AAAAH, FIC NOVA! *pula pela casa*

Tava guardando esse bebê a mais de 1 ano, só esperando a hora certa para postá-la. E chegou! Como avisei em BDTY, essa é uma fic bem leve, engraçadinha e fofa só pra descontrair o ambiente. Sessão da tarde com um pouco de safadeza, sabem?

As postagem serão feitas a cada 15 dias, para eu intercalar aqui e Back Down To You.

Minha beta dessa vez foi a Cella E.S, autora de váaaarias fics como Lucky Bella e Teach Me How to Fly. Vale a pena dar uma bizoiada nas fics da minha índia linda ;)

Show me the love, suaslindas!


1.

Ajeitei a tiara na caixa forrada com veludo negro e fechei a tampa com um clique quase audível. Na madeira, eu podia ler as inicias "I" e "S" cravadas em ouro - de verdade - com uma caligrafia delicada que desenhava formas engraçadas por toda a tampa. Algo que mamãe tinha optado sem me consultar, mas que no final eu achei refinado e bonito, nada que me deixaria irritada com a falta de liberdade para escolher minhas coisas. Na verdade, eu era a pessoa que menos ficava chateada nesse mundo, embora eu tivesse os maiores motivos possíveis para brigar com tudo e com todos.

- Pronta, alteza? - James me perguntou parado na porta aberta de meu quarto.

- Sim, James. - respondi levantando da cadeira acolchoada de minha escrivaninha e segurando a caixa na mão.

Caminhei em passos lentos até meu closet, agora não mais cheio de roupas caras e exclusivas como até dois dias antes, e me dirigi até a última prateleira na horizontal. Atrás de um quadro que minha mãe tinha decidido por naquele local, estava meu cofre particular, a única coisa que só eu tinha acesso em toda a mansão. Digitei a senha e o abri destravando a porta blindada, analisando os três itens que havia ali dentro; uma caixa de joias, uma boneca de pano e um vidrinho com um dentinho minúsculo de bebê dentro, meu primeiro dente de leite. Esses eram meus tesouros, mais importantes do que qualquer riqueza que eu tinha em meu nome. Tirei a boneca quase se desfazendo de tão velha e coloquei a caixa em minhas mãos no lugar dela, trancando novamente o cofre com os quatro dígitos de segurança.

- Bella? Onde você está, querida?

Mamãe praticamente cantarolou essas palavras quando entrou em meu quarto e parou na porta do closet com as mãos na cintura, batendo o salto Chanel como se me apressasse.

- Já estou indo, mãe. Estava guardando a tiara.

- Você não vai levá-la? - ela perguntou com drama na voz. Bem comum de Renée.

- Para quê? Ela não terá utilidade lá.

- Mas você é uma princesa, Isabella. Em qualquer lugar do mundo.

- Não, mãe. - a interrompi antes que a conversa se estendesse para minhas obrigações. - Lá, eu serei uma pessoa de 20 anos como outra qualquer, não uma princesa. - conclui minha frase com certa repulsa pelo status.

- Ainda não consigo entender por que você precisa fazer faculdade. Você tem tudo que necessita para viver em paz, Bella. Dinheiro, um país aos seus pés, um mari...

- Por favor, mãe. - pedi respirando fundo. - Não vamos entrar novamente nesse assunto. Eu já tomei minha decisão e não irei voltar atrás.

- Tente pensar não só em você, Bella. - ela pediu segurando meu rosto. - Pense em seu pai, em mim, nesse país. Nós precisamos de você.

- Não, vocês ainda não precisam de mim e se Deus quiser não precisarão tão cedo. Papai ainda tem uns bons anos pela frente. Até lá, tenho o direito de viver como eu quiser e nesse momento eu quero cursar Literatura Contemporânea em Oxford.

- Por que você não cursa a universidade daqui? - ela perguntou com esperança, mas desistiu e suspirou quando eu a reprovei com o olhar. - Ok. Se você quer mesmo morar em Londres, então vamos logo. Tudo já está pronto.

