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Minha situação era ridícula. Eu continuava sentada dentro do meu carro velho com as mãos no volante tremendo despercebidamente e ofegava com medo do que poderia acontecer. Olhava fixamente para o prédio antigo cheio de pessoas e de repente a coragem desvaneceu do meu corpo em uma fração de segundo. Eu estava com medo mais uma vez. Eu era ridícula mesmo, meu Deus.

Eu, Bella Swan, estava literalmente me cagando de medo de encarar o primeiro dia na faculdade. Meu estômago roncou confirmando essa sensação de impotência que eu estava sentindo simplesmente por imaginar o que aconteceria quando eu colocasse os pés para fora do carro. Eu cairia, no mínimo. Ou esbarraria na porta principal na frente de todo mundo, ou tropeçaria nos meus próprios pés e seria eternamente conhecida como a novata que não tem o menor senso de equilíbrio. Mas eu não poderia continuar naquela situação por muito tempo, ou poderia se minha escolha fosse morar dentro daquele amontoado de ferrugem que eu chamava carinhosamente de "Purple Rain". Ok, a cor do carro era vermelha, mas foi uma homenagem ao disco do Prince que minha mãe escutou praticamente minha infância inteira, uma das milhares de influências vergonhosas que eu carregaria por minha vida.

Voltando a minha situação, eu deixei minhas mãos caírem sobre minha bolsa que eu havia colocado sobre meu colo e guardei a chave dentro dela. Eu tinha que sair dali, já estava começando a fazer calor demais e minha primeira aula começaria em meia hora. Daqui que eu achasse minha sala eu já estaria atrasada o suficiente para mais constrangimentos naquele dia. Eu quase não sentia meus pés quando sai do carro e bati a porta com uma força desnecessária. Respirei fundo novamente, arrumei meu cabelo que já deveria estar bagunçado e caminhei para fora do estacionamento. "Um pé depois do outro..." eu revisava na minha mente para não cair ou algo do gênero.

Já era conhecida como "Estabanella" na minha antiga escola por ter uma inclinação para me acidentar por coisas bobas como corrimão, meio-fio e portas. Sim, as portas eram minhas inimigas mortais quando o assunto era machucado. Elas insistiam em estar no meu caminho quando eu entrava em alguma sala e as maçanetas gostavam profundamente de segurara alça da minha bolsa nesses momentos.

Já perdi as contas de quantos pontos já levei no meu corpo ou quantas vezes eu engessei um membro, meus pais nem se assustavam mais quando eu ligava do hospital porque tinha quebrado algum osso. Renée e Charlie com certeza já estava sentindo falta da filha desequilibrada que estava longe com a intenção de estudar Jornalismo e essa filha certamente sentia falta dos dois.

Estava tão absorta em calcular quantas vezes eu fui ao hospital no semestre passado que não percebi o carro prata se aproximando de mim e freando bruscamente quase encostando o pára-choque na minha perna. Ótimo, eu já estava arriscando minha vida e ainda nem eram nove horas da manhã. Algumas pessoas pararam para observar a cena e eu tirei o fone esquerdo do meu ouvido enquanto observava o condutor daquele veículo abrir a porta. Minha respiração de repente parou e eu nem sabia por quê.

Seu cabelo castanho dourado brilhou com o raio de sol que o atingiu e ele retirou seu Ray-Ban Wayfarer preto expondo seus olhos verdes levemente assustados. Eu senti frio somente de olhar para sua pele extremamente branca e eu dei um passo para trás quando vi caminhando em minha direção.

- Você está bem? – ele perguntou olhando fixamente para mim. – Eu não te vi atravessando...

- Eu... Eu... – eu tentei dizer, mas minha gagueira causada por nervosismo me impedia.

- Ela está bem. Podemos ir? – uma loira disse saindo do carro.

Na minha mente só conseguia surgir a pergunta "Será que ela é modelo?" porque eu nunca havia conhecido uma mulher tão linda como ela. Seu cabelo era de um loiro quase branco e ondulado até a cintura lembrando aquelas propagandas de xampu com artistas de cinema e seus cabelos impecáveis. Meu cabelo não era assim, lembrei automaticamente. Seus olhos azuis me fuzilaram e ela não retirou a expressão raivosa da face quando ele a olhou recriminando aquela atitude.

- Rose, deixe a garota responder, por favor. – ele disse a cortando grossamente.

- Eu vou me atrasar para a aula, sabia? – ela respondeu batendo o pé como uma criança mimada e meu olhar percebeu o salto-alto Jimmy Choo que ela usava. Meu coração pulou de inveja.

