Escócia, 1311.

Harry Potter era o mais respeitado, e temido, Laird em toda Escócia. Amava seus homens como irmãos e suas terras com paixão. E não permitia que nenhuma mulher cruzasse a soleira de seu castelo.

Cidade de Nova Iorque, 1996.

Com um noivo indiferente e uma carreira de escritora estagnada, Ginny Weasley só encontrava a paixão e a aventura nas inéditas novelas que escrevia. Até que um herói escocês começou a chamá-la...

Ginny desejava o homem de seus sonhos. Soube que estava muito esgotada quando começou a ouvir sua voz mesmo estando acordada! Para desanuviar sua mente, foi dar um passeio no parque, acabou dormindo em um banco e despertou na Escócia do século XIV na terra de Harry Potter, um arrogante e bonito lorde com uma voz muito familiar.

Harry sabia que Ginny viraria seu ordenado mundo de cabeça para baixo, e iria aonde nenhuma mulher tinha ido antes: Direito ao seu coração...

Capítulo Um

"Vinde a mim."

Sua voz profunda ecoou no silêncio do grande salão. Ele ofereceu suas mãos, esperando.

Ela olhou para o homem de pé frente a ela, um guerreiro alto e poderosamente trajado. A luz do fogo proveniente da enorme lareira brincava nas rudes feições de seu rosto, brilhava sobre seu escuro e longo cabelo, convertia a cor de seus olhos em um profundo e ardente verde. Seu olhar fixo ao dela, aquecendo-a,aprisionando-a.

Caminhou para ele, lentamente. Alcançou-o e pousou suas mãos entre as dele. Podia sentir a aspereza de sua pele, pontos duros onde a espada deixara sua marca. Ele deslizou seus polegares sobre suas palmas, acariciando suas mãos antes de segurá-las e colocá-las em torno de seu pescoço. Ginny ficou sem fôlego quando seus braços a rodearam e puxaram fortemente para ele.

— Oh, mas você é muito bonita, minha Ginny — disse ele, com voz rouca.

Ele baixou sua cabeça e cobriu seus lábios. Tomou sua boca, atormentando-a com beijos que faziam seus joelhos fraquejarem. Ginny se agarrou a ele enquanto ondas de desejo rompiam sobre ela, enfraquecendo-a.

Uma campainha começou a soar, misturando-se com os sons da madeira crepitando na lareira e a áspera respiração do homem. Ela ignorou o som, mas este continuou, persistente.

Virou-se para ver o que era, e então se sentiu cair. Voltou a olhar para o homem com incredulidade.

— Nay, não me deixe. — disse ele, apertando-a mais firmemente contra ele.

Ginny olhou para ele fixamente, em silêncio, incapaz de deter a sensação de mergulhar no nada. Ela deslizou de entre seus braços e sentiu uma dor aguda…

Ginny Weasley fez uma careta de dor quando seu cotovelo bateu no sólido piso de madeira. Abriu os olhos e pestanejou algumas vezes.

Então se recostou e emitiu um Siriustiado gemido. Cair da cama não era a maneira em que supunha que seu sonho iria terminar.

E essa campainha que estava tocando era o telefone. Esticou o braço e procurou às cegas o telefone em sua mesinha de cabeceira. Era bom isso ser um tipo de emergência, ou ia matar quem quer que arruinara o melhor beijo de sua vida.

— Alô? — resmungou ela.

— Oi, é do "Eddie's Breakfast Pizza"?

Ginny ergueu o rosto e observou o relógio, olhando de soslaio os números brilhantes. Que demônios! Eram só nove da manhã.

— Número errado, amigo. — ela balbuciou e desligou o telefone. Tinha sido arrebatada, de possivelmente, o mais perfeito sonho de sua vida por um idiota que queria pizza no café da manhã?

Isso não era um bom sinal.

Recostou-se no chão e contemplou o teto, ainda envolta nas lembranças de seu sonho. Quase podia sentir os braços do homem ao seu redor, ouvir sua encantadora voz sobre ela, saborear seus lábios nos dela. Seu nome pronunciado por aqueles lábios tinha sido uma carícia, um possessivo toque que a marcara como dele. Se ele apenas pudesse ser real! Não toleraria mais homens que podiam levá-la ou deixá-la. Existiaum homem que estaria mais interessado nela que na TV ou nos esportes. Quão aflito tinha se mostrado quando ela começou a soltar-se dele! É claro que o tinha encontrado em um sonho. De algum modo, encaixava.

Bem, não havia nada que pudesse fazer sobre isso. Gemeu quando se obrigou a sentar e enfrentar a realidade.

Era o suficiente para fazê-la querer voltar para a cama.

Seu apartamento, mobiliado de acordo com o início de carreira de escritora, era um chiqueiro. Era uma minúscula quitinete em Manhattam, onde cada superfície disponível estava coberta de pilhas de alguma coisa. Sua mesa, que servia tanto para comer como para escrever, tinha pilhas altas de livros de pesquisas, rascunhos de seu romance e uma coleção de latas de refrigerante. Os pratos estavam amontoados na pia. As roupas, espalhadas de um extremo ao outro. Era um desastre total, um do qual havia preterido encarregar-se durante semanas.