- Vamos, Vincent? - chamei o gato da raça manx enroscado no meio da grande cama e ele pulou em meus braços quando os estendi para pegá-lo. - Bom menino.

James assentiu para mim quando eu deixei o quarto que foi meu esconderijo por esses vinte anos de vida e nós seguimos pelo longo corredor até descermos a escada dupla com corrimão de ouro. Atravessamos o saguão onde todos os empregados da mansão vieram se despedindo de mim e me desejando boa sorte. Laurent, o motorista, já esperava com a porta aberta do Jaguar preto com as bandeiras brancas e azuis - cores oficiais do país. Quando eu sentei no banco de couro, deixei Vincent se enroscar ao meu lado para que ele voltasse a dormir.

- Meus pais vão no outro carro? - perguntei quando Laurent fechou sua porta e James sentou no banco ao seu lado.

- Sim, senhorita. - ele respondeu me olhando pelo retrovisor.

- Ótimo. Ligue o som.

Ele me lançou um sorriso que vi pelo reflexo do espelho, ligando o som do carro antes mesmo de acionar o motor. Meu cd favorito do Coldplay começou a tocar e isso me acalmou, fazendo com que eu me permitisse encostar a cabeça na janela e fechar os olhos para relaxar no caminho de casa até o aeroporto. Eu queria tanto deixar aquele lugar que nem ao menos me importei em gravar as últimas lembranças dali antes de embarcar para dez meses longe de casa.

Provavelmente, os dez melhores meses de toda minha vida.

Despertei do meu quase sono uma hora depois com o barulho das portas do carro abrindo e só então percebi que já estávamos no hangar exclusivo da família real no aeroporto de Florença. O avião com o brasão da família desenhado na cauda tinha sua porta aberta e James ajudava Laurent a levar minhas três malas enormes para o bagageiro. Decidi descer do carro com Vincent nos braços e me juntar aos meus pais saindo do outro veículo oficial.

- Bella, não tinha te visto hoje. - papai disse fechando os botões do paletó e sorrindo para mim.

- Olá, papa. - sorri e beijei sua face corada pelo verão em nossa ilha particular no arquipélago de Eólias.

- Então... Ansiosa para a faculdade?

- Um pouco nervosa, na verdade. - respondi o seguindo para o jatinho. - Não tenho a menor ideia de como será minha vida a partir de agora.

- Se você ainda está insegura, pode voltar atrás... - mamãe comentou como quem não quisesse nada e eu ignorei aquilo.

- Mas eu estou muito feliz de poder seguir minha vida dessa forma. Essa novidade será bem vinda.

- E eu espero que você seja muito feliz, miaprincipessapiùbella.

Papa Charlie era o único que podia me chamar de princesa sem que eu me incomodasse com o título que ganhei desde que mamãe descobriu que estava grávida de uma menina. Quando ele me chamava assim era como se ele fosse um pai normal que considerava sua filha uma princesinha, não o rei de um micro-país no meio da Itália onde sua herdeira era a primeira sucessora do trono sem desejar aquela obrigação.

Se bem que naquele exato momento, eu era uma garota como outra qualquer indo para a faculdade, apesar do meu meio de transporte ser um jato particular, e perto de meu coração estivesse o pingente com o brasão da Família Real de San Marino. Comecei a acariciar o pêlo curto de Vincent e rapidamente adormeci na poltrona confortável sem ver as 3 horas de voo até o Reino Unido.

A voz do piloto anunciando que estávamos pousando no Aeroporto Heartrow em Londres me acordou e eu abri a cortina da janelinha para ver como o clima estava. Não estava chovendo, o que era bom, contudo, não havia um sol forte como o que eu estava acostumada a ter naquela época do ano na Itália. Um clima ameno, era uma boa forma de começar a vida na minha nova casa.

- Acorda, prigo. - murmurei para Vincent enrolado em forma de bola em meu colo. - Já chegamos.

- Seu vestido ficará cheio de pêlos de gato. - mamãe disse fechando a bolsa Chanel.

