onde me sentei na escada. Ele me olhou por um instante do alto dos seus dois metros de altura e depois se sentou ao meu lado aconchegando minha mão entre as dele.

- E então?

- E então o quê?

- Isso tudo que está acontecendo aqui, é por causa de uma certa história que você ficou de me contar, não é? – ele me perguntou com aquele carinho típico do Jake.

Eu sorri para ele balançando a cabeça positivamente em resposta, Jake tocou levemente meu queixo e depois afagou meus cabelos me levando para o ombro dele. É óbvio que eu fiquei meio que encostada no peito dele, porque não alcanço os ombros, mas a intenção valeu. E era bom ficar ali onde eu alcançava, era exatamente no coração de Jake que eu encostava a minha cabeça e podia ouvir os batimentos acelerados dele contra o meu ouvido.

- Não quero conversar sobre isso aqui, Jake. – disse sem levantar a cabeça para encará-lo, estava bom assim do jeito que estava.

- Mas eu recebi permissão para te levar para almoçar. – ele disse parecendo olhar o relógio, eu não me mexi para confirmar – Eu sei que já passou e muito da hora do almoço de qualquer um, mas... Mais para o norte tem umas montanhas, não é? E se fossemos atrás de uns alces? Aposto que você nunca provou um!

- Alces? – quase pulei no degrau da escada – Você está dizendo que podemos ir... Caçar? Comida de verdade, nada daquela coisa nojenta de humanos!? – tudo bem, a essa altura eu já estava pulando no degrau da escada.

- É, mas vamos logo antes que seu pai desista.

Ele não precisou falar duas vezes. Imediatamente me levantei e corri para fora da nossa propriedade, Jake bem que tentou ir atrás de mim na sua forma humana, mas ele não era rápido o suficiente. Floresta adentro, um lobo correu atrás de mim, como se estivéssemos brincando de pique-pega.

Ultrapassamos os limites do estado, ou melhor, do país, já que saindo de Blaine nós já estamos no Canadá. Mas nós nem ligamos para isso. Era bom sentir de novo o gosto da liberdade, mesmo que fosse uma liberdade vigiada. Mas com Jake não era assim, mesmo ele sendo mais velho e amigo dos meus pais, ele não fazia o tipo adulto super responsável. Jake podia me fazia sentir uma alma livre, principalmente quando estávamos assim, só eu e ele correndo pelo mundo como se nada mais tivesse importância, sem lugar aonde ir ou coisa alguma a se fazer.

Eu parei e fiquei estática por um segundo. Jake percebeu, diminuiu o passo e me rodeou. Ele me jogou um olhar questionador e eu pedi que ele ficasse quieto. Meus instintos estavam me levando para o lugar onde eu encontraria uma belíssima refeição. Alces que nada, Jake! – eu pensei – Nós vamos nos deliciar com um belo Lince.

Lá estava ele, sua pelugem dourada e linda se mexia enquanto ele destroçava um pobre coelho. Mal sabia ele, que aquela seria sua última refeição nesse mundo, talvez no céu dos Linces ele ganhasse um belo banquete ou coisa parecida. Me posicionei atrás de uma árvore, apenas observando. A essa altura Jake já havia percebido o alvo do meu súbito interesse, tentando não me atrapalhar ele deu algumas passadas para trás e ficou de tocaia mais ao longe.

O lince enfiou seu focinho no corpo morto do coelho, e percebi que esse era o momento certeiro para atacar. Meu corpo agiu totalmente por instinto, num segundo eu estava me preparando para atacar e no outro eu me encontrava em cima de um galho de árvore pronta para pular no lince. Foi exatamente o que eu fiz. Durante o pulo meus olhos encontraram os do animal, mas antes que ele tentasse fugir meus dentes já estavam de encontro ao seu couro, rasgando-o, deixando a mostra a sua carne vermelha e jorrando o sangue para fora. Eu havia acertado uma veia importante do animal, senti o cheiro do sangue me invadir, e logo em seguida o gosto. Entorpecida deixei minha língua passear por um segundo sobre a carne do lince antes de sugá-lo. O animal se debatia, mas ele não era forte o suficiente para mim. Segurava firme suas patas dianteiras com uma mão e a cabeça com a outra. Eu poderia matá-lo se eu quisesse, mas me alimentar dele ainda vivo tinha um prazer mais especial. Eu sentia o ritmo da sua respiração e da sua pulsação, primeiro muito rápida, enquanto ele tentava lutar e depois cada vez mais lenta a medida em que se dava por vencido e perdia cada vez mais a sua força. Não demorou muito para a angústia dele acabar, o lince morreu nos meus braços e a única coisa que eu pude e quis fazer foi sorrir. Estava alimentada. Mas talvez não suficientemente alimentada.