Bem, não tinha sentido adiar o inevitável por mais tempo. Ficou de pé, logo cruzou decidida os poucos mais de noventa centímetros até sua mesa. Para fortalecer-se, bebeu um gole da lata de refrigerante que tinha aberto na noite anterior, depois se sentou e pegou o caderno no qual tinha sua lista de coisas para fazer.

Terminar a carta de apresentação para o manuscrito. Fez uma pausa. Escrever um romance era bem difícil. Vendê-lo em três parágrafos ou menos era um homicídio. Talvez se dedicasse outro dia a dar com algo brilhante. Riscou o item de sua lista com um rápido movimento de caneta.

Exercitar-se. Oh, definitivamente não. Sentiu uma pontada de remorso ao riscar esse aviso.

Limpar o apartamento era o número três. Ela estava bastante segura de que não havia contas sem pagar escondidas por aí, então, não havia muito sentido em perder tempo organizando-se. Ela tinha certeza que ainda tinha roupa íntima limpa em sua gaveta, portanto, para que ordenar o lugar, se voltaria a ser um caos outra vez? Especialmente se já tinha coisas muito melhores que fazer com seu tempo essa manhã — principalmente fantasiar sobre esse homem de seu sonho. Deixou seu caderno sobre uma pilha de materiais de pesquisa, e logo se sentou novamente, pronta para dar rédea solta a sua imaginação.

Fechou os olhos e lutou para trazer de volta sua imagem. Alto, de cabelo escuro, e olhos verdes. A sensação de seus braços ao redor dela era algo que, certamente, nunca esqueceria.

Abriu os olhos repentinamente, se perguntando por que não lhe ocorrera antes. Escreveria um livro a respeito dele. Se não podia tê-lo em carne e osso, podia certamente tê-lo em papel. Fazia perfeito sentido, dada sua paixão pelo romance. Lendo sobre ele, escrevendo sobre isso, apenas pensar sobre isso: não fazia diferença de que forma o tinha. Enquanto tivesse uma história de amor e um final feliz, ela estava completamente a favor.

Tudo tinha começado de uma maneira suficientemente inocente. Ela começou reescrevendo mentalmente finais para todas as grandes tragédias. Depois de ter visto Romeu e Julieta instalados em uma típica vila italiana com cinco filhos, ela continuara a mexer mentalmente com Ofélia e os tempos de Hamlet. De algum modo, tudo isto a levou a pensar, talvez devesse começar do zero com seus próprios personagens.

Sua primeira tentativa a tinha preocupado pouco e dado em nada. Mas o manuscrito sobre a mesa era diferente. Agonizou durante meses sobre ele, colocando toda a sua alma na construção dos personagens. E agora estava finalmente concluído e pronto para ser enviado pelo correio, exceto por sua carta de apresentação. Ela parou e o contemplou pensativamente. Talvez ela realmente devesse terminá-la antes de começar em outra coisa.

Venha para mim.

Ginny congelou. Seu apartamento era pequeno demais para que alguém entrar sem ela saber, a menos que o fizessem durante a noite. Talvez o tenham feito, e estavam somente esperando que ela se desse conta antes de reduzi-la a pó. Respirou profundamente. Agora saberia. Ela girou sua cadeira lentamente, esperando se encontrar cara a cara com o extremo de uma arma letal.

Encontrou-se cara a cara com uma pilha de roupa suja que merecia ser lavada fazia um mês.

Sacudiu sua cabeça, como se com isso pudesse solucionar seu súbito problema auditivo. Seu apartamento estava vazio, mas ela tinha escutado uma voz, tão segura disso como de estar sentada ali.

Venha para mim. Não foi isso que o homem de seu sonho lhe havia dito?

Sentiu calafrios percorrendo sua coluna, e sua pele inteira se arrepiou. Ou ela estava enlouquecendo, ou alguém estava tentando lhe dizer algo. Talvez aquele homem incrivelmente sexy a estava chamando. Será que ele realmente deseje que seu livro seja escrito? Assentiu com a cabeça para si mesma. Tinha que ser isso. Ela tinha uma vívida imaginação. Seus personagens estavam assumindo vida própria e exigindo sua cota. Isso acontecia com outras pessoas. Podia acontecer com ela.

Apresse-se Ginny.

Ela gritou mesmo assim. Tudo bem, ou ela estava ouvindo coisas, ou seu apartamento era assombrado. Qualquer que fosse o caso, obviamente, um sinal, ela não tinha duvidas de tomar como tal. Se o homem queria que seu livro fosse escrito imediatamente, quem era ela para dizer que não?

Ficou de pé num salto e começou a revirar entre suas pilhas de papéis. Na semana passada, seu noivo aparecera com alguns livros que pensou que poderia achar útil. Apesar de colaborar e ser complacente, ele não era exatamente um entusiasta pela sua escolha de carreira. Mas como ele não era exatamente seu noivo, na realidade não tinha o direito de dizer muito sobre o que ela fazia.