- Eu limpo no caminho para Oxford. - retruquei sem me importar com aquilo.

Ela resmungou mais alguma coisa e eu ignorei totalmente para não estragar meu bom humor por estar chegando ao local que realizaria meu sonho de liberdade. Durante dez meses nos próximos quatro anos eu poderia fazer as escolhas por mim, poderia fazer o que quisesse quando quisesse sem precisar seguir as regras de meu legado como princesa, podendo estudar meus autores favoritos. Nada conseguiria estragar meu humor ao pensar nisso.

Porque mamãe odiava andar de carro, fomos de helicóptero para a universidade, o que nos poupou menos de uma hora na estrada. Aceitei sem resmungar mais aquela frescura de Renée e sentei quieta em minha poltrona segurando Vincent contra meu peito porque o pobre gatinho morria de medo de voar de helicóptero mesmo depois de cinco anos vivendo comigo. Num piscar de olhos nós estávamos no heliporto da Universidade de Oxford; finalmente um lugar em que me sentiria eu mesma. Ainda bem que não havia nenhum aluno no heliporto que pudesse me tachar de riquinha mimada desde aquele primeiro segundo no local e eu nem queria imaginar o que poderia acontecer se alguém descobrisse quem eu era de verdade e minha importância em outro país.

O campus era exatamente como eu imaginei; longos gramados que eu iria sentar para tomar sol enquanto lia um livro interessante para alguma aula, árvores altas com aspecto de centenárias, prédios de três andares, mas enormes na horizontal feito de blocos vermelhos como nos filmes de Hollywood, pessoas da minha idade conversando em grupo, se revendo depois das férias, vivendo como qualquer jovem de 20 anos. Eu parecia uma criança chegando à Disney pela primeira vez e eu queria andar em todos os brinquedos no primeiro dia, mesmo sabendo que teria tempo para brincar em cada atração com a atenção que elas precisariam. Até Vincent estava animado com o local, miando alto e esticando a cabeça para observar ao seu redor.

- Qual o prédio que você irá ficar? - papai me perguntou enquanto andávamos pelo caminho de pedras.

- Hum... - respondi vasculhando minha bolsa atrás do papel de admissão que recebi há dois meses. - Prédio Wycliffe, quarto 304.

- Espero que tenha elevador porque eu não vou subir três andares de salto. - mamãe reclamou só para dizer algo sobre o assunto.

- Acho que aquela garota é monitora. - a ignorei e indiquei uma menina um pouco mais velha que eu conversando com três garotas. Ela tinha uma prancheta na mão e um crachá, certamente trabalhava na universidade. - Vou falar com ela.

Me aproximei deixando meus pais para trás e as três garotas que conversavam com ela se afastaram, para minha sorte. Eu não queria falar meu nome e nacionalidade na frente de outras pessoas, os olhares de curiosidade seriam demais e logo os questionamentos seriam os piores possíveis como aconteceu no colégio interno que eu tentei estudar no Ensino Médio, mas desisti por causa da perseguição das outras garotas.

- Boa tarde. - cumprimentei a garota com um sorriso educado que já era automático. - Eu sou caloura e...

- Nome. - ela ignorou meu cumprimento e baixou os olhos para a prancheta.

- Isabella Henrietta Marie d'Alembert Swan II. - respondi em um murmúrio de vergonha.

- Desculpa, eu não entendi.

- Isabella Swan. - resumi dando um suspiro.

- Swan, Swan, Swan... - a garota murmurava olhando uma lista, virando uma página e continuando. - Swan, certo. Você fica no quarto 304 no Prédio Wycliffe. Depois que se acomodar vá até o Prédio Hertford onde fica a admissão para pegar seu plano do semestre, fazer carteira da universidade, cartão da biblioteca e tudo que você precisará. Bem vinda a Oxford.

- Obrigada.