Olhei em volta e Jake estava me olhando ao longe. Sorri e fui em sua direção, ele continuou parado me observando. Cheguei perto dele e me sentei ao seu lado.

- Você acha que nós deveríamos ter dividido? – perguntei apontando para o lince morto.

Ele olhou para mim com seus olhos de lobo e fez que não com o focinho. Eu gostava de me comunicar com Jake mesmo quando ele não tinha palavras para me dar.

- Ele não tem mais nenhuma gota de sangue, mas talvez a carne ainda esteja boa. – insisti, mas Jake nem queria olhar o bicho. – O que foi? Você agora é da sociedade protetora dos animais?

Jake me deu um latido que mais parecia uma risada, mas era definitivamente uma risada curta. Acho que ele estava chateado comigo por alguma razão que me escapava.

- Eu sei que os linces estão em extinção e que eu deveria manter o equilíbrio do eco sistema, mas Jake, eu estava faminta e ele estava ali praticamente me chamando. Eu merecia vai! Uma vez na minha existência experimentar um animal tão lindo como esse. Ele praticamente disse: me coma! Se não fosse eu podia ter sido qualquer outro predador.

Minhas palavras pareciam estar sendo jogadas ao vento, porque o Jake não estava muito interessado nas minhas desculpas. Tentei fazer cócegas perto do seu pescoço que era onde ele mais gostava quando estava sob a forma de lobo, mas ele não me deu bola. Então irritada eu me levantei cruzando os braços no peito.

- Tudo bem, se você não quer falar comigo eu vou embora.

É claro que eu não ia embora coisa nenhuma. Qualquer coisa era melhor do que voltar para casa e conseqüentemente para o meu castigo eterno, até mesmo ficar num monólogo interminável com o Jake. Mas o meu charminho especial funcionou, e ele se levantou indo para atrás de uma árvore para se transformar em humano. Eu e Jake somos amigos, mas nada dessa intimidade exagerada, ele não se trocava na minha frente, né? Pelo amor de Deus!

- O que houve Jake? – eu perguntei quando o vi saindo de trás da árvore.

- Às vezes, - ele parecia estar pensando se continuava ou não a falar, no fim acabou falando - eu não gosto de te ver comendo. É isso.

- Desde quando? Você sempre foi caçar comigo! – eu estava indignada com essa história.

- Desde quando você começou a se alimentar desse jeito. – ele disse cabisbaixo.

- Desse jeito como Jake? Do que você está falando? – eu realmente não estava entendo.

- Às vezes Nessie, você age exatamente como eles.

- Como eles quem criatura?

- Como os sanguessugas! Os vampiros!

- Jacob, eu sou uma vampira. Desculpe se ninguém te contou isso até agora. – a ironia é uma arma cruel nas mãos certas.

- Nessie, me desculpe ok? Vamos mudar de assunto.

- Nada disso! Você começou, agora termina. Qual é o seu problema com a minha gente. – eu nunca havia usado essa expressão para definir a minha família, ou as pessoas como nós, os vampiros, mas estranhamente isso pareceu muito apropriado naquele momento.

- Não é nada Nessie, é só que você me pareceu assustadoramente linda comendo daquele jeito... Não parecia... Você - Jake disse parecendo totalmente arrependido de ter começado aquela conversa.

Olhei para ele por um momento e depois sentei num tronco próximo admirando a grama. Jake ficou parado por um tempo onde estava e depois se juntou a mim. Ele estava me olhando, parecia querer falar alguma coisa, pedir desculpas talvez, mas eu resolvi que aquele era um bom momento para soltar tudo o que eu tinha preso na garganta há muito tempo.

- Sabe qual é o problema Jake? – eu perguntei ainda olhando a grama, e a movimentação do vento perto da minha orelha esquerda me dizia que ele estava balançando a cabeça negativamente. – O problema é que todo mundo, e quando eu digo todo mundo estou falando de você e da minha família; - eu disse me virando para ele – todos vocês criam, cada um do seu jeito, expectativa demais em cima de mim. Vocês acham que eu sou uma pessoa que eu não sou.

- Nessie, isso não é... – ele falou me interrompendo.

- Jake, me deixe terminar. – eu disse séria, e ele se calou. Respirei fundo sentindo todos os aromas por perto, grama, terra, o lince que ainda exalava um cheiro peculiar, sangue, suor... Jake. Balancei a cabeça tentando voltar a me concentrar na conversa – Minha mãe acha que eu sou super inteligente e concentrada, papai espera que eu tenha atitudes de alguém de cem anos como ele, meu avô acha que eu sou a criatura mais fantástica que já existiu, tia Alice acha que eu sou uma modelo ou coisa do tipo – eu ri – e você Jake?