Neville Longbotom trabalhava na Biblioteca Pública de Nova Iorque. Ela tinha se demorado na sala de leitura um dia, estudando sobre uma litografia da mesa de jantar do rei Duncan quando Neville a viu. Ele recomendou mais livros para ela, então, com o passar do tempo, continuou clandestinamente passando outros para ela. Ele a cortejava com materiais de pesquisa e chocolates Godiva. Como ela poderia ter resistido a duas de suas coisas favoritas? Quando ele apresentou uma proposta e um diamante, ela disse sim a ambos. E bem, ele não era o homem de seus sonhos. Era agradável. Havia muito para dizer por "agradável".

Ou pelo menos isto ela pensava até ontem à noite. Começou a sentir-se preocupada porque Neville não havia, exatamente, comprometido uma data de casamento. Tê-lo pressionado quanto a isso enquanto jantavam frango ao vinho, revelou que ele não estava muito interessado em casar logo, mas sim em manter um compromisso, por que assim sua mãe o deixava em paz. Como manteve a calma até o final da torta de chocolate estava além de sua compreensão. Ela aceitou os últimos livros dados por Neville, mas não aceitou sua proposta de deixá-lo entrar. Era tudo o que podia fazer para não golpeá-lo com a biografia de Arthur Bruce que ele lhe dera. Aquele homem de seu sonho certamente não seria tão indiferente com ela, não senhor. Falso noivado não era com ele.

Ginny sentou de repente. Estava perdendo a paciência. Como ela sabia o que faria esse homem ou não? Estava levando seus sonhos muito a sério. Era uma coisa ruim, para começar. Quem sabia até onde podia chegar?

Ginny, agora!

Isso mesmo, assentiu para si. Não só estava começando a alucinar em plena luz do dia; mas suas alucinações começavam a lhe dar ordens. Era um péssimo sinal.

— Tudo bem. — disse em voz alta. — Segure-se! Trabalharei nisso.

Ela procurou através nas pilhas, espalhando papéis, revistas, papel e canetas vermelhas no chão, em busca daqueles livros que Neville havia trazido para ela na semana passada. Eram sobre a Escócia. Apesar de seu atual romance transcorrer na Inglaterra, não era ali que estava sua paixão.

Aye1, ela era fascinada pela Escócia. Sonhava com charnecas escocesas e campos de urze, sombrios castelos com ferozes Lairds — guerreiros implacáveis com o tamanho de jogadores de futebol americano que manejavam espadas contra seus inimigos e cortejavam a suas mulheres com palavras doces e beijos suaves. Não é que ela não tivesse se relacionado com jogadores. O fez, com seus cinco irmãos. Houve vezes nas quais ela tinha certeza que iria gritar se tivesse que agüentar mais histórias a respeito de suas partidas. Mas isso era passado e terminou quando o resto de sua atual situação começou.

Ela veio para Nova Iorque, certa de que a cidade a inspiraria a escrever livros maravilhosos. Ela encontrou inspiração, mas não cruzou com nenhum implacável guerreiro que exigisse sua permissão para cortejá-la. Havia, entretanto, sido abordada por aquele insignificante bibliotecário que queria usar seu dedo anular.

Ginny, por todos os Santos…

Os cabelos da nuca se arrepiaram sem sua permissão. Ok, então seu herói estava ficando muito impaciente. Ela levantou uma coleção de jornais e deu de cara com o que procurava. Empurrou o resto do conteúdo da mesa no chão e, depois, espalhou os livros na frente dela e examinou os títulos: Regentes da Escócia; Escócia: Uma Perspectiva Histórica; Fato ou Ficção: O Passado Turbulento da Escócia; Vida Em Uma Casa Medieval; Lairds Escoceses e Seus Clãs. Elapegou o da vida na época medieval e deu uma olhada.

O castelo era definitivamente o melhor lugar para estar. Ao menos se conseguia roupa e uma refeição de vez em quando. Tomar banho, entretanto, não parecia ter sido uma prioridade naquela época. Ginny só podia especular sobre o cheiro, não só do castelo, mas dos corpos não lavados no interior. Viver das economias e da pequena quantia que ela se permitia aceitar de seus pais era difícil, mas pelo menos tinha sua própria cama, livre de percevejos e protegida de homens com idéias de estupro em suas mentes. Não, a vida medieval não era para ela. Ela sentiu pena das mulheres que tiveram que suportá-la.

O livro sobre regentes escoceses chamou sua atenção. Passou de um século a outro, de Kenneth MacAlpin a Harry IV. Arthur Bruce? Tinha governado de 1306 a 1329. Por alguma razão, as datas a atraíram. Sim, definitivamente, este período de tempo encaixaria com o homem de seu sonho. Agora tudo o que ficava era encontrar um clã sobre o qual pudesse governar. É obvio que seria um Laird2; um homem da estatura de seu guerreiro não seria encontrado em parte alguma se não como líder de um clã com guerreiros igualmente ferozes.