- Vá andando! Não é tão longe. – ele retrucou voltando o olhar para mim. – Você se machucou?

- Não... – eu disse, mas senti uma mão pousando no meu ombro.

- Ela está bem, pode deixar comigo. – o dono da mão disse e eu finalmente desviei o olhar dele.

Jacob me conduziu para longe do carro e eu finalmente pude respirar depois de tanto tempo me privando de oxigênio pelo nervosismo. Eu sabia que ele estava rindo enquanto caminhava ao meu lado e eu não pude deixar de rir de mim mesma por causa daquela situação. Eu era patética demais pra acreditar.

- Eu não posso te deixar por dois minutos e você já sofre um acidente, né Bella? – ele brincou parando em frente às escadas do prédio.

- Juro que não foi minha culpa, Jake. Aquele carro surgiu do nada... – eu tentei explicar, mas meu passado me incriminava. – Ok, eu estava distraída, assumo.

- Como sempre. Não sei como você consegue viver dessa forma tão estabanella.

- Para de me zaar, Jake. – eu disse o empurrando de leve. – Tenho que encontrar minha sala.

- Eu também, mas prometi a Katherine que a esperaria aqui. – Jacob disse com as mãos dentro do bolso do casaco. – Ela já saiu de casa?

- Quando sai ela ainda estava procurando a chave do carro enrolada na toalha e ela ainda nem tinha começado a procurar pela bolsa. – respondi revirando os olhos.

- Então é melhor eu me sentar. – Jacob disse sentando no degrau da escada. – Boa aula, Bella.

- Pra você também se conseguir assistir alguma. – eu disse sorrindo e subindo as escadas.

Eu precisava encontrar a sala 206 em menos de vinte minutos e ter minha primeira aula de Literatura Inglesa, o que aumentou mais ainda minha ansiedade. Agora sim eu poderia ler demasiadamente e não ser chamada de louca. Todos os meus autores favoritos, todas as novidades que ainda estariam por vir, estar na faculdade me deixou feliz por finalmente ter conseguido suportar os dois anos de viagem com meus pais depois do Ensino Médio.

Charlie era um Paleontólogo e Renée fotógrafa então minha vida inteira eu morei em países diferentes e cidades estranhas como uma nômade, mas quando eu entrei no Ensino Médio eles não puderam mais deixar minha educação tão complicada por causa da mudança constante de colégio então eu fui morar com meu tio John, irmão de meu pai, no Arizona. Eu não queria ficar longe de meus pais, mas deixar de lado um pouco as mudanças constantes e a eterna sensação de estranha no ninho foi bom.

Eles queriam que eu estudasse em uma das faculdades da Ivy League, que recebesse a melhor educação, mas eu ainda não estava preparada para enfrentar uma faculdade depois de um acontecimento no meu último ano de escola, preferia viajar com eles depois da formatura e depois decidir para onde iria.

Dizer que esperaria pela formatura de minha prima mais nova também funcionou afinal eu e Katy éramos como irmãs, inseparáveis. Ela iria para a faculdade dois anos depois da minha formatura e assim poderíamos morar juntas se entrássemos em uma faculdade igual, talvez até sermos colegas se ela ainda tivesse o sonho de ser Jornalista como eu. Desde pequenas nós duas sonhávamos em ter nosso próprio jornal de circulação nacional ou sermos uma dupla de correspondentes internacionais, mas com a adolescência e o namorado ela decidiu que faria Direito.

Não culpo o Jacob por essa influência. Katy sempre me deixava na mão na hora de entregar um artigo quando participamos do jornal de nossa escola e seu jeito "justiceiro" já indicava uma futura carreira nessa área. Apesar disso, nós morávamos juntas como havíamos planejado e cursávamos a mesma faculdade: Princeton.

- Bom dia! – alguém disse me despertando das lembranças.

O susto que tomei fez-me virar rapidamente e atingir o garoto na minha frente com minha enorme e pesada bolsa no braço direito. Eu só poderia ser louca para andar com uma bolsa tão grande e cheia quando era um acidente ambulante dessa forma.

- Desculpa! – eu disse segurando minha bolsa colada ao corpo.

– Tudo bem. – ele disse abrindo um sorriso enquanto esfregava o local na pancada. - Essa é a aula de Literatura Inglesa com o professor Shelton?

- Sim. – eu respondi olhando o número indicando a sala em nossa frente. – Primeiro ano de Jornalismo?

- Na verdade, segundo. – ele respondeu. – Fui transferido e não havia cursado essa matéria antes. Sou Mike Newton.

- Isabella Swan, mas, por favor, me chame de Bella. – eu disse apertando sua mão.