Ela era impaciente, grossa, mal-humorada e destreinada para receber as pessoas e isso me assustou. Eu estava acostumada a todos me agradando, sendo educados comigo e pacientes com minhas dúvidas, mas a realidade do mundo era diferente daquela que uma das poucas princesas ainda reinantes viviam. A vida da nobreza remanescente após a queda de inúmeras monarquias era um mar de rosas isolado do restante do mundo e a vida real era totalmente dominada por ervas daninhas e pragas. Eu só teria que me acostumar, afinal, tinha feito a escolha e deixado meu castelinho protegido de todo o mal.

Não foi difícil encontrar o prédio que eu iria morar, pois era o que todos entravam com malas, acompanhados dos pais, carregando móveis às vezes. Eu não tinha móveis nem nada para decoração e nem tinha pensando nisso quando troquei um apartamento no centro da cidade de Oxford que minha mãe quis comprar para mim pelo quarto do dormitório da faculdade. Minha experiência acadêmica tinha que ser completa, então eu iria dividir um quarto com alguém que nunca vi na vida e aguentar as conseqüências disso. E eu suportaria os três andares de escada, já que não havia elevador no prédio para o desespero de mamãe.

304. A porta estava fechada, mas não trancada. Respirei fundo e girei a maçaneta, pisando com o pé direito para dar sorte e entrando em meu quarto-apartamento pela primeira vez. Não havia nada demais na ante-sala pequena além de uma estante vazia, um sofá de dois lugares, um carpete com cara de mofado e dois criados mudos que combinavam com a mesinha de centro. Duas portas indicavam os quartos e eu analisei os dois com calma antes de decidir que iria esperar minha colega de quarto aparecer para escolhermos juntas quem ficaria com qual, mas mamãe analisava tudo com pressa e pediu para James e Laurent deixarem minhas malas no quarto da direita.

- Mãe! - reclamei a seguindo até o quarto. - Eu não vou ficar nesse quarto.

- Por quê? - ela questionou sem parar de mexer em tudo. - É melhor que o outro, a janela é nascente, as paredes são bem cuidadas e o colchão não tem aspecto de duro como o outro.

- Mas eu quero esperar minha colega de quarto chegar para decidirmos juntas.

- E que horas essa garota irá chegar? Já são duas horas da tarde e ela deveria estar aqui desde uma e meia.

- Acho que ela chegou, alteza. - James murmurou indicando a porta do quarto.

Uma garota de cabelo preto bagunçado na altura do ombro puxava um saco enorme para dentro do quarto e carregava duas mochilas nos ombros enquanto fazia barulhos engraçados. Por um segundo eu observei a cena com curiosidade, mas logo corri ao seu encontro para ajudá-la.

- Oh, obrigada! - ela agradeceu sorrindo e nós duas conseguimos puxar o saco. - Ninguém quis me ajudar enquanto eu puxava esse cadáver pela escada.

- Cadáver? - perguntei afastando minhas mãos rapidamente do saco e ela riu como uma criança.

- Relaxa, eu estava brincando. Só tem roupa aqui dentro, eu juro.

- Ok... - retruquei ainda espantada.

- Você é minha colega de quarto?

- Sim. Isabella Swan. - respondi esticando minha mão, mas ela jogou as mochilas no chão e me abraçou forte.

- Graças a Deus você não é uma lésbica caminhoneira. - ela disse antes de me soltar. - Nada contra lésbicas ou caminhoneiras, mas eu não gostaria de morar com uma, sabe? Eu sou Alice Brandon, muito prazer.

Ela não era normal, sério. Mas sem dúvida alguma era a pessoa mais espontânea e engraçada que eu já conheci, que não pensava muito antes de falar e dava risada com tudo que eu dizia.

- São seus pais? - ela perguntou se aproximando de mamãe e papai na porta dos quartos.

- René e Charlie Swan. - os apresentei.

- Olá. - Alice apertou a mão de meu pai freneticamente e abraçou minha mãe, que se encolheu surpresa com o contato físico. - Eu sou Alice, vou morar com a filha de vocês nos próximos anos.

- Muito prazer, Alice. - papai assentiu e a cumprimentou com um sorriso.