Pegou o volume dos clãs escoceses. Ele caiu aberto em uma página sobre o clã Potter. Um calafrio a percorreu, como se o destino surgisse por trás dela e soprasse suavemente em sua nuca. Ela devorou tudo o que podia sobre o clã, sua história, suas guerras e seus inimigos.

Ao final do capítulo havia a gravura de uma floresta desenhada à nanquim. A familiaridade do local a atingiu como um golpe. Parecia tão real que ela ficou com medo de tocá-lo, temendo que um elfo saísse dele, segurasse sua mão e puxasse para seu mundo mágico.

Ridículo. Ela resistiu ao desejo de olhar sobre seu ombro e certificar-se de que não havia uma dúzia de espectros ali, piscando para ela dos cantos escuros de seu apartamento, junto com a voz do homem de seu sonho, evidentemente. Não, a floresta parecia familiar, porque ela tinha visto a mesma em outro livro. Bem se sabia que ela tinha lido o suficiente sobre a Escócia.

Mas isso não explicava os sussurros mágicos no ar. Talvez fosse culpa de seu avô. Ele tinha enchido sua cabeça de contos sobre encantamentos escoceses, desde pequena e, de algum modo, no fundo de sua mente, ela quase acreditava neles. E o dom de sua língua gaélica foi sua herança para ela. Talvez entrelaçar um pouco de magia em sua história em honra a seu avô não fosse tão má idéia. Mesmo que nada mágico tinha ocorrido com ela, não havia motivo pelo qual sua heroína não pudesse desfrutar de um destino diferente.

Certo. Agora que ela já tinha encontrado um tempo e lugar, precisava mergulhar no que tinha aprendido e visto, e deixar que sua imaginação fluísse com ela. Talvez devesse se vestir e ir caminhar para que sua criatividade fluísse.

Aye, venha para mim, meu amor.

Ginny pulou como se tivesse sido espetada por um alfinete. Tinha o absurdo desejo de vestir-se no banheiro para que quem quer que insistia em falar com ela, não a visse.

Ginny sacudiu a cabeça. Ridículo. Não havia ninguém em seu apartamento. Talvez tudo o que a estava chamando fosse essa caixa de trufas de emergência sob o sofá.

Bem, fosse o que fosse, era algo que precisava por à parte. Tirou uma calça jeans, um suéter azul enorme, tênis, e uma jaqueta de couro que recentemente se apropriou do guarda-roupa de seu irmão. Rony era um grande advogado empresarial, que ganhava muito mais do que elepodia gastar em roupa. Ginny costumava fuçar em seu guarda-roupa com a maior frequência possível.

Ela verificou a chave em seu bolso e outros itens necessários e, em seguida, saiu de apartamento. Não tinha medo de estar ali sozinha, só porque seus personagens estavam conversando com ela. Não, não todos. Ela só precisava de ar fresco. Sim, era isso. Um agradável passeio no Gramercy Park onde ela poderia traçar sua história em paz.

Ela puxou a gola da jaqueta ao redor das orelhas enquanto caminhava pela rua. O vento frio de outono revolvia seus cabelos ao redor do rosto e espalhava as folhas na frente dela. Havia um zunido no ar, como se o mundo contivesse sua respiração, esperando que algo mágico ocorresse. Não que ela acreditasse em magia. Era uma garota prática com os pés firmemente plantados no chão. Que era, sem dúvida, a razão pela qual passava a maior parte de seu tempo escrevendo a respeito de homens que só existiam em sua imaginação.

No momento em que chegou ao parque, ela estava pronta não para um enredo, mas para uma rosquinha e algo quente para beber. Ela estava também começando a sentir um pouco de tontura. Tinha uma imaginação muitovívida. Tudo isso mais a bomba que Neville lançou na noite anterior, a deixara tonta. O amante do sonho não estava rondando seu apartamento, ordenando-lhe que viesse e o encontrasse. Ela podia ir para casa a qualquer momento e sentir-se perfeitamente segura, e perfeitamente ridícula.

Bom, talvez mais tarde. Não havia sentido em desperdiçar o ar fresco. Concordou ela, consigo mesma. Meia hora meditando em um banco de praça, depois um apetitoso café da manhã e uma bela caneca de chocolate quente com nata batida. Talvez ela também procurasse esse número do Eddie's Breakfast Pizza.

Primeiro o que viera fazer ali. Olhou ao redor, notou as mães com crianças pequenas e a falta aparente de assassinos e, então, se encaminhou para seu banco preferido. Estava desocupado, ao sol, e livre de excrementos de pássaros. Ginny sorriu. A vida não podia oferecer nada melhor do que isso.

Ela se esticou e fechou os olhos. O encosto do banco bloqueava o vento, e o sol estava quente em seu rosto. Isso é que era vida. Muito mais confortável que um fedorento e imundo castelo. Seu herói poderia ter agüentado isso, mas ela não. Nada como o ar fresco de outono para realmente a fazer feliz no século XX.