- Bella... – ele disse me analisando. – Bem apropriado.

Corei como sempre fazia quando recebia um elogio e fitei meus próprios pés tentando não parecer tão envergonhada como estava. Um senhor passou por nós dois com uma pilha de livros na mão e eu deduzi ser o professor, apressando para entrar na sala já cheia, Mike logo atrás de mim. Achamos duas cadeiras juntas e para não perder o hábito eu esbarrei minha bolsa na cabeça de uma garota na minha frente enquanto passava, podendo ouvir alguns risos baixos ecoando pela sala.

- Me desculpe! – eu disse com um sorriso amarelo para a garota me encarando nervosa.

- Tudo bem. – ela disse virando-se para frente e cochichando algo com a garota ao seu lado.

"Muito bem, Bella" eu pensei sentando. Já havia arranjado a minha primeira inimiga do ano.

Só esqueci-me dos incidentes do dia quando o professor começou a falar sobre o plano de aula para aquele período. Começaríamos com Shakespeare, para minha completa felicidade, e eu já havia lido todas as suas obras mais de uma vez e participado de algumas encenações na escola. Era um dos meus autores favoritos e me ajudou muito a esperar passas as horas em aeroportos e sessões de fotos da minha mãe. Eu não podia ir ao trabalho de Charlie, tinha asma e a poeira das locações me mataria. Teria que reler todos aqueles livros e mais alguns trabalhos científicos de suas obras para os trabalhos da faculdade e já planejava começar isso a noite.

- O quão clichê essa aula poderia ser? – Mike comentou quando saímos da aula. – Shakespeare!

- Você não gosta de Shakespeare? – perguntou incrédula. – Isso é quase blasfêmia.

- Eu gosto, é um dos meus autores favoritos, mas por que iniciar um curso de literatura inglesa com o autor mais popular da Inglaterra? – ele disse abrindo os braços de forma dramática, me fazendo rir. – Não poderia ser Oscar Wilde, Virginia Woolf, Lord Byron?

- Lord Byron? Escolha interessante. – comentei rindo. – Estou mais interessada em saber quando ele irá começar com Jane Austin ou Aldous Huxley.

- Vejo que tenho muito sobre o que conversar com você, Bella. – Mike disse abrindo um sorriso amigável. – Vai almoçar sozinha?

- Não. Vou encontrar minha prima e o namorado dela no refeitório. – respondi segurando a alça da bolsa com insegurança. Não estava pronta para um almoço-encontro. – A gente se vê por ai?

- Claro! – ele disse forçando um tom animado na voz. – Até mais, Bella Swan.

- Até mais, Mike Newton.

Mike acenou para mim e caminhou pelo corredor cheio de pessoas enquanto mexia as alças da mochila. Ele era bonito com seus olhos azuis e cabelo loiro bagunçado e uma pessoa legal para conversar, mas eu não estava intencionada em me envolver com ninguém tão cedo. Não depois do meu último ano da escola.

- Bella Swan! – alguém gritou meu nome me assustando.

Katherine estava parada na porta do refeitório junto a Jacob, que segurava uma pilha de livros no braço. Respirei fundo balançando levemente a cabeça para afastar as lembranças desagradáveis e caminhei ao encontro dos dois. Meu estômago roncou ao sentir longe o cheiro de comida que invadiu minhas narinas e eu me lembrei rapidamente que precisava comer algo. Às vezes eu esquecia-me disso, era muito distraída.

- E ai, como foi sua primeira aula na faculdade? – Katy perguntou-me animada como sempre.

- Legal. – respondi desanimada com a fila que enfrentaria. – Shakespeare é sempre um bom começo. E o seu?

- Só consegui chegar à metade da aula então fiquei voando a maior parte do tempo. – ela responde dando de ombros. – Ainda bem que eu tenho o melhor namorado do mundo que conseguiu emprestada as anotações de uma garota na nossa sala.

- Meu charme às vezes ajuda. – Jacob respondeu irritando Katy.

- Vamos comer, estou morta de fome já. – eu disse interrompendo uma das clássicas brigas dos dois por causa de ciúmes.

Katherine não era uma garota muito fã de se alimentar, sempre dizendo que precisava perder cinco quilos apesar de ter um corpo invejado por muitas garotas – eu, por exemplo – então Jacob e eu encaramos a fila enquanto ela guardava uma mesa para nós. A fama não muito boa de comida na faculdade parecia servir para Princeton quando comecei a analisar a comida ali servida. Nada parecia saboroso, nem ao mesmo comível, e eu também não queria me arriscar em comer algo que fosse realmente ruim podendo arruinar o resto do meu dia. Peguei a salada e uma Coca light de Katherine, uma garrafa de água mineral, um pouco de sorvete de pistache e algo parecido com rosbife, não sabia ao certo.