- É, muito prazer. - mamãe disse a analisando dos pés a cabeça; eu odiava quando ela fazia aquilo.

- Vocês vão ficar no campus a tarde toda? - Alice perguntou. - Nós podíamos conhecer tudo por aí em grupo, sabe?

- Nós adoraríamos fazer o passeio com vocês, mas temos que voltar para San Marino em menos de cinco horas para resolver problemas com o trabalho. - papai respondeu.

- Adoro San Marino. Eu costumava passar as férias de verão por lá na casa de vovó Gertar. A Califórnia é simplesmente maravilhosa nessa época do ano.

- Não, eu sou de San Marino, na Itália. - expliquei rindo baixo de sua confusão.

- Vocês são italianos? - ela perguntou surpresa e me encarou.

- Somos. - respondi rezando para mamãe não dizer "A realeza italiana", mas ela limitou-se a assentir, embora eu notasse sua fase se contorcendo por se sentir insultada ao ser considerada apenas italiana.

- Que máximo! Morar com uma estrangeira será muito mais divertido.

- Nós já vamos, querida. - mamãe disse se aproximando e me abraçando. - Sentiremos sua falta em casa.

- Sentiremos mesmo, Bella. - papai me abraçou e eu respirei fundo para não chorar com a despedida.

- Vou ligar todos os dias, prometo. E mandar e-mail. Quero receber e-mails também.

- Vamos manter contato, não se preocupe.

- Até mais, senhorita Bella. - James e Laurent disseram e eu os abracei ao mesmo tempo.

- Ciao, gente.

Quando eles deixaram o quarto e fecharam a porta eu me senti sozinha pela primeira vez na vida e fiquei parada ainda sem conseguir me mexer em minha nova realidade. Podia escutar Alice entrando em um dos quartos, arrastando seu "cadáver" para dentro dele e começando a organizar algumas coisas, mas eu fiquei olhando para a porta na esperança de algum empregado entrar para me avisar que o almoço estava servido e que meus pais me esperavam. Só que o máximo de movimento no local era Alice fechando a porta do quarto e parando ao meu lado.

- Tudo bem aí? - ela perguntou olhando na mesma direção que eu com as sobrancelhas unidas.

- Vai ficar. - respondi dando um longo suspiro.

- Você precisa ir ao prédio de admissão também, não é?

- Preciso.

- Ótimo. Já tem companhia porque eu também preciso. E depois nós podemos conhecer todo o campus, não é?

- Boa ideia. Só vou pegar minha bolsa.

O quarto que mamãe escolheu acabou sendo meu já que Alice se ocupou do outro e eu encontrei Vincent dormindo aninhado no meio da cama desforrada. Sorri ao ver como meu gatinho adorava dormir o dia interior e peguei a pequena bolsa de mão Chanel com as coisas que eu necessitaria para a admissão na faculdade e um passeio casual com minha colega de quarto.

- Vamos lá, rommie. - Alice cantarolou enlaçando meu braço e pegando o molho de chaves de nosso quarto.

O nosso prédio estava movimentando com as pessoas saindo e entrando dos quartos com caixas nas mãos e Alice fazia comentários engraçados sobre as roupas das pessoas, dos objetos estranhos e dos garotos bonitos. Sim, havia muito mais garoto bonito ali do que eu estava acostumada a ver, apesar de a Península Itálica ser considerado um lugar onde havia vários homens charmosos. Se bem que os ingleses tinham algo que me atraia, sei lá. Talvez fosse o desleixo no visual; como aquilo mataria mamãe de desgosto, caso eu começasse a namorar um tipo deles.

- Então, fale sobre você. - Alice sugeriu quando nós saímos do prédios e começamos a caminhar pelo jardim.

- Bem. - comecei a dizer procurando em minha mente as informações que pudessem agradá-la, mas que não dissesse muito sobre a verdadeira Bella. -Tenho 20 anos, nasci na Itália, mas morei fora de meu país dos 13 aos 16 anos. Vim para Oxford fazer Literatura porque eu sempre gostei de escrever. Sou filha única... acho que só.