Enquanto relaxava, a imagem da floresta que viu voltou a sua mente, preenchendo completamente sua visão mental. Parecia tão real. Em que lugar do mundo tinha visto isso? Tinha lido inúmeros livros sobre a Escócia, mas certamente teria lembrado de um lugar tão bonito. Era provavelmente até mais bonito pessoalmente. Ela precisava ir à Escócia. Como cheirava a urze realmente? E quem diria que ela não tropeçaria com um atrativo highlander com um cavalo à sua disposição e muito tempo em suas mãos? Ela podia imaginar maneiras piores de ver o campo.

Agora, se ela apenas pudesse encontrar o homem de seu sonho, estaria verdadeiramente realizada. Que guia turístico teria sido!

Um calafrio a invadiu. Ginny se envolveu melhor em seu casaco. O encosto do banco deveria impedir esse vento frio. Talvez o vento tivesse mudado de direção. Ela virou o rosto, e afastou a incômoda grama que fazia cócegas em sua orelha.

Grama?

Endireitou-se, seu coração pulsando erraticamente contra suas costelas. Olhou ao seu redor lentamente, seus olhos observando cada touceira de ervas daninhas, cada pedaço de casca nas árvores e o chão da floresta, cada monte de folhas. A compreensão surgiu, depois reverberou através dela, como se ela tivesse sido atingida por um gongo tocado por algum membro de orquestra enormemente zangado. Tremia do coração até a ponta dos pés. Os arredores pareciam assustadoramente familiares, e havia uma razão muito simples para isso. Era a mesma floresta que estivera vendo no livro.

Só que agora ela estava nela.

Recostou-se, com a intenção de sentir a dura madeira do banco sob suas costas. Ela estava sonhando. Ou estava delirando. Sim, era isso. Vinte e quatro anos tomando refrigerantes no café da manhã tinham finalmente mostrado sua conseqüência, e ela por causa do açúcar, tinha começado a alucinar. Não mais refrigerante no café da manhã. Cruzou os dedos sobre o coração enquanto fazia aquele juramento. Aquela caixa de trufas definitivamente iria para o lixo. Nada mais de manteiga de amendoim e geléia. Quem sabia que tipo de coisas terríveis podia fazer o amendoim ao estado mental de uma pessoa? E pizza? Ela nunca voltaria a tocar em nada disso de novo.

Infelizmente, todos os seus solenes juramentos não a ajudou a esquecer os buracos e depressões do chão irregular da floresta sob suas costas e pernas.

Ela respirou profundamente e abriu os olhos de novo. O céu estava apenas clareando. Bom, sim, isso era o céu. Ela tinha visto o céu antes e conhecia sua aparência. Sentou-se e chegou a tocar a grama. Era firme e resistente sob seus dedos. Arrancou uma haste de grama e deu mordeu. O gosto era bem real. Ficou de pé cambaleando, virou-se e pôs uma mão trêmula na árvore. A casca era áspera sob seus dedos.

Ela se olhou de cima a baixo, esperando ver se havia criado asas ou qualquer outra coisa que a convencesse de estar sonhando. Ainda estava usando os mesmos jeans que vestira essa manhã, o mesmo par de sapatos, o mesmo enorme suéter de lã azul e a jaqueta de couro de Rony.

Mas, sem asas. Nem brilhantes escama de monstro. Nem dedos pontiagudos.

Ginny verificou seus bolsos. Tinha a chave de casa, sua carteira de motorista e seu cartão American Express. Seu pai sempre dizia para que nunca saísse de casa sem ele e, uma vez que ele pagava a conta no final do mês, ela seguia seu conselho religiosamente. Mas ela não tinha dinheiro vivo. Nem mesmo um lenço no caso dela ficar histérica. Tratou de não pensar naquela atraente alternativa. Bem, pelo menos vestia roupas quentes. Isso era um ponto a favor. Ela poderia enlouquecer sem seus sapatos.

Mas isso durou enquanto revia as vantagens e desvantagens.

Lentamente pressionou sua fronte contra a árvore, colocando suas mãos sobre a casca, num esforço por recuperar o equilíbrio. Certo, então ela tinha uma imaginação fantástica e estava atualmente mergulhando nela. Logo despertaria no parque e se sentiria muito estúpida por ter entrado em pânico. Certo?

Certo. Ela estava sonhando. Uau! Que imaginação ela tinha. Imaginou um livro de auto-ajuda no seu futuro intitulado Açúcar e Pesquisa Histórica — Nunca Faça Junto.

Depois de outro profundo suspiro, ela se afastou da árvore e olhou ao redor. E como esta era apenas uma ilusão induzida pelo açúcar, o que importava o que ela fizesse? Ela podia simplesmente colocar um pé diante do outro e caminhar até estar cansada. Ao menos não escutava vozes. Não era um mau negócio.

O sol matutino caía sobre a floresta, seus raios separando-se em suaves fios de luz ao passar por entre as árvores. O ar estava frio e vivificante. Ginny esfregou seus braços enquanto caminhava. Estranho. Ela nunca tinha percebido a temperatura num sonho. Talvez devesse adicionar o sorvete que tinha tomado na noite anterior, Deep Chocolate — Chocolate Chip com calda quente, à lista de Doces Proibidos. Definitivamente não queria uma repetição de sua atual situação.