Ele me olhou com seus pequenos olhos negros de uma forma que nunca tinha me olhado antes. Mas eu não conseguia reconhecer o sentimento por detrás daquele olhar.

- Você Jake, – eu respondi por ele – você não reconhece a parte de mim que é mais latente. Você só enxerga a parte de mim que cabe a você, assim como todos os outros.

- Nessie – Jake disse baixinho – eu não sabia que você se sentia assim. Mas eu não quis te ferir, ou...

- Jacob. – o interrompi - Sabe o que eu queria que todos entendessem? Que eu não sou nem como eles, nem como você, nem como os humanos. Mas eu quero ser normal! Eu quero ter problemas com matemática na escola, quero ser imatura às vezes, quero acordar e não ter o que vestir de manhã... Na verdade, nem eu sabia direito quem ou que eu era antes dessa semana. Eu não sabia que havia para mim tantas possibilidades. Mas agora que eu cresci posso viver entre os humanos normalmente. As pessoas não me acham estranha ou especial, as pessoas não esperam nada de mim, para elas eu sou apenas uma garota de 16 anos. Eu posso ser só a Nessie, Jake, se me deixarem.

Eu não sei se meu rosto, ou meu olhar, deixavam transparecer todo aquele entusiasmo que eu sentia colocando aquilo para fora pela primeira vez, mas Jake parecia-me entender quando tocou minha mão e a entrelaçou com a sua. Ele sorriu para mim, e com a mão livre tocou meus cabelos me puxando para beijar minha cabeça. Sorri quando a pele do meu rosto tocou a do peito nu dele, me concentrei apenas em Jake por um instante e senti o seu coração batendo acelerado perto da minha orelha, inalei o cheiro dele que era tão conhecido a mim. O cheiro de Jake era algo parecido com terra molhada e canela. Normalmente era reconfortante e tranqüilizador, mas hoje... Hoje eu estava ficando levemente tonta por algum motivo desconhecido.

Levantei meu olhar procurando pelo seu que já estava pousado em mim. Sorri tímida sentindo o meu sangue correr diretamente para o meu rosto, enquanto o meu coração rápido como o de um passarinho parecia querer bater asas e voar por minha boca a fora. Inalei fundo novamente o ar, e eu podia sentir a respiração de Jacob, meus olhos estavam se fechando quando levei um susto e quase pulei do tronco onde estava sentada. Meu celular estava vibrando no bolso da minha calça.

"Pleased to meet you

Hope you guess my name

But what´s puzzling you

Is the natures of my game"

- Você não muda esse toque! – Jake disse brincando, mas sem muito humor.

- Ah! Eu gosto de piadas internas – eu falei antes de atender o telefone.

- Feliz Aniversário! – ouvi várias vozes dizendo ao mesmo tempo do outro lado da linha. Mas consegui reconhecer uma em especial, e sorri abertamente ao fazê-lo.

- Obrigadaaaa. – eu disse e gesticulei para o Jake dizendo que precisava atender. Corri com a minha velocidade vampírica para trás de uma árvore.

- Oi Nessie, aqui é o Will! – disse uma voz sorridente no meu ouvido.

Eu sei que é você, reconheceria sua voz em qualquer lugar! Tá, tudo bem, eu não disse isso, mas eu pensei.

- Oi Will, quem eram todas essas pessoas?

- O pessoal! Estamos todos na pizzaria. – eu não precisava perguntar que pizzaria, provavelmente só havia uma em Blaine. – Bem, você me deu seu telefone, então achei que podia ligar, fiz mal?

- Não claro que não. Obrigada por ter lembrado.

- Eu nunca ia esquecer o seu aniversário Nessie. – borboletas surgiram na boca do meu estômago – Você não foi à escola ontem. Você não está chateada comigo por aquele lance de quinta, está?

- Não. Claro que não! – Como eu poderia ficar chateada com ele? Esse cara tem cada ideia! – Eu te disse que não podia ter saído da escola sem avisar, não foi? Fiquei de castigo. – O ouvi sufocar uma exclamação.

- Oh Nessie me desculpe por isso! Eu não queria te causar problemas. – ele é tão fofo arrependido! Ok, ele é fofo de qualquer jeito.

- Não liga, não foi sua culpa. – um instante de silêncio reinou entre nós, e eu tratei logo de quebrar – Mas de qualquer forma acho que segunda já estarei novamente na escola, daí a gente se vê.