- Tem namorado ou deixou algum carinha por lá?

- Não. Nada de carinha ou namorado. - respondi meio sem graça com esse assunto. - E você?

- Ah, eu tenho 19 anos, mas faço 20 anos daqui a um mês. Sou dos Estados Unidos, Washington, mas resolvi vim para o Reino Unido fazer faculdade porque estava cansada de minha cidadezinha e consegui uma bolsa de 50% para cursar Psicologia aqui, que sempre foi minha escolha. Tenho dois irmãos mais velhos, Riley e Emmett, mas eles ainda moram com meus pais porque são preguiçosos demais para procurar um apartamento para viver. Meus pais são donos de uma loja de esportes na minha cidade e minha mãe faz o melhor cupcake de cereja que você pode comer na vida. Ela me deu a receita, mas até hoje eu não consegui fazer igual ao dela, sabe? Um dia nós podemos tentar. O que mais eu posso contar?

Ela contou tudo sobre sua vida nos dez minutos que nós levamos para chegar ao prédio de admissão. Quando eu digo tudo é tudo mesmo e logo eu soube que ela perdeu um dente brincando na gangorra com sete anos, que já pintou o cabelo de loiro, mas voltou a ser morena no mesmo dia, namorou o mesmo garoto dos 14 aos 18 anos e que não pretendia namorar sério tão cedo. Minha conclusão ao final daquela conversa era que Alice seria a colega de quarto perfeita por ser espontânea, engraçada, livre e desencanada. Exatamente o que eu não era.

Até que o processo de admissão não demorou como nós imaginamos, mas a pior parte foi tirar a foto para a carteirinha da universidade que nos daria acesso a biblioteca, refeitório, portal na internet e desconto em alguns bares na redondeza. O homem responsável pela câmera não tinha paciência com as garotas arrumando o cabelo e buscando o melhor ângulo antes da única chance que tínhamos para tirar a foto. No final das contas eu saí com os olhos fechados e Alice com um bico engraçado porque falou algo na hora que ele bateu a foto.

- Será que tem algum problema se eu colocar um adesivo em minha cara de doente mental? - ela perguntou quando nós deixamos o local ainda rindo das carteiras.

- Acho que farei o mesmo também.

- Como é que ele não pode esperar um minuto até a pessoa encontrar a pose perfeita? Isso é um absurdo e essa maldita carteira será a mesma por quatro anos. Já pensou se algum cara lindo a encontra?

- Vamos mantê-las bem guardadas então.

Guardei minha carteirinha junto com os papeis com horário e mapa da universidade em minha bolsa quando Alice segurou meu braço me fazendo parar.

- O que foi? - perguntei a vendo com um sorriso nos lábios.

- Aquilo. - ela apontou para um prédio e um grupo de pessoas em sua frente.

- O que é aquilo?

- Alguma reivindicação estudantil. Nossa primeira revolta acadêmica, Bella. - ela disse me puxando pela mão.

- Ei, vá com calma. Eu estou de salto.

Porém, a animação para fazer parte daquele movimento não a impediu de me arrastar para perto do grupo. Algumas pessoas com visual alternativo seguravam cartazes pichados, gritavam coisas que eu não entendia a principio e estendiam seus pulsos quando alguém à frente do movimento gritava algo em um megafone. Era a voz de um homem com sotaque inglês carregadíssimo e conforme nos aproximamos eu pude entender o que ele dizia.

- Esses burguesinhos acham que a merda de curso de Direito deles é mais importante do que o novo estúdio de fotografia, mas eu não vou me calar até o reitor entender isso.

- É isso aí, cara! - alguém gritou de volta.

- Por que diabos eles precisam de 3 mil novos exemplares da constituição se 40% dos estudantes de Direito estão aqui só para comer as garotinhas de comunicação e fumar maconha sem papai enchendo o saco? Eu me importo com meu curso, eu quero usar um laboratório decente e eu não estou aqui para fazer pintura a dedo com tinta guache. Foda-se a constituição, só a arte salva!