Caminhou até que as árvores começaram a rarear a sua direita. Se deteve. Bem, estava onde estava. Não tinha sentido não dar uma boa olhada ao redor.

Um belo prado se abriu ante ela. Ginny o contemplou por vários minutos com puro deleite. Deliciosos, florais aromas flutuavam numa corrente de ar que era sutil e pura. Levantou a vista para o lado mais longínquo da plana extensão e viu outra floresta de altas árvores, tão linda quanto a floresta que havia atrás dela. Então olhou para sua esquerda.

Quase caiu em choque.

Emergindo do prado, na base de uma montanha íngreme, havia um castelo. Não um elegante castelo francês como Versalhes, nem um confortável castelo inglês como o palácio do Buckingham, mas um castelo medieval. E não eram os restos de um castelo que se situavam na terra com tanta firmeza; era um castelo em perfeitas condições.

A fumaça saía das torres em finas nuvens, distinguiu inúmeras figuras que se moviam na aldeia fora das paredes do castelo.

O chão começou a mover-se sob seus pés, e ela percebeu tardiamente que ia desmaiar. Sentou-se de repente, e pôs suas mãos na cabeça para que parasse de girar. A fantasia era boa, mas isso estava indo longe demais.

A terra seguiu tremendo. Ginny olhou para cima a tempo de ver dois cavaleiros que vinham na direção dela. Sonho ou não sonho, não tinha porque ser pisoteada. Ela se levantou de um salto e correu por sua vida.

Segundos depois sentiu o chão vir ao seu encontro. Abruptamente. Um corpo pesado a sujeitou de barriga para baixo na grama. Ela perdeu o fôlego, incapaz até mesmo de arquejar de dor que o chão pedregoso causava em quadril e tórax. Bom Deus, eu vou morrer, ela pensou com uma súbita onda de pânico. Vinte e quatro anos era muito pouco tempo de vida, mas quem era ela para discutir com o destino?

O peso de repente desapareceu, mas ela estava extremamente atordoada para se mover. Ela teve ajuda. Foi colocada de pé, e uma mão grosseira a agarrou pelo cabelo e puxou sua cabeça para trás. Se ela tivesse um mínimo de respiração, teria gritado de dor, então engasgou surpresa com o que viu.

Um homem não mais alto do que ela estava bem próximo a ela, com a expressão mais feroz que ela tinha visto. Seu cabelo era de um loiro avermelhado e caía passando dos ombros. Embora houvesse uma pequena parte de cabelo trançado em cada lado de sua cabeça, o resto era um emaranhado só. Ele não era bonito, e sua expressão zangada o fazia parecer positivamente horrível.

Ao vê-la, sua expressão mudou. Essa nova expressão a alarmou ainda mais do que a primeira.

Och, mas você é uma moça atraente, — ele resmungou.

Ele a puxou para si e esmagou os lábios dela sob os seus. Ginny se sufocou ante seu hálito horroroso. O homem a empurrou para o chão e caiu em cima dela. Ele apalpou suas roupas, então amaldiçoou em surpresa quando encontrou seus jeans. Antes que Ginny pudesse abrir a boca para implorar por piedade, ele já saia de cima dela, e puxava sua adaga. Ela se sentou e se afastou para longe, mas não o suficiente rápido para fugir da mão que a agarrou pela sua jaqueta.

— Fique onde está, moça.

— Chega, Nolan! — Disse outra voz atrás dele.

— Vá para o diabo, Sirius, — o primeiro homem grunhiu. — Eu vou cortar as roupas dela e possuí-la.

— Harry não vai gostar disso, — disse o outro firmemente. — Guarde sua adaga e deixe-a comigo. Vou levá-la até Harry e ele decidirá seu futuro. Melhor que ele a dê para você do que você se arriscar e ganhar sua ira.

Ginny soltou a respiração quando a adaga desapareceu.

— Você é uma moça graciosa. — disse o homem chamado Nolan. — De onde é? Onde você encontrou essas roupas? — ele puxou com força seu casaco.

Ginny só podia olhar para ele, muito chocada para falar. Meu Deus, isto não era alucinação!

Nolan sem mais nem menos, levantou-se e cuspiu com desgosto.

— Leve-a, Sirius. Eu posso respeitar prostitutas estrangeiras, não importa quão agradáveis sejam. Ainda terei minha vez com ela após Harry terminar.

Ginny escondeu seu rosto nas mãos e estremeceu. As maldições de Nolan diminuíram, e ela sentiu o chão vibrar sob ela quando Nolan se afastou. O som de um joelho apoiando-se no chão e a sensação de uma calosa mão sob seu queixo fez com que seu pulso se acelerasse outra vez. Ela levantou os olhos cautelosamente.

— Qual é seu nome, pequena? — perguntou o homem.

Ela engoliu e quase se asfixiou pelo medo apertando sua garganta.

— Ginny, — ela respondeu.