- Ah não! – ele disse indignado – Hoje é o seu aniversário! Eu te disse que não ia deixar de te ver. Como estamos todos na pizzaria, será que você teria permissão de vir até aqui? – parei um segundo para pensar em uma desculpa, mas antes que eu falasse qualquer coisa Will interrompeu meus pensamentos – Ou então eu posso ir até a sua casa. Não quero de jeito nenhum deixar de te dar uma coisa hoje.

Lá em casa? Só se você quiser ser servido no buffet no meu aniversário.

- Na verdade, - eu disse olhando Jake que parecia muito pensativo olhando uma pedra. Ele estava falando com a pedra? Eu heim! – acho que posso dar um jeito de passar aí, mas vai ter que ser uma coisa rápida.

- Ah que bom! Vem sim Ness, a Megan está aqui também, ela está me obrigando – Will disse com uma risada – a dizer que quer te dar um abraço. – ouvi ele sair um pouco de perto do telefone – Pronto, eu falei já, agora pare de me cutucar!

Eu ri sozinha admirando uma formiga carregar um pedaço de folha. Que bom que Megan estava lá, o "pessoal" da escola é legal, mas não me sinto tão à vontade com eles como me sinto com Will e Megan.

- Agora eu tenho que desligar, para mexer meus pauzinhos e poder ir aí!

- Tudo bem, então eu te vejo daqui a pouco! – ele disse com um rastro de sorriso na voz e eu desliguei o telefone.

Olhei para Jake, agora eu tinha que fazer ele me levar até a pizzaria. Ajeitei minha roupa para ver se ela estava limpa e fui caminhando devagar mantendo meu olhar fixo no meu alvo. Quando estava a um passo dele, o olhar de Jake se encontrou com o meu, e uma aura de constrangimento de instalou entre nós. Ficamos nos encarando pelo que pareceu uma década, mas enfim eu balancei minha cabeça e quebrei o nosso contato visual.

Jacob foi meu amigo a vida inteira, não tinha nada haver ficarmos constrangidos por que... Bem, só porque ele estava me consolando em um momento de desabafo, só isso. Não foi só isso? Claro que foi, o que mais seria?

Sorri aquele que eu achava ser o meu sorriso encantador e pisquei um sem número de vezes. Jake olhou para mim e caiu na gargalhada.

- O que é isso? – ele perguntou se referindo a minha expressão.

- Essa é a minha melhor cara de "eu sou sua melhor amiga não recuse o que eu vou te pedir agora".

- Own, ok. Vamos lá, desembucha! – adoro o fato do Jake não ser o tipo de pessoa que remói constrangimentos.

- O que você acha de irmos comer uma pizza? – perguntei sorrindo incerta. Ele arqueou uma sobrancelha para mim antes de abrir um sorriso zombeteiro.

- Você? Comendo pizza?

- Ok, você venceu! – joguei meus braços para cima em sinal de rendição. – O pessoal da escola está na pizzaria, daí eles querem me dar feliz aniversário, é coisa rápida! – Jacob fechou a cara assim que eu disse a palavra escola.

- Só tenho permissão para te trazer para almoçar, passeios com amigos estão fora da minha jurisdição, Nessie. Seu pai me mata.

- Jake, - eu me sentei ao seu lado, tocando em seu ombro – tecnicamente pizza pode ser considerado um complemento do almoço. Além do quê, até onde eu sei você não comeu nada ainda. E eu sei – eu disse apontando para mim – que você – apontei para ele – prefere comer pizza a estraçalhar um cervo qualquer por aí. Portanto, uma pizza não seria nada demais.

- E o que eu faço quando seu pai entrar na minha cabeça e quiser arrancá-la do lugar quando descobrir? – ele me perguntou com uma careta.

- E desde quando – eu disse me levantando e estendendo a mão para ele – você tem medo de Edward Cullen?

Ele riu e aceitou minha mão. É, eu tinha conseguido! Meu aniversário ainda estava só no começo, e eu tinha certeza que ele seria inesquecível.

Continua...

N/A: Desculpe a demora na att... mtos problemas internéticos!O cheiro do Jake – terra molhada e canela – teve uma ajuda fundamental da minha querida Elen! E a música do celular da Nessie é Sympathy for the devil dos Rolling Stones, para quem não se lembra, é a música do filme Entrevista com o vampiro, por isso ela disse se tratar de uma piada interna.

Bjoka para Kazinha e para Bgsmeinterfona ehhehe!

Xauzin, até o próximo,

Tataya Black