Quando ele disse isso todos os outros gritaram, bateram palmas, um cara do meu lado começou a pular balançando uma bandeira da Inglaterra e Alice começou a rir com a cena. Eu também não aguentei e ri junto com ela porque a situação seria engraçada se não fosse trágica. Os estudantes de Artes estavam reivindicando os direitos deles e eu me comovi com a causa, até escutar um grito vindo das costas da multidão.

- Cullen!

Todos olharam para trás e um corredor se abriu entre as pessoas quando o homem de meia idade vestindo um terno cinza escuro se aproximou e avançou em direção ao líder da multidão. Aproveitei a fresta para ver quem era aquele revolucionário e fiquei impressionada com mais um belo exemplar do estilo inglês de homem. Cabelo bagunçado meio escuro, camisa xadrez aberta revelando uma camiseta branca colada em seu dorso esculpido e um sorriso de canto ao encarar o senhor.

- O ano letivo mal começou e você já está fazendo algazarra?

- Isso não é algazarra, reitor Newman. - o tal Cullen disse ainda usando o megafone. - Estamos reivindicando o que é direito nosso.

- Desligue essa porcaria. - o reitor pediu tapando os ouvidos e Cullen riu desligando o megafone. - Não fale o que você não sabe.

- Então é mentira que o dinheiro destinado ao novo laboratório de fotografia foi desviado para a biblioteca de Direito?

- Não faça esse tipo de acusação. O laboratório de fotografia ira sair esse semestre.

- Sério? Quando?

- Não temos uma data definida ainda...

- Claro! Porque você vai estar ocupado demais contando as libras que vão para seu bolso com esse projeto.

- Como você se atreve a me desrespeitar dessa forma, moleque? - o reitor se alterou, mas o tal Cullen manteve o ar de superior. - Se você continuar fazendo esse tipo de manifestação eu vou fazer o possível para você não se formar, entendeu?

- Claro como um pint* de Fuller Porter, Newman. - ele retrucou através do megafone e o reitor desistiu da discussão. - Nós não vamos desistir até você montar esse maldito laboratório e valorizar nosso curso também. Porque o dinheiro que eu pago meu semestre é mais limpo do que o dinheiro de muita gente aqui.

Seu comentário fez a multidão enlouquecer novamente e o reitor Newman a atravessou resmungando alguma coisa. Quando eu olhei para o lado até Alice estava batendo palma e gritando pelo o que o Cullen disse e a olhei incrédula.

- Qual é? Foi divertido. - ela retrucou. - Vai dizer que você não concorda com o que esse gato disse?

- Eu não sei... - murmurei com minha incapacidade de expressar minha opinião. - Podemos voltar para o quarto? Tenho muita coisa para organizar.

- Claro. E depois nós podemos pedir uma pizza e umas cervejas para comemorar nosso início.

- Cerveja? - engasguei de surpresa. - Você bebe?

- Claro. Você não?

- Só em ocasiões especiais e só uma taça de champanhe.

- Bella, minha querida. - Alice disse passando o braço ao redor de meu ombro e me puxando para longe da multidão. - Bem vinda ao país da cerveja a 1 libra. E nós vamos comemorar muito com ela.

Eu definitivamente não iria beber cerveja com ela para comemorar nosso primeiro dia na faculdade. Ia totalmente contra a minha criação de monarca e era um pouco estranho. Garotas como eu não bebiam a bebida dos plebeus e homens; sem contar que mamãe sempre disse que era deselegante e grosseiro uma mulher beber mais que dois goles de champanhe na frente das pessoas. Tudo bem que eu escolhi sair de casa para viver como as pessoas de minha idade, mas naquele dia eu tinha até participado de uma reivindicação. Era pedir demais para ser rebelde com menos de 24 horas em liberdade.


Vou fazer o esquema "review = preview" porque deu certo na outra fic. Então, vamos dizer o que vocês tão achando e receber um preview do próximo capítulo? Acho válido!