— Um bom nome, moça, — ele disse com um sorriso, a pele ao redor de seus olhos enrugando-se enquanto o fazia. Ele tinha um ou dois dentes faltando e parecia ter cerca de cinqüenta anos, apesar de ser um palpite, na melhor das hipóteses. Tudo o que ela sabia era que seus olhos eram amáveis e sua expressão gentil. Instintivamente, soube que havia encontrado um aliado.

— Quem é você? — ela perguntou.

Ele sorriu novamente.

— Sirius, milady. Venha, eu a levarei para o Potter.

O Potter? Ginny sentiu que seus tremores começavam outra vez. Sirius a ajudou a ficar de pé e, depois pegou seu braço.

— Não é seguro para uma jovem moça como você andar vagando por ai. Você perdeu o seu lorde?

— Ah, — ela estagnou, — não tenho lorde.

— Como chegou aqui?

— Eu gostaria de saber.

Ele a olhou avaliadoramente, mas iniciou sua caminhada para o castelo, sua mão firmemente sob o cotovelo dela. Seu cavalo seguia obediente como um cão. Ginny sentia que atraía terrivelmente a atenção enquanto atravessavam a aldeia, apesar de Sirius ter obviamente escolhido um caminho por trás. Os aldeões que a olhavam se benziam. Ela não queria especular sobre as razões.

Sirius a guiou através de um conjunto de pesadas portas de madeira até uma escura caverna. Ah, o Grande Salão. Ginny deu um olhar e começou a arquejar. Os juncos se espalhavam por todo o piso. Os cães estavam deitados junto à enorme lareira que dominava o cômodo. Mesas de madeira estavam dispostas ao redor do salão, e as tochas penduradas ao longo das paredes em pesados suportes de metal. O próprio cheiro do lugar era ofuscante.

— Aqui, moça. — Sirius disse suavemente. — Sente-se e descanse um pouco.

Ginny se sentou agradecida numa dura cadeira de madeira próxima ao fogo e, em seguida, aceitou uma taça de metal. Cheirou o conteúdo. Vinho? Sirius colocou suas mãos sobre as dela e inclinou a taça na direção dela.

— Beba, criança. Vai acalmar seus nervos. Voltarei para buscá-la em breve.

Ginny escutou Sirius se afastar, mas não olhou para acima. Ela podia sentir outros pares de olhos observando-a. Concentrou-se na taça em suas mãos e no vinho gelado deslizando por sua língua e garganta. Não havia absolutamente nenhuma maneira de levantar a vista e ver quem poderia estar olhando-a de maneira tão interessada. Ela puxou os pés em cima da cadeira e tratou de ocultar seus joelhos ,cobertos pelos jeans, sob a jaqueta de seu irmão. Se concentre no fogo, disse para si, virando em direção a lareira e prestando atenção apenas ao calor que sussurrava contra seu rosto. Com alguma sorte, quem fosse que se encarregava deste lugar, seria um amável e idoso elfo que a levaria de volta para a floresta e lhe mostraria o caminho para sair de sua alucinação.

Como em resposta a sua prece, a porta principal se abriu.

E se fechou com um retumbante estrondo.

— Que alguém me consiga cerveja! — trovejou uma voz. — Sirius!

Ginny rezou para que o criador de tal berro não a percebesse. Ficou perfeitamente quieta esperançosa de que se camuflaria com a mobília.

Passos pesados se encaminhavam para ela que conteve a respiração. Ferozes mãos a sujeitaram pelos braços e a puseram de pé com brusquidão. Ela olhou à frente, percebendo que sua cabeça chegava ao peito do homem, justo à clavícula. Ela inclinou a cabeça para trás e olhou para o rosto dele. Ficou sem respiração e soltou a taça. Se seu captor não tivesse sujeitando os braços dela, ela teria desmoronado aos seus pés.

Era o homem de seu sonho.

Agora ela tinha certezade que estava alucinando. O ser que se encontrava de pé a uma mão de distância dela, era alto e musculoso como seus irmãos. Seu escuro cabelo era espesso, desciam bem abaixo de seus ombros. A luz cintilava precisamente sobre seus esculpidos traços, destacando as maçãs de seu rosto, seus firmes lábios e sua inflexível mandíbula. Embora seu rosto fosse lindamente esculpido, foram seus olhos o que atraíram seu olhar. Eram da cor de esmeraldas, emoldurados por longas e negras pestanas que teriam sido a inveja de qualquer mulher.

Sua boca ficou frouxa, e uma expressão de espanto se formou em suas feições. Ele a olhou fixamente por vários minutos, sua boca crispando-se, como se lutasse para falar.

— Quem é você? — perguntou finalmente.

Que voz ele tinha! Obscura, quente, intensa. Ela tinha o louco desejo de aconchegar-se em seus braços e pedir que lhe contasse uma longa história, algo que exigisse que ele falasse por horas a fio. Ela o olhou fixamente, incapaz de falar.

E ele a estava contemplando como se acabasse de ver um fantasma.

— Seu nome. — disse ele, com esse olhar de espanto ainda visível em seu rosto. — Acredito que perguntei seu nome.

— Ginny. — ela sussurrou.

O homem a fitou ainda mais assustado.

— Ginny? — ele repetiu.

Ela assentiu.

— Ginny Weasley.

Ele continuou olhando-a fixamente pelo que pareceu uma eternidade.

Ginny só podia fazer o mesmo, sem fala. Era o mesmo homem. Seu sotaque era o mesmo. A maneira como ele disse seu nome era a mesma. Seus olhos, aqueles belos olhos verdes, eram exatamente como ela tinha sonhado. Ela poderia ficar olhando para eles indefinidamente.

Ela olhou para sua boca e viu que estava se movendo. Sacudiu sua cabeça para livrar-se do ataque de vertigem que tinha tido fazia alguns momentos.

— Sinto muito, — ela disse, — eu não estava escutando. O que disse?

— Eu disse, você soa inglesa e nós não temos ingleses aqui, — disse ele, franzindo o cenho, — exceto como servos.

— Hein? — disse Ginny, voltando para a realidade.

— Servos. — repetiu o homem, aprofundando sua carranca. — Apenas estes.

Foi então que ela percebeu que ele também tinha se livrado do transe no qual tinha entrado inicialmente. Seu olhar de espanto foi substituído por um de desgosto.

— Mas, eu não sou inglesa. — ela protestou rapidamente. Meu Deus, era a última coisa que precisava, ser confundida com uma serva. — Sou americana.

— Americana? — ele repetiu. — O que é americana?

— Estados Unidos? Abaixo do Canadá? — ela olhou irritada. Meu Deus, que espécie de delírio era esse afinal? — Ganhamos nossa independência da Inglaterra há duzentos anos atrás?

Ele grunhiu, obviamente rechaçando sua resposta.

— Seja como for, entrou ilegalmente em minhas terras. Como chegou aqui?

— Não estou exatamente certa de como cheguei aqui. — disse Ginny, de maneira defensiva. — Não pedi que me deixassem neste sonho.

— Seu sotaque me é estranho. — ele rugiu. — Quem é você? Maldita seja, menina, você é uma Malfoy? — ela negou com a cabeça. — Diga a verdade, se é capaz disso.

Por mais magnífico que o homem pudesse ser, acabava de tocar um ponto fraco. Ginny se pôs tensa inconscientemente ao escutar o tom arrogante de sua voz. Era o mesmo tom que seus irmãos usavam quando queriam expressar suas dúvidas a respeito de sua inteligência ou bom senso.

— Quem é você? — ela retrucou, levantando o queixo.

Elevar o tom de voz frente a um homem que era o dobro de seu tamanho não era muito diplomático, nem tampouco excepcionalmente sensato, mas ela tinha crescido em uma casa cheia de homens e sabia como se defender. Mostre a eles desde o início que você não tem medo, a menos que você nunca queira redimir-se de covardia.

— Sou Harry Potter. — disse o homem, em tom cortante.

Ela o olhou inexpressivamente.

— O Potter! — gritou ele. — Danação! Mas você é uma menina insolente. Uma boa surra poderá lhe servir bem.

Bem, certamente seus modos tinham sido melhores em seu sonho. Isto não estava funcionando. Ele tinha que estar tomando-a em seus braços e dizendo que não o abandonasse. Ele não devia estar olhando para ela como uma serva em potencial, nem que planejasse lhe fazer dano físico.

O que ela precisava fazer era sair de seu castelo até que pudesse compreender o que estava acontecendo. Talvez ela pudesse ir para um agradável e pequeno hotel e sugerir que se encontrassem depois para tomar um capuccino.

Ginny escapou de suas mãos com certo esforço.

— Se você me desculpar, eu já estou indo embora.

— Não se mova.

Certo, então ser educada não bastava. Ginny passou por trás dele e caminhou rapidamente em direção à porta. Seus passos pesados a seguiram. Felizmente, nenhum de seus irmãos estava presente para chamá-la de covarde pelo que ela estava prestes a fazer. Sem pensar duas vezes, ela deixou seu orgulho de lado e fugiu.

Os juncos não cooperavam. Não só colaboravam, mas estavam cobertos por uma camada de lodo. Antes que Ginny se desse conta, seu tênis se tornou tão escorregadio quanto sapatos de salto em tapete, e ela estava fora controle.

Ginny se sentiu caindo, diretamente para o banco de madeira que se parecia em muito à mesa de piquenique que existia no quintal de seus pais, diretamente para os fortes braços de Potter, diretamente para o nada.

Ela sentiu uma dor aguda quando sua cabeça bateu contra a madeira, e seu cotovelo contra o piso de pedra sob o lodo...

De boa vontade, ela se entregou para a escuridão, seu último pensamento foi uma prece: que despertasse no chão de seu confortável e sujo apartamento.

1 Aye: Em gaélico "Sim"

2 Laird: título hereditário para os proprietários de grandes imóveis e terras na Escócia. O Laird podia beneficiar-se de alguns direitos locais ou feudais embora, diferentemente de um Lorde, a qualidade de Laird nunca deu lugar a um direito de voto tanto no Parlamento da Escócia como na Câmara dos Lores britânicos.