- Isso parece realmente... Delicioso. – comentei ironicamente olhando para o prato de Jacob.

- Super. – ele respondeu no mesmo tom. – Se eu não tivesse com fome iria me contentar com café e cigarro.

- Minha refeição favorita. Depois do almoço no pátio aqui do lado? – perguntou colocando a bandeja na mesa onde Katy estava.

- Por favor! – ele disse implorando. – Eu levo o café e você leva o cigarro, pode ser? Marlboro vermelho.

- Ok. – respondi abrindo minha água.

- E eu vou procurar a biblioteca enquanto vocês se matam. – Katy disse abrindo a latinha de Coca. – Trouxe minha salada?

- Salada Ceaser, senhorita. – respondei lhe passando a embalagem com salada. – Bom apetite!

Eu não consegui dar mais que duas garfadas naquilo que eles chamavam de comida. Roubei uma alface com manga de Katherine e tomei o sorvete sozinha, o que não fez minha fome passar nem um pouco. Não conseguia entender como Jacob conseguiu comer tudo que havia colocado no prato, seu apetite às vezes me assustava lembrando muito um lobo faminto enquanto comia.

Estava distraia olhando as pessoas enquanto Katherine comentava com Jacob sobre a aula que tinham acabado de ter, o que não me interessou nem um pouco, quando eu o avistei entrando no refeitório. Era o cara que quase havia me atropelado mais cedo que chamou minha atenção em meio a todas aquelas pessoas desconhecidas, não só a minha como eu pude perceber depois.

Algumas garotas olhavam estupefatas o seu caminhar determinado ao lado da garota loira estupidamente linda e de um rapaz também loiro de cabelo estranho. Todos os outros homens se tornaram ridículos ao lado dele tamanha era sua beleza e seu charme.

Alto, determinado, sorridente, atraente, sexy eram palavras que se encaixariam perfeitamente para descrevê-lo, porém, o que realmente chamou minha atenção foi o livro que ele carregava na mão esquerda: um exemplar velho de Tito Andrônico de Shakespeare. Eu conhecia poucas pessoas que realmente haviam lido aquele livro, não enrolado para fazer algum trabalho da escola, e isso me fez sorrir. Um bom gosto por autores, eu pensei.

Na mesa em que ele sentou haviam duas pessoas. Uma garota de cabelo negro curto espetado para todos os lados beijou o garoto de cabelo loiro estranho quando ele sentou-se ao seu lado e um garoto extremamente forte e de cabelo preto beijou a loira quando ela sentou-se à mesa.

O misterioso cara lindo sentou-se sozinho ao lado da loira e abriu seu livro rapidamente enquanto os outros conversavam e eu pude perceber que havia alguma semelhança entre eles. Os dois loiros eram parecidos demais e não poderiam deixar de serem irmãos gêmeos. Tinham o mesmo nariz fino, a cor do cabelo, os olhos azuis levemente puxados e o formato da boca era idêntico.

O garoto moreno parecia um pouco com a garota morena, talvez o formato do rosto e do nariz, mas ela tinha uma feição delicada de boneca de porcelana enquanto ele tinha uma expressão carrancuda gravada na face.

O misterioso era o que menos parecia com os outros tendo apenas a mesma cor dos olhos da garota morena e o ombro largo do garoto forte, além de está incrivelmente concentrado diferente dos demais. Parecia que havia se esquecido das pessoas ao seu redor enquanto lia as palavras daquele livro e às vezes torcia o pescoço para estralá-lo, eu imaginei vendo aquele movimento se tornar constante.

- Vamos, Bella? – Jacob disse me assustado.

Eu me assusto facilmente quando estou concentrada em outra coisa, vocês verão.

- Te encontro lá fora com o cigarro. – eu disse pegando minha bolsa da cadeira ao lado.

Katy e Jacob saíram antes de mim do refeitório e eu pude dar uma última olhada no cara misterioso antes de pegar uma nota de cinco dólares na minha carteira e sair dali em direção ao quiosque do lado de fora. Jacob já me esperava com dois copos grandes de café sentado em um dos bancos do pátio e eu lhe entreguei o maço de cigarros aberto quando sentei ao seu lado.

- Vermelho como você pediu. – eu disse pegando o isqueiro no bolso de minha calça.

- Forte como você pediu. – ele me disse com um cigarro nos lábios.

Acendi meu cigarro e deu um longo trago, o primeiro do dia. Eu só fumava quando estava nervosa ou então bebendo, o que raramente acontecia. Permitia-me um cigarro em momentos de tensão para relaxar já que eu enfrentei muitos primeiros dias de aula em escolas novas durante meus vinte anos e o cigarro de certa forma me ajudava a conhecer as pessoas.

Sempre havia alguém fumando escondido comigo e dali sempre surgia uma amizade. O vício por café eu herdei de Renée, ela sempre está com um copo grande na mão quando está trabalhando e o cheiro é o mais próximo de casa que eu tenho.

- Jake. Você tem notícias do... James? – eu perguntei fitando meu tênis sujo.

Ele me olhou assustado com aquela pergunta e abriu a boca para dizer algo, mas parou e sacudiu a cabeça negativamente. Eu olhei com um pouco esperança de ele finalmente dizer algo que me interessasse.

- Bella, por que você quer saber? – Jacob me perguntou sério. – Depois de tudo que ele lhe fez...

- Eu sei, mas eu só estava curiosa para saber que fim ele levou. – respondi encolhida o observando traga o cigarro quase no fim.

- Ele está em Oxford. Faz Literatura Contemporânea. – Jacob respondeu dando um longo suspiro.

- Uau, Oxford. Como ele sempre quis... – comentei baixo para Jacob não me recriminar novamente.

- Tenho que encontrar a Katy para a próxima aula. – ele disse levantando-se. – Obrigada pelo cigarro.

- Obrigada pelo café. – disse balançando o copo levemente. – E Jake, não comenta com a Katy que eu perguntei sobre o James, por favor.

- Ok, Bella. Tchau.

Observei Jacob se afastar e sumir no corredor movimentado em nossa frente. Eu sempre cometia esse deslize de perguntar sobre o James quando Katherine não estava por perto, ela me mataria só de escutar o nome dele, mas era difícil demais apagar aquilo das minhas lembranças. Doía lembrar-me de tudo, mas eu também não fazia o mínimo de esforço para deixar aquela dor sumir. Meu lado masoquista falava mais alto nessa hora.

Fiz um pequeno movimento com a cabeça tentando dissipar aquele pensamento que me incomodava e tirei o papel com os meus horários do pequeno bolso de minha bolsa.

- Tudo bem. – disse a mim mesma jogando a bituca de cigarro no cinzeiro ao meu lado. – História Política, aqui vamos nós.

Eu só estava a um dia naquela faculdade e já desejava por férias. Mais uma vez, patética, eu assumo.

Cheguei tão faminta em casa que não esperei Katy chegar para jantar. Comprei uma pizza de marguerita com queijo extra no caminho, liguei a televisão no canal CNN e abri na primeira página de Macbeth. Não havia mais nada de interessante para fazer naquela noite, Renée e Charlie estavam na África em uma comunidade tão isolada que não tinha internet nem meio de comunicação algum, então nada de mais aconteceria a não ser a atualização de minha leitura para a próxima aula de Literatura. Já estava na décima quinta página quando Katy chegou estranhamente animada em casa.

- Bella, largue esse livro velho e vá se arrumar. – me disse jogando a chave no sofá. "Por isso nunca consegue achar suas chaves" eu pensei vendo aquele ato.

- E por que eu faria isso? – perguntei ainda com os olhos no livro.

- Porque nós vamos a uma festa!

- Festa? De quem? – perguntei a fitando sem entender.

- De uma irmandade, sei lá. Uma garota me entregou um papel com o endereço da festa, é aqui perto. Jacob disse que nos leva. – Katy respondeu mais animada ainda.

– Nossa primeira festa da faculdade, vai ser muito boa!

- Não sei, Katy. Tenho que ler umas coisas...

- Bella, você só teve uma aula. Não tem praticamente nada para estudar ainda. Temos que aproveitar um pouco, priminha.

Katherine era a pessoa que menos se importava com responsabilidade e tarefas escolares que eu já conheci e certamente estava bastante animada para sua primeira festa de irmandade. Isso era ter dezoito anos na faculdade; zero de responsabilidade. Como eu a conhecia bem já sentia que alguém teria que permanecer sóbria naquela noite para levá-la para casa sem nenhum arranhão. Aquilo já foi o bastante para me convencer a ir.

- Ok, nós vamos. – eu disse fechando o livro.

- Ótimo! – Katherine disse batendo palmas. – Vamos nos arrumar, Jacob já deve estar chegando.

Com muita má vontade eu levantei do sofá, dei uma última mordida no pedaço de pizza e desliguei a televisão. Talvez eu até me divertisse, quem sabe.

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