EPÍLOGO:

EPOV

Eu suava copiosamente dentro daquela camisa de botão e não estava nem um pouco a fim de colocar o paletó estendido no banco ao meu lado. Era um dia quente, alguma data em Julho que eu não recordo porque estava deveras nervoso por causa da ocasião, e eu prolongava os minutos dentro do carro refrescando meu corpo com o ar-condicionado. Bella ficaria tão furiosa se eu me atrasasse que achei melhor sair e caminhar até o jardim arrumado com as fileiras de cadeiras, uma de cada lado, em frente ao palco organizado.

Reconheci Bella facilmente entre as outras pessoas vestidas iguais, seu cabelo e seu modo de parar já estavam gravados na minha memória depois de tantos anos. Quatro anos e eu não me cansava dela.

Suas novas amigas me reconheceram e terminaram a conversa com ela quando viram eu me aproximar do grupo, beijando o rosto delicado e levemente suado de Bella.

- Ainda bem que você chegou. – ela disse me abraçando. – Não estava mais agüentando de nervosismo.

- Tive que atender uma emergência quando estava saindo do hospital. Acabei me arrumando por lá mesmo. – respondi segurando sua mão para acalmá-la.

- Aquela nojenta da Lane não te ajudou, né? – ela perguntou ficando séria por um momento, me fazendo rir com sua implicância com minha colega de residência.

- Bella, não vamos falar sobre isso hoje. – pedi antes que ela começasse a falar sobre minha relação profissional com Lane. – Hoje é sua formatura, seu grande dia.

- Eu vou estragar tudo quando colocar meus pés naquele palco. – ela choramingou com sua insegurança que não passou com os anos.

- Isabella Swan, quantas vezes eu vou ter que te explicar que nada vai dar errado? Você será a melhor oradora de turma que Princeton já presenciou discursar.

- Sua opinião não conta, baby. Minhas mãos estão suando e essa beca idiota fica pinicando no meu corpo. Tá tudo dando errado...

- Você está linda, sabia? – falei para cortar seu estresse. – É a única mulher que fica sexy com essa roupa.

- Edward, por favor. – Bella pediu fazendo sua expressão cômica de desespero. – Eu não quero mais brincar de formatura...

- Prince, relaxe um pouco. – eu pedi a abraçando e reconfortando seu cabelo arrumado em meu peito. – Se você tropeçar pelo menos irá descontrair a cerimônia.

- Edward...

- Estou tentando te relaxar um pouco. Você irá se sair muito bem.

Ela levantou o rosto para me fitar, um pequeno bico formado em seus lábios molhados do brilho labial claro que usava, os olhos castanhos cheios de mistérios envolvidos por aquela maquiagem profissional, o perfume delicioso de morangos exalados de sua pele. Depois de todo o convívio eu ainda conseguia ficar ridiculamente encantado com sua beleza e seu jeito particular de encarar as coisas. Sempre insegura e seu medo engraçado das coisas. Eu ainda a amava e a amaria por muito tempo.

- Eu preciso ir. – ela informou enquanto arrumava minha gravata.

- Vou encontrar Charlie agora. Boa sorte. – falei beijando seus lábios delicadamente.

- Vou jogar meu chapeuzinho em você no final. – ela disse dando passas para trás e sorrindo. – Até daqui a pouco com meu diploma na mão.

Eu estava tão feliz por Bella estar se formando, até conseguia sentir a mesma coisa que sentir quando eu me formei há dois anos. Era um misto de ansiedade, medo, vontade de gritar, muita coisa passando na cabeça da pessoa ao mesmo tempo e sem nexo algum. Ela estava realizando seu sonho, o sonho de seus pais e agora meu sonho. Eu só queria a ver feliz e estar ao seu lado para compartilhar de minha felicidade com ela.

Enfiei minhas mãos no bolso da calça e caminhei até a fileira de cadeiras reservadas para as famílias dos formandos. Entre meus dedos eu sentia a pequena caixa preta Tiffany&Co guardando o anel de prata que eu havia comprado há um mês com a ajuda de Esme. Pois é, eu havia pedido ajuda a minha mãe para comprar o anel que daria a Bella naquela noite, quando pedisse sua mão em casamento. Eu estava até calma depois que tomei aquela decisão, mas meu estômago deslocando-se na minha cavidade abdominal recordava a todo o momento a responsabilidade que seria quando eu colocasse o anel em seu dedo e oficializasse o pedido. Certeza eu tinha absoluta, mas o medo de algo desse errado estava presente. Não queria pensar, mas Bella poderia ser o tipo de garota que recusava um pedido de casamento porque não queria assumir algo tão sério ou recusaria porque tinha medo, o que eu esperava que ocorresse. Na verdade, eu esperava ansioso escutar o "sim" saindo de seus lábios em uma melodia que confirmasse a perfeição que iria ser minha vida ao seu lado. Até o fim, como eu havia gravado na parte interna do anel...

- Como está nossa garota? – Charlie perguntou quando eu sentei ao seu lado na terceira fileira destinada as famílias.

- Nervosa como é o esperado. – respondi abrindo meu paletó. – E morrendo de medo de tropeçar quando for fazer o discurso.

- Não acredito que ela está se formando. René ficaria tão feliz agora... – ele disse com a saudade expressa no tom de voz.

- A cerimônia vai começar. – eu o informei observando a movimentação no palco montado em nossa frente...

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BPOV

Eu estava sentada, mas não conseguia controlar minha perna direita de balançar freneticamente enquanto escutava as palavras longe do reitor. O sol estava forte e eu suava muito dentro da beca preta, meu cabelo grudando na testa embaixo daquele chapéu ridículo, apertado e aquele treco pendurado incomodando minha visão. Ao meu lado esquerdo estava Susan, minha nova amiga da faculdade, e ao meu direito Mike, meu primeiro amigo na faculdade. Sentei no meio porque os dois haviam terminado o namoro há pouco tempo e ainda era constrangedor conviver um com o outro.

- Gostaria de chamar ao palco a aluna Isabella Marie Swan, oradora escolhida unanimemente pela turma. – o reitor disse me procurando na multidão.

Respirei fundo escutando as palmas altas perto de meus ouvidos e levantei para encarar as faces viradas ao meu encontro. Eu odiava ser o centro das atenções, mas naquele momento era inevitável que todos os olhares estivessem em cima de minha imagem caminhando para o palco. Eu só queria chegar lá em cima sem tropeçar nos meus próprios pés.

- Boa sorte. – minha ex-professora de Introdução a Comunicação Internacional disse quando eu terminei de subir as escadas.

- Obrigada. – consegui dizer com meu sorriso forçado no rosto.

Enfiei a mão embaixo da minha beca e retirei o papel preso no meu vestido, me postando em frente ao púlpito e encarando aquele mar preto lá embaixo.

- Nunca pensei que quatro anos fossem passar tão rápidos assim. – comecei a dizer respirando com certo alívio. - Até parece que foi ontem que eu coloquei meus pés no estacionamento e rezei para não cair na frente de todo mundo no meu primeiro dia de aula na faculdade de Jornalismo. Muitos livros depois e poucas horas de sono nas semanas de provas, cá estamos nós. Formandos da turma de 2009. Seria clichê dizer que não estamos terminando nada e sim começando, mas é exatamente assim que eu e muitos colegas sentimos. Estamos começando uma nova vida, a temida vida de adulto, mas também estamos finalizando um capítulo em nossas vidas. Um capítulo cheio de descobertas interessantes, de amizades que levaríamos para toda a vida, de conhecimento e medo.

"Quantos de nós não tivemos medo quando encontraram uma matéria difícil demais e pensou que aquele seria o momento de desistir? Eu mesma me senti assim diversas vezes, especialmente com Análise Intertextual II, mas agradeço por não ter desistido. Porque se eu tivesse parado naquele momento difícil não estaria hoje olhando para as faces orgulhosas de nossos pais e amigos e para nossos sorrisos gravados eternamente em nossos rostos ansiosos demais para a cerimônia terminar e poder segurar aquele pedaço enrolado de papel cheio de importância. Não estaria vendo os olhos brilhando de meu pai Charlie, quem tanto me ensinou que eu deveria seguir meu sonho mesmo quando todos dizem que é uma loucura, nem o sorriso perfeito de meu namorado, que me aturou durante todos esses anos reclamando das notas baixas e das aulas intermináveis. Também não estaria sentindo a presença de minha mãe Reneé que, mesmo em outro lugar, está dizendo como está orgulhosa de sua pequena filha. Eu consigo até visualizá-la no meio da multidão acenando animada para me deixar envergonhada.

Se vocês tivessem desistido não poderiam dizer agora que finalmente conseguiram. Mesmo depois de todas as dificuldades e obstáculos, nós conseguimos alcançar nossos objetivos e sentimos orgulho de nós mesmo. Por isso, colegas e amigos, digam a vocês mesmo que conseguiram. Obrigada a todos, turma de 2009. Sem vocês Princeton não seria a mesma."

Procurei na multidão que me aplaudiam em pé os dos rostos mais importantes e os encontrei, batendo palmas e sorrindo. Charlie com o rosto vermelho e os olhos marejados, sorrindo por baixo de seu bigode tingido. Edward sorrindo meu sorriso torto, aplaudindo com uma perfeição inatingível. Eu sorri de volta para os dois, sentindo o verdadeiro alívio pela primeira vez naquele dia.

O restante da cerimônia passou tão rápido que quando eu percebi já estava parada naquela fila e esperando chamarem meu nome. Quando segurei o diploma e vi o sorriso orgulhoso do coordenador de meu curso, a única coisa que eu conseguia pensar era "finalmente!". Todo o sofrimento, estudo pesado e desespero haviam terminado, agora eu poderia viver como sempre quis; escrevendo sobre o mundo para o mundo.

Estava conversando com meus ex-colegas de faculdade e atuais colegas de profissão quando senti duas mãos pousarem em minha cintura ainda coberta pela beca quente, me fazendo virar para encara aquele rosto levemente suado e muito animado.

- Não seja mal educado, Edward. – eu disse sorrindo para ele. – Estou conversando com meus amigos.

- Desculpe, mas preciso roubar minha namorada por cinco minutos, pode ser? – ele perguntou sorrindo para os outros.

Ninguém disse mais nada e eu fui praticamente arrastada até um local menos movimentando, nós dois parando na sombra de uma das árvores centenárias do campus de Princeton.

- Em primeiro lugar, parabéns. – ele disse me dando um beijo rápido. – Seu discurso foi maravilhoso com eu imaginei e obrigado por citar minha presença ilustre em sua vida. – ele continuou dizendo com certo nervosismo na voz.

- Edward, por que você está tão nervoso assim? – perguntei rindo quando o vi passar a mão pelo cabelo diversas vezes.

- Em segundo lugar. – ele disse sem se importar com minha pergunta. – Eu queria te dar seu presente de formatura.

- Você não precisava comprar nada para mim, baby. – eu falei cheia de sentimento na voz.

- Acredite, eu precisava. – Edward disse colocando a mão dentro do bolso da calça.

Eu congelei quando vi a pequena caixa preta em sua mão e de repente o mundo ao meu redor paralisou. Meu estômago revirou inúmeras vezes tomando consciência do que ele estava prestes a fazer e todo o enjôo que meu corpo controlou a cerimônia toda voltou com força. Se eu vomitasse naquela hora não seria nada legal.

- Por favor, não diga nada antes que eu termine de falar. – ele pediu segurando minha mão direita que tremia freneticamente. – Eu não vou transformar isso em uma cena nem me ajoelhar, só quero que você entenda a importância do que eu vou fazer. Muito além daquelas palavras que todo homem utiliza no pedido, você precisa entender que eu preciso passar o resto de minha vida ao seu lado porque não saberia o que fazer se você se casasse com outro homem. Você é perfeita para mim, mesmo com todos seus defeitos e a mulher que eu amo. É isso, Bella. Você aceita me aturar por mais uns sessenta anos, no mínimo? – finalizou abrindo a tampa da caixa.

- Meu Deus! – foi a única coisa que eu consegui dizer quando vi o anel.

Era lindo, todo em prata e com um diamante em forma de flor não muito grande cravado nele. Delicado, mas elegante. Meus olhos se encheram de lágrimas no momento que Edward estendeu a caixinha forrada de cetim preto para mim e meu estômago queria se manifestar naquele momento.

- E-eu não sei nem o que dizer. – gaguejei analisando o brilho daquele diamante diante meus olhos. – Na verdade, eu sei, mas... Meu Deus.

- Só responda. – ele pediu sorrindo.

- Lógico que eu aceito. – respondi quase gritando de alegria.

Edward envolveu meu corpo naquele abraço que ainda conseguia me derreter mesmo depois de tantos anos de convivência e eu não consegui controlar as lágrimas se formando em meus olhos. Eu estava tão emotiva nos últimos dias e fiquei mais ainda quando ele deslizou aquele anel no meu dedo anelar da mão direita. O peso figurado de carregar aquela jóia me assustou um pouco, mas não deixei de ficar extremamente feliz ao saber que passaria o restante de minha vida ao lado dele. Oficialmente.

- Pronto, você agora é oficialmente a futura senhora Cullen. – ele disse com um tom de brincadeira.

- Mas nós não precisamos casar logo, não é? – eu perguntei meio cautelosa. – Porque daqui a alguns meses eu não vou estar em condições de entrar em um vestido de noiva apertado...

- Como assim? – Edward perguntou muito assustado.

- Eu queria esperar até ter certeza antes de te assustar porque poderia ser mentira, mas... Eu estou grávida, Edward. – falei tentando sorrir.

- Não... – ele disse colocando a mão na testa. – Não...

Edward escorregou lentamente no tronco da árvore que tentou se apoiar até sentar no chão, as mãos entre os fios bagunçados e a cabeça entre os joelhos. Sua reação me assustou, eu não imaginei que ele pudesse ficar tão em choque quanto eu ao saber aquilo.

- Edward, diga alguma coisa. – eu pedi sentando ao seu lado.

- Você está grávida... – ele disse como se tentasse entender. – Grávida.

- De três meses...

- De três meses. – ele repetiu. – Como isso foi acontecer?

- Acho que você sabe...

- Eu sei, mas por quê? Por que você tinha que ficar grávida justo agora? Você acabou de se formar, eu estou fazendo minha residência...

- Aconteceu e nós não temos mais nada para fazer. Só aceitar. – falei começando a me acostumar com a idéia de ser mãe tão cedo. – Nós vamos ser pais.

- Eu não posso ser pai, Bella. Eu não consigo lidar com criança. – Edward disse começando a se desesperar de verdade.

- Edward Cullen, você vai ser o melhor pai do mundo, entendeu? – eu disse com segurança nas minhas palavras, segurando seu rosto entre minhas mãos. – Eu posso só ter 24 anos e você ter 25, mas nós vamos encarar isso com responsabilidade.

- Não podia esperar para alguns anos depois do casamento? – ele choramingou apoiando a cabeça em meu ombro.

- Eu também queria esperar ter pelo menos uns 30 anos antes de ter meu primeiro filho, mas fazer o quê?

- Nós vamos ser pais, Bella. Você tem noção da responsabilidade?

- E nós vamos nos casar quando ele ou ela nascer.

- Eu só consigo me senti assustado ao recordar desses dois fatos juntos.

- Relaxe, com o tempo você acostuma. – eu falei sorrindo e beijando sua boca delicadamente.

Escutei uma câmera disparando perto de nós e quando eu abri os olhos vi Charlie parado ao lado de um fotógrafo, sorrindo para nós.

- Pai! – eu o repreendi um pouco nervosa.

- Quero guardar todos os momentos de sua formatura, Bells. – ele disse animado demais para ser meu pai.

- Até disso? – eu perguntei enquanto me levantava.

- Então, você não tem nada para me contar? – Charlie perguntou com malícia na voz.

Eu olhei boquiaberta para Edward, que deu de ombros sorrindo, e voltei a fitar meu pai que praticamente só faltava pular como uma criança ansiosa para entrar na Disneylândia.

- Você sabia? – eu perguntei espantada.

- Lógico, Bells. Ele me perguntou se isso seria uma boa idéia.

- E você permitiu?

- Por quê? Fiz mal? Ela não aceitou? – ele perguntou assustado para Edward.

- Eu aceitei, mas fiquei espantada ao saber que você aceitou tão facilmente.

- Bella, você e Edward nasceram um pro outro. – ele disse e eu controlei o vômito ao escutar aquela frase brega dele. – Eu não poderia negar que vocês formam um casal bonito.

- Obrigada, pai. Fico feliz ao saber isso. – eu disse voltando a me emocionar facilmente. A gravidez estava acabando com minha estrutura emocional.

- Agora uma foto dos noivos. – Charlie pediu nos juntando em frente a câmera.

Edward revirou os olhos rindo e colocou o braço ao redor do meu corpo enquanto eu tentava sorriso. Estranhamente, aquela seria nossa primeira foto como uma família e eu fiquei um pouco assustada com aquilo.

- Sorria, senhora Cullen. – Edward disse no meu ouvido.

- Sorria, pai do ano. – eu o provoquei com um sorriso satisfeito no rosto.

Click!

CONTINUA